A Faísca: 70° Jogos Vorazes - Interativa escrita por Tiago Pereira


Capítulo 8
Capítulo 8 - Distrito Um


Notas iniciais do capítulo

Agora os Carreiristas do Distrito 1!



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Charlotte Turner

Uma faísca. Uma brasa. Uma chama. Um incêndio. Uma sobrevivente. Não, eu ainda não fui para os Jogos Vorazes, mas pelos meus pais eu vou.

A água borbulha no interior da extensa banheira. Pétalas vermelhas e amarelas e alguns produtos perfumam o âmbito. Elas lembram meus pais. Especificamente minha mãe.

Era uma vida bom aqui no Distrito 1, onde meus pais colocaram em minha mente a honra de vencer os Jogos, a riqueza, segurança e fartura. E esse foi meu desejo desde sempre: vencer.

Acompanho desde sempre as edições, e sei como conquistar patrocínio, como ganhar a plateia e principalmente como atrair os tributos para a morte.

Desde os 4 anos meu pai presenteava-me com armas de plástico e me ajudava a praticar de forma infantil. Não passava de uma brincadeira, embora eu levasse muito a sério.

Com 9 anos eu não tinha tempo para mais nada a não ser treino, meu condicionamento era igual ou superior a de uma criança em iniciação na Academia para os Carreiristas.

Meu foco era muito grande, e meus pais apoiavam, mesmo eu dando pouca atenção para eles. E sem dúvidas é o meu maior arrependimento. E por pouco eu não parto desta para uma melhor. Quando tinha 12 anos, um incêndio engoliu nossa casa, e eu estava sozinha no meu quarto. Para azar, a casa era feita de lenha, e eu consegui apenas escalar até a janela e fugir antes que fosse carbonizada.

Meus pais não tiveram a mesma sorte. As chamas pegaram eles, e eu perdi tudo. Fui morar com meu tio Júlio e a tia Rafhaela na casa deles. Não era muito diferente da minha antiga, só que bem maior já que eles não tinham filhos.

E então fui para a Academia especial, onde treinei até hoje. Um único presente de consolação foi uma espécie de cachorro. Aos 12 anos ele tinha pelo cor vermelha, então o batizei de Straw - que lembra morango.

Hoje, com 18 anos ele roça na minha perna pedindo carinho. Sua pele desbotou, já está rosa. Na Academia só tive um amigo, Viktor Crowley. E nós dois iremos ser voluntários.

Minha tia bate na porta. O som ecoa e eu saio do interior da água, com o corpo ungido, cheirando a rosas. Me enrolo na toalha e vou até meu quarto. Abro o closet e passo a mão pela última vez no uniforme de treino.

Puxei um vestido rosa e o vesti. Ajeito meus cabelos loiros e ondulados em duas tranças. Estou pronta para hoje, o dia em que eu honrarei a minha família.

– Está pronta, querida? - pergunta tia Rafhaela.

– Sim, estou - digo.

Estou pronta para me voluntariar. Não por mim, pelos meus pais.

Viktor Crowley

Coloco a camisa branca. No espelho penteio meus cabelos castanhos. Ele é da cor de chocolate, assim como meus olhos. Abaixo de mim, uma inspiração. Meu pai, que morreu nos Jogos Vorazes.

Minha mãe teve uma sorte diferente, e foi para os Jogos e venceu. E ela conheceu meu pai, eles se apaixonaram e ela engravidou. Desde a ida do meu genitor, Serena, minha vó, cuida de mim.

Treino desde os 12 anos e só tive uma amiga: Charlotte. Éramos diferentes - ainda somos -, com características peculiares. Somos bem antipáticos, arrogantes. Ela treinava seriamente para os Jogos, eu também, mas era por pressão. E por este motivo, vou me voluntariar.

Desço as escadas, não há som de ninguém trabalhando na extração de pedras. Eu já havia comido, e minha mãe estava conversando com Enobaria, nossa vizinha estranha.

– Bom dia, meu neto - diz minha vó.

– Bom dia - digo em tom frio.

– Para que tanto mau humor? Hoje é seu grande dia.

Estou sendo pressionado, não é um grande dia, penso. Tento melhorar meu humor, forçando um sorriso.

– Meu neto... quando seu pai... você sabe... antes de ir, ele deixou uma herança para você - diz vovó. Ela puxa algo do bolso. Um cordão com um pingente.

– Um colar? - analiso-o, sem empolgação.

– É um diamante na ponta, o único que seu pai pegou... - ela diz.

– Que ótimo, ele poderia ter sobrevivido.

– Realmente, ele poderia e agora você pode vingar.

– O.k., mato o tributo do Onze rapidinho.

– Apenas vença - ela sorri - Vamos.

Então seguimos afora da Aldeia. Minha mãe, minha vó e eu. Chegando na raça, passamos por toda a cerimônia de sempre, da coleta de sangue até a aparição de Catlee, a representante e Rowenna, a mentora.

O filme passa, e eu não tiro os olhos de Charlotte. Nos comunicamos através da fala inaudível.

– Boa sorte e seja a mais rápida - digo, apenas movimentando os lábios. Ela não entende tudo, mas eu finjo que entendeu e viro. Catlee já escolheu o nome e anunciou.

– Eu sou voluntária - diz Charlotte, nenhuma surpresa.

– Uma mudança, mis uma vez, no Distrito Um. Carreirista, querida? - ela assente enquanto sobe no palco.

– Eu sou Charlotte Turner e irei honrar minha família e o Distrito Um - ela diz.

– Ótimo, ótimo - todos aplaudem, por educação.

– Agora o homem - ela diz. Eu estava pronto para ser voluntário.

Quer dizer, não estava. Fico inerte, esperando o nome da pessoa sair e o voluntário. Não é um sonho meu, e dane-se as heranças.

– O homem que irá representar o Distrito Um é... Viktor Crowley!

Que azar, logo eu que não queria. Esperei dez segundos até um voluntário aparecer. Nada. Era meu destino.

Subi no palco, enquanto Catlee sorria muito. Charlotte e eu nos entreolhamos, dando um sorriso imperceptível.

Todos aplaudiam, assoviavam, nos aclamavam. Eu estava com o calor no corpo inteiro. Os melhores amigos foram para os Jogos Vorazes.

E é só aí que a ficha cai: só um pode viver.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! Vagas finalmente fechados!