A terceira eterna vida de Bree Tanner. escrita por Cactus Saint


Capítulo 2
A pressa é a inimiga dos descoordenados


Notas iniciais do capítulo

Huuummm... eu tive alguns acessos, mas ninguém comentou. Ei, gente, comentem, tá? Eu vou adorar receber comentários.
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1. A PRESSA É A INIMIGA DOS DESCOORDENADOS

Às 5:00 da manhã, eu já podia ouvir o som do ronco do meu pai no quarto à frente; os passos na cozinha de Julliett e Kevin e Harry discutindo sobre qual dos seus super-heróis teria mais habilidade ou imunidade ao fogo. Eu, definitivamente, tenho os irmãos mais idiotas, inúteis e estúpidos que existem, pensei.

Mas, de qualquer maneira, eu ainda tinha que agradecer por eles não estarem ali, no meu quarto, gritando e pulando na minha cama ou fazendo algo idiota para me irritar.

Escutei a porta do quarto dos meus pais abrindo de supetão, e passos apressados pelo corredor, indo em direção a escada.

Quem tinha se irritado tanto com os meninos dessa vez? Meu pai ainda roncava baixinho, então deduzi imediatamente que quem estava indo brigar com os meus gêmeos era a mamãe. Escutei o som de vidro sendo quebrado, provavelmente, eles haviam destruído outro vaso antigo e caro –– ou então mamãe, numa tentativa de pará-los. Afinal, quando eles iriam crescer?

Suspirei frustrada. Mais uma hora de sono perdida. Desde que papai e mamãe haviam tirado todos os aparelhos tecnológicos de Kevin e Harry –– o que incluía o vídeo game que jogávamos juntos ––, a vida em casa tinha se transformado em um inferno. Eles não deixavam ninguém dormir. Ficavam cantando –– se bem que estava mais pra gritos desafinados –– e tocando aquelas malditas guitarras até tarde da noite e quando acordavam às 5:00 –– deixando-me espantada pelo fato das criaturas mal dormirem e continuassem acordando tão cedo ––, começava tudo de novo. Porém, naquela madrugada –– porque 5:00 da manhã ainda é madrugada para mim ––, eles estavam brigando. Até que tinha demorado demais.

Se eles já eram irritantes cumprindo a “obrigação” de me acordar às 7:00, às 5:00 eles eram piores.

Decidi que era hora de levantar –– se eu demorasse muito no quarto, Kevin e Harry viriam cumprir sua tarefa diária. Praticamente rastejei até o banheiro e liguei a torneira da direita –– a da água fria, que ajudaria a diminuir o inchaço completo que era meu rosto.

Quanto tempo eu tinha passado gritando com Kevin para ele parar de tocar o maldito baixo até as 4:00 da manhã? Eu acabaria matando aquele garoto mais cedo ou mais tarde.

Fiz uma espécie de coque em meu cabelo longo e castanho, e enfiei meu rosto na água gelada.

Já arrumada e com os olhos semiabertos eu desci a escada à tropeções. Mas eu me virava bem assim, já que as três semanas e três dias sem vídeo game eu, Kevin e Harry parecíamos mais com zumbis atropelados que qualquer outra coisa.

Eu e os gêmeos estávamos contando. Eles esperando ter os brinquedos de volta, eu, querendo que minhas horas de sono perdidas fossem recuperadas. Eu poderia hibernar facilmente depois daqueles quatro dias restantes...

No último degrau da escada, podia-se ouvir minha mãe reclamando com os retardados. Caminhei lentamente pelo corredor e virei a esquina que dava para a sala de estar. As duas cabeças louras estavam meio que apoiadas uma na outra. Mesmo de costas, de onde eu estava, eu conseguia imaginar a baba praticamente escorrendo da boca dos meus gêmeos.

Mamãe continuava reclamando, a voz elevada e os olhos verdes brilhando irritados sob a franja castanha ainda molhada indicando o banho recente. A minha não estava muito diferente disso, mas eu não ligava muito em secá-la como minha mãe sempre fazia com a dela.

Me arrastei até lá e, quando me viu com maior cara de morta-viva, mamãe esqueceu dos pestes e veio me abraçar.

–– Ah, minha borboletinha de fogo, você está tão abatida! –– ela se afastou um pouco, para me olhar melhor –– o que resultou numa careta de horror ––, lançar um olhar assassino para os gêmeos, e me abraçar novamente.

Quando ela finalmente me soltou, liberou uma enxurrada de palavras:

–– Isso é tudo culpa dos seus irmãos! Se eles soubessem conciliar as brincadeiras com os estudos como você faz, eu e seu pai não veríamos motivos para eles ficarem sem nenhuma diversão tecnológica. –– Ela balançou as mãos no ar, exasperada.

Eu precisava mudar de assunto, eu não gostava quando ela ficava irritada.

Mamãe piscou com força, quando uma gota de água entrou em seu olho esquerdo, e eu joguei a franja dela para o lado.

–– Você precisa secar o cabelo –– comentei.

Ela sorriu para mim, concordando.

–– É. Vou lá fazer isso. Pode me fazer um favor, querida? –– perguntou, colocando uma mecha do meu cabelo atrás da orelha. Assenti e ela continuou: –– Cuide para que seus irmãos não coloquem fogo na casa.

Ah, é. O esporte preferido deles, desde que o poder elementar cresceu dentro deles –– no caso, o fogo ––, colocar fogo nas coisas e um no outro virou diversão.

Eu ri com ela, que qualquer forma.

–– Darei o meu melhor.

Ela me beijou na testa e seguiu em direção ao corredor.

Virei-me para os gêmeos, que continuavam na mesma posição: cabeças encostadas e baba escorrendo pela boca. Foi impossível reprimir uma careta. Bem, pelo menos eu não teria que amarra-los no sofá ou algo assim.

Boquinha santa, a sua, Bree.

Harry começou a se remexer e consequentemente, Kevin também. Eles abriram os olhos quase que ao mesmo tempo, e me encararam um tanto confusos. O quê, perderam a memória enquanto dormiram? Kevin resmungou algo que eu não consegui decifrar enquanto Harry se espreguiçava e coçava os olhos.

Eles se viraram para mim, e eu percebi o quão vermelhos seus olhos estavam.

–– Cara... –– murmurei, balançando a cabeça. –– Parece que colocaram pimenta nos olhos de vocês. –– Eles me mostraram língua, e eu ri deles.

–– Cala a boca, Abelha. –– Harry falou, chamando-me pelo apelido constrangedor e jogando uma almofada em minha direção. Eu desviei, o que me deixou um tanto surpresa com a minha agilidade repentina.

–– Certo, crianças –– Julliett falou, surgindo de sei lá onde, nos arrastando para a cozinha ––, hora de comer!

A cozinha cheirava a ovos, bacon, e a... pasteis?

–– Julliett, você está assando pasteis a essa hora? –– Harry indagou.

–– Sim, por que?

Julliett não costumava fazer pasteis tão cedo.

–– Geralmente você faz pasteis durante a noite, quando eu posso te ajudar a prepara-los... –– murmurei, enquanto me sentava à bancada.

Ela sorriu para mim.

–– Achei que gostaria de ter algo que não fosse aquela pizza estranha da cantina da escola. –– Julliett deu de ombros –– e aí notei que ela estava mal-humorada –– enquanto enchia nossos pratos de ovos e bacon. A pizza não era tão ruim assim, mas eu era esperta o suficiente para não discutir com ela. Comecei a comer, encerrando o assunto.

Juliett era nossa governanta, mas era mais como se fosse nossa avó, apesar de ser mais mal-humorada do que nossa verdadeira avó. Julliett tinha praticamente nos criado, e ela achava que era missão dela nos fazer crescer mais uns 20 centímetros, apesar de eu já ter 1,75 metro de altura. Esta manhã eu estava estranhamente faminta, como se não comesse há uma semana. Comi um ovo e dois pedações de bacon e já me senti melhor. Sorri para ela de boca cheia.

–– Não pegue no meu pé, Jullie. Estou exausta. –– E era verdade.

Ela colocou com força na minha frete um gigantesco copo de suco de laranja e outro maior ainda de leite, repetindo os gestos com os gêmeos.

–– Acabou o achocolatado? –– Harry bebia achocolatado do mesmo jeito que eu bebia Coca-Cola e Kevin café, mesmo de manhã, ele estava sempre atrás da sua dose de açúcar.

–– A-C-I-M-A-T-E-S-E. –– O modo como Julliett soletrava as palavras letra por letra fazia parecer que ela estava dando um tapa na cabeça de cada pobre letrinha. –– Quero dizer, acostume-se. E não pense em botar um pé para fora daquela porta antes de beber o leite que dei pra você. E isso vale para os três.

–– Sim, senhora –– falamos juntos.

–– Vejo que você se arrumou. –– Eu não tinha me arrumado. Estava de jeans, uma camiseta desbotada, e moletom, como quase todos os dias. O All Star era diferente, era o azul escuro que Amy tinha me dado de Natal, mas eu estava com a mesma touca que usava havia três anos.

–– Pensei que você fosse cortar a franja –– falou, como se fosse uma bronca, mas eu percebi o que era realmente: puro e simples amor.

–– Quando falei isso?

–– Você não sabe que os olhos são a janela da alma?

–– Talvez eu não queria que ninguém use uma janela para ver minha alma.

Julliett me puniu com mais um prato de bacon. Ela mal chegava a 1,50 metro de altura e era provavelmente mais velha do que a porcelana preferida da minha mãe, apesar de em cada aniversário ela insistir que estava fazendo 53 anos e Conjuradores não envelhecerem quase nada depois dos dezesseis anos. Mas Julliett era qualquer coisa, menos uma “senhora” amável. Ela era autoridade absoluta na minha casa.

–– Bem, não pense que vai sair nesse tempo com o cabelo molhado.

Revirei os olhos. Julliett sabia que uma Conjuradora do Fogo nunca ficava resfriada. Ela mesma era uma.

Kevin comentou alguma coisa, mas eu estava distraída demais com a comida pra prestar atenção nele.

Ele suspirou, irritado.

–– Bree?

–– Huumm?

–– Ei, será que você pode prestar atenção no seu irmão preferido?

Levantei a cabeça, lançando lhe o meu melhor sorriso de atriz de cinema. Harry riu baixinho. Ele já previa o que viria a seguir.

–– E quem disse que você é o meu irmão preferido, animal?

Kevin ficou vermelho –– mas não de raiva, ele estava envergonhado.

Ele abriu a boca pra retrucar, mas mamãe e papai chegaram totalmente arrumados e bonitos.

Meu pai, John, estava com um terno cinza de corte sério, ele estava elegante e bonito, até. Não que meu pai fosse feio, pelo contrário, eu via como as velhotas assanhadas da cidade ficavam quando ele passava. É claro que os olhos verdes, os cabelos louros e a tez levemente bronzeada chamavam muita atenção das tiazonas. Essa era a coisa chata dele ter quarenta e oito mas aparentar dezenove!

Minha mãe, Suzana, também estava bonita. Ela usava um vestido preto com mangas um pouco abaixo do cotovelo, com um decote muito suave e delicado e marcado na cintura e levemente solto até o joelho, onde terminava. Ela estava com uma sombra marrom acobreada aplicada no côncavo seguida de uma creme na pálpebra móvel –– o que destacava ainda mais seus olhos verdes –– e um blush rosado nas maçãs do rosto.

–– Olha só como a mamãe está gata! –– Harry assobiou, e mamãe riu.

–– Harry! Olhe como fala com sua mãe! –– Ralhou Julliett.

–– Ora, Jullie, ele só está sendo carinhoso com a mamãe dele. –– Mamãe caminhou até Harry e apertou suas bochechas. Eu e Kevin contraímos os lábios para não rir. –– Ei, não riam, não, vocês também são meus bebês. –– Mamãe riu enquanto nos puxava para um abraço.

–– Mãe! –– reclamei, e meu pai riu leve.

–– Humm... Isso está realmente lindo, mas eu ainda estou com fome! –– Kevin reclamou, fazendo o bico mais engraçado que eu já tinha visto, enquanto desfazia o abraço. Fiz uma careta pra ele.

–– Como você é feio, menino –– provoquei.

–– Hey! –– Ele e Harry reclamaram ao mesmo tempo.

–– Você pode xingar ele a vontade, mas não o chame de feio, nós somos gêmeos, Abelha. –– Harry cruzou os braços, e tudo o que eu fiz foi encher minha boca de bacon.

–– Eu e meu apelido ridículo... –– Murmurei, e mudei de assunto. –– Vocês vão para o Concelho, não é? –– Me virei para meu pai, encarando-o melhor.

–– É. Temos algumas coisas para resolver.

–– E provavelmente vamos ter que passar uns dias fora. –– Mamãe acrescentou.

O Concelho era basicamente uma chatice completa em que todos os representantes do povo Elementar –– no caso, que conjurava o Fogo (como eu e minha família), a Água, a Terra e o Ar –– discutiam novas leis, julgavam casos de violência entre Conjuradores (termo dado a quem tinha habilidades com algum elemento), marcavam reuniões e confraternizações entre as nações. Era algo grande, onde Conjuradores de vários cantos do mundo se reuniam por uma semana, todo ano em um pais diferente. É claro que sem o Conselho, a rixa eterna entre Conjuradores do Fogo e Conjuradores da Água seria muito complicado. Não, ninguém queria nenhum escândalo que pudesse nos expor. Esse era o pior crime: permitir que algum Mortal (termo dado a quem não era Conjurador) soubesse sobre nós.

Meus pais eram os representantes dos Conjuradores do Fogo mais importantes desde meus avós –– já que foi meio que passado de geração a geração o poder no Concelho.

Assenti, murmurando um “legal” enquanto bebia meu suco.

Para me distrair, deixei meu olhar vagar pela cozinha. Tudo era muito claro. Os móveis brancos, com o tampo do balcão e da pia revestido em marfim; o piso de linóleo; no teto, logo abaixo do balcão onde eu estava, haviam dois lustres simples; sob um armário um relógio dourado e pequeno repousava, indicando que eram 8:00. Maravilha. Se eu não enfiasse toda aquela comida garganta abaixo iria me atrasar. Muito. Dei um último gole na bebida e pulei da cadeira, correndo em direção às escadas para pegar minha mochila. Péssima ideia. Eu realmente não tinha nascido para correr, eu mal andava sem tropeçar no vento! Me estatelei no chão, de joelhos, a duas passadas para a escada.

–– Abelhinha! –– Meu pai –– que de alguma forma chegou muito rápido onde eu estava (se bem que eu acho que quando eu comecei correr ele me seguiu, prevendo o que aconteceria) –– me ajudou a me levantar.

–– Cara, você é muito desastrada! –– Kevin riu, apoiando-se numa coluna.

–– Achei que as abelhas tinham um senso de direção melhor –– Harry zombou, e eu senti um rosto esquentar.

–– Harry. Kevin. Parem. –– Mamãe repreendeu-os entredentes, e os dois idiotas se calaram.

Balancei a cabeça, voltando a caminhar, dessa vez mais lenta e atenta, e subindo as escadas sem pressa. Porque a pressa é a inimiga dos descoordenados.


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Notas finais do capítulo

Roupa da Bree:
http://www.polyvore.com/cgi/set?id=112896033&.locale=pt-br

E é isso, amores. Espero que gostem - e comentem.
Beijos,
Elle