A Faísca: 70° Jogos Vorazes - Interativa escrita por Tiago Pereira


Capítulo 7
Capítulo 7 - Distrito Dois


Notas iniciais do capítulo

Agora os Carreiristas do Distrito 2!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/472326/chapter/7

Chloe Montez

Miro o ponto centralizado no alvo. A fácil distinção de vermelho e branco ajuda bastante. O uniforme de treino é confortável e flexível, a sensação é de que estou nua, o que não é nada ruim.

As facas estão em minhas mãos, a ponta afiada e arrebatadora. Concentrada, espero uma das placas em formato de um corpo acender. A primeira brilha vermelha, a faca voa da minha mão e acerta em cheio o centro. Num instante após, outro acende e eu acerto mais uma vez.

Sorrio enquanto as pessoas me olham de maneira hostil. Afinal, todos querem estar nos Jogos Vorazes. E eu adoro quando eles fazem isso, o que eu faço é o que a Capital gosta. Mas que se dane a Capital também.

– Ela se sente assim mas não tem nem idade para ir aos Jogos - diz um.

– Isso é hereditário, serei tão boa quanto meus pais, que também já venceram os Jogos - digo.

– Claro, viva na sombra dos pais - diz outra.

Por fora eu sou um leão, mas por dentro estou tão inofensiva quanto um tributo do Distrito 12 cercado. Viver na sombra dos meus pais é um termo forte, embora seja verdade... ou será que não?

Agora minhas pernas se movimentam quase involuntariamente, tento manter-me firme. Atropelo todos a minha frente, os materiais e qualquer coisa por onde passo. Sigo até o toalete.

Meus pais... bem, se eu parar pra pensar, sei que eles tiveram um mínimo de piedade comigo. E é isso que me difere dos demais. Não somos nada iguais, embora pratiquemos as mesmas atividades todos os dias.

Todo dia estamos vivendo os Jogos, e isso fica claro quando temos de arranjar forma de sobreviver neste país, ou apenas de viver. É o meu caso. Papai for morto de uma doença epidêmica aqui no 2, mamãe foi internada pelo mesmo motivo logo em seguida foi internada, e é assim que ela se encontra.

Minha irmã mais nova, então, foi deixada comigo. E a doença encontrou ela. Embora estivéssemos com uma vida de segurança e fartura, não conseguimos viver bem. Ela não comia muita coisa, apenas pão e xarope de milho.

Por consequente, ela foi ao óbito e eu vivendo sozinha na Aldeia dos Vitoriosos, treinando forte a cada dia, para me tornar uma vencedora, aliviar a dor com mais riqueza dada pela Capital, já que ela só sabe fazer isso.

Começo a socar o espelho até que o vidro se rompa. Começo a esfregar o meu olho, que solta lágrimas quentes, desoladas e desesperadas. Meus cabelos negros e cacheados estão soltos do rabo de cavalo.

Pego um dos cacos e abro feridas em meus pulsos. Sangue empapa minha roupa e inunda o chão. Fico encostada na parede, o meu braço está vermelho. Tenho certeza de que meus olhos verdes brilhantes agora estejam vermelhos, pelo menos estão ardendo, obrigando um choro. Meu tutor aqui na academia me instruiu para eu praticar um exercício. Graças aos últimos acontecimentos da minha vida, sou considerada mentalmente impossibilitada.

Sou Chloe Montez, tenho dezessete anos, moro no Distrito Dois, eu serei voluntárias nos Jogos Vorazes. Voluntária pela minha família. Panem saberá que eu não sou fraca.

E é ele que aparece. Alt, meu tutor e treinador na academia.

– Já melhorou? - ele pergunta.

Eu não reajo.

– Precisava de tudo isso? Você não é fraca. - Como me mantenho imóvel, ele apenas se aproxima, joga os cacos no lixo, limpa o chão e os meus braços.

– Tome isto - ele me dá um uniforme limpo.

Depois de eu me trocar, ele está escorado na parede. É estranho vê-lo no banheiro feminino, mas ao mesmo tempo confortável.

– Amanhã eu serei voluntária - digo, com a voz fraca.

– Já era de se esperar, você batalhou muito - ele diz enquanto enfaixa meus pulsos.

– Como assim? - indago.

– Você é... diferente. É mais forte.

Era só isso que eu precisava ouvir. O meu coração torna a bombear o sangue normalmente, e sinto meu corpo quente. Quando ele acaba, diz:

– Pronta para trabalhar? Nós dois, juntos pela última vez?

Sorrio para ele e assinto. Então, Alt beija minha testa com seus lábios gélidos. Sua aparência de um homem quarentão de cabelos grisalhos enganam, eu o vejo como um amigo. O único.

Isaac Venum

Ela é problema, sério. Sou uma das poucas pessoas que é contra os Jogos Vorazes. Ou seja, sou uma pessoa normal, que queria uma vida normal. Se não fosse meu pai, ganhador dos Jogos.

Treino com minhas espadas, decapitando ou desmembrando bonecos de espuma. Na verdade eu estou fazendo isso desde cedo. E nem sei porquê estou fazendo isso. Jogo a espada no chão e vou até o banco.

– O que aconteceu? - Matty se aproxima.

– Nada, você sabe, não quero treinar. Por sorte é meu último ano.

– É, o meu também, e não vejo a hora de me voluntariar.

– Ah, por favor, você não pode ir, sério, me prometa isso.

– Estamos treinando desde os doze anos, Isaac, não custa nada.

– Mas eu não posso perder meu único amigo.

– Ah, eu não morreria...

– Não seja tolo. Prometa.

– Mas eu não...

– ... Prometa!

Ele suspira, hesitante.

– Prometo. - Ele diz.

– Ótimo, agora eu vou embora antes que essa Chloe me mate.

– Certo, nos vemos amanhã na Colheita - diz Matty.

– Até, então, e não se esqueça da nossa promessa - digo, acenando.

Passei pelo Distrito 2. A praça está decorada com várias coisas da Capital. O estandarte, flâmulas e outras coisas. O Edifício da Justiça está com faixas com as insígnias da Capital.

As casas são de concreto estão rodeadas de pequenas minas subterrâneas. Eu moro na Aldeia dos Vitoriosos, uma espaço amplo no Distrito 2 apenas para familiares dos vitoriosos, obviamente. Meu pai assiste a tevê, minha mãe prepara arroz com ervilhas, purê de batatas e carne. O cheiro é divino.

– Oh, meu filho, como vai meu próximo vencedor? - diz meu pai.

– Olá, pai... - só consigo dizer isso.

– Eu já espalhei para todos que amanhã você será voluntário - diz minha mãe.

– Sério? - digo, feliz externamente. Estupefato por dentro.

– É, por isso fizemos algo que você adora... - ela me leva para a cozinha e abre o forno. Eram biscoitos de manteiga como base, chocolate e caramelo recheando e baunilha confeccionando.

– Uou... obrigado, mãe.

Na verdade eu não sabia o que dizer. Eu só sei que eu não seria voluntário.

Terceira pessoa

Enfim chegou um dia de extrema alegria no Distrito 2. O dia da Colheita. Os jovens estavam ansiosos, principalmente os mais velhos, que certamente iriam querer se voluntariar.

Todos se posicionaram, de um lado meninos, do outro meninas. Atrás os pais e no palco, Breesis a representante, o prefeito e Cesc, o mentor.

Após o filme da Capital, o mesmo discurso de sempre, Breesis fez o que todos esperavam.

– Chegou a hora de escolher os jovens que irão representar o Distrito Dois!

Ela andou até um pote, enfiou a mão e puxou um nome. As meninas estavam quietas, esperando ansiosas. Com exceção uma, Chloe. Ela estava esperta e já andava quando a representante anunciou o nome. Instantes depois ela se voluntariou.

– Uhu-hu... uma voluntária, que novidade - diz com um sorriso - Qual o seu nome?

– Chloe Montez.

– Chloe Montez em busca da riqueza....!, você já tem dezoito anos?

– Não. Dezessete.

– Quanta coragem. Agora os homens.

Certamente, depois do sorteio, ninguém queria ir mais. Era desanimador, com certeza, muito desanimador. Chloe era um simples motivo para as pessoas desistirem de se voluntariar. Ela era louca e não iria querer estar junto dela.

– E o homem é... Isaac Venum!

No fundo, todos saudavam o pai do tributo. Sua mãe forjava um choro. O garoto loiro de olhos azuis foi até o palco. Algumas meninas suspiravam, choramingavam e aplaudiam, como todos. O Distrito estava bêbado de emoção.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Obrigado por lerem!