Distrito 5

Phillipe Pires

Meu nome é chamado. Argh! Que droga, não queria que ela fosse tão rápida. Cheguei no ginásio, as duas mãos unidas, enquanto tento pensar no que fazer para ganhar uma nota alta.

Pergunto-me o que Lara vai fazer, tomara que não seja nada de espetacular, aí eu levo a melhor. Patrocinadores eu devo ter pela roupa do desfile, mas não deve ser grande coisa, eu acho.

Sinto minhas bochechas arderem de rubor, e caminho até uma mesa cheia de armas. Preciso bolar algo, embora notas baixas não sejam o fim de tudo. Ainda há as entrevistas, e a arena em si.

Uma opção me vem a tona. Armadilhas. É, armadilhas! Minha especialidade, já sei o que fazer. Elas são fatais, se bem trabalhadas. No balcão das armas, estoquei algumas facas, e depois cordas. Pena que não há muito suprimento para eu montar algo extravagante.

Poderia muito bem colocar armadilhas contra ursos para deformar o rosto de alguém, mas aqui não é o Distrito 5 e na arena não terá nada disso. Nada de animais por aqui, e isso pode dificultar.

Cubro meu corpo com uma mistura pastosa, sem muitos detalhes, mas de maneira que minha pele lembre o tronco da árvore. Então, monto uma emaranhado de fios de náilon, invisível, praticamente.

Coloquei o pé de um boneco no emaranhado e me escondo atrás de um tronco. No instante que puxo o fio, a perna do tributo é comprimida pelo náilon, tendendo à dilaceração. Eu puxei uma faca que escondi no bolso e acertei as pernas do boneco.

A armadilha é perfeita, queria montar mais, mas O Idealizador me dispensa. Estou insatisfeito, porém se eles deram o direito de minha saída é porque eles gostaram.

Lara Parker

Caminhei lentamente para o ginásio. Minha tática é complexa, mas a mensagem será lúcida. A primeira coisa que faço é me apresentar, mesmo que eles já saibam quem eu sou irei falar novamente, eles não vão me esquecer.

– Lara Parker, Distrito Cinco - digo, com sorriso dócil.

Aparento ser uma garotinha de dezesseis anos, a mesma que lutou contra a irmã, evitando sua espontaneidade. Mas as aparências enganam. Não existe etiqueta nos Jogos, por isso, desmancho o sorriso e cerro os dentes.

Minha raiva é tão grande da Capital, por desunir a mim e minha irmã, por nos colocar em uma situação horrenda, por querer me matar. Sei que vou morrer, mas não vou deixar que seja fácil.

Caminhei para a estação dos arcos. As silhuetas humanas que piscam e acendem, pegando os tributos de surpresa é minha melhor opção até agora. Apanhei um simples arco de aço, que, pela desordem, já foi usado anteriormente.

Após puxar a flecha da aljava, mirei o pescoço, esperando o brilho avermelhado sinalizar que é minha hora. A imagem que esboço é de um velho de cabelos finos e grisalhos. Seus olhinhos de cobras me encaram, com um sorriso maligno.

A flecha está posicionada, a corda está puxada. Soltei a primeira que atinge o pescoço do velho. Em seguida puxei outra flecha e num movimento veloz, atirei outra flecha que cravou no centro da silhueta.

Deveria estar dando pulinhos de alegria com meu triunfo, mas em vez disso, estou irada, e já empunho facas. Ando até outra estação e lanço-as contra os alvos, nem todas acertam o meio, mas não importa.

Preciso extravagar minha raiva, de alguma maneira. A primeira coisa que penso é destruir o ginásio, mas isso me renderia má fama. Pego potes de tinta, me ajoelho. Um desenho, que mais posso chamar de rabiscos, mostra uma Capital em chamas, sangue o presidente de Panem igual.

Olhei para a arte, imaginando o prazer de presenciar esta cena, o coração de Snow sendo cozinhado, seu corpo carbonizado, destruído, assim como o Distrito 13.

Mostrando meu lado amigável e irônico, fui até a frente dos patrocinadores e repeti a minha entrada. Sorriso e despedida. Espero que eles não me esqueçam.

Distrito 6

Kiara Lawrence

O tempo passa rápido, já é minha vez e eu não tenho ideia do que fazer. Estou nervosa, minha nota pode determinar minha vida daqui dois dias. Talvez eu entre como favorita, mas acho improvável.

Meu companheiro já foi, não sei o que ele fez, mas deve ter sido algo bem feito. O Distrito 6 geralmente não é o melhor Distrito, nem os melhores bem colocados. Geralmente passamos da cornucópia, mas morremos em alguns dias depois, embora tivéssemos ganhado outras vezes. Exemplo disso foram os morfináceos.

Olhei para os patrocinadores, eles estão discutindo, provavelmente as últimas avaliações. O chão está borrado, alguém pintou algo que não pode ser exposto, por sinal.

Minhas bochechas coram de frustração. Mas uma ideia ilumina minha mente, e eu corro para um carrinho com bonecos. Também agarro uma corda, amarrando os bonecos em uma formação perfeita. Um na dianteira, sozinho, outros três centralizados e um no final.

Agarrei um pequeno arco de ferro, um pouco pesado. Vesti a aljava correspondente. Também me armei com facas, guardando no bolso. Puxei uma flecha, preparando o tiro. Estou postada para iniciar a apresentação, contando mentalmente até três. Um... dois... três... já!

Solto a flecha, que finca na cabeça do primeiro boneco. Corri, contornando-o e largo o arco. Saquei duas facas, jogando cada uma em um dos títeres, acertando uma região. Agarrei de novo o arco e avancei contra o terceiro boneco, centralizado, estripando-o com outra faca.

Para finalizar, efetuei um rolamento e já atirei novamente uma flecha, apontada para o alto. A corda que pendia o boneco arrebentou, e ele caiu. Ouço o Idealizador pedindo para eu ir.

Deixei as armas numa mesa e me despedi dos patrocinadores com uma reverência e sorriso, numa tentativa de ganhar mais pontos. Espero que eles tenham gostado, preciso sobreviver a arena.

Preciso desesperadamente voltar para casa.