Muse

“Quem, cheio de terror, se cala ao ouvir o meu nome, é bastante eloquente”

Christiaan Huygens

Capítulo IV:

Quimera

Turno: Sakura Haruno

Não demorou muito para o sinal tocar. Muitos alunos entraram correndo na sala de aula; eu apenas permaneci quieta no meu lugar. Sentia olhos curiosos cravados nas minhas costas, mas obriguei-me a não ligar para isso. Confesso que me senti melhor com a chegada de um líder; a voz da sala: o professor.

– Mais um ano, turma...- Ele entrou na sala naturalmente; segurando seu casaco que jazia amassado e enrolado no ombro direito. Escondia metade de seu rosto sob uma máscara preta deveras misteriosa. Curioso...- Puxa, como estou ficando velho.- Lastimava-se com um suspiro aturdido.- Bom, para os calouros...- Deu a volta por sua legítima mesa, apoiando-se nela para apresentar-se como, provavelmente, sempre fazia.-... Me chamo Kakashi. Ás vezes, os alunos me julgam por eu lesionar a matéria mais chata que existem. E eles estão certos, eu e a matemática somos igualmente irritantes.- Pareceu presos nos pensamentos por breves instantes. Estreitei meus olhos discretamente em sua direção, quando ele sobe os olhos detendo-se em mim; como se só agora tivesse me percebido. Senti um leve espasmo de sua parte; no entanto, pode ter sido só minha imaginação com sono.- Enfim...- Rolou os olhos pelo chão, voltando para trás da mesa e sentando-se.- Abram seus livros na página 5.

Eram duas aulas seguidas de matemática, que incrivelmente, passaram-se rápido. A próxima aula seria duas de Biologia, de acordo com meus horários. Trocaríamos de sala, tendo que descer para o subsolo onde encontrava-se o laboratório. No caminho, cruzei com uma sala, que descobri ser a de Naruto. A porta tinha uma janelinha; e eu consegui acompanhar, mesmo que por poucos instantes, o divertimento dele com o restante da turma. Eles pareciam ser legais. Dava gosto ver Naruto sorrir...

Acabei me perdendo da fila que caminhava em direção ao laboratório. Mas fora fácil de encontrar o caminho novamente e lá estava eu adentrando aquele lugar sombrio e obscuro que denominava-se “laboratório”. Era asqueroso. Cheirava a peixe podre e pó de dente.

– Bom dia, turma.- Um homem alto de cabelos negros escorridos e reluzentes, adentrava na sala pela porta dos fundos. Seus olhos pareciam grandes glóbulos de mel, o que me admirou.- Sou o professor Orochimaru. Irei dar três matérias para vocês em horários diferentes: Química, Física e Biologia.- Explicava, perambulando pelas fileiras. Eu estava um pouco distraída até que percebo ele se aproximar do balcão onde eu e Hinata estávamos sentadas. Percebi ele parar por poucos segundos atrás de mim.- Será um prazer lesionar á vocês.- Era nítido o desgosto em sua voz, voltando-se a sua mesa frente ao quadro negro. E quando iria dizer algo, a porta da frente do laboratório se abre, revelando ser aquele cara de mais cedo. O idiota, antipático. Rangi os dentes, apoiando o cotovelo na mesa e a cabeça sobre a mão; desenhando algo trivial na apostila. Hinata percebeu meu desconforto, olhando-me pelo canto dos belos olhos perolados pintados por uma risca negra de lápis.

Novamente as aulas foram trocadas; subindo em direção a sala principal, onde antes eu chegara. Tivemos aula de História com uma admirável mulher nomeada Kurenai; ela parecia espetacular. Era gentil, bonita, inteligente e sabia como dar uma boa aula. Pena que sua matéria era a mais odiada por mim. Eu sempre ia mal em história.

Estava tudo correndo bem; até pensei que eu poderia terminar o dia com um sorriso no rosto. Porém, ninguém, nem mesmo eu, estavam esperando pelo “espetáculo” da hora do almoço...

– Hey, Naruto!- Peguei minha bandeja com meu almoço, acenando para Naruto que vinha junto de um grupo de amigos. Ele me encontrara, sorrindo largamente. Fui em sua direção com a bandeja em mãos e um sorriso discreto. Só que algo me fez parar bruscamente no meio do pátio. Era aquelas mesmas sensações... As sensações que eu pensara terem se finalizado...- N-Naruto...- Minha voz se tornara falha pelo enorme bolo que ia se formando na minha garganta. Primeiro, minha bandeja caiu no chão, o que levou todos os olhares direcionarem-se á mim como antes. Depois, cai de joelhos no chão tampando os ouvidos pelos sons azucrinantes que viam á tona. E então as imagens sem sentidos que se passavam diante dos meus olhos. Imagens estranhas e deformadas; pessoas gritando por misericórdia e um certo alguém desconhecido, pronunciando nitidamente meu nome. Ele pedia por socorro, parecendo estar gravemente ferido. Eu não podia ver seu rosto, pois estava todo enfaixado por ataduras e apenas a sua boca se movia, enunciando meu nome repetidamente: “Sa-Ku-Ra”.

* * *

One, two, three and four

The devil's knocking at your door

The Pretty Reckless – Trecho de Heaven Knows