As meninas entreolharam-se com uma cara de espanto e depois focaram em mim.

– Você pirou, só pode. - disse Valéria.

– Amiga não faz isso, é loucura. - disse Carmen.

– Vai cometer uma burrada. - disse Alícia por fim.

Era óbvio que para elas eu estava louca, pirada, mas eu via tudo de um modo diferente. Lá foi onde eu cresci, lá estão meus pais, lá pode estar a chave para o recomeço da minha vida.

– Eu não compareço no vídeo que foi postado no qual vocês roubavam o banco, então ninguém terá provas para me prender e lá eu não precisarei trabalhar. Claro que eu não quero viver a vida toda às custas dos meus pais, mas eu entrarei em uma faculdade, terei uma profissão e vou lutar pelos meus sonhos, ter uma vida digamos que, normal.

– Normal, Maria Joaquina você trabalha, sai nos fins de semana, é livre, essa vida que temos aqui é normal.

– Eu não quero me limitar a isso Valéria. Eu quero fazer uma faculdade, eu quero ser alguém na vida. Desculpem se parece que estou menosprezando vocês, mas eu realmente não quero mais isso pra minha vida. Trabalho horas por dia, ganho pouco, quase não dá para me sustentar.

– Se é isso o que você quer, vai em frente, eu espero muito que você consiga conquistar as suas metas. - Carmen disse e Valéria e Alícia concordaram com a cabeça.

– Obrigada Carmen, obrigada meninas, por estarem sempre comigo me apoiando e eu espero que apesar da distância nossa amizade continue, não vou me desligar do mundo e eu espero que vocês também não.

– Vinte e quatro horas online eu não vou estar, mas não se preocupe porque não vou ficar um dia sem falar com você.

– Ai Valéria, me abraça.

– Abraço coletivo meninas. - Alícia falou e todas elas me deram aqueles abraços bem apertados que fiquei até sem ar.

Eu já sabia o que iria fazer, só preciso agora me demitir e falar com os meus pais, claro. Eu quero sair daqui o mais rápido que puder, em dois, três dias ou no máximo uma semana.

Não, eu não vou contar pro Daniel, ele vai descobrir sozinho. Ele vai achar que eu estou fugindo dele, o que não deixa de ser um pouco verdade. Fui pra cama, amanhã o dia deve ser longo já que preciso acertar da minha demissão da lanchonete.

Vocês devem estar pensando que eu deitei e logo depois dormi, mas não. Meus pensamentos não me deixaram dormir tão cedo, ou seja, eu devo estar horrível porque não tive nem umas quatro horas de sono. Me levantei e fui tomar o meu banho para ver se eu despertava porque sabe como é né, na hora de levantar parece ser pior do que na hora de dormir.

E aqui estou eu na lanchonete para mais um dia cansativo de trabalho, mas eu vou sair daqui pelo menos e não vou precisar trabalhar tão cedo, eu acho. Na hora do almoço eu falarei com a gerente, Cláudia. Nunca me imaginei como garçonete de uma lanchonete no Rio de Janeiro, pra vocês verem como a vida nos prega peças.

Os minutos passavam mais lentos que pessoas que ficam na sua frente quando você tá na rua. Mas enfim, é a hora. Bati na porta da sala onde a Cláudia ficava e escutei um "Entre".

– Boa tarde dona Cláudia, eu queria pedir demissão.

– Demissão? Eu posso saber o motivo?

– Eu vou mudar de cidade.

– Então vamos ficar sem garçonete de novo, infelizmente, mas eu te desejo tudo de bom nessa nova fase da sua vida. Eu posso te fazer uma pergunta?

– Claro que pode.

– O que você fez com o meu sobrinho, o Luciano? Ele virou outra pessoa depois que começou a sair com você.

– Eu acredito que o Luciano só precisava de um toque pra parar de se achar o tal.

– Obrigada por tudo que você fez com ele, eu sei que fui um pouco rude com você no início, mas eu sou assim mesmo.

– Eu que agradeço pelo emprego, me ajudou bastante.

– Então é isso, eu vou assinar sua carta de demissão e você pode até hoje?

– Claro que posso, na verdade eu posso ficar aqui até o fim de semana se for preciso.

– Não precisa, hoje mesmo eu te entrego a carta de demissão.

– Obrigada. - disse e pedi licença e logo depois saí da sala.

Eu conversei com a Karolina e expliquei tudo a ela, ela me deu o maior apoio e ficou dizendo que quando eu virasse uma estilista famosa compraria minhas roupas e diria pra todo mundo eu sou amiga dela. Ela é muito doida e eu vou sentir falta de ouvir suas histórias e poder desabafar com ela.

No fim do dia eu recebi minha carta de demissão, me despedi da Karolina que me deu uma "bronca" dizendo que era pra eu falar com ela todos os dias e essas coisas. Voltei para casa e agora chegou a hora de falar com os meus pais. Como será que eles vão reagir?

As meninas estavam no sofá vendo tv e logo quando cheguei elas me encheram de perguntas. Apenas mostrei a carta de demissão e fui pro quarto. Eu espero que o número lá de casa seja o mesmo. Às vezes eu ligava para lá, para ver se meus pais atendiam e poder ouvir aquelas vozes. Disquei o número e coloquei pra chamar. Meu coração acelerou e logo atenderam.

– Alô. - falou uma voz conhecida, era Joana. Mesmo depois de tanto tempo a voz dela continuava a mesma, depois que eu saí de casa ela passou a ser a governanta, já que sempre foi como uma babá pra mim.

– Alô Joana, sou eu, Maria Joaquina. - dei uma pausa - Meu pai ou minha mãe se encontra?

– Maria Joaquina? Por onde você anda? Sua mãe está, eu vou chamá-la.

– Eu estou bem Joana, obrigada. - esperei um pouco e logo ouvi a voz da minha mãe.

– Maria Joaquina minha filha, como você está? Você sumiu e nem avisou nada.

– Eu estou bem mamãe e eu queria avisar que eu vou voltar aí, posso voltar a morar com vocês?

– E você ainda pergunta, venha quando quiser, eu e o seu pai sofremos todos os dias por nunca mais termo tido notícias sobre você.

– Em breve eu estarei de volta.