A Lenda dos Santos de Atena escrita por Krika Haruno


Capítulo 30
Desespero


Notas iniciais do capítulo

Tem cenas tensas no capítulo.



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Rodrigo comia sua sobremesa em silêncio, Atena ainda estava com a expressão séria.

– Posso perguntar uma coisa? - indagou sem olha-la diretamente.

– Pode.

– Tem algum motivo de não usar seu corpo imortal?

– Ele foi ferido há milênios, desde então ele permanece escondido.

– E como ele é?

– Meus corpos mortais se parecem com ele. Olhos verdes e cabelos lilases, ele só é mais alto.

– Ah....

– Vá para a sala de jantar, vou chamar as meninas para um comunicado. - levantou.

– Está bem.... ainda está com raiva de mim?

– Não deveria ter beijado Afrodite.

– Mas foi ela! Eu não tive culpa....

– Que seja. - abriu a porta. - não demore.

Saiu deixando- o sozinho. Enquanto descia as escadas que levavam ao andar de baixo, escutou risos. Ao chegar no último degrau deu de cara com Shion e Paula saindo do quarto dele. O grande mestre assim que viu a deusa corou.

– Shion? Paula? - indagou achando o fato curioso.

– Oi Atena. - Paula ficou sem graça.

– Atena. - o ariano fez uma leve reverencia.

Ela ficou por alguns segundos observando os dois, será que...

– "Não é da minha conta." - pensou ainda contrariada. - Pode me esperar no meu escritório? Preciso conversar com você.

– Cla-ro.

– Paula vá para a sala de jantar, preciso conversar com você em seguida.

Os dois engoliram a seco, será que a grega tinha achando ruim de vê-los juntos?

Nenhum dois questionaram as ordens. No trajeto, Atena chamou por Afrodite. Mask aproveitou para levar Julia para sua casa.

O.o.O.o.O

Depois do almoço Marin e Fernando seguiram para a vila. Os preparativos para a cerimonia seguiam a todo vapor. O mineiro via o ir e vir dos moradores com madeiras, panos, cestos de frutas e todo o tipo de decoração.

– Eles parecem animados.

– Estão Fê. A última cerimonia aconteceu há mais de quatrocentos anos.

– Mas e Shion?

– Atena o nomeou antes de morrer. Não teve algo formal.

– Entendi...

Um casal parecia ser os responsáveis pela organização da vila. Assim que viram Marin foram até ela.

– Senhorita Marin. – cumprimentou os dois.

– Como estão os preparativos Mara e Isaac?

– A todo vapor senhorita. – disse Mara. – já está quase tudo pronto.

– Fico feliz. Posso olhar?

Os dois conduziram Marin e Fernando. A festa seria no centro da vila, onde existia uma fonte. Emblemas de Atena estavam espalhados em faixas e cartazes. Um pequeno palanque havia sido montado, onde Atena e Shion fariam um discurso.

Logo Marin colocou a mão na massa, Fernando foi ajuda-la.

O.o.O.o.O

Suellen subia nervosa. Agora tudo fazia sentido, Kanon pegava Tétis enquanto ela servia de cozinheira para o marina.

– "Como sou burra."

– Suellen! - gritou.

Fingiu não ouvir, continuando a andar.

– Dá para esperar? - indagou segurando o braço dela.

– Me solta Kanon!

– Só se explicar o que está acontecendo.

– Nada! - berrou. - me solta! - puxou o braço.

Kanon a pegou novamente, mas desta vez segurando-a num abraço. Ela ficou surpresa com o contato, olhou primeiro para os braços fortes que a segurava, erguendo o rosto em seguida.

– Me diga o que aconteceu. - a voz saiu baixa, sentia-se estranho segurando-a daquela forma.

– Me solta... por favor... - ia acabar cedendo.

– Não antes de me contar.

– Realmente não é nada Kanon... agora me solta...

Não a soltou, ao contrario a segurou com mais força.

– Não quero que sinta raiva de mim. Nem que se afaste.

– Me solta Kanon. - suspirou lentamente para não ceder.

A resposta dele foi beija-la, ato que a deixou pasma. O marina aprofundou o contato.

– Não se afaste de mim. - disse ainda com os lábios próximos.

– Kanon...

– Eu preciso de você... ao meu lado.

– Está dizendo isso pois está com medo de perder a cozinheira.

– Não se trata disso. - acariciou o rosto dela. - é que...

Ficou em silencio, afastando-se dela. A imagem da barreira abrindo veio-lhe na mente.

– Me desculpe. - recuou ainda mais. - vou com você até o templo. - a voz saiu mais séria.

A brasileira não disse nada, a julgar a expressão do geminiano ele tinha chegado a conclusão que a via apenas como uma cozinheira. Suellen deu meia volta, Kanon seguiu logo atrás.

O.o.O.o.O

Atena em seu escritório aguardava apenas a chegada de Afrodite. Shion sentado no sofá fingia interesse num relatório, mas estava preocupado. A deusa o pegara junto com Paula, o que ela pensaria? Não que estivesse com receio, só queria ter tido oportunidade melhor para conta-la. Os pensamentos dele foram interrompidos por batidas a porta.

– Entre. - disse a deusa.

– Mandou me chamar Atena?

– Sim, sente-se aqui.

O pisciano acenou para o grande mestre indo se sentar.

– Aproxime-se Shion.

Os dois cavaleiros sentaram a frente dela.

– Na cerimônia de amanha, além da indicação de Aiolos, também vou anunciar, a sucessão de sua armadura a Marin.

– Mas já Atena? - indagou Shion.

– Sim. Ela vai assumir por completo quando Aiolos se tornar o Grande Mestre. Acha que é tempo suficiente Gustavv?

– Sim, Marin tem um cosmo bastante desenvolvido, não terá dificuldades.

– Então assim será. Kiki de Áries, Seiya de Sagitário, Shiryu de Dragão, Hyoga de Cisne e Marin de Peixes, os primeiros da nova elite.

– Os cavaleiros de bronze virão?

– Não. Eles serão convocados mais tarde para as apresentações formais. Isso é tudo. Shion, chame os demais para daqui uma hora quero passar algumas informações sobre a cerimônia.

– Sim senhorita.

– Será na sala do trono. - levantou. - com licença. - saiu.

Os dois trocaram olhares.

– É impressão minha ou o lado "Atena" está mais aflorado? - indagou Dite.

– Está aflorado. Aflorado e irritado. Deve ser pela presença da Afrodite.

– Afrodite esteve aqui??

– Sim, foi uma visita rápida, mas esteve. De certo fez algum comentário de mau gosto com nossa deusa. - levantou. - vamos cumprir as ordens.

Durante o trajeto do escritório a sala de jantar, Atena pediu a cada um dos cavaleiros que estivessem perto de alguma das meninas, informar sobre a reunião com elas naquele recinto. Paula e Rodrigo já estavam na sala de jantar.

Suellen recebeu o recado de Kanon, agradeceu, mas deixou-o falando sozinho na porta do templo.

Aioria avisou a Gabe sobre o comunicado de Atena. Apressou-se rapidamente.

Shaka recebendo as ordens de Atena, avisou Ester. A garota achou providencial o chamado, pois se ficasse mais tempo com o indiano ficaria com remorso, apesar da causa ser ajudar uma amiga.

O libriano foi pego de surpresa pelo chamado da deusa. Jules pegou suas roupas espalhadas pelo chão e tratou logo de chamar Mabel na varanda. O casal de brasileiros estava sentado no sofá. Transmitindo o recado, as duas partiram em direção ao templo.

Juliana, Sheila e Helu, nem precisaram ser avisadas, pois depois de acabar com o estoque de sorvete do Escorpião foram para o templo.

No caminho encontraram com Cristiane, depois com Isabel e por ultimo com Julia.

Marcela depois da cena com Miro foi direto para o templo. Fernando não foi avisado já que estava com Marin.

Gabrielle estranhou ao ver as amigas e Rodrigo reunidos.

– Aconteceu alguma coisa? - indagou a Helu.

– Acho que sim.

– Não é a barreira é? - arregalou os olhos.

– Não é Gabrielle. - disse Atena entrando. - boa tarde a todos.

– Boa. - Marcela respondeu por todos.

– Por favor sentem-se.

Enquanto a deusa foi para sentar na ponta da mesa, os demais espalharam-se.

– O motivo de ter chamado vocês, - iniciou quando viu todos acomodados, estranhou não ver Fernando, mas também não perguntou por ele. - é sobre a cerimônia de amanha.

Eu imaginava que a essa altura o vértice já teria aberto, mas como não aconteceu.... todos sabem que Aiolos é aspirante ao cargo de grande mestre, e a manhã será a cerimônia que tornará esse fato oficial. Ela será dividida em três partes. As quinze horas, a nomeação aos pés da estátua, as dezesseis a apresentação de Aiolos a Rodorio e as 16:30 uma cerimônia reservada. Em seguida teremos uma pequena festa na vila para a comemoração e depois uma festa mais intima para os cavaleiros.

– Os bronze vão vir? - indagou Mabel ansiosa por conhecer Hyoga.

– Não. Nem eles, nem Kiki, nem Shina que ainda está em missão.

Sheila levantou a mão.

– Diga Sheila.

– E nós? Vamos poder ver?

– Sim.

Gritos foram ouvidos, mas contidos ao fitarem a expressão séria de Atena.

– Poderão ver com limitações.

– Aceitamos sem problema Atena. - disse Paula, já satisfeita por ao menos participar.

– Poderão ver a primeira e segunda partes. Depois participarão dos festejos em Rodorio e aqui.

– Preciso de um vestido! - exclamou Julia. - tenho um vermelho... - disse pensativa.

– Sobre os trajes.... não usarão os seus, pois é uma cerimônia tradicional. - frisou o tradicional. - por causa disso providenciarei roupas para vocês. Isso vale também para os homens. - olhou para Rodrigo.

– Que tipo de roupas? - indagou Juliana curiosa.

– Vestimentas a moda da Grécia antiga.

Cris aproximou de Rodrigo.

– É impressão minha ou ela está brava. - disse baixinho.

– Está... - suspirou desanimado. - nem queira saber.

– Tem haver com sua saída súbita do jantar? - deu um sorrisinho.

– Mais ou menos. Mas antes que pense maldade, não aconteceu nada. Saori teve que se entupir de remédios.

– Por quê?

Rodrigo contou rapidamente, quando perceberam o olhar da deusa, ficaram quietos.

– As treze e meia, - voltou o olhar para as demais. - servas as ajudarão a se vestirem, mais cabelo e maquiagem.

– Teremos tratamento completo? - indagou Gabe animada.

– Sim.

Ester agora levantou o braço.

– Diga Ester.

Poderei levar meu tablet?

– Claro. - a expressão de Atena aos poucos foi suavizando, tivera uma ideia. - pode levar.

– Obrigada.

Enquanto Atena expunha alguns detalhes do dia de amanhã, a elite dourada se reunia no salão do trono. Alguns com expressões sérias, outros com sorrisos estampados no rosto.

Mu era um dos mais sérios, Shaka aproximou.

– Eu preciso conversar com você. - disse o indiano. - é sobre a Ester.

– Tem haver com o bloqueio? Ou com a minha telecinese?

– Mais ou menos. Antes da minha cerimônia do chá, vou a sua casa.

– Que cerimônia? - arqueou a sobrancelha.

– A que a Juliana vai fazer para mim. A Ester vai pedir para ela.

– E você concordou?

– Claro. - respondeu sem entender. - por quê?

– Por nada. -abafou o riso. - "Ester você é esperta..."

Kanon estava num canto cabisbaixo.

– Que cara é essa Kanonzinho? - indagou Dite de maneira debochada.

– Nada... - virou a cara.

– Brigou com a Suellen? - o deboche aumentou.

– Fique na sua!

Perto dali...

– Você o que?? - Dohko arregalou os olhos.

– Fale baixo... - pediu Deba com medo que alguém escutasse.

– Ela aceitou?

– Aceitou.... - sorriu.

– Mas como vai fazer...?

Deba confidenciou o plano a Dohko.

– Pode ser auto traição, mas não vou me importar de ir atrás dela.

– Não te condeno meu amigo. - o chinês sorriu. - pois acho que terei que fazer o mesmo.

Os dois sorriram.

Miro num canto estava em silêncio, Kamus estranhou o sossego.

– O que aconteceu?

– Nada.

– Como nada? Está a mais de cinco minutos calado.

– Engraçadinho....

– Fala logo Miro.

– Acredita que a Marcela me seguiu? Ela foi até o orfanato atrás de mim!

– Foi?

– Sim. Acabou me vendo brincando com as crianças... estou com raiva dela.

– Ela deve ter pensando que estava com alguém...

– Quando eu traio eu falo, você sabe disso. Não escondo esse tipo de coisa. Ela não tinha o direito de ir atrás de mim, e...

Miro parou de falar, alias o salão ficou em silencio ao começarem a sentir o cosmo de Saga. O geminiano entrou no recinto indo para o fundo, sem falar nada com ninguém. Seu cosmo vibrava como sempre, mas tinha algo no ar que não sabiam dizer o que era.

– Está tudo bem Saga? - indagou Aiolos achando estranho a expressão do geminiano.

– Está... - nem o fitou.

Shura e Kamus trocaram olhares. Kanon que conhecia bem o irmão, sabia que Saga não estava bem. O cosmo dele vibrava daquela forma quando estava caminhando para entrar em depressão. E aquilo era preocupante. Suellen tinha comentado com ele, que Cris achava que o irmão não estava tomando os remédios. Somado a isso, a quantidade de dias que o outro Saga, não tinha manifestado, quase um mês... Aquele súbito sumiço sem ajuda dos remédios, era um mal indicio.

– O que foi Saga? - agachou na frente dele.

– Nada Kanon. Está tudo bem...

– Tem certeza Saga? - Aiolos agachou ao lado do marina. Realmente estava preocupado.

– Eu não tenho mais jeito Aiolos. - disse, num tom baixo, mas suficiente para os outros escutarem. - minha vida não significa nada.

– Não fale assim Saga. - disse Deba com tristeza. - você está se tratando, vai sair dessa.

– Não vou... - o fitou. - eu só sou um estorvo para vocês. Atena não deveria ter me trazido a vida.

– Não fale assim Saga. - disse Shion. - Atena preza muito pela vida de todos vocês. Não imagina o quanto.

– Pois ela errou. Deveria ter me deixado morto.

A reunião com as meninas tinha acabado minutos atrás, Atena dirigia-se para a sala do trono contudo ouvindo as vozes de seus cavaleiros ficou escondida só ouvindo. A cada frase de Saga sentia-se mal. Segundos depois o grupo apareceu, pois se juntaria aos cavaleiros para novas instruções. Rodrigo assim que viu Atena ficou preocupado.

– Saori...

Ela o fitou com os olhos marejados.

– O que foi? - indagou Helu.

Ela fez sinal de silêncio e então o grupo começou a escutar as vozes dos dourados. Cris ouviu a de Saga no meio delas.

– Eu não passo de um peso morto.

– Se for assim eu também sou Saga. - disse o brasileiro. - do que vale um cavaleiro sem cosmo?

– Nós todos somos um peso morto. - disse Mask. - se uma guerra acontecer, metade de nós está desfalcado.

Olharam entre si, pois aquilo era verdade, não queriam transparecer, mas em certa medida todos se sentiam assim. Atena tinha conseguido as almas deles, mas de que adiantou se todos não podiam lutar caso fosse preciso?

– Talvez fosse melhor termos ficado mortos... - murmurou Aiolos.

– Não sabem o que estão dizendo. - Shion olhou para todos. - todos vocês são preciosos para Atena.

– Eu não sou. - disse Saga. - sou apenas um cavaleiro defeituoso. Atena só me trouxe por pena. Eu não sirvo para nada. Eu morto traria menos problemas, ela desperdiçou o seu tempo comigo.

Cris ouvia tudo com ódio, ainda mais quando viu que Atena segurava para não chorar. Não se conteve.

– Você é muito burro Saga. - a voz saiu fria.

Os cavaleiros assustaram com a voz e ainda mais quando viram Atena com Rodrigo e as meninas.

– Como pode ser tão inteligente para certas coisas e burro para outras. Alias não só ele, todos vocês.

Arregalaram os olhos.

– Imagino o quanto deve sofrer por tudo que fez Saga e por achar que não tem solução.

– Não imagina, - a expressão fechou. - não faz a menor ideia.

– Faço, talvez não seja todo o seu sofrimento, mas uma parte sim. Ou acha que as vezes não é insuportável ver você desse jeito e não poder fazer nada? Vê essas marcas no seu pulso?

Ele recuou.

– Mas tudo tem um limite Saga. Você sabota a si mesmo! Está fazendo tratamento, tem pessoas que te amam te apoiando, mesmo assim continua na mesma? Não estou dizendo que seja fácil, pois sei que não é, mas você não tenta! O que falta para se perdoar?

No salão não se ouvia um pio.

– As três pessoas que você mais prejudicou, te perdoaram e estão ao seu lado, mas parece que não percebe isso. Shion e Aiolos acreditam em você, Atena te deu uma nova chance e o que está fazendo com ela? Jogando pelo ralo.

– Você não entende...

– Entendo, entendo que você é egocêntrico e ingrato.

Saga arregalou os olhos ao ouvir, assim como a maioria ali presente.

– Só pensa em si mesmo, fica fechado no seu mundinho, esquecendo-se dos outros. Nem com o Kanon você se importa!

O Marina assustou.

– Importo sim...

– Não importa. É incapaz de tentar melhorar ao ver a abnegação que ele tem por você. Kanon faz tudo por você e em troca faz o que? Nem tenta melhorar! Nem tenta! A vida dele resumiu a sua vida, ele não vive para ele e sim para você. Aiolos vai assumir o comando do santuário, ele esperava contar com sua experiência, mas nem isso quer! É incapaz de pelo menos tentar ajuda-lo.

Saga olhou para Aiolos, que completamente pasmo, não falou nada. Kanon estava prestes a entrar na conversa, mas sentiu um braço contê-lo.

– "Deixa." - disse Shura diretamente no cosmo dele.

– E ingrato. Não sabe o que Atena passou para tê-lo de volta e ela o fez por querer que tenha uma vida feliz. Não só você.. - olhou para todos.

– Atena não teve trabalho comigo. - disse o geminiano. - uma alma pecadora como eu...

– Chega Saga! - gritou. - Você não é o único que sofre! Não é o centro do mundo!! Nesse momento a milhares de pessoas que estão sofrendo, mas ao invés de ficarem lamentando, tentam superar. Já parou para pensar no quanto Atena sofre todos os dias pela consequência de tê-los trago a vida?

– Que consequência? - Dohko olhou para Shion.

O grande mestre não queria que o assunto viesse a tona, mas talvez fosse bom Saga ouvir. Atena teve o mesmo pensamento de impedir que Cris contasse, mas Rodrigo a segurou.

– Acha que Hades liberaria vocês de graça? Teve um preço, um alto preço.

– Do que ela está falando Atena? - indagou Shaka.

– Hades só concordou em nos soltar mediante troca do cosmo e sangue de Atena. - disse Shion.

– Como??? - indagaram todos.

– Hades pediu parte do sangue e do cosmo dela em troca das suas almas. - Cris tomou a palavra. - a consequência disso, é as vezes injetar morfina nas veias por conta das dores.

Há doze anos, Saori sofre com dores fortíssimas, a ponto de deixa-la de cama. Tudo por conta de ter absorvido as sequelas do ferimento de Hades.

Ficaram sem palavras. Por que Atena não tinha lhes contado?

– Por que não nos disse Atena? - indagou Afrodite.

– Porque ela não queria que se sentissem culpados. Tudo por querer que tivessem uma vida normal, sem lutas. E você? - fitou o geminiano. - sua vida vale o que? É incapaz de devolver um pouco o que ela fez por você. Lembra quando me disse que as vezes, achava que seus problemas na verdade eram uma cortina para encobrir seu verdadeiro caráter? Estou começando a achar que tem razão. Que não passa de ser um egoísta. É isso que é, um egoísta, que só se preocupa com seu umbigo, o mundo tem que girar em torno de você, o resto, que se exploda.

– Não é nada disso...

– É isso sim! Só pensa em você!

As palavras dela batiam fundo na mente dele. Podia ouvir também a risada do "outro." Ele se divertia com a situação. "Até ela percebeu seu verdadeiro caráter." "Cala a boca!"

– Fica no seu mundinho... sua vida vale tão pouco? O sacrifício de Atena foi tão pouco assim? Responda!

No recinto o silêncio continuava.

– Por que se achar que vale pouco, Atena pode suspender o tratamento, as terapias, Kanon pode voltar a viver a vida dele, porque é tempo que está sendo desperdiçado com você. É só dizer. Sua vida não vale nada?

Saga ficou em silêncio, não sabia o que responder. Não tinha forças para responder.

– Talvez... - murmurou.

– Então toda a admiração que eu tinha pelo cavaleiro de Gêmeos, era apenas por uma farsa. Tudo que fez os outros passarem, foi reduzido a nada? Simplesmente jogou a toalha? O que Kanon, Atena e os outros sentem por você, não significa nada? O que eu sinto não significa nada? Já disse que gosto de você com todos os seus altos e baixos, não significa nada? Nada Saga? Até quando vai se perder em meio a culpa? Todos queremos te puxar desse mundo de sombra que criou para si, mas você...

Kanon ouvia sem saber como proceder, Saga precisava ouvir aquilo, mas ao mesmo tempo no estado que ele estava poderia ser perigoso.

– Te disse que se precisasse de mim sempre estaria do seu lado, mas é impossível ajudar quem não quer ajuda. Eu desisto Saga. Eu desisto.

O grego arregalou os olhos ao ouvir aquilo. Desistir? Ela estava desistindo dele?

Kanon foi outro que ficou surpreso ao ouvir.

– Você não pode desistir! - exclamou transtornado. - não pode desistir de mim. Não vai desistir. - a voz saiu grossa. - não vou permitir. - o olhar tornou-se frio. Os cavaleiros ficaram em alerta, pois começavam a sentir uma leve variação no cosmo de Saga. - alias... - deu um sorriso cínico. - pouco me importo, o que pensa de mim não me interessa. Você não é ninguém para dar palpite na minha vida. - deu dois passos em direção a ela, numa postura ofensiva, o que deixou os cavaleiros ainda mais temerosos.

– "Saga??" - Kanon arregalou os olhos.

– Ótimo. - disse calmamente. - não quer ir tanto para o inferno? Pois que vá, pelo menos nos dará sossego.

Cris tomou o rumo da saída. A expressão fria aos poucos foi sumindo , os olhos marejaram ao vê-la fechar a porta dourada. No salão o silencio predominava, pois estavam todos surpresos e assustados pelo que tinha acontecido ali. O geminiano olhou para Kanon.

– Você... - a voz saiu embargada. - vai desistir também...?

Kanon morreu de dó.

– "Não vá." - disse Shaka ao ver a intenção dele de se aproximar do irmão. - "Saga precisa cair em si."

Sem saber o que fazer, Kanon ficou parado. Saga vendo que ele não se mexia, deixou duas lágrimas caírem...

– Não... me deixem sozinho... - foi de joelhos ao chão.

Atena continha as lágrimas. Nunca quis que nenhum dos seus guerreiros sofresse tanto. Ainda mais naquela situação. Os demais compartilhavam o mesmo sentimento, mas não sabiam o que fazer, e tudo foi de repente...

Shaka elevou seu cosmo para criar o "ohm" e proteger os companheiros. Atena criou uma barreira para si e para os brasileiros. Shion e Mu criaram a muralha de cristal para proteger o templo do aumento súbito do cosmo de Saga. O cavaleiro de Gêmeos liberou seu poder de uma vez e o fez sumir também de repente. Levantou saindo correndo.

– Saga!

– Deixe-o Kanon. - disse Kamus. - talvez isso seja o remédio que ele precise. - olhou para Atena. - nos perdoe Atena. Não tínhamos ciência do quanto se importa conosco.

– Eu me importo muito Kamus. - olhou para todos. - com todos vocês. Todos.

Saga foi para frente do templo, a procura de Cris, mas ela tinha sumido.

– Por favor... volta... - murmurou. - eu preciso de você...

O geminiano saiu correndo em direção a sua casa.

O.o.O.o.O

O salão continuava em silêncio. Kanon soltou um longo suspiro, antes de começar a andar em direção a saída. Shaka o segurou.

– Não vá atrás dele.

– Saga está perturbado e nesse estado é capaz de fazer qualquer coisa. - disse calmamente.

– Saga precisa pensar nos seus atos. - o indiano olhou para Suellen. - pode leva-lo para algum lugar?

A pernambucana ficou surpresa, por que ela? Pensou em dizer não, por conta do ocorrido de mais cedo, mas ao fitar a expressão do geminiano, o coração falou mais alto. Sem dizer nada aproximou-se do marina.

– Vem.

Kanon não contestou seguindo com ela.

– Atena. - Aiolos ajoelhou diante dela. - obrigado por tudo que fez por nós. Espero que perdoe nossa hesitação quanto ao cumprimento de nossos deveres.

– Está tudo bem Aiolos. - sorriu. - só desejo que sejam felizes.

– Agradecemos o apreço que tem por nós Atena. - disse Aldebaran.

– A senhorita nos convocou para uma reunião. - disse Shion, querendo dispersar o assunto. Saga o preocupava muito, mas talvez fosse melhor aqueles minutos sozinho.

Mais restabelecida, a deusa começou a expor detalhes da cerimônia.

Do templo ao jardim das rosas, Kanon e Suellen fizeram em silêncio. Sentaram um ao lado do outro, contemplando a vista da cidade.

– Por que está brava comigo? - indagou sem tirar o olhar da paisagem.

– Não vem ao caso agora Kanon.

– Vai desistir de mim também? - a olhou.

– Kanon, por favor...

– Me leva embora daqui. Vamos morar na sua cidade, eu não quero ficar mais aqui, eu cansei... - a voz saia melancólica.

Suellen tocou nas mexas azuis e depois apontou para o colo. O marina deitou a cabeça, recebendo caricias no rosto.

– Recife é quente.

– Não pode ser mais que aqui. - ergueu o olhar para olha-la.

– É pior. - sorriu.

– Posso acostumar. - retribuiu o sorriso.

O.o.O.o.O

Cristiane ficou por um tempo, no pátio da estátua, pensando. Será que tinha sido dura de mais com Saga? Não desistiria dele, só estava cansada do mesmo discurso.

– Eu e minha boca grande...

Deu meia volta, iria até Gêmeos.

Assim que chegou a terceira casa, Saga foi direto para o quarto, tendo uma crise de choro.

"Vai deixar o insulto barato? Ela te afrontou perante todos e vai ficar impune?" "Ela só disse a verdade..." " Hum... a verdade... que é um fraco e que no fundo é um mal caráter. Até que ela tem razão... você é um nada Saga. Nem seu irmão mais te suporta, prova disso que ele não contestou as palavras dela, tampouco veio atrás de você. Sua presença se tornou desagradável." Ele não pensa assim... " Desde quando é ingênuo? Todos te abandonaram, ela te abandonou. Você é tão estúpido e idiota que conseguiu perder o amor da única mulher que não se aproximou de você por medo ou interesse. Ou achava que aquelas servas caiam de amores por você? Se enxerga!"

Saga que estava sentado ao lado da cama ergueu o rosto, para fitar o céu. O outro tinha razão, a sua existência não significada nada. Atena só o mantinha ali por piedade. Ninguém mais o suportava, muito menos Cristiane. Você ainda não me prometeu... – lembrou se das palavras dela. - ...quando se sentir mal, vai me chamar. Promete Saga.

– Cristiane... Cris...Cris... - dizia baixinho. - Kanon.... alguém....

No jardim das rosas, Kanon sentiu um aperto no peito, mas não ligou. O irmão precisava tentar se recuperar sozinho.

– Vamos voltar? - Kanon sentou. - talvez Atena esteja fazendo algum comunicado importante.

Suellen concordou.

No salão do templo, a reunião tinha acabado. Os dourados ainda permaneciam para acertos de detalhes da cerimônia, as meninas mais Rodrigo acharam melhor esperarem novas instruções na biblioteca.

Mabel e Deba foram os primeiros a descer em direção a Touro.

Cristiane parou na porta privativa de Gêmeos, será que Saga estaria lá? Entrou sem cerimônia indo para o quarto do geminiano.

– Saga. - bateu na porta. - Saga.

Dentro do quarto o geminiano ainda estava sentado ao lado da cama, mas agora olhava para o frasco branco que continha uma tarja preta. Ele escutou a voz dela, mas pensou que se tratava de uma armadilha da sua mente. Depois de tudo que aconteceu, na cabeça dele, Cristiane jamais se aproximaria dele. A visão voltou se para o frasco. Abriu o lentamente, derramando alguns comprimidos nas mãos...

Sem resposta, Cris foi ate a cozinha. Tinha certeza que Saga estava lá, só não queria abrir a porta.

– Modo Marianno de abrir portas.

Sabia que na última gaveta do armário, Kanon guardava algumas ferramentas. De posse de uma chave de fenda e um martelo voltou para o quarto...

Saga olhava os comprimidos na mão. Só mais alguns segundos e tudo estaria acabado. Seria o fim de todos os problemas, todas as suas angustias. Ninguém sentiria a falta dele.

– Vou deixa-los em paz...

Todos que estavam na mão foram engolidos. Nos primeiros não sentiu nada, até achou que eles não tinham feito efeito, contudo... Saga começou a sentir o coração bater depressa, os olhos ficaram enevoados. Tentou firmar a visão, mas tudo escureceu...

De posse da chave de fenda colocou a entre o marco da porta e a fechadura, passando a dar marteladas. A principio a porta não cedeu, mas depois de algumas batidas a fechadura quebrou. Cris jogou as ferramentas no chão entrando.

– Saga! - gritou assustada.

O geminiano estava caído.

– Saga. - correu até ele ajoelhando ao seu lado. - Saga! Saga acorda! - tocou-lhe o rosto, estava frio. - pelo amor de Deus, Saga, não faz isso comigo...

Com os olhos marejados saiu correndo para pedir ajuda, ao sair no salão externo encontrou Deba e Mabel.

– Deba, me ajuda, por favor!!

– O que foi Cris? - indagou Mabel temerosa pelas lágrimas da amiga.

– O Saga...

Deba nem esperou ela terminar, saiu correndo. O taurino foi direto para o quarto do geminiano encontrando Saga no chão.

– Seu idiota o que fez dessa vez? - olhou para o lado, vendo um frasco branco, o brasileiro o pegou. - tomou quase tudo....

– Saga... - Cris chorava e Mabel tentava acalma-la.

– Seu estúpido. - disse elevando seu cosmo. - "Kanon!!"

No templo...

Kanon tinha se juntado aos amigos, mas Atena já não estava mais presente. O marina sentia o peito apertar, queria continuar ignorando, mas a sensação era ruim.

Sentiram o cosmo de Aldebaran.

– "Kanon!!"

– "O que foi?"

– "Saga!"

Kanon nem piscou, partindo na velocidade da luz. Os demais ficaram temerosos.

– Gustavv e Dohko fiquem aqui e não contem nada a Atena. - Shion pediu. - Kamus e Shura chamem o senhor Nikolai sem alertar nossa deusa. Miro e Aioria, preparem a enfermaria pode ser uma emergência. O restante vem comigo.

Usando a telecinese, Shion e Mu teletransportaram todos para a terceira casa.

Gêmeos...

– Ele vai morrer... - Cris não parava de chorar, sendo amparada por Bel. . - eu vou perde-lo... eu vou perde-lo, ele disse que ia se matar... e eu... tudo culpa minha...

Isso era seu maior temor, perder Saga, ainda mais daquela maneira.

– Calma Cris.- Bel tentava acalma-la, mas ela própria estava apreensiva, o cavaleiro no chão parecia...

– Saga! - Kanon surgiu na porta quase que instantaneamente. - Saga. – viu-o no chão.

– Ele tomou tudo. - disse Deba completamente sem ação.

Kanon tocou no rosto do irmão, estava gelado, somado a isso não sentia a respiração dele.

– Não está respirando.

– Saga. - Aiolos chegou na companhia dos outros. - o que ele fez?

– Um médico! - gritou o marina desesperado.

– A Helu é enfermeira.

Nem precisou Mabel dizer novamente, Shion teletransportou para o templo. Naquele local Isa ajudava Kamus e Shura. Rodrigo, Julia, Sheila, Paula e Juliana encarregaram-se de manter Atena afastada, depois que souberam que algo tinha acontecido ao geminiano. Helu, Jules e as demais estavam na biblioteca aguardando noticias. Shion apareceu de repente.

– É enfermeira? - indagou a fluminense.

– Sim por quê?

– Preciso da sua ajuda. Urgente.

– O que aconteceu Shion? - indagou Gabe diante da expressão preocupadíssima do ariano.

– Saga.

Não disse mais nada, levando Helu consigo.

Em Gêmeos, Kanon estava desesperado. Saga não respirava, nem sentia sua pulsação. Cris ao lado do cavaleiro não parava de chorar. Os demais completamente pasmos não esboçavam reação alguma. Estavam acostumados a batalhas ferozes, não uma situação como aquela... só conheciam uma forma de morrer, não aquela...

– Saga me perdoe... eu nunca desistiria de você... nunca.... eu amo você... - sentia um grande culpa pelas palavras.

– Saga... – Kanon derramava muitas lágrimas. – não me deixe...

Segundos depois Shion apareceu.

– O que houve? - Helu ajoelhou ao lado do geminiano.

– Ele não respira. Tomou todos os comprimidos. - disse Deba.

Heluane pegou o frasco, a expressão ficou séria. Pegou o pulso do geminiano, não sentia.

– Droga.

Subiu em cima.

– Cris.

A mineira a fitou.

– Quando eu der o sinal sopre o ar pela boca dele, tape o nariz para que o ar não escape. Vamos ter que fazer massagem. Ele teve uma parada cardiorrespiratória.

Ao ouvir aquilo Kanon paralisou, Saga estava...

– Eu não consigo... - murmurou.

– Se não fizer isso ele vai morrer.

Helu começou a fazer a massagem, na décima quinta...

– Vai.

Cris segurou o nariz de Saga e jogou o ar pela boca. Helu recomeçou o processo e depois de quinze pressões Cris jogou novamente o ar.

No quarto o silencio era mórbido. Os dourados estavam completamente assustados. Sentiam cada vez mais o cosmo do amigo diminuir. Testemunharam tantas vezes as tentativas de suicídio de Saga, entretanto aquela parecia mais real. Na porta, Mask dividia a atenção para o amigo e para a Heluane. Torcia muito para que ela conseguisse trazê-lo de volta. Aiolos sequer piscava, sentia o corpo todo rígido, incapaz de se mexer. Shaka era um dos mais assustados. Conhecia os mistérios da morte e estava habituado a isso, mas o coração estava apertado, não queria perder o amigo. Mu acompanhava num profundo silêncio, via a movimentação e o desespero de Kanon, sabia que se Saga se fosse, o marina sofreria muito. Shion estava com a expressão séria, mesmo com tudo que passou nas mãos de Saga, tinha por ele certo carinho, o viu chegar novo santuário, ele não poderia morrer, não daquela forma...

O olhar de Kanon estava paralisado no irmão.

As brasileiras repetiram o processo mais uma vez e mais uma, contudo a fluminense começava a ficar cansada pelo esforço.

– Vamos Saga, reage. – disse, não queria perde-lo, nem como profissional, nem como pessoal, já tinha passado por aquilo e a dor que ficaria no irmão e em Cris seria dura de suportar.

– Saga... Saga... - Cris recomeçou a chorar, não estava adiantando e certamente... - volta, por favor...

– Vai Cris. – era a última tentativa, pois não tinha mais forças.

A mineira soprou o ar... o peito do geminiano subiu e desceu, voltando a movimentar-se. A respiração também voltou.

Helu soltou um suspiro de alivio. Kanon deixou-se ir de joelhos ao chão.

– Saga... Saga...

A fluminense saiu de cima dele, para que ele pudesse respirar melhor.

– Ele ainda precisa de um médico.

– Já foi chamado. - disse Shion. - obrigado.

– De nada.

Sentindo um olhar sobre si, virou-se, Mask a fitava intensamente num misto de agradecimento e admiração.

– Saga...

A voz de Cris chamou a atenção de todos. Saga abriu os olhos primeiro mirando o teto, depois a fitou, ficando assim por alguns segundos.

– Não se mexa, o médico já vem.

– Saga. - Kanon aproximou.

Ele o fitou, para depois voltar o olhar para a brasileira, ergueu o braço tocando-lhe no rosto.

– Me perdoe... - a voz saiu bem fraca.

Foi perdendo força deixando o braço trombar.

– Saga?!!

– Saga! - gritou Kanon. - Saga??!!!

Todos arregalaram os olhos, Saga não...

Escutaram vozes alteradas, era Kamus e Shura trazendo o médico e sua equipe. O médico já sabendo sobre Atena e seus cavaleiros, pediu para que os mandasse para a enfermaria. Shion e Mu providenciaram isso.

Kanon, Cris e os demais seguiram atrás.

A enfermaria era bem equipada, Saga foi examinado, sendo monitorados sua respiração e batimentos cardíacos. Do lado de fora, aguardavam noticias. Atena ainda nada sabia. O médico saiu.

– E então senhor Nikolai? - Kanon aproximou.

– Saga tomou uma grande quantidade de calmantes e isso provocou a parada cardiorrespiratória. Felizmente a combinação ser um cavaleiro de Atena e ter tido os primeiros socorros com êxito salvou a vida dele.

Olharam para Heluane.

– Você é uma boa profissional.

– Obrigada.

– Apesar de todos esses fatores a favor...

– O que ele tem? - indagou Cris.

– Os sinais vitais estão ótimos, assim como os celebrais, mas Saga entrou numa espécie de coma.

– Coma?? - Deba assustou.

– Sim. E só quando ele acordar é que saberemos se teve alguma sequela.

– E quando ele acorda?

– Não tenho previsão. Pode ser daqui a cinco minutos, como cinco dias, meses ou anos. Está num coma profundo, mas ainda fora do estado vegetativo. Ele emite alguns sons, mas totalmente sem consciência deles.

– E o que causou? - indagou Heluane.

– A overdose de remédios. Poderia ter entrado no coma direto, mas felizmente, ainda teve alguns segundos de lucidez e isso é bom. Tudo que podemos fazer agora é esperar. A aparelhagem que Atena tem é ótima, então não há necessidade de leva-lo para um hospital, mas se acontecer qualquer coisa, leve-o imediatamente para o hospital da Mitsui.

– Sim senhor. - disse Kanon. - obrigado mais uma vez.

– Sugiro que quando ele acordar o leve para uma clinica, Saga precisa de tratamento, ou dá próxima vez ele não resistir.

Shion acompanhou Nikolai até a porta. Cris caminhou até o quarto, parando na porta. Saga respirava sem ajuda de aparelhos.

– Eu posso ficar aqui? - indagou a Kanon.

– Talvez não seja prudente Cris.

– Por favor...

– Vá até o templo, descanse um pouco e depois volte. Eu fico aqui. - disse Mask, aproximando da mineira, mas afastou-se, pois Helu estava perto e o anel fez efeito.

– Eu te trago aqui Cristiane. - disse Shura.

– Está bem.

– Vem Cris. - Mabel a amparou, levando-a embora.

Kanon ficou na porta olhando para Saga.

– A culpa foi minha... eu sentia que ele não estava bem e ignorei.... se tivesse ido atrás dele, ele não estaria assim...

– Não teve culpa de nada Kanon. - disse Mu. - Saga estava sujeito a isso. O que tem que fazer agora é ter fé que ele vai acordar logo.

– Deba tem razão. - Shaka aproximou. - Saga vai sair dessa. Vá para casa descansar.

– Vou pedir a Su para descer. - disse Helu. Se ela estivesse no lugar dele, queria ter alguém que pudesse apoiar.

Kanon aproximou pegando nas mãos dela.

– Obrigado. Sou eternamente grato por ter salvado a vida do meu irmão. Tem a minha gratidão e a minha proteção contra tudo e todos.

Todos na sala entenderam as palavras.

– Obrigada.

O.o.O.o.O

Gustavv andava de um lado para o outro, o rosto estava tenso. Dohko sentado na biblioteca trazia a expressão séria. Jules ao seu lado acariciava-lhe o cabelo. Gabe, Isa, Ester, Suellen e Marcela aguardavam noticias.

– Esse senhor Nikolai é o médico do santuário? - indagou Isa um pouco receosa, talvez o momento não fosse para perguntas.

– É sim. - respondeu Dohko, com a voz baixa. - Ele é filho do antigo cavaleiro de Auriga, bem antes do Capella. Na verdade Nikolai estava treinando para substituir o pai, mas um acidente o impossibilitou. Desde essa época. - Dohko levantou indo até a janela. - Shion patrocinou os estudos dele para que se tornasse o médico oficial do santuário. Precisávamos de um médico que fosse de confiança.

– Entendi. E...

A conversa foi interrompida pela chegada de Marin e Fernando que tinham ficado a tarde toda na vila. Os dois traziam um sorriso nos lábios, mas ao notarem as expressões o sorriso morreu.

– O que houve?

– Ainda não sabemos ao certo Marin, - disse Dite, feliz por vê-los juntos. - mas Saga... pelo jeito tentou se matar de novo.

– Como?

– Cadê a Cris? - indagou Fernando.

– Não sabemos onde ela está. - disse Gabe preocupada.

O.o.O.o.O

Sheila e as demais tentavam de todas as formas distrair Atena, mas ela estava mais silenciosa. Seu sexto sentido apitava que algo grave tinha acontecido.

– Não acha uma boa ideia Saori? - indagou Juliana.

Ela não respondeu.

– Saori? - Rodrigo tocou no braço dela.

– Desculpe... - sorriu. - eu não ouvi... - levantou num rompante. - eu já volto.

– Não. - Rodrigo a segurou. - quero dizer... ficou de nos contar sobre outras partes da cerimônia.

O rosto outrora suave de Saori, tornou-se sério.

– O que está acontecendo e que estão tentando me esconder?

Rodrigo olhou para as meninas, antes de voltar a atenção para ela.

– Não sabemos ao certo Atena. Mas acho que...

A deusa nem o deixou acabar de falar, sentiu os cosmos de seus cavaleiros adentrarem ao templo. Cosmos estes abalados.

– Venham. - disse com autoridade.

Shion e os demais foram para biblioteca.

– Cris? - Isa aproximou ao ver o estado da brasileira. - o que houve?

– É melhor levarem-na para o quarto. - disse Aiolos. - Suellen pode descer até Gêmeos?

– O que houve com o Kanon?

– Foi descansar. Vá por favor.

– O que aconteceu Shion? - Dohko não gostou da expressão do amigo.

– Diga Shion. - a voz de Atena preencheu o ambiente. - por que a Cristiane está desse jeito? O que Saga fez?

Deba começou a contar desde o momento que chegou até a parte que Shion trouxe Heluane, o grande mestre contou o resto. A deusa deixou o corpo cair no sofá. Escondendo o rosto com as mãos. Novamente Saga tentara contra sua vida e ela na qualidade de deusa, não conseguiu evitar nenhuma delas.

– Atena... me perdoe... a culpa foi minha... eu não deveria... ter falado daquele jeito...

– A culpa não foi sua Cristiane. - a fitou. - a culpa é minha por ter sido tão relapsa com ele.

– Isso não é verdade Atena. - disse Aioria. - tem feito de tudo por ele e por nós também.

– Diante disso... Shion avise a todos o cancelamento da cerimônia.

– Não Atena. - a mineira interrompeu. - Saga quando acordar e vê que foi adiada por conta dele vai se sentir muito mal. Ele vai se culpar por isso também.

Os cavaleiros a fitaram, ela tinha razão. Atena tirou o olhar dela, voltando para Shion.

– Saga vai acordar, ainda a tempo de ver a cerimônia. - disse Shion. - eu tenho certeza.

– Está certo. Continue com os preparativos. Quem passará a noite lá?

– Eu...- Cris deu um passo. - tem problema? - tinha medo de Atena lhe negar.

– Tem não. Talvez com você do lado ele se recupere mais rápido.

O.o.O.o.O

Kanon ao chegar em casa, foi para o quarto de Saga. Ficou por um longo tempo olhando o local onde ele estava caído. A passos lentos pegou o frasco do remédio, colocando-o na última gaveta da cômoda, junto com os milhares de remédios que o irmão tomava. Não conseguiu segurar uma lágrima.

– Saga... Saga... por que...?

Ficou chorando por um longo, indo em seguida para seu quarto. Uma chuveirada fria, talvez fizesse bem. Deixou a água escorrer pelo corpo, enquanto pensava como seria sua vida se Saga não acordasse. E se ele não acordasse nunca mais?

Kanon enxugou-se mais ou menos, vestindo apenas uma bermuda.

– Kanon!

O cavaleiro ergueu o rosto na hora, vendo Suellen na porta. A brasileira notou os olhos vermelhos e a expressão bastante abatida.

– Kanon...

Aproximou lentamente, com ele ainda parado na porta do banheiro, estático.

– Kanon...

Ao receber o abraço dela, o cavaleiro desmoronou.

– Su...

Entregou-se as lágrimas.

– Vai ficar tudo bem... o Saga vai melhorar. - afagava as mechas azuis. - tudo vai terminar bem.

Os últimos raios de sol despediam-se do santuário. As estrelas começavam a despontar no céu, indicando que a noite seria clara. O clima nas doze estava pesado, os cavaleiros preferiram ficar em suas casas num clima de apreensão.

Shaka descia as escadarias em direção a Áries. Ao passar por Gêmeos não pode não pensar em Saga. Ele carregava um fardo muito grande. Pensou em bater para ver se Kanon precisava de algo, mas achou melhor deixa-lo sozinho. Além do mais Suellen estava com ele, pelo fato dos dois só andarem juntos, talvez ela o ajudasse nessa situação. ... eu nunca desistiria de você... nunca.... eu amo você... Lembrou-se das palavras da mineira e do estado que ela ficou. Amor trazia um sofrimento tão grande assim? Abandonou tais pensamentos, tinha algo a resolver com Mu.

O.o.O.o.O

Giovanni estava sentado numa cadeira próxima a janela. Já havia escurecido e o único som que se ouvia era o aparelho ligado a Saga.

Voltou o olhar para o geminiano. Era estranho ver Saga daquele jeito. Desde pequeno ele tinha muita energia, até mesmo quando foi grande mestre e agora estava reduzido a uma cama...

Levantou, começando a andar em círculos. Subitamente a imagem de Heluane veio-lhe na mente, não pode deixar de sorrir.

– "O pingo de gente é forte." - pensou, lembrando-se da força que ela aplicou no peito do cavaleiro.

A imagem dela fazendo a massagem passava e repassava na mente dele. Será que fazia aquilo todos os dias? Não fazia ideia de que ela era enfermeira. Como uma pessoa agitada como ela, poderia ser tão controlada num momento de tensão como aquele? Tinha que reconhecer que era forte.

Olhou para Saga. Ela era tão forte, que salvou a vida de um cavaleiro de ouro...


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