Divergente - por Tobias Eaton escrita por Willie Mellark, Anníssima


Capítulo 15
Capítulo 15




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Uma vez dentro de meu quarto, apanho um pano úmido e passo no seu rosto, tentando deixá-la mais confortável. Vou até ao banheiro e começo a tirar o sangue que ainda está em minhas mãos. Nunca na minha vida, nem por Marcus, ou por Eric senti tanta raiva quanto a de alguns minutos atrás. As pessoas da Abnegação são educadas desde cedo em como ajudar, esquecer-se de si e perdoar. Não é a toa que comparam minha antiga Facção, com os tementes a Deus.

Como isso fosse uma coisa ruim...

Quando a vi sob o jugo de Peter, Al, e Drew, esqueci-me completamente de tudo o que eu havia feito para ficar aqui no Destemor. Só o que eu queria era poder causar à eles muito mais dor do que fizeram-na sentir. Saio do banheiro, pego a bolsa de gelo que estava na geladeira e caminho em sua direção. Ela já estava acordada quando meus olhos encontram-se com os seus.

“Suas mãos.” - Ela fala e mais parece um sussurro.

“Minhas mãos não merecem sua preocupação.” Digo-lhe.

Descanso o joelho no colchão e inclino-me sobre ela deslizando a bolsa de gelo cuidadosamente sobre sua cabeça. Quando estou prestes a me afastar, seus dedos passam gentilmente pelo corte nos meus lábios.

“Tris.” - Eu falo contra os seus dedos. A sensação de seu toque em meus lábios é tão boa. - “Eu estou bem.”

“Por que você estava lá?” - Ela pergunta deixando a mão cair, mas eu preferia que ela a mantivesse ali, me tocando.

“Eu estava voltando da sala de controle. Eu ouvi um grito.”

“O que você fez com eles?” - Ela pergunta. E eu penso que minha vontade não foi sequer minimamente satisfeita com o que fiz com Drew. Se eu pudesse teria batido tanto nos três que quando eles acordassem amanhã e olhassem para o espelho, seus hematomas e cortes os lembrariam de quem os fez o do porquê disso.

“Eu entreguei Drew à enfermaria meia hora atrás, Peter e Al correram. Drew alegou que tentavam apenas te assustar. Pelo menos eu acho que foi isso era o que ele estava tentando dizer.” - Eu lhe respondo, observando sua reação.

“Ele está mal?”

“Ele vai viver.” - O que fiz não chega nem próximo do que ele merecia. - “Em que condições, eu não posso dizer.”

Ela aperta o meu braço.

“Bom.” - A voz dela sai forte e feroz. Então ela começa a chorar. Sinto-me frustrado e ao mesmo tempo a ponto de perder o controle, Peter e Al sairam ilesos da história. Agacho-me ao seu lado e a olho, levantando o meu pulso livre e descansando a minha mão sobre a lateral do rosto de Tris. Deslizo meu polegar cuidadosamente sobre seu rosto.

“Eu poderia relatar isso.”

“Não.” Ela afirma e é exatamente como eu esperava. - “Eu não quero que eles pensem que eu estou com medo.”

Aceno com a cabeça.

“Imaginei que você diria isso.” - Falo enquanto continuo acariciando sua bochecha. De certa forma eu já sinto que estamos mais próximos um do outro.

“Você acha que seria uma má ideia eu me sentar?” - Ela pergunta.

“Eu vou ajudar você.”

Aperto seu ombro com uma mão e seguro firme sua cabeça com a outra, enquanto ela empurra para se firmar sentada. Ela abafa um gemido de dor, corro minhas mãos até a bolsa de gelo e a entrego.

“Você pode mostrar que está com dor, apenas eu estou aqui. Eu sugiro que você transfira sua confiança para seus amigos te protegerem a partir de agora.”

“Eu achei que iriam, mas, Al...”

Vejo que ela tenta esconder um soluço, mas a sua face é de decepção. Recordo-me do dia que vi Al ajudá-la no trem, do dia que ela enfrentou Eric para defendê-lo, quando ele passou seus braços entorno dela. Albert sempre fazia isso porque de alguma forma ao lado de Tris ele se achava forte, porque ambos compartilhavam o medo de virarem sem-facções, mas Tris deu a volta por cima e é a melhor dos transferidos agora.

Ele se sente fraco por isso.

“Ele queria que você fosse a pequena e quieta garota da Abnegação, ele te machucou porque sua força o fez sentir fraco. Não há outra razão.” - Digo suavemente e ela concorda com a cabeça. - “Os outros não vão ter tanta inveja se você mostrar alguma vulnerabilidade. Mesmo se não for real.”

Ele não gostava dela de verdade. Apenas criou uma Tris totalmente genérica em sua cabeça, conforme as feições dela. A Tris que sempre vi me atraiu pelo que ela é, esperta, forte e corajosa.

“Você acha que eu tenho que fingir ser vulnerável?” - Ela pergunta, quase não acreditando.

“Sim, eu acho.” - Meus dedos tocam os dela quando pego a bolsa de gelo e coloco atrás de sua cabeça, ela abaixa a mão rapidamente. Sei que ela não gosta de demonstrar fraqueza. Ela não se faz de vítima e faz de tudo para suportar a dor física, as humilhações dos outros transferidos e a saudade de casa. - “Você vai querer marchar até o café da manhã amanhã e mostrar aos seus atacantes que eles não têm efeito sobre você, mas você deve deixar esse hematoma na sua bochecha a mostra, e manter a cabeça baixa.”

“Eu não acho que consigo fazer isso.” - Ela levanta os olhos para mim.

“Você precisa.” - Eu afirmo.

“Eu acho que você não entendeu. Eles me tocaram.”

Fizeram o quê?

Ainda estou segurando a bolsa de gelo atrás de sua cabeça, e aperto com força ao ponto de sentir dor entre os nós dos meus dedos. Um surto colérico atingiu meu corpo e tenho vontade de voltar naquela enfermaria, espancar Drew e depois ir até o dormitório e faz o mesmo com Peter e Al. A raiva que me dominou antes voltou mais intensa. Sinto cada pedaço do meu corpo se contraindo.

“Tocaram você.” - Repito as palavras com mil pensamentos na cabeça, Peter aquele psicopata passando a mão em Tris, Al se aproveitando, enquanto Drew batia nela. É demais para que possa suportar.

“Não... Mas... quase” - Ela fala desviando o olhar. Sinto um alivio imediato e respiro fundo, mas continuo olhando-a. Se eles quase tocaram nela, este quase foi porque eu interrompi. Se eu não tivesse feito, quem sabe ela o que teria acontecido com ela...

“O que é?” - Ela pergunta, um pouco corada pelo constrangimento.

“Eu não quero dizer isso, mas eu sinto que preciso. É mais importante que você esteja salva do que certa, para o tempo que virá. Entende?”

É claro que ela entendeu, mas eu não quis dizer somente o próximo estágio de iniciação, tem haver com sua divergência também.

Ela concorda.

“Mas, por favor, quando você vir a oportunidade...” - Eu escorrego minha mão até sua bochecha e a aperto, inclino sua cabeça para cima, fazendo-a me olhar nos olhos, não sei bem ao certo o porque, mas me sinto bem quando ela o faz. - “Destrua-os.”

Ela ri meio trêmula. - “Você é um pouco assustador, Quatro.”

“Faça-me um favor, e não me chame assim.” - Digo por fim.

“E como devia te chamar então?”

“De nada. Por enquanto.” - E tiro a mão do seu rosto. - “Você terá que dormir essa noite aqui, voltar para o seu quarto agora seria loucura.”

Pego um pano e cubro o chão onde vou dormir e ela observa cada movimento que eu faço, não acredito que vou falar mesmo isso, mas é bom sentir seus olhos sobre mim.

“Você deita na cama.” - Eu digo.

Ela acena com a cabeça e se ajeita olhando para a parede. Eu me deito e por um momento a observo. Ela vai ficar bem, ela sempre fica. Temo apenas por uma coisa: Eric. Ele sempre quis me destruir de alguma forma, desde o dia que saí em primeiro e ele adoraria descobrir um ponto fraco em mim. Tenho que tratá-la da mesma forma que trato os outros. Se Eric desconfiar é bem capaz de montar guarda nela, e fazer algum mal a ela.

Já estou olhando-a há tempo demais, então, viro-me de bruços com um dos braços em volta da minha cabeça e fecho os olhos. Essa noite foi cansativa, mas minha mente ainda trabalha sobre tudo o que aconteceu até que adormeço.


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Notas finais do capítulo

E aí gostaram???