Lara Parker

"Não, você não vai!"

"Sim, eu vou sim!"

"Quero ver!"

"Eu não tenho medo"

Essas foram nossas últimas discussões aqui em casa, entre minha irmã e eu. Amanda disse que quer se voluntariar, creio que seja um delírio, um blefe. Hoje é dia da Colheita, o primeiro ano de minha irmãzinha teimosa.

Eu já tenho 16 anos, e sei que voluntários no Distrito 5 são raros. Eu nunca vi, nem posso afirmar que não existiram, só sei que não será Amanda. Geralmente nossos tributos morrem, não tão cedo quanto do 12, mas morrem. Eles acabam sendo eliminados pelos carreiristas, no máximo ficando entre os dez ou oito sobreviventes.

Ajeitei os meus cabelos ruivos em um coque. Ele não é muito claro, nem muito escuro, chega a ser alaranjado, como todos da minha família. A única coisa que me diferencia são os olhos verdes que herdei do meu pai morto por pacificadores após roubar nabos.

Parece patético, mas é assim que a Capital age. Estou em um vestido amarelo. Ele vai até o meu joelho e é está decorado com uma fita que une a blusa e a saia.

Na sala, minha irmã está igual a mim, minha mãe ajeita seus óculos.

– Pronta? - ela pergunta.

– Pronta - diz Amanda e eu em coro. Olho-a com futilidade, embora eu estivesse com as entranhas apertando meu interior.

As usinas estão vazias. Os casebres e sobrados se estendem pelo Distrito 5, feitos de madeira e concreto também. Pessoas caminham angustiadas, sob o calor, até a praça.

Lá, letras brilham da cor verde claro. "CAPITAL". É assim que o Edifício da Justiça está decorado. Minha irmã e eu somos separadas, então tento encontra-la. Ela está na área mais dianteira, e eu mais atrás.

Deko, o representante aparece. Junto dele as mesmas pessoas de sempre, o prefeito e sua família, com exceção sua filha, e Blanca, a mentora.

– Bem-vindos, sem mais delongas, irei passar um filme da Capital - então, o mesmo vídeo é passado. Mortes, glórias, traição. É disso que se compõe a história de Panem.

Aguardamos a próxima parte: libertação. Somos punidos há exatos 70 anos, tendo de enviar nossos amigos, as vezes parentes para morrer.

– Agora que o vídeo acabou, vamos escolher a garota - ele vai até o pote e puxa o nome. Abre o papel, e lê um nome cujo eu não prestava atenção.

Enxergo no meio do corredor feito pelas pessoas uma garota ruiva e baixa. Minha irmã. Não, eu não vou deixa-la ir. Antes que ela pudesse mover um músculo. Gritei entre os jovens - que deram um pequeno salto.

– Eu me ofereço!

– Quem disse isso? - pergunta Deko.

– Eu, Lara Parker - saio dos jovens e digo. Caminho em direção do palco, com lágrimas escorrendo. Sussurro um: "me desculpe para minha irmã" antes de subir no palco.

– Lindo, lindo, agora o homem - diz Deko.

A mesma cerimônia de sempre. Pega o nome, rompe o lacre e diz:

– Phillipe Pires!

Um garoto de cabelos castanhos sai da multidão. Ele era meio magricela, embora bem jeitoso. Eu o conheço. O garoto perdeu os pais degolados., em uma tentativa de rebelião pelo prefeito. Sei pouca coisa sobre ele. Apenas que tinha um... namorado e já foi abusado pelo irmão. Só. E nem quero saber mais.

Ele sobe e parece estar choroso. Sei como ele se sente. Formo um quase imperceptível sorriso no canto dos lábios, tentando confortá-lo. Não funciona.

– E estes são os nossos tributos! Lara Parker e Phillipe Pires. - um pacificador fisga meu braço e nos leva sob custódia para o interior do Edifício da Justiça, onde ocorrerão as despedidas.