Falei com a minha mãe por minutos e minutos, meu pai havia chegado em casa e ela passou o telefone para ele. Eu fiz um resumo de tudo e ele me deu a maior bronca por eu ter saído da cidade sem avisar, falou que temos que confiar na justiça, essas coisas que nós sabemos que tem um pouco de viagem por parte de quem confia na justiça.

Perdi a noção do tempo lá no quarto e quando acabei de falar com meus pais no telefone já era tarde, mas amanhã eu não tenho que acordar cedo já que me demiti. Combinei que amanhã mesmo iria pegar um voo para São Paulo e de lá meus pais, ou minha mãe apenas já que meu pai sempre tá muito ocupado com o trabalho, irão me buscar.

Antes de dormir peguei meu notebook e fui olhar os horários dos voos de amanhã. Tem um que saí daqui às 15:00, decidi ir nesse. Reservei minha passagem e enfim fui para a cama.

O sono custou a vir porque meus pensamentos focavam em uma coisa: eu vou deixar os meus amigos velho, desde o 3º ano nós nunca mais se separamos por tanto tempo e dessa vez eu vou pra um canto e eles vão continuar aqui. Vou sentir muito a falta de todos, mas não vou voltar atrás.

Acordei com o barulho do despertador, eu tinha me esquecido de tirar e já que eu acordei, acho que não vou mais conseguir dormir, então levantei.

– Bom dia meninas. - falei ao chegar na cozinha.

– Bom dia. - elas responderam.

– Então, eu vou hoje pela tarde.

– Mas já? Eu não acredito que não vamos fazer uma festinha de despedida.

– Pois é Valéria, ontem eu falei com os meus pais e já já eu ligo pra avisar o horário.

– Sentirei saudades amiga.

– Eu também Carmen, cuida bem do Jaime e não deixa ele explodir tá? - falei em tom de piada.

– Ele nem tá comendo exageradamente mais.

– Me abraça. - disse Alícia. - Se cuida metida.

– Eu não sou mais metida. - todas nós começamos a rir, mas as meninas precisavam ir pro trabalho e assim nos despedimos.

Aquele chorôrô comum em despedidas, os abraços, os conselhos, enfim. Peguei um táxi as 13:30 já que tem que chegar no aeroporto uma hora antes de embarcar. Passei por aquele procedimento chato e fiquei esperando a chamada para ir ao avião.

Eu já estava impaciente, queria entrar logo naquele avião e partir. Levantei para comprar alguma coisa e senti uma mão segurando o meu braço, me virei rapidamente para ver quem era.

– O que você tá fazendo aqui Daniel?

– Eu não vou deixar você ir.

– E agora você acha que pode mandar na minha vida? Cara se liga, nós já terminamos.

– Mas você ainda me ama e eu ainda te amo.

– Eu vou embarcar nesse avião e ninguém vai me impedir.

– Maria Joaquina por que você é tão orgulhosa? Por que você prefere o orgulho a sua felicidade?

– Você vai começar a falar de todos os meus defeitos agora ou o quê?

– Fica por favor, eu não sei se vou conseguir viver mais tempo sem ver teu rosto, sem teu abraço, sem teu beijo.

– Por que você faz isso comigo? Eu te amo. Tá satisfeito em outro isso? Agora me deixa.

– Se você me ama casa comigo.

– Você tá ficando louco. - ele foi se aproximando rapidamente e o que de começo foi um selinho se transformou em um beijo fervoroso.

Ficamos ali se beijando como se existe apenas nós dois. E o que importa se todos podem estar olhando, aquele momento era simplesmente perfeito. Nos separávamos de vez em quando para poder respirar um pouco. Tudo tava como em um sonho mas um som avisava que chegou a hora de embarcar. Terminei aquele beijo e fiquei olhando para ele.

– Eu preciso ir.

– Mas você é teimosa em caralho. Eu vou atrás de você.

– Não fala besteira Daniel.

– Eu vou ajeitar tudo aqui e vou atrás de você Maria Joaquina, eu não vou te deixar sozinha.

– Pensa bem porque você pode ser preso e eu tô confusa, eu preciso ir.

– Só mais um beijo.

– Eu posso me arrepender depois, mas... - beijei ele, mas foi mais rápido dessa vez já que eu tenho um voo pra embarcar.

– Me espera.

Fui andando e andando até perder Daniel de vista, entrei no avião e não demorou muito e partimos. Já é de se imaginar que não deixei de pensar um segundo nele, no beijo, no tempo que ficamos juntos, quando éramos menores. Queria ouvir uma música pra combinar com o momento, mas já que não pode me contentei em cantar uma na mente.

Do Rio pra São Paulo não demora muito então eu logo cheguei. Olhei em volta a procura dos meus pais, mas não avistava nada.

– Maria Joaquina, aqui. - ouvi a voz da minha mãe que não tinha mudado nada, olhei novamente com mais calma e vi ela acenando e fui ao seu encontro.

– Mamãe. - corri para abraçá-la e já sentia as lágrimas caírem em meu rosto.

– Como você cresceu, tá uma gatinha.

– Mãe eu tenho 19 anos. Eu não ficaria com tamanho de 10 pra sempre. - falei rindo.

– Continuará sendo minha bebêzinha.

– Tá bom mãe, para de cena que estamos em um lugar movimentado. - falei e ela riu. - Cadê o papai?

– Ele não pôde vir, você sabe que vida de médico é sem horários, mas quando chegarmos em casa ele já deve estar lá. Você quer comer alguma coisa ou ir direto pra casa?

– Eu tô com fome.

– Então vamos em algum shopping e lá comemos.

– Eu vou poder comprar alguma coisa?

– Claro filha, nós nunca te negamos nada não é?

– Eu nem acredito que vou poder ir no shopping e poder comprar o que eu quiser novamente.

– Você passou por muitas necessidades lá no Rio?

– Não, como eu disse eu arranjei um emprego em uma lanchonete então dava pra me sustentar.

– Você quer fazer uma faculdade não é?

– Sim mamãe, o quanto antes eu quero entrar numa faculdade e cursar Moda.