Perder você escrita por Mariii


Capítulo 3
Vida, esperança e foco


Notas iniciais do capítulo

Oie! Estou postando o capítulo mais cedo que o normal porque no final de semana não teria tempo de escrever. ;)



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Molly estava confusa. Sentia dor. Seu rosto estava inchado e, pelo seu conhecimento, o nariz estava quebrado. Suas roupas estavam cheia de sangue já seco. Tentou levar a mão ao rosto e percebeu que estava algemada. Olhou em volta e apesar da escuridão, viu que estava no chão de um pequeno cômodo. Não avistou móveis e nem nada que desse alguma dica de onde estava ou o que fariam com ela.

“Onde estou e como vou sair daqui?”

Estava entrando em pânico. Não sabia o que fazer. Estava com sede, fome e muita dor. O cômodo era úmido, frio. Molly sentiu a cabeça girar. Não podia fraquejar, precisava saber onde estava e o que queriam dela. Quem poderia querer machuca-la? Ela nunca fez nada a ninguém. Precisava de um plano, de uma estratégia. Sabia técnicas de defesa, mas antes de tentar qualquer coisa precisava de informações. Só tinha visto seu querido vizinho, mas podia haver outras pessoas. E até conseguir alguma informação nada poderia fazer, somente aguardar. Forçou-se a tentar se acalmar, internamente repetindo um mantra.

“Vida... Esperança... Foco... Vida... Esperança... Foco...”

Quando já estava entrando num estado de estupor, ouviu a porta se abrir. Um rapaz que ela não conhecia entrou e colocou uma garrafa com água no chão. Saiu e fechou novamente a porta, não dizendo nenhuma palavra, nem sequer olhou para ela. Foi como ela não merecesse sua atenção. Seu vizinho tinha pelo menos um comparsa.

~***~

Sherlock encontrava-se sentado na sua habitual poltrona, lendo o jornal matinal logo após acordar de uma boa noite de sono. Ficou confuso quando as notícias pareceram velhas e, então, observou que o jornal era de duas semanas atrás. Duas semanas e ele não tinha percebido, não tinha observado. O que estava acontecendo com ele? Molly estava deixando-o distraído. Sua vida tinha virado uma bagunça, e ele não conseguia de jeito nenhum por tudo de volta no lugar.

– Sra. Hudson! Quer me explicar o que um jornal de mais de duas semanas atrás está fazendo na minha sala?

– John o trouxe ontem quando esteve aqui, parece que ele não tinha tido tempo de conferir o resultado de algum prêmio, ou algo do tipo.

Sra. Hudson riu da expressão de incredulidade de Sherlock e se retirou do apartamento. Sherlock pegou o jornal novamente, tinha visto uma pequena notícia que o interessou. Precisava conversar com Lestrade sobre o assunto, era impressionante que não soubera disso antes.

~***~

A porta se abriu novamente e Molly se encolheu, parecia que já fazia horas desde que o outro rapaz deixou água para ela, mas não conseguia precisar o tempo. Estava com medo, porém decidiu que seria o mais forte que pudesse. Precisava fazer seu melhor, tinha que conseguir o máximo de informações e escapar dali.

– Ora, ora... Com medo, querida Molly?

Era a voz do seu vizinho e ela não respondeu. Provavelmente sua voz não sairia, mesmo que tentasse.

– Não vai falar comigo? Você não parecia tão tímida quando aceitou tão prontamente a me ajudar.

Esse comentário fez com que ela se sentisse burra. A voz de seu sequestrador era calma, aveludada. A voz que tinha passado confiança a ela, e que agora causava medo. Apesar disso, conseguiu sentir raiva. E a raiva, nesse momento, seria algo bom. Daria forças a ela.

– É uma pena que você esteja tão silenciosa. Acho que Sherlock não vai gostar de não ouvir sua voz no presente que enviaremos a ele.

Sherlock. O entendimento passou como um raio pela mente de Molly. A estavam usando para atingir Sherlock, assim como ele previu. Ele tinha razão, Mary tinha razão. Ele fez tudo que pode, se afastou dela, quebrou-lhe o coração e, com isso, provavelmente o dele também. E tudo foi em vão. Ali estava ela, ferida, sem saber o que iria acontecer. E provavelmente ninguém teria notado seu desaparecimento ainda. Sherlock. Ela seria uma arma contra ele. Lágrimas inundaram os olhos de Molly. Raiva, dor, tristeza, medo... culpa. Por causa da insistência dela em ser inconsequente, agora estava nas mãos de sabe-se lá quem.

“Vida... Esperança... Foco... Vida... Esperança... Foco...”

Não podia se perder em meio ao horror que estava vivendo. Ela resistiria. Tinha causado aquilo, mesmo sem querer. Alguém descobriu sobre seu envolvimento com Sherlock. Não deixou que as lágrimas caíssem, a partir de agora seria mais forte. Por ele, ela cuidaria de si mesma.

– Vamos, querida, levante-se. Vamos começar o show. – Um arrepio percorreu Molly, essa frase soou como o prenúncio de uma tragédia.

~***~

Já era fim de tarde. Sherlock estava entediado. O crime para o qual Lestrade o chamou no dia anterior não era interessante como ele pensava. Pelo contrário, foi muito simples.

John e Mary encontravam-se no seu apartamento. Felizmente não tinham voltado a tocar no assunto sobre Molly. Mas, Sherlock reparou que Mary estava preocupada por não conseguir contato com ela o dia inteiro. Isso deixou Sherlock mais inquieto ainda, e não havia nada que ele poderia fazer. Às vezes, a vontade dele era largar tudo e procurar Molly.

“Estou ficando realmente louco.”

– Sherlock, havia uma encomenda pra você na porta. – Sra. Hudson adentrou a sala segurando um pacote nas mãos e o entregou a Sherlock.

O detetive o examinou e, vendo que não haveria perigo iminente, o abriu. Dentro da pequena caixa estava um DVD. O título estava escrito à caneta: Em memória de Ruby e Meg.

Sherlock sentiu que algo muito ruim estava naquele disco. Lembrava-se dos nomes Ruby e Meg.

~***~

Alguns anos antes.

“Líder da maior rede de tráfico do país é preso em Londre.” – Era a manchete dos principais jornais.

Sherlock havia ficado meses nessa investigação. Teve grande contribuição na prisão de Adam, líder da quadrilha. Mas, no dia da prisão, algo não saiu da forma que ele e o chefe de polícia imaginaram. Os bandidos reagiram e, na troca de tiros, Ruby, esposa de Adam, e sua filha, Meg, de apenas 6 anos, foram mortas.

Adam prometeu vingança. E ele culpava Sherlock.

~***~

Adam foi solto duas semanas atrás. A notícia estava no jornal antigo que Sherlock tinha lido pela manhã. Tivera bom comportamento na prisão e seu advogado conseguiu que ele fosse solto em regime condicional. Conversara mais cedo com Lestrade sobre isso, mas não deu importância ao caso. E agora se arrependia.

Mary o olhava com curiosidade. Observou que Sherlock fazia esforços para disfarçar as mãos que involuntariamente tremiam. Levantou-se e se juntou a ele. Os nomes Ruby e Meg nada diziam a ela.

– O que está acontecendo, Sherlock? Mary? – John indagou.

Ignorando o amigo, Sherlock inseriu o DVD em seu laptop. A primeira imagem que viu o paralisou, era como um buraco para o inferno fosse aberto. Molly. O rosto de Molly, completamente sujo de sangue, inchando. Seu nariz parecia quebrado. Mary sufocou um grito e John a amparou, chocado.

Não tiveram tempo para dizer nada, antes de uma mão atingir o rosto de Molly e ela cair, encolhida no chão.

~***~

Molly se encolheu em posição fetal. O soco atingiu seu olho esquerdo e a jogou contra o chão. Ainda estava algemada, não havia o que podia fazer, e não podia lutar contra os dois homens. Ouviu os passos de seu algoz se aproximando lentamente, se deliciando com a cena. Ela viu a câmera sendo operada pelo outro homem, sabia que tudo estava sendo gravado. E sabia para quem seria enviado. Decidiu que o máximo que poderia fazer era não demonstrar nada. Não imploraria, isso divertiria ainda mais o monstro que a espancava.

– Olá, Sherlock. Lembra-se de mim, lembra-se do meu nome? – O sequestrador falava para a câmera, mas Molly não enxergava nada. – Olhe e aprecie, a sua gatinha é forte.

Sentiu a dor um milésimo de segundo antes que um chute a atingisse nas costelas. O ar saiu de seus pulmões e ela não conseguia respirar.

– Está vendo isso, Sherlock? Lembra-se de Ruby também? E de Meg? Elas morreram por sua causa. Porque você é um filho da puta enxerido. Qual a dor de ver alguém que a gente ama sofrer? Porque essa aqui vai sofrer muito.

Outro chute, dessa vez nas suas costas. Adam a puxou pelos cabelos e a arrastou. Colocou seu rosto próximo a câmera.

– Vamos, Molly. Dê um recado para Sherlock. Diga o quanto ele está impotente e incapaz nesse momento. Implore a ele, gatinha, diga a ele para vir te buscar.

O olho esquerdo de Molly estava se fechando com o inchaço e um corte havia se aberto sob ele. Seu nariz voltava a sangrar. Todo seu corpo doía. Mesmo assim, o ódio dominou Molly. Ela encarou Adam e cuspiu em seu rosto. Viu seu rosto cheio de respingos de sangue e vislumbrou o que isso iria lhe custar.

– Vaca!

Com um tapa, ele a jogou para longe dele. Do bolso, tirou um pequeno canivete. Seguiu-se uma gargalhada.

– Você pediu, amor. Ora, para alguém que abre corpos todos os dias, alguns cortes não farão mal, não é mesmo?

Um arrepio percorreu o corpo de Molly. Medo. Ela queria gritar, mas isso era o que o monstro queria que ela fizesse. Adam se aproximou dela e puxou seu braço. Com o canivete, começou a fazer cortes na sua carne. Lágrimas escorreram dos olhos de Molly sem que ela percebesse. O outro homem nada fazia, não demonstrava nenhuma emoção. Ninguém a defenderia.

“Eu vou morrer.”

~***~

– Acho que assim está bom, não está, Sherlock? – Sherlock encarava o vídeo petrificado. Na tela, Molly estava irreconhecível. Seu rosto, tão doce, estava deformado, os cortes do seu braço sangravam, o ombro parecia ter sido deslocado em algum momento do espancamento e provavelmente teria alguma costela quebrada.

– Sherlock, vou lhe dar a chance que vocês não me deram. Só porque me sinto especialmente bondoso hoje. Venha até mim, no mesmo depósito que vocês me prenderam. Venha pontualmente às 21:15h, se entregue a mim, e eu liberto Molly. Venha desarmado e sem a polícia, é claro. Um movimento em falso e ela morre. A não ser que não valha a pena, Sr. Holmes. Até logo.

A tela escureceu, o vídeo acabara. A fúria tomava conta de Sherlock. Com o urro de um animal ferido, agarrou o cinzeiro que estava próximo a ele e jogou contra a parede. Vidro se espalhou por toda a sala. Ele levou as mãos a cabeça, precisava se acalmar, precisava pensar, precisava salvar Molly. Ele nunca se perdoaria se ela morresse, nunca. Se tivesse com ela, nada disso teria acontecido. Sentiu-se um idiota. Achou que se afastando dela, iria salva-la. E tudo que fez foi joga-la no colo do inimigo. Se estivesse mais próximo, teria maiores chances de evitar tudo isso. Seu cérebro dava voltas. Ele a abandonou, a culpa de tudo isso era dele. Precisava de um plano.

Sentiu a mão de Mary sobre seu ombro. A encarou e viu seu rosto manchado por lágrimas. John estava sentado, com as mãos sobre o rosto, inconformado.

– Sherlock, você sabe o que tem que ser feito.

– Mary, não! É uma armadilha. – John levantou-se num pulo do sofá.

Sherlock encarou Mary e assentiu. Não havia outro jeito. Salvaria Molly, não importava o preço a pagar. Ela valia muito mais que ele.

~***~

O rapaz que Molly não sabia o nome a carregou até sua cela. Seu corpo todo doía, seus sentidos estavam querendo ir embora. Ela não podia desmaiar, não sabia se acordaria novamente. Ouviu quando Adam deu a ordem.

– Sherlock Holmes chegará pontualmente às 21:15h, Rupert. Provavelmente trará o inseparável Watson. Aguarde 5 minutos e mate-a. Com um único tiro. Quero que ele sinta toda a dor da impotência.

A ordem era clara e fria. Molly morreria de qualquer jeito.

~***~

– Ora, ora. Se não é Sherlock Holmes e seu fiel escudeiro John Watson. Sabia que podia contar com sua pontualidade, Sr. Holmes. Espero que esteja desarmado, não gostaria de ter que pedir a Rupert que a mate agora. – Adam apontava uma arma na direção de Sherlock e Watson. Caso reagissem, provavelmente ele teria tempo de atingir um dos dois antes de cair.

– Estou aqui, Adam. Solte-a. Deixe que ela fique livre. Watson irá acompanhá-la e eu ficarei. – Os dois estavam com as mãos erguidas, mostrando que não reagiriam e não portavam armas.

Adam suspirou, divertido.

– Não tão rápido. Para que a pressa? Estou adorando ver tantas emoções passarem por esse iceberg que você tenta parecer ser. Você não acha engraçado? O famoso Sherlock “sem coração” Holmes entregando a própria vida em troca de uma garota. Uma bem sem graça, por sinal.

Sherlock sentia-se ferver por dentro. Queria matar Adam, e o faria. Já tinha planejado tudo, mas precisava ter Molly a salvo.

– Adam, vamos acabar com isso. Me dê Molly.

– Sim... Vamos acabar com isso. – Adam olhou no relógio, o ponteiro marcava 21:19h.

~***~

Molly ouviu Rupert se aproximar. Sabia que ele estava vindo para matá-la. Ela estava na iminência da morte. Não sentia mais medo, então fez uma escolha. Na verdade, a única escolha que ela tinha. Ignorando toda a dor que sentia, Molly se levantou.

“Vida... Esperança... Foco...”

Rupert abriu a porta.

~***~

“Ele vai matá-la.”

21:20h

A verdade caiu sobre Sherlock. Mas não teve tempo de reagir. Ouviu o grito de Molly, seguido de um tiro. Adam sorriu abertamente, ainda com a arma apontada na direção deles.

– Ops, parece que sua gatinha dos deixou.


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Notas finais do capítulo

Eu e meus clichês...rs

Me digam o que acharam! :D