Entre Vivos e Mortos escrita por TheBlackWings


Capítulo 34
Capítulo 34 - O sol nasce outra vez




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O sol nasceu novamente entre as nuvens pesadas que agora se desfaziam sobre o santuário. Sua luz veio para dissipar as sombras que corroíam a alma daqueles que viram o terror da batalha travada naquele campo. A noite havia sido de comemoração e alegria, e ao mesmo tempo de tristeza e luto por tantas vidas que se esvaíram.

Os soldados agora descansavam seus corpos entorpecidos pela dor, e eram tratados pelos serviçais. Era tão grande o numero de homens feridos que por todo canto que se olhava, se via guerreiros a espera de tratamento. Os cavaleiros e soldados menos feridos se encarregavam de sepultar dignamente os colegas caídos e também auxiliar os aldeões de rodório, feridos ou perdidos entre os escombros da parte da cidade que sofreu com a chegada do exército de Hades.

Um dia era pouco para tudo retomar seu eixo, mas isso não ocultava a alegria da vitória sobre o inimigo, e que mais um passo havia sido dado em direção ao fim daquela guerra. Mas nenhum tempo será o suficiente para que se esqueça o que aconteceu. As imagens daquela batalha passavam vezes e vezes na mente, o choque entre o exercito negro e os soldados da deusa, o cosmo de Thanatos cobrindo os doze templos, o abandono do campo de batalha.

- No que esta pensando? – A voz fez com que Shun volta-se a realidade. Encontrava-se sentado em uma cama de lençóis brancos junto à janela. O céu estava escuro, escondendo o sol sobre pesadas nuvens. Fitava distraído o horizonte, o bosque fechado que rodeava o castelo, e a silhueta distante de uma pequena cidade.

- Em nada. – Disse, automaticamente sem fitar Pandora. A jovem esboçou um sorriso de conformidade, em seguida largou sobre um móvel antigo uma bandeja de prata com alguns remédios em finos frascos de vidro, e começou a remexer em algumas bandagens. Em cima do móvel ainda se via varias ataduras negras amassadas, tingidas de sangue. 

Pandora sentou-se próxima a Shun. Enquanto limpava um ferimento ainda aberto no rosto dele, observava o olhar triste que se perdia no horizonte. Limpava um ferimento no rosto do jovem enquanto este continuava perdido no horizonte. Algum tempo se passou assim, até que Shun quebrou o silêncio.

- Mestre Thanatos era o comandante do exercito. Agora, como ficará...?

- Não tenho a resposta. – Disse pandora, sem se distrair de sua tarefa. – Acredito que inicialmente senhor Hypnos ira tomar as rédeas. Ele é incomparavelmente mais centrado que Thanatos, e com certeza saberá o que fazer.

Shun assentiu com a cabeça. Nos seus pensamentos agora voltava novamente ao passado, só que muito mais distante.

- Dês de que cheguei aqui sempre senti respeito pelos dois, mesmo antes de eles me treinarem. – Em sua mente repassava varias cenas de seu passado; via-se ainda pequeno treinando exaustivamente sob a vigilância de Thanatos, e mais tarde sob pilhas de livros e pergaminhos em enormes locais ouvindo ensinamentos de Hypnos. – Sinto pelo Mestre Thanatos...

- Você sempre assim, não é? – Disse pandora. – Não havia nada que pudesse ser feito. Senhor Thanatos conhecia os riscos. Além do mais não poderiam ter feito mais por ele, a retirada foi ordens diretas, você sabe.

Shun concordou com a cabeça. Pandora sorriu, e prosseguindo com seu trabalho tomou uma de suas mãos. Sem as ataduras negras que sempre as protegiam, agora deixava a mostra uma pele branquíssima, mas que trazia as marcas de um passado difícil: A partir dos dedos, as duas mãos eram cobertas de cicatrizes profundas, marcas avermelhadas e esbranquiçadas de varias épocas, de arranhões superficiais até mesmo cortes profundos, queimaduras escurecidas e marcas de intervenções cirúrgicas que se seguiam uma por cima das outras, até perto dos cotovelos.

Era uma imagem dolorosa de se ver. Aquele que deveria ter tido uma criação de paz e tranqüilidade havia escolhido um caminho tão cruel para trilhar. Com delicadeza, cobriu as feridas com a mesma bandagem negra de antes. Devagar, escondia aquelas marcas humanas sob a vestimenta que lhe cabia. Ao terminar, beijou-lhe a mão em sinal de respeito, o que lhe lembrou que, em outras épocas, ele reclamaria de tal ato. “Deixe essas demonstrações para o Imperador Hades”.

– Se precisar de alguma coisa, é só me chamar. – Pandora se levantou, dirigindo-se a porta do quarto. – Se sentir dor, sabe o que fazer.

Shun agradeceu enquanto ela sumia no corredor. Recostou-se sob a parede, com a brisa batendo em sua face. Os braços, agora novamente cobertos pelas bandagens negras, contrastavam com a blusa de tecido branco e o medalhão de prata, que sempre permanecia pendurado em seu pescoço.

Do outro lado do quarto, fitou a forma de sua armadura sob um pedestal de pedra iluminada pela janela. Brilhante como um diamante negro, tão poderosa era que iludiu os inimigos com uma forma semelhante a uma armadura de Athena. Repousava agora na forma simples de um jovem anjo caído, sentado e abraçando as próprias pernas, coberto pelas próprias asas que formavam um casulo protegendo-o.

Virando a face, fitou agora o frasco de cristal escurecido que permanecia junto a outros remédios sobre a bandeja de prata. Tão escuro quanto sua proteção de batalha era o liquido avermelhado contido no frasco, em uma quantidade desprezível. Seu olhar o fitava, mas sua mente estava longe.

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Longe daquele conforto e fineza, os cavaleiros feridos eram tratados como podiam. Em uma pequena enfermaria, onde ficavam apenas os casos mais graves, todos os leitos agora estavam vazios. Apenas um permanecia ocupado.

Sentado na beirada da cama, Dohko de libra era teimoso demais para ficar parado.

- Você é louco? Devia estar morto com tantos ferimentos! – Seiya falava incrédulo ao entrar no local junto com Shiryu e Hyoga.

- Heh, já passei por coisas piores rapaz! – Riu o experiente cavaleiro. – Mas admito que esteja ficando velho demais para isso.

- Fala como se tivesse cem anos de idade – Comentou Hyoga, fazendo o cavaleiro de ouro cair na gargalhada, enquanto os três se entreolhavam.

- Me digam alguma notícia de Athena? Ela esta bem?– Dohko mudou de assunto ao parar de rir.

- Muito bem, obrigado por perguntar! – A voz de Saori assustou os quarto ao surgir na porta do local.

- Athena!!!! – Falaram em coro. A jovem adentrou o local. Seu rosto estava límpido, e seu sorriso os acalmava. O vestido branco e delicado que vestia não cobria os arranhões avermelhados que exibia nos braços, colo e rosto. Atrás dela, o grande mestre permaneceu junto à porta. Sua face estava oculta pelo elmo dourado.

- Queria ver pessoalmente como estavam meus cavaleiros. – Disse, com a voz calma. Sentando-se na borda da cama ao lado da de Dohko. Todos sorriram em retribuição a ela. – Fico feliz em ver que já esta melhor, Dohko. Você foi atingido diretamente por Thanatos, eu fiquei muito preocupada.

- Fico honrado, mas foi somente meu dever como cavaleiro. – Sorriu e fez um comprimento tipicamente chinês. Saori sorriu.

- Obrigado também, Seiya! – Disse fitando o cavaleiro, enrubescendo-o. – Você me salvou lá, se não tivesse chegado na ultima hora...

Silenciou-se bruscamente ao lembrar-se da batalha, de Shun a sua frente, pronto para ceifar sua vida. Todos também entenderam, então fitou Shiryu e Hyoga.

- Também agradeço muito a vocês. – Disse. – A batalha de verdade era no campo de batalha, onde vocês foram a nossa maior esperança. Graças a vocês o Santuário está de pé agora.

- Foi nossa obrigação, Athena. – Agradeceu Shiryu.

A jovem os fitou por algum tempo, enquanto os três jovens trocavam brincadeiras entre si, e às vezes Dohko também. Sentia-se familiarizada, e eles eram os únicos que não a tratavam como uma Deusa.

-Athena, esta ficando tarde. – A voz do Mestre a fez voltar à realidade.

- Sim, é mesmo! Tem razão. – Falou se levantando, ainda sorridente.

- Fico feliz que tenha vindo aqui, mesmo que seja pouco tempo. – Disse Seiya.

- Eu adoraria ficar mais, mas não posso abusar da boa vontade dele, já foi difícil convencê-lo a vir até aqui... – A jovem falava, apontando discretamente para o Mestre parado na porta.

- Eu estou ouvindo... – Retrucou, sem jeito. Riram novamente, enquanto abanavam para jovem enquanto ela saia.

- É difícil estar perto dela e tratá-la como uma deusa. – Seiya comentou, sentando-se. Shiryu e Hyoga concordaram com a cabeça.

- Tem razão, mas é melhor assim. Ela foi tratada dês de pequena como uma garota normal, e essa revelação foi um grande choque. – Disse o cavaleiro de Libra. – Vocês são a única parte desse passado que restou para ela.

- Sinto por ela ter que sofrer tanto, ela não esta preparada para essa guerra. – Hyoga falou, pensando em tudo que ainda estaria por vir.

Seiya lembrou-se novamente da batalha. Aquele momento final quando o Deus da morte era selado dentro da urna. Naquele instante, não era Saori que estava ali, com a mão nos ombros do mestre, era diferente, era Athena. Sabia que mesmo que fosse difícil, ela teria força para conseguir guiar aquela guerra.

- Seiya? – A voz de Shiryu o fez acordar dos devaneios. – Ainda esta aqui?

O cavaleiro de pégaso pensou um pouco, voltando a falar em seguida.

- Ah, lembrei. Durante o ataque, eu vi o rosto do Mestre Ares.

- E o que tem isso? – Hyoga perguntou.

- Eu realmente o imaginava mais velho... – Seiya ficou pensativo. – Bem mais velho.

Shiryu e Hyoga se entreolharam. A figura do grande mestre era tão significativa, exalava sabedoria e inteligência, e a escolha de seu representante seria algo bastante rigoroso. Naturalmente o mestre seria um cavaleiro já bastante experiente. Dohko sorriu com a face intrigada dos jovens.

- Não se preocupem tanto com isso. – Disse, atraindo a atenção dos três. – Existem muitas coisas que ainda não foram reveladas, e por enquanto é melhor permanecer assim.

Os cavaleiros de bronze mantinham-se atentos. De fato, muita coisa não havia sido explicada ainda. Dohko observava por uma janela o por do sol, que deixava os campos de treino e montanhas do santuário com um tom avermelhado.

- Mas, por que precisam existir esses segredos até mesmo de nós? – Shiryu questionou Dohko.

- Há muitas coisas que vocês não entenderiam completamente, outras que vocês nem precisariam saber. – Sorriu para Dragão. – Pelo menos não estão fazendo falta não é?

- Não sei se entendi...

- Ora, e dês de quando você me contesta? – Dohko resmungou alto, parou um segundo e depois riu novamente da situação. Os três nada responderam.

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A noite caiu novamente. Com o tempo as feridas da batalha sangrenta se cicatrizariam nos corpos dos soldados, porém as lembranças e perdas daquele dia jamais seriam esquecidas. A luta entre deuses, travada por homens naquele campo de batalha eterno não havia acabado ali, e se prolongaria por séculos.

Mas naquele momento, a desvantagem do exercito da deusa era visível, e sua derrota iminente, se não houvesse havido a intervenção de Poseidon. Mas o deus dos mares era o outro lado que surgia na guerra, aquele contra quem Athena também lutara diversas vezes, e agora surgia em socorro de sua rival histórica.

Sua alma poderosa não possuía mais um corpo físico, como Athena ou Hades. Dependeria eternamente de um hospedeiro humano, e até que este estivesse apto para ser sua imagem, sua alma repousava em sua fortaleza submarina. Aquela parte restante de seu imenso território subaquático, o Templo de Poseidon. Dali ele vigiava e sustentava os mares de todo planeta.

O único movimento ali eram os soldados protegidos por escamas simples, que guardavam a entrada para o lugar. Dentro do templo, a decoração magnífica remontava, em vários murais a história das inúmeras batalhas travadas ao longo da eternidade. Abaixo do salão principal, havia o local onde repousavam as escamas dos sete generais marinas, os guardiões dos pilares dos oceanos. Ao fundo, sob o pedestal de pedras, a armadura dourada de Poseidon reluzia, segurando em sua mão o tridente dos mares. O cosmo do deus envolvia a veste divina. Sua alma, que até agora havia permanecido adormecida oculta no corpo de seu hospedeiro havia manifestado-se para interferir na batalha de Athena.

Frente à armadura posta no altar de pedras, o General marina Sorento de Sirene encontrava-se ajoelhado.

- Senhor Poseidon, os generais já retornaram a seus postos. – Informou o General. O cosmo do deus se manifestou mais fortemente.

- Perfeito, tudo deve retornar agora aos devidos lugares. Não pretendo me manifestar novamente nessa batalha.

- Sim imperador. – Concordou Sorento – Mas se me permite, por que resolveu interferir na batalha de Athena, senhor? 

O cosmo continuava a brilhar em torno da armadura dourada.

- Sorento, há séculos Athena enfrenta Hades a cada era em que renasce. Em todas essas batalhas, nenhum dos lados nunca teve uma desvantagem significante em batalha. Se Hades conseguisse derrotar Athena, o mundo se tornaria parte de seu submundo, e isso é algo que afetaria os deuses diretamente.

- Então.. – Sorento entendeu onde o Deus pretendia chegar.

- Nenhum Deus além de Athena se dispõe a enfrentar o exército imortal de Hades. Eu enfrentaria mil vezes a deusa da terra, mas prefiro evitar um confronto com meu irmão.

Sorento observava o cosmo do Deus. Athena havia recebido outra chance, e se não soube-se aproveitar tal chance iria sofrer as conseqüências.

A batalha que acabara de passar não havia sido nada, comparada com o que ainda teria que enfrentar. Do outro lado da guerra, o castelo do deus dos mortos cada vez mais era envolto na escuridão, onde os raios de luz não podiam intervir. Hypnos observava o céu se fechar aos poucos por uma grande janela de vidro.

- Thanatos, você não aprende nunca... – Falou, desdenhando o irmão derrotado. O sorriso maligno em seus lábios era um pressagio do que viria. – Os preparativos estão terminados.


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Notas finais do capítulo

Nesse capítulo eu pretendia dar um descanço, e logo seguir para o foco da história, porém quando vi ja havia fechado as 2000 palavras O.o Pelos Deuses!

Bom, pelo menos no proximo capítulo não haverá mais enrolação =) (só um pouquinho ^^)



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