Perder você escrita por Mariii


Capítulo 4
Ela acordou


Notas iniciais do capítulo

Penúltimo capítulo! :D



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21:20h

Molly se levantou. Não sabia de onde vinha a força que sentia, adrenalina corria por suas veias mantendo-a firme. Talvez porque era sua última chance e não tinha mais nada a perder. Ou então era a imagem de Sherlock, Mary, John, Lestrade, Sra. Hudson e tantos outros que passavam por sua cabeça. Tantas lembranças. Em nome de todos que amava, não poderia deixar que somente a matassem. Ofereceria resistência e esse era o mínimo que poderia fazer por todos eles. Dane-se a dor que sentia, isso teria que esperar.

Posicionou-se ao lado da porta, encostada na parede e esperou que Rupert abrisse-a. Teria segundos, ou menos que isso. A surpresa dele ao não vê-la no canto do quarto, onde ela normalmente ficava, era sua chance. Não pensou, agiu por instinto. Suas mãos continuavam algemadas. Juntou-as e atingiu seu rosto com o cotovelo, jogando todo seu peso e toda a força que ainda restava. Pelo som que ouviu sabia que tinha tido sucesso. Não esperou, precisava alcançar a arma.

Molly gritou quando um golpe a acertou nas costelas já feridas. Mas sentiu o aço frio da arma em suas mãos. Era a chave para sua liberdade. Molly atirou. Sentiu uma estranha satisfação ao ver o corpo de Rupert desfalecer.

Precisava sair dali. Sherlock. Ele estava lá, precisava encontrá-lo. A adrenalina que sentia começava a esvair e as dores estavam ficando mais evidentes. Sentiu sangue escorrendo do seu nariz, ou talvez fosse do corte que tinha abaixo do olho esquerdo. Suas costelas latejavam. Andar estava se tornando um sacrifício, tinha medo de não conseguir chegar a lugar algum. Por mais de uma vez bateu contra a parede do corredor e achou que não conseguiria continuar. Molly se arrastava, usando a parede para se apoiar. Suas mãos presas segurando firmemente a arma que ela não soltaria de modo algum.

Sherlock. Precisava de ajuda, precisava chegar até ele. Precisava de um médico. John. Talvez John estivesse junto. O corredor parecia ter quilômetros. No fim do corredor virou a direita e rapidamente encostou em uma coluna. Dali via Adam, estava perto demais dele, quase podia tocá-lo. Por um segundo ficou com medo de ter sido vista. Mas ele estava distraído com... Sherlock. E John. O coração de Molly ficou apertado. Ódio a consumiu, e ela ergueu a arma.

~***~

– Ops, parece que sua gatinha dos deixou.

Adam gargalhou. O sangue sumiu do rosto de Sherlock. Não. Isso não podia estar acontecendo. As pernas de Sherlock fraquejaram. Pela primeira vez desde que se lembrava, seu cérebro estava vazio. Não conseguia pensar em nada. Precisava ver Molly, talvez ela ainda estivesse viva. Ela precisava de ajuda, precisava dele.

“Meu Deus, eu deixei que isso acontecesse a ela.”

Sherlock abaixou as mãos, começava a caminhar em direção ao som que ouviu. John estava parado ao seu lado, parecia sem reação, estava olhando para um ponto atrás de Adam. Tão estupefato quanto ele, parecia estar vendo um fantasma.

– Ei, ei, ei. Onde você pensa que vai, Sherlock?

– Eu preciso vê-la. Deixe-me vê-la e então pode fazer o que quiser comigo. Mas pelo amor de Deus, EU PRECISO VÊ-LA!

Adam apontou a arma para Sherlock e sorriu.

– Não, eu acho que não. Não tive essa chance, não vejo porque você deve tê-la. E, além do ma...

Ouviu-se outro tiro.

Adam se calou. Um olhar de incredulidade tomou conta de seu rosto.

~***~

A arma estava erguida. Lágrimas de pura raiva ameaçavam inundar os olhos de Molly. Todos os horrores que passou nas últimas horas voltaram a sua mente. Ver Sherlock era como voltar a respirar depois de um longo tempo submersa. Ele parecia tão desesperado quanto ela. Olhou para John e viu que ele a encarava. Não acreditava no que via, todos ali pensavam que ela estava morta. Pela primeira vez desde que teve a infeliz ideia de ajudar o vizinho, Molly sorriu. Talvez um pouco histérica. John achava que estava vendo um fantasma. “Oh John, eu ainda não sou um fantasma.”

Viu quando Adam se preparou para matar Sherlock. Mas ela não deixaria isso acontecer. Pela segunda vez em minutos, Molly apertou o gatilho. E de novo, e de novo. Tantas vezes quanto o revólver permitiu.

~***~

Sherlock observava o corpo de Adam cair. Suas costas manchadas de sangue.

– Mas que diabos está acontecendo? John?

John olhava fixamente a sua frente. Sua boca estava aberta. Os olhos de John viraram-se para Sherlock e voltaram para o ponto onde ele olhava antes.

Sherlock seguiu o olhar de John. E viu Molly.

Molly largou a arma, ou a arma caiu das mãos dela. Ela não saberia dizer. A adrenalina desapareceu. Tudo que sentia agora era dor. Sua visão estava embaçando, e sentia dificuldades para respirar. Olhou na direção de Sherlock e tentou andar até eles. Após o primeiro passo suas pernas cederam e ela bateu com os joelhos no chão. A última foi que ouviu foi os dois chamando seu nome, e então tudo era escuridão.

~***~

John correu até Molly ultrapassando Sherlock, que parecia estar em choque.

– Sherlock, chame a emergência! Avise Mary também, ela está por perto. Rápido!

Enquanto examinava Molly, viu Sherlock passar por eles e ao mesmo tempo em que falava ao telefone, pegou a arma que ela tinha derrubado. Não entendeu o que o amigo estava fazendo de tão importante naquele momento. Quando Sherlock o encarou, viu o seus olhos frios como aço. Conhecia aquele olhar e ele dizia que Sherlock estava com raiva, muita raiva. Viu o detetive se aproximar de Adam e suspirou ao assistir os vários chutes que Sherlock desferiu no corpo já sem vida.

– John! Me diga que ela não vai morrer. – Sherlock levou as mãos ao rosto. Estava desesperado. Aproximou-se lentamente de Molly e acariciou seus cabelos.

John sentia um nó na garganta. Nunca tinha visto o amigo assim. Sherlock tinha melhorado muito em relação a sentimentos no último ano. Mas isso era diferente. Sherlock estava realmente sofrendo. Por trás de toda a raiva que sentia, John conseguia ver a dor. Apesar do momento inoportuno, constatar isso o emocionou. Finalmente Sherlock tinha cedido e agora ele sentia o medo de perder alguém por quem seu coração acordou.

~***~

Mary foi a primeira a chegar, seguida de Lestrade. Os dois faziam parte do plano original de Sherlock, que não precisou ser posto em prática. John tinha constatado as fraturas e cortes de Molly, mas nada poderia ser feito sem a ambulância. Ela parecia estar estável, dormindo até. Lestrade tinha conseguido abrir as algemas, que deixaram marcas em seus pulsos.

Todos estavam inquietos e preocupados. Mary chorava silenciosamente.

– Sherlock, preciso que você me conte o que aconteceu aqui esta noite. Você tinha me dito ao telefone que Molly havia sido sequestrada e para eu me manter por perto. Fale-me sobre o que aconteceu depois que você entrou nesse prédio. – Lestrade começava a questionar sobre os acontecimentos.

– Eu e John entramos. Não vimos ninguém, então John ficou de guarda. – Nesse ponto John franziu o cenho. Sherlock mentia. – John ficou aqui, onde nós estamos e eu entrei. Encontrei o quarto onde Molly estava desacordada e a peguei. Quando estávamos saindo, o cumplice de Adam apareceu. Curiosamente desarmado. Eu o matei. – John estava perplexo. – Voltei para onde deixei John, Adam estava com ele. Como ele estava distraído ameaçando John, eu disparei contra ele. Algumas vezes. Fim. – Sherlock contava como se fosse um acontecimento cotidiano e fazia uma expressão de inocência.

Lestrade suspirou. Sabia, por experiência, que a história poderia não ser bem essa. Mas também sabia que nada faria Sherlock contar a verdade se estava decidido a manter essa versão.

– Caso eu peça um exame em suas mãos. Acharemos resíduos de pólvora?

Sherlock sustentou friamente o olhar de Lestrade. Por fim, deu de ombros.

– Você sabe. De um jeito ou de outro, estaria lá. – Com isso, deu as costas a Lestrade, vendo que a ambulância chegara e já começavam a cuidar de Molly.

~***~

Molly estava em coma. Havia muito dano em seu corpo e foi necessária cirurgia de emergência. Não havia garantias. Seu cérebro desligou-se, talvez em um mecanismo de defesa por todo o sofrimento que ela passou. Ninguém poderia dizer como exatamente ela estava, nem quando acordaria ou se acordaria.

Sherlock ouviu em silêncio o diagnóstico do médico. Seu rosto estava como habitual, sem demonstrar nenhuma emoção. Mas John sabia que ele sofria, podia ver em pequenos detalhes que antes não reparava. Podia ver um pequeno tremor em sua mão, ou o modo como passava a mão pelos cabelos, ou como encarava o teto, talvez uma pequena oração aos céus. Mesmo as mais céticas das pessoas buscam ajuda ao desconhecido no momento de desespero.

As lágrimas pararam de rolar pelo rosto de Mary. Mas os seus olhos mostravam toda a tristeza que a dominava. John segurava sua mão. Não havia o que dizer ou o que fazer. Nada mudaria o que aconteceu.

No dia seguinte ao que Molly deu entrada no hospital o médico liberou que uma visita de alguns minutos para os três que continuavam no mesmo lugar desde que chegaram.

Molly parecia em paz. Respirava sozinha, o que o médico garantiu ser um ótimo sinal. Parecia estar só dormindo, se não fosse pelas marcas e cortes espalhadas por seu rosto e braços. Ninguém sabia o que dizer.

Sherlock se aproximou e segurou sua mão. Estava cansado de tentar demonstrar ser uma máquina o tempo todo. Em silêncio, fez uma promessa a ela.

“Quando você acordar nós vamos dançar quantas músicas você quiser. E eu prometo não estragar tudo dessa vez.”

Respirou fundo, e dando um último olhar para John e Mary, deixou o quarto.

Não tiveram notícias de Sherlock pelos próximos dias. Mas era possível saber o que o detetive vinha fazendo nesse período. Todos os dias era noticiado pelos jornais a morte de algum criminoso que vinha sendo procurado pela polícia. Principalmente os que cometiam crimes contra mulheres. Sherlock estava se recuperando a sua maneira.

~***~

Em um dia normal, cinzento e chuvoso em Londres, Molly abriu os olhos. Seis dias tinham se passado. Não sabia onde estava, e tudo era terrivelmente claro. Olhou para o lado e viu Mary, e ela estava com um aspecto cansado. Tentou chamá-la, mas sua garganta estava seca.

Começou a se lembrar do que tinha acontecido. Vizinho. Gesso. Sangue. Medo. Dor. Morte. Sherlock... Devia estar em um hospital. Ainda pensava sobre isso quando uma enfermeira adentrou o quarto e fez uma expressão de surpresa ao ver Molly acordada. Então, os próximos momentos foram uma sucessão de exames, felicitações e lágrimas de Mary.

– Há quanto tempo estou aqui, Mary? – Após beber água, Molly conseguia falar com certa dificuldade.

– Seis dias, completados hoje.

– Meu Deus. Eu dormi todo esse tempo?

– Sim, e nos preocupou todo esse tempo também. – Mary sorria com carinho, estava aliviada por Molly ter acordado bem. – John está vindo, quase não acreditou quando eu contei que você tinha acordado e já estava toda falante.

Molly riu com dificuldade. Seu rosto e seu corpo ainda estavam doloridos.

– Mary? Me diga, onde está Sherlock?

O sorriso de Mary desapareceu e seu semblante ficou triste.

– Nós não sabemos, Molly. Sherlock desapareceu desde o dia em que você veio para o hospital. Nós tentamos contatá-lo de todas as formas, sem sucesso. John procurou Mycroft, mas também não conseguimos nada. Ele simplesmente sumiu. – Mary sentiu vontade de completar com “deixando um rastro de sangue”.

– Eu me lembro de tê-lo visto antes e desmaiar. Para falar a verdade, agora não sei se minhas memórias são reais. Quando me lembro, ele parecia perdido, tanto quanto eu. Vi várias emoções em seu rosto... Desespero, tristeza... Medo. É possível que eu já estivesse delirando?

– Não. John o descreveu exatamente assim. Disse que nunca havia visto Sherlock demonstrando tantas emoções juntas. E de natureza tão humana. Ele vai aparecer, Molly. Ele ama você e sofreu muito com a impotência de não poder salvá-la. Ele estava errado, o tempo todo. Se dar conta disso foi um baque muito violento, para alguém que não tem o hábito de errar. E ver você nessa cama, desacordada, ultrapassou todos os limites. E, além do mais, você não estava realmente uma lindeza, você sabe. – Mary riu, tentando fazer Molly se animar.

– Eu matei duas pessoas, Mary.

– Não pense sobre isso agora, Molly. Você sabe que foi altamente necessário, era você ou eles. Eles não teriam piedade e você morreria. Sabe disso, não sabe? – Baixando o tom de voz até quase um sussurro, Mary completou: - Sherlock encobriu as mortes, assumiu a culpa pelos dois assassinatos. Ele quis poupar você de qualquer sofrimento além do que você já tinha passado. Sherlock faria qualquer coisa por você.

Mary viu os olhos de Molly marejarem e ela assentiu. Estava viva. Ela tinha conseguido. E se ela conseguiu escapar da morte, nada mais parecia impossível.

~***~

“Irmãozinho, ela acordou.”

Essa era a mensagem que Sherlock lia em seu celular pela milésima vez. Nos dias que ficou fora, pediu que Mycroft o mantivesse informado do estado de Molly, não aguentava vê-la daquela forma e precisava extravasar sua raiva.

Agora, três dias depois da mensagem, subia os lances de escada do apartamento de dois em dois degraus. John o esperava para conversarem. Estava ansioso, e começava a se acostumar com esses sentimentos estranhos. Precisava corrigir algumas coisas e nem sabia por onde começar.

Chegou à porta do apartamento. Não do apartamento de Baker Street. John podia esperar.

Era o apartamento de Molly.


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Notas finais do capítulo

Não se esqueçam de dizer oq acharam!

Está acabando... :(