A Lenda dos Santos de Atena escrita por Krika Haruno


Capítulo 29
E o almoço continua...




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Ricardo que sabia o caminho conduziu Mabel até a varanda de Libra. Abriu a porta dando-lhe passagem.

– Que vista... - murmurou a brasileira.

A varanda era no formato de um hexágono, com pedras brancas cobrindo o chão. Havia um banco de madeira de dois lugares e estofados feitos de bambu. Por todos os cantos diversos vasos de bonsai. Uma lanterna tradicional chinesa descia do teto.

– Dohko é tão caprichoso!

– Ele preserva bem suas tradições.

Mabel caminhou até a beirada, recebendo o vento fresco da tarde.

– A vista é linda.

– Sabia que ia gostar. - parou na porta, passando a observa-la.

– Olhando isso aqui, ainda parece mágica estarmos no santuário. - disse sem tirar o olhar da paisagem. - dias atrás isso era irreal e agora... - tocou na mureta. - esse lugar... vocês...

– O mesmo se aplica a nós Bel. - caminhou até ela. - vivíamos no nosso mundo fechado, achando que o mundo lá fora e o que acontecia lá, era algo distante... a chegada de vocês nos proporcionou imaginar além dessa "muralha." - parou ao lado dela.

– E foi bom? - o fitou.

– Foi a melhor coisa que aconteceu desde que voltamos do Tártaro. - a olhou. - Acho que é por isso que fui um estúpido com você. - abaixou o rosto.

Ela não disse nada a espera do que ele diria em seguida.

– Pensar que posso levar uma vida fora dessa "muralha" e surgir alguém querendo roubar essa minha fantasia, me deixou... irritado...

Deba a fitou, Mabel sorriu.

– Acha que eu trocaria você pelo Gustavv?

– Não sei... ele tem mais trato com as mulheres, gosta de coisas finas e eu...

– Eu passei praticamente toda minha vida apaixonada pelo Aldebaran de Touro e agora que descubro que ele existe e é do jeito que imaginei acha que perderia a chance?

O cavaleiro ficou surpreso.

– Eu gosto é de você Ricardo. Não tem Gustavv ou qualquer outro cavaleiro. É com você que quero ficar.

O taurino abriu um grande sorriso revelando os dentes alvos.

– Então me perdoa? - indagou esperançoso.

– Claro.

– Quer casar comigo? - ajoelhou diante dela.

– O que? - começou a rir, achando ser brincadeira.

– Falo sério Bel. - ria também, a risada dela era contagiante. - quero casar com você.

– Sério? - até parou de rir.

– Sim.

– Mas... mas... pode? - não sabia o que pensar.

– Aioria não vai se casar com a Marin? Claro que pode.

– Mas... e a barreira...? - aquilo era um grande empecilho. - não poderemos ficar aqui.

Deba ao invés de ficar com a expressão triste, sorriu ainda mais.

– Eu vou com você.

– O que??? - engasgou.

– Eu entrego meu posto e sigo com você.

– Está falando sério?

– Estou. - disse enfático. - o mundo está em paz e já que Atena me deu uma nova vida quero passar o resto dela ao seu lado, isso se você me quiser... - deu um sorriso de canto de boca.

– Claro que quero! - o abraçou. - eu aceito. Eu aceito.

Ricardo tocou suavemente no rosto de Bel.

– Prometo que te vou fazer a mulher mais feliz desse mundo. Palavra de um cavaleiro de ouro.

Ela sorriu. Mabel inclinou o rosto tocando os lábios do taurino iniciando um cálido beijo.

xxxxxxx

Jules e Dohko terminavam de arrumar a cozinha.

– O que será que está acontecendo lá em cima? - Jules guardava os pratos no armário.

– Sexo.

– Hian!

– Eles não se gostam? Está certo que o chão deve está frio, mas...

– Deixa de ser pervertido!

– Brincadeira. - fez sinal de rendição. - eles vão se acertar e espero que se acertem mesmo. Ricardo merece ser feliz, alias todos nós, não é? Podemos sonhar um pouco, não podemos?

– Claro que pode. - o abraçou. - depois de tudo que passaram, felicidade é pouco para vocês.

– Só de você está aqui, já me basta. - brincava com uma mecha dela.

– Contou a Shion sobre nós?

– Contei, a principio fez aquela cara de moralista, mas no fundo... Shion está muito feliz. A Paula trouxe de volta, aquele jovem alegre.

– Ela também está nas nuvens.

Ele sorriu.

– Do que está rindo? - Jules fitou os olhos verdes.

– O santuário... vê-lo agora e anos atrás... a até atmosfera está diferente. As vezes fico pensando se a vinda de vocês não foi proposital.

– Acha que foi? - indagou curiosa.

– Não sei, mas a revolução que estão promovendo aqui...

– Se fosse proposital, não deveríamos ficar para sempre?

– É... tem isso... bom... temos coisas mais importantes para pensar e talvez fazer... - deu um sorriso safado.

– Pensei que o Miro fosse o safado.

– Mas eu sou, só escondi esse lado meu para te conquistar, sabe? Não ficar assustada. - riu. - o bom moço arranja mais mulheres.

– Você é um safado! Enganador de donzelas.... me seduziu!

– Seduzi...? - o olhar já foi quente. Dohko colou ainda mais seu corpo ao dela. - te seduzi como...?

– Com essa conversa mansa... esse olhar... com essa boca... e um atributo do andar debaixo.

– Mas nem mostrei todo o meu potencial... não quer ver? - começou a beijar o pescoço. - Aí sim pode dizer que seduzi uma pobre donzela indefesa.

– Quer mostrar agora...?

– É uma boa hora. - a carregou no colo. - a gente fecha bem a porta para eles não escutarem.

– Combinado.

Dohko a levou para o quarto.

O.o.O.o.O

Juliana, Sheila, Marcela e Heluane estavam sentadas a mesa da cozinha de Escorpião. Miro andava de um lado para o outro.

– Não vai dizer o que vai fazer? - indagou Helu.

– Só posso dizer que aprendi com o Kamus. - voltou o olhar para as panelas.

– Então será comida francesa... - murmurou Sheila. - gostei.

– Como surgiu a amizade de vocês? - Juliana aproveitou a deixa para saber um pouco mais sobre os dourados.

– Ele e eu chegamos no mesmo ano, com diferença de uma semana. Eu vim primeiro. - fitou o grupo. - e posso dizer que era água e vinho. Eu todo largado e Kamus cheio de mimi, ainda mais fazendo biquinho para falar. - imitou. - sabe aquele cheio de não me toque? Era igual ou até pior que o Dite.

– Sério?

– Sim. Quando se chega ao santuário tem um período de adaptação antes de irmos morar no alojamento dos aspirantes. Foi assim com todos. Mesmo chegando apenas uma semana depois de mim, como ele era de outra nacionalidade não foi direto para o alojamento. Eu já tinha o visto algumas vezes, mas como ele tinha aquele ar superior não dei ideia.

– Ele ainda tem Miro. - disse Helu.

– Verdade.... - disse pensativo. - mas era mais. Vivia reclamando do calor. Quando ele foi para o alojamento, ficou no meu quarto. Pensei comigo: me ferrei com esse cara, todo certinho, tirando notas altas nas provas teóricas e eu...

– Pensei que tivesse mentido. - disse Marcela sem olha-lo. - quando falou que tirava nota baixa.

– Não era mentira. - sorriu. Então Marcela tinha prestado atenção na conversa. - Durante uma semana ele apenas deu bom dia, boa tarde e boa noite. Nem olhava na minha cara. - desligou as panelas, indo até o armário para pegar um forro de mesa. - eu tinha desistido. - foi para a mesa. - podem estender para mim e coloque isso também. - eram pequenas tabuas de madeira. - Ju, pode pegar os pratos?

– Claro.

– Continua Miro. - pediu Sheila.

– Não olhava na minha cara, até que um dia, na verdade uma noite... - foi até o fogão para despejar a comida numa travessa. - eu bem dormindo, comecei a escutar um choro. Pensei que estava sonhando, mas quando percebi notei que era o Kamus. - levou a travessa para a mesa. - levantei e fui até ele. Claro que fui recebido por um sonoro: "não me amole", mas sentei do lado dele. - destampou a travessa. - espero que gostem, é a única comida francesa que sei fazer, pois é uma das favoritas de Kamus. Bouillabaisse.

– Não acredito que fez isso! - gritou Sheila.

– Não gosta?

– Era doida para experimentar.

– Fiquem a vontade. - Miro olhou para Helu. - não se acanhe, pois a casa é sua.

– Obrigada. - a fluminense nem se importou com o olhar frio da amiga.

– Continua Miro. - Juliana se servia.

– Bom... eu continuei sentado na cama e acho que cansado de olhar para a minha cara resolveu conversar. Ele estava daquele jeito, pois estava com saudades da irmã.

– Dite comentou mesmo que ele tinha uma. - Sheila servia-se.

– Afrodite é fofoqueiro. Pior que mulher. Depois desse episodio ficamos amigos, éramos órfãos então... e apesar de todas as frescurites e o ar superior dele, é meu irmão. Gosto muito do Kamus. No bom sentido.

– Sabemos disso. - disse Helu. - e a sua história?

– É uma história triste. - o tom de voz ficou melancólico. - o que acharam da comida?

Indagou querendo mudar de assunto, todas perceberam e Marcela ficou curiosa.

– Está uma delicia Miro. - disse Juliana.

– Modéstia parte... - sorriu.

– Se o Kamus é cheio de frescura você é de convencimento.

– Sei disso Sheila.

A conversa continuou sobre outros assuntos, claro com Miro contando todos os podres dos cavaleiros. A única que estava em silêncio era Marcela, que vez ou outra olhava para o escorpião. Ele era um idiota, mas um idiota lindo e depois da conversa sobre o passado ficou curiosa a cerca dele. Desde que o conheceu Miro não mencionara muito sobre seu passado, apenas que era órfão e que chegou ao santuário com nove anos. E antes?

Sentindo-se observado o cavaleiro a fitou. Marcela corou ao ter os olhos azuis sobre si, desviou o olhar.

Miro segurou o sorriso, voltando a atenção para as meninas. Depois de terminada a refeição serviu sorvete de chocolate.

– Você poderia nos convidar sempre. - disse Sheila. - estou mega satisfeita.

– Minha vocação é conseguir comida de graça, não fazer, mas como teria presenças ilustres...

– Como diz minha mãe, moço prendado, pode casar. - disse Helu.

– Aceita então o meu pedido de casamento? - pegou na mão dela. Juliana e Sheila trocaram olhares.

– Se prometer que vai cozinhar sempre...

– Faço um esforço. Tudo pela minha esposa querida. - sorriu. - vou pedir ao Mu para fazer as alianças. - soltou a mão. - Isa e Kamus serão meus padrinhos.

– Jules e Dohko serão os meus. – disse Helu.

– Vai querer morar aqui?

– Sua casa é bonita, por que não?

Ju e Sheila acompanhavam o dialogo com olhar neles e na paulista.

– Agradecemos o convite Miro. - disse Juliana prevendo que aquilo não acabaria bem.

– Eu que agradeço, - levantou, olhando as horas. - mas infelizmente terei que deixa-las.

– Aonde vai?

– Resolver algumas coisas. Tem muito sorvete na geladeira, podem pegar. Fui.

O cavaleiro saiu deixando-as curiosas.

– O que está esperando para ir atrás dele? - indagou Sheila.

– Não vou me dar ao trabalho. - disse Marcela.

– Vá cuidar do teu homem, antes que outra o leve embora.

– A Helu já está levando...

– Eu??? - arregalou os olhos. - ta louca??

– Cheio de mimos...

– Eu não fiz nada! É ele!

– Pois a Helu vai levar se você não fizer nada. - Sheila entrou na discussão. - vai ver o que ele está aprontando e se tiver alguma sirigaita no meio, dá na cara dela!

– A Sheila tem razão Máh. - disse Juliana.

– Até você Brutus?

– Ainda bem que são vocês que estão dizendo. - Helu serviu-se de um pouco mais de sorvete. - se eu falasse seria xingada.

– Eu não vou atrás dele! Por mim... - deu nos ombros.

– Deixa de ser orgulhosa. Anda Marcela, vai. - Sheila quase a puxou da cadeira.

– Eu vou. - levantou. - mas não por mim e sim porque estão insistindo muito.

– Sei... - a fluminense rolou os olhos.

Marcela foi atrás dele.

– Miro dá o maior mole para ela e ela desdenha... - murmurou Sheila. - por que o Aiolos não é assim?

– Por que ele é um garoto. - Helu a fitou. - disse isso para ele com todas as letras.

– Eu sei... estou vendo que serei a única solteira do grupo...

– Tem eu. - Ju levantou a mão.

– Shaka já te levou para a cama, claro que de uma forma casta, mas levou, meio caminho andado.

– Estou com você Sheila. - disse Heluane. - Solteira.

– E o Mask?

– Não quero vê-lo nem pintado de ouro. - mostrou o anel. - vou usar isso sempre. Quero ver chegar perto de mim.

– Então só nos resta... acabar com o pote de sorvete do Miro, para afogar nossas lágrimas.

As três riram.

Marcela já estava no salão externo de Escorpião. Viu quando o grego tomou o rumo da entrada da casa, foi atrás.

O.o.O.o.O

O assunto sobre Marselha continuou até a hora que almoço foi servido.

– Espero que goste. - Kamus a serviu.

– Tenho certeza que vou adorar. - Isa estava ansiosa para comer. Levou a primeira garfada a boca. - hum... está divino!

– Vou conseguir te segurar ao menos pelo estomago?

– Vai, se fizer isso todos os dias. Está maravilhoso. Obrigado Kamus.

– As ordens.

Kamus se serviu e os dois passaram a fazer a refeição em silêncio. A cada garfada, Isa sorria. Arrumou o melhor namorado no mundo. Lindo, culto e cozinheiro de mão cheia. O que mais poderia desejar?

– "O termo namorado realmente se aplicar a nós." - deu um meio sorriso.

O francês observava atentamente as feições de Isa.

– O que foi?

– Nada... só estava pensando.

– Em que?

– Em nós...

– E o que tem? – a olhada fixamente.

– Eu nunca liguei para certas coisas, ainda uma coisa meio formal, mas...

– Seja mais objetiva Isa. Não consigo acompanhar esses raciocínios picados típicos de geminianos. - sorriu.

– Temos uma relação? - indagou fitando-o.

– Sim.

– Ah.... - sentia-se ridícula, como uma adolescente de quinze anos, daqui a pouco queria ter uma aliança de compromisso. - "ridículo". - pensou.

– Deba fez o pedido de namoro a Mabel, não foi? - lançou no ar.

– Fez. Bel era só alegria. - sorriu. - disse que foi romântico. Essas coisas de mulher.

– Você se importa com isso?

– Nãooo. – negou veemente. - Não sou romântica a esse ponto. Flores e chocolates não são do meio feitio. Sou pratica, sabe?

– Sei... minha irmã, gosta dessa coisas. Ela disse que o pedido de casamento do meu cunhado foi a coisa mais romântica que viveu.

– E como foi?

– Ele a levou para uma praça em Marselha, a noite e tapou os olhos dela. Quando ele disse para abrir, o chão ao redor da fonte estava cheio de velas. Era véspera de Natal e as arvores ao redor estavam iluminadas. Claire até suspira quando conta essa história.

– Deve ter sido lindo... - ficou imaginando a mesma cena para si.

Kamus deu um sorriso imperceptível.

– Isa me responda uma coisa, o que a Sheila acha do Aiolos?

A paulista franziu o cenho.

– Bom... ela gosta dele, mas como ele não faz nada... Sheila esperava que ele fosse mais para frente, por quê?

– Aiolos gosta dela.

– Sério? - arregalou os olhos.

– Sim, mas não é simplesmente atração ou algo superficial. Acho que ele gosta dela de verdade.

– Então por que ele não faz nada?

– Ele está com medo de levar um fora. Aiolos só saia com menininhas e agora que está interessado numa mulher está inseguro.

– Logo o Aiolos?

– Logo.

– A Sheila está perdendo a paciência com ele pela falta da não ação. Daqui a pouco ela agarra o Afrodite.

– Talvez ele precise de um choque assim. Aiolos precisa entender que é tão forte quanto nós e que ele pode ter sim um relacionamento. Sem essa insegurança toda. Ele está igual ao Saga. Não admite que gosta da Cristiane e fica com picuinha com o Rodrigo.

Isa ficou surpresa. Kamus externando dessa maneira seus pensamentos.

– Será que o Aiolos vai tomar iniciativa?

– Pouco provável, mas às vezes ele cai em si. Gostou da comida?

– Muito.

– Venha jantar aqui em casa, vou fazer uma surpresa.

– Não vai me contar qual vai ser o prato?

– Surpresa. - sorriu.

O.o.O.o.O

A contragosto de Gustavv, Mask acabou ficando para o almoço. O sueco fez algo simples, pois como disse, não gastaria sua comida fina com o canceriano.

– Poderia ter feito algo mais elaborado. - disse Mask.

– Se não quer vá embora.

– Não reclama Gio. - disse Julia. - está uma delicia Dite.

– Obrigado flor. - sorriu.

– Seu rosto nem ficou marcado, a briga...

– Ainda bem! - exclamou. - se tivesse ficado uma marca, mataria aquele touro.

– Deu sorte que ele não te matou. - Mask servia-se mais. - mexer com a mulher dele.

– Mabel não é dele.

– Sinto informar Dite, mas... - Ju o fitou. - a Mabel sempre foi apaixonada por ele. Dificilmente ela vai olhar para você com outros olhos.

– Perdeu peixe. - Giovanni zuou.

– E quem disse que vou desistir? - indagou. - vou continuar tentando.

– Dite... - a brasileira parou de comer. - não quero te fazer perder esperança, mas a Bel ama o Deba, mesmo com o espetáculo que ele deu, não deixou de gostar dele. É uma batalha perdida.

O pisciano ficou em silêncio, Mask o olhava de rabo de olho.

– Posso nem tentar?

– Tentativa em vão. Desculpe, mas não vale a pena.

– Ela tem razão Dite. - disse Mask. - já peguei vários comentários dela sobre o Deba. É o mesmo que tentar separar Jules e Dohko, Ester e Mu. Além do mais acho que você só está encantando porque ela não te deu bola, ao contrário de certas pessoas... - apontou para Julia.

– Eu não dei bola para ele...

– Só não se jogou no pescoço dele por motivos óbvios. - sorriu.

– Mask!

– Eu gosto da Mabel. - Dite cortou os dois. - gosto mesmo.

– Mas ela é feliz ao lado do Ricardo. - Giovanni disse seco.

– Mesmo assim, eu ainda tenho esperanças.

Gio revirou os olhos, quando o pisciano colocava algo na cabeça...

– Já que quer sofrer problema seu.

– Eu me viro. - olhou para Julia. - e você flor? De quem gosta?

Julia ficou em silêncio enquanto Mask deu um sorriso.

– Do Esdras.

– Mask!!!

– Você gosta do Shura? - Dite ficou surpreso. - sério?

– Sim... mas ele não quer nada comigo então desencantei.

– Mentira. - Mask a fitou com um sorriso cínico. - ainda gosta dele.

– Eu não!

– Shura tem um grave problema de relacionamentos... ele tem trauma. - disse Dite.

– Trauma?

– A mãe dele abandonou o pai e ele e fugiu com outro. Por conta disso o pai ficou doente e pouco tempo depois morreu. Antes de morrer o velho deve ter colocado na cabeça dele que nenhuma mulher presta.

– Sério? - ficou surpresa.

– A única vez que ele tentou mudar esse quadro, - iniciou Mask. - deu errado. Era uma serva que tinha aqui, ele gostava dela, mas ela o deixou por outro.

– Desde então aboliu relacionamentos da sua vida. - completou Dite.

– Por que não me contou isso? – Julia olhou para Mask.

– Você não perguntou...

– Shura é oito ou oitenta.

Julia ficou calada, era por isso que ele mantinha distancia dela? Tinha medo que ela fizesse alguma coisa?

– "Mas eu jamais faria algo assim..." - pensou.

– Ainda tem o fato do que aconteceu entre ele e Aiolos.

– O que aconteceu? - ficou ainda mais curiosa.

– Nada Julia... - Mask olhou ferino para Dite. - não foi nada.

– Mas eu quero saber.

– Um dia ele te conta flor. - disse Dite. - não é uma história muito bonita.

Era claro que eles queriam esconder, e pelo jeito era algo bem sério, mas o que seria?

– Está bem... já que não querem me contar...- cruzou os braços sobre o peito, fechando a cara.

– Oh... fica tão lindinha com a cara fechada. - Gustavv sorriu. - é coisa dele Ju, ele é que tem que falar.

– Sei...

– Mudando de assunto, - Dite virou-se para o canceriano. - aprendeu a lição?

– Que lição?

– Heluane.

Mask ficou com a expressão séria.

– Aprendi. Não se preocupe, prometi que não chegaria perto dela.

– Pelo bem dela e o seu também espero que cumpra com a palavra. Não pensa em se vingar, não é?

– Não vou fazer nada. Dei minha palavra.

– Ela ficou bastante atordoada, - disse Julia. - ainda mais que já tinha passado por isso antes...

– Como assim? - indagou Dite, mas Mask ficou igualmente curioso.

– Agressão. Foi alguns anos atrás.

– O que aconteceu? - a pergunta partiu do canceriano.

– Não sei da história, só sei que foi um namorado que ela teve, mas foi pior do que ela passou com você.

– Sério? - exclamou Dite. - Giovanni você é um idiota. - deu um tapa nele.

– Ai.

– A cena deve ter passado na mente dela...

Giovanni ficou pensativo, lembrando-se daquele dia.

– Disse que foi pior?

– Sim, em termos físicos.

– O que ele fez? - ficou imaginando o cara encostando nela. - o que esse crápula fez?

Giovanni indagou sem perceber, causando estranheza nos dois.

– De certo que o mesmo que certo crápula italiano fez. - Dite respondeu frio.

– Mas eu não a machucaria a esse ponto.

– Não? - o pisciano o fitou irônico. - quem não te conhece que te compre Giovanni. Ainda não entendo por que não fez pior.

– Não faria pior... está certo que ela merecia, mas eu não faria isso.

– Fazendo ou não, quero você longe dela. - disse frio.

– Já vou ficar longe! Se depender de mim nem no mesmo ambiente eu fico.

– Bom mesmo.

O.o.O.o.O

Aiolos serviu o almoço, com Shura num profundo silêncio.

– Não vai me dizer qual é o problema? - indagou o grego.

– Problema nenhum Aiolos. - não tirou o olhar do prato de comida.

– Fala logo Esdras.

– O problema atende-se pelo nome de Giovanni.

Aiolos franziu o cenho. O que uma coisa tinha haver com a outra?

– Seja mais claro. O que tem o Mask?

– Nada.

– Porra Esdras! Como posso te ajudar se eu não sei o que está acontecendo!

– É a Julia... - murmurou.

– O que tem ela?

O espanhol soltou um sonoro suspiro, começando a contar a história toda para Aiolos.

– Agora aquele idiota vai tira-la de mim.

– Claro, você a empurrou para ele.

– Eu não empurrei... não quero falar dela. Vamos terminar o almoço.

O grego não disse nada, voltando a atenção para o prato.

Cris respirava ofegante na porta de Sagitário, subir aquelas escadarias naquele horário era difícil. Bateu a porta da décima casa para pedir um pouco de água.

Aiolos deixou Shura na cozinha indo atender.

– Cristiane?

– Pode me dar água... por favor.

– Está indo para onde?

– Templo. Se eu não beber nada, não chego viva.

– Vem. - sorriu.

Ele a conduziu para a cozinha. Assim que viu Shura apenas acenou.

– O almoço em Gêmeos já acabou? - Aiolos lhe deu o copo.

– Não sei. Não almocei lá. - pegou o copo bebendo de uma vez só.

– Não? - estranhou. - aceita mais?

– Aceito. Não fiquei para almoçar, não sou bem vinda naquela casa.

Shura e Aiolos trocaram olhares.

– Saga te mandou embora? - indagou o espanhol.

– De certa forma sim. - tomou o segundo copo.

– Quer almoçar conosco? - perguntou Aiolos. - até chegar ao templo...

– Posso? – estava morrendo de fome.

– Claro. Sente-se, vou pegar um prato para você.

A mineira sentou-se ao lado do prato de Aiolos.

– O que o Saga te disse? - o grego a serviu.

– O de sempre... é para me manter afastada, etc... - provou a comida. - que delicia.

– Obrigado. Ele fala assim?

– Fala.

– Você gosta dele mesmo?

Cris ficou sem graça com a pergunta de Aiolos, ainda mais que Shura a fitava com interesse.

– Gosto...

– Mesmo com todos os problemas? - Esdras não era curioso, mas...

– Mesmo com todos os problemas, eu gosto do Saga do jeito que ele é. - sorriu. - infelizmente ele não quer, não posso fazer nada. Como diz a Julia, a gente só se ferra.

– Por que a Julia diz isso? - Aiolos achou pertinente o nome dela surgir na conversa.

– Quando a gente gosta de alguém em 99% dos casos não somos correspondidas.

– Mas Saga gosta de você.

– Imagina se não gostasse...

– De quem a Julia gosta?

Shura fitou Aiolos imediatamente.

– De ninguém. - respondeu rápido.

– Imagino que seja do Giovanni. - jogou verde. - os dois são tão amigos.

Cris não sabia o que responder. Julia tinha lhe contado da conversa que ela e Shura tiveram na noite passada, mas agora que estava diante do espanhol o que diria?

– Pode ser... - respondeu vagamente.

– Ao que parece cada menina tem seu dourado preferido. - agora era a vez dele obter informações. - Ester, Julia, Isa, Jules, Bel, você já são bem explícitas e as demais?

– Ah... não sei ao certo. - será que era prudente citar a Sheila? - e vocês? - resolveu devolver a pergunta. - podem ter relacionamentos?

– Não. - Shura respondeu frio.

– Mas e no caso do Mu e dos outros?

– Vai acabar quando a barreira abrir. - a fitou. - então não fique infeliz pelo Saga, tudo vai acabar quando passarem pela barreira.

A brasileira abaixou o rosto, ele tinha razão. Aiolos o fitou ferino.

– Não leve em consideração o que ele falou Cris, - tocou no ombro dela. - continue tentando com o Saga, ele só diz aquelas coisas, pois não se acha merecedor de ser feliz, aquela velha história que você já conhece.

– Saga não consegue desligar do passado.

– Não é só ele. - Aiolos dirigiu o olhar para Shura que desviou. - e a Sheila? Acho que ela gosta do Dite e ele da Mabel.

– A Sheila só acha o Dite bonito, na verdade ela gosta é... - calou-se. - é de todos.

– Percebi... - o grego disse ríspido. - mas ela não está errada. - levantou recolhendo os pratos. - uma mulher como ela gosta é de homens.

Cris não entendeu o verdadeiro sentido da frase, mas Shura sim. Até Aiolos tinha se apaixonado? Mas se era isso, por que ele ainda não tinha investido? Logo ele?

– Pode investir então. - disse para ver a reação dele.

– Não sou bem o tipo dela. - recolheu os copos. - além de ser mais novo.

– Isso não importa Aiolos. - disse Cris. - Sheila não liga para idade.

– Liga sim. - disse seco. - não imagina o quanto.

A brasileira franziu o cenho, Sheila precisava saber disso.

O.o.O.o.O

O cheiro que provinha das panelas deixava o mineiro com água na boca. Sentado a mesa observava Marin mexer com elas. Jamais imaginou que Marin de Águia cozinharia para ele. Observou a casa, era um lugar que tranquilamente moraria. A mente começou a imaginar como seria a vida se os dois morassem naquele lugar.

– Fernando. Fernando.

– Oi.. - piscou algumas vezes.

– Em que estava pensando? Te chamei várias vezes.

– Em nada. - consertou o corpo na cadeira. - só pensava em algumas coisas.

– Posso servir?

– Deve. - sorriu. - o que fez?

– Fasolatha.* Leva feijão branco, cebola e outros ingredientes.

– É grego?

– Sim. Posso fazer outro dia, comida japonesa ou dinamarquesa.

– Cozinha internacional. Gostei disso.

Marin serviu os dois. Fernando levou a primeira colherada na boca, a amazona o observava com atenção. Nunca teve tempo para aprender a cozinhar, sabendo apenas o básico.

– Está bom?

Fernando primeiro sorriu, depois levou a mão a garganta fazendo uma careta.

– O que foi Nando? - levantou preocupada. - por Atena que eu fiz.

O mineiro cada vez mais contorcia o rosto, aumentando o medo de Marin.

– Nando.

Ele começou a rir.

– Brincadeira.

– Idiota. - fechou a cara. - pensei que estava passando mal.

– Isso é muito bom Marin. - voltou a comer. - está ótimo.

– Não está dizendo isso para me agradar, está?

– Não. Está bom mesmo. Você cozinha bem.

– Obrigada. - corou.

– Quando for conversar com o Aioria me chama?

– Para que?

– Eu quero está do seu lado. Mesmo correndo o risco de levar uns socos...

– Sei que é o certo a se fazer, mas estou com dó do Aioria. Ele vai ficar mal.

– Não vai.

– Como sabe?

– "Ele está com a Gabe." - pensou. - Intuição. Se estiver receosa peça para o Afrodite vir junto.

– Dite tem sido um anjo. - riu. - quem diria que ele e eu seriamos amigos? Há treze anos isso era impensável.

– Ainda bem que as coisas mudaram para melhor. Afrodite mencionou de novo a intenção de fazê-la amazona de Peixes?

– Não. Para falar a verdade nem tivemos tempo para debater sobre esse assunto. Creio que depois da cerimônia de amanha, as coisas... por Atena! - Marin levantou num rompante.

– O que foi?

– Teremos uma pequena festa na vila, tenho que acertar os detalhes com os moradores. Eu preciso ir.

– Agora? Nem acabou de comer.

– É urgente.

– Come primeiro Marin. Minutos a mais ou a menos não fazem diferença.

– Tem razão. - sentou.

– Posso ir com você? Talvez possa te ajudar em alguma coisa.

– Pode. - sorriu.

O.o.O.o.O

obs: conversa acontece mentalmente.

Ester estava sentada a mesa enquanto Shaka terminava de preparar o almoço.

– Pode me contar agora?

– A telecinese do Mu saiu do controle depois que voltamos do Tártaro, isso já sabe? - a olhou.

– Sim...

– Nos primeiros meses Mu não tinha qualquer controle sobre ela e na sua primeira crise Shion e Kiki estavam perto. Shion ainda tentou ajuda-lo, mas o poder dele estava tão forte que os dois foram atingidos por estilhaços de vidro. Kiki que teve o corpo mais cortado. Mu ficou inconsolável. - colocava os pratos e talheres. - com Miro e Aioria o processo foi semelhante e eles saíram feridos.

– O poder dele está tão desorganizado assim?

– Está. - sentou, pois o almoço demoraria a ficar pronto. - Felizmente nos últimos anos, as crises têm vindo mais escassas, mas pode aparecer a qualquer momento. Como foi ontem.

– Mas eu posso ajuda-lo, não posso?

– Você não tem cosmo Ester. Não vai poder ajuda-lo nem se defender. Se ele não tivesse se controlado ontem, só Atena para dizer o que poderia acontecer a você.

Ester abaixou o rosto.

– Mu sente algo muito forte por você, eu não entendo muito, mas sei que é intenso. O cosmo dele está vibrando diferente. E conhecendo-o ele vai tentar evitar te machucar.

– Vai se afastar de mim?

– Pelo seu bem sim.

– Mas eu não quero me afastar dele...

– É para seu próprio bem Ester. Prova disso que sua mente o bloqueou.

Ao se lembrar disso os olhos da carioca encheram de água. Quando arrumou a alguém que não a enxergava com preconceito, não poderia ficar junto? Logo Mu que lhe deu a chance de "ouvir" uma voz?

– Não é justo... eu não me importaria de correr o risco. Mesmo que sofresse um ataque continuaria do lado dele.

– Mesmo custando a sua segurança?

– Sim. Eu gosto muito do Mu, ficaria com ele apesar de todos os riscos.

Shaka franziu o cenho, amor deixava as pessoas cegas? A ponto de não se importar com sua própria segurança?

– Eu não entendo...

– Entende sim Shaka. Mesmo se corresse risco, não se aproximaria de Mu?

– Claro que sim, prezo pela vida dele.

– E dos demais?

– Tanto quanto a dele. Eu não entendo Ester.

– Você gosta dos seus amigos. Não importa se sua vida estiver em risco, você não os abandonaria.

– Isso mesmo...

– Eu sinto o mesmo pelo Mu. Não quero deixa-lo num momento como esse.

Pensativo o indiano levantou para olhar as panelas.

– Posso perguntar algo intimo? - a fitou.

– Sim.

– Como seu corpo reage ao tê-lo por perto?

Ester ficou surpresa com a pergunta.

– Sinto alegria, meu coração bate depressa e...

– Sente vontade de toca-lo?

– Sim... por que Shaka?

O indiano ficou em silencio sem saber se era prudente dividir com ela suas duvidas.

– E por que me sinto assim, quando estou perto da... de uma pessoa. - não quis revelar o nome, mas Ester sabia de quem ele falava.

– Isso acontece quando gostamos de alguém. - sorriu.

– Verdade? - abriu os olhos. - mas... eu não sei o que é isso... e... posso te pedir uma favor.

– Claro.

– Posso te beijar?

– O que?? - Ester arregalou os olhos.

– Eu preciso entender isso...

– Mas Shaka... eu...

– Mu não ficará sabendo, além do mais eu só quero saber uma coisa. Dizem que o beijo provoca sensações não é?

– Sim...

– Por favor, Ester.

Ela ficou calada, se Mu visse certamente brigaria com ela, se Juliana visse perderia uma amiga.

– Seja rápido. - pensou pelo lado humanitário, talvez fosse o empurrão para que ele e Juliana ficassem juntos.

Shaka aproximou e fez exatamente como fez com Juliana. Se provocava sensações teria que reproduzir a cena para aí sim tirar conclusões. Ester sentiu sendo envolvida pelos braços do indiano, a paulista que a desculpasse, mas Shaka era lindo.

O cavaleiro tocou os lábios dela, Ester ficou paralisada, morrendo de medo de alguém ver. Shaka ficou por segundos na mesma posição e não notando nada de anormal afastou-se.

– Não senti nada.

– É por que não gosta de mim.

– Mas eu gosto de você.

– Não da forma entre um homem e uma mulher. Sentiu o coração mais forte quando beijou alguém? - queria citar a paulista, mas talvez não fosse prudente.

O rosto ficou vermelho.

– Sim...

– É sinal que gosta dessa pessoa Shaka. - sorriu, pois Juliana tinha que saber disso, ou talvez não, seria interessante os dois descobrirem juntos. - sente vontade de toca-la não sente?

– Muita. - lembrou-se do abraço da noite anterior. Queria que durasse a eternidade. - isso me confunde... - voltou a atenção para as panelas.

Ester conteve o sorriso, Shaka estava gostando de Juliana e nem se dava conta disso. A carioca desviou o olhar vendo dentro do armário um aparelho de chá. Teve uma ideia.

– Gosta de chá Shaka?

– Sim.

– De qualquer tipo?

– Sim.

– Certa vez fui numa cerimônia japonesa de chá. É tão bonito. - disse como se fosse um comentário trivial.

– Já vi algumas, mas nunca participei de uma.

– Se pudesse gostaria?

– Sim. - a fitou. - acho interessante todo o ritual que se envolve.

– A Juliana sabe fazer. As meninas já foram na casa dela e a Ju fez.

– Ela sabe? - indagou surpreso.

– Sim. Posso pedir para que ela faça para você.

– Ela não faria isso.

– Claro que faria. Ju gosta quando gostamos das tradições orientais. - desculpa mais esfarrapada.

– Ela preserva suas raízes. - sorriu. - gosto de pessoas assim.

– Eu vou falar com ela, pode ser a tardinha?

– Pode. - respondeu sem atinar para o plano de Ester.

– Combinado. Tenho certeza que vai adorar a experiência....

Shaka sorriu, seria uma oportunidade de se desculpar pela bebedeira.

O.o.O.o.O

Kanon olhava com expectativa para o fogão, o cheiro que provinha dali era maravilhoso.

– Já está pronto?

– Quase.

– Estou com fome...

– Aguenta. – Suellen desligou as panelas. Seguindo as orientações de Kanon, ela tinha feito Psarosoupa** e torcia para que tivesse dado certo. Serviu uma porção. – espero que tenha ficado do seu agrado. – colocou o prato a mesa.

– Só pelo cheiro...

Comeu uma porção e depois outra e depois outra. Su o fitava a espera de alguma palavra ou reação.

– E aí?

– Casa comigo?

– Como???

– Está uma delicia!! Você cozinha muito bem!! Casa comigo.

– Você quer é uma cozinheira.

– Se vier junto no pacote melhor ainda. – sorriu. – brincadeiras a parte, está muito bom Su.

– Obrigada... – ficou sem jeito. – até que me sai bem para primeira vez.

– E como saiu. Obrigado.

– Agora que você não morreu envenenado posso comer.

Serviu-se e gostou do prato feito.

– Até que isso é bom mesmo.

– Grécia tem muitos pratos gostosos.

– Gostosos e calóricos, desse jeito vou ficar uma bola. Já devo ter engordado uns cinco quilos.

– Para mim está ótimo. – o olhar estava concentrado no prato que agora era raspado. – eu gosto de você assim.

Ficou surpresa por ouvir tal declaração.

– Assim como?

– Com curvas... – respondeu simplesmente.

– Ah... – realmente ficou surpresa. – não vai lá ver se o Saga está bem?

– Não. – levantou. – vai comer mais?

– Não.

– Então posso colocar tudo?

– Pode Kanon. – riu. – já tem um tempão que ele está no quarto.

– Problema dele. Cansei.

Su franziu o cenho, Kanon sempre seguia os passos de Saga de perto e agora não queria saber.

– Tem certeza?

– Tenho. – voltou para a mesa. – ele precisa resolver os próprios problemas, que ele mesmo cria. Tem tudo para dar certo com a Cris, ele não quer então... vou cuidar de mim e por isso quero passar mais tempo com você.

As surpresas não parariam?

– Você está bem?

– Estou. - a fitou. - por quê?

– Está dizendo coisas sem sentido...

– Só porque quero ficar mais tempo com você?

– Sim...

– Já que não quer minha presença...

– Não disse isso.

Kanon sorriu voltando a atenção para o prato de comida.

– Poseidon chegará cedo?

– Apenas alguns minutos antes do inicio da cerimônia. Ele fica meio ressabiado aqui.

– Entendi.... Sorento virá?

– Sim e a Tétis também. Por falar nela sumiu, saudades dela.

Suellen fechou a cara na hora.

– Vocês tiveram algo? - cruzou os braços sobre o peito.

– Nada muito sério. - respondeu simplesmente. - tinha praticamente o dobro da idade dela na época... faz meses que não a vejo... - disse pensativo. - deve está gostosa.

A brasileira levantou num rompante, passando a recolher a louça. Kanon ainda não tinha terminado de comer quando ela puxou o prato.

– Su ainda não acabei.

– E nem vai. - a voz saiu fria.

– Por quê?

– Foi a ultima vez que comeu algo feito por mim. Se quiser comida arrume uma cozinheira!

Kanon arregalou os olhos.

– Por que está nervosa?

– Eu não estou nervosa! - quase jogou os pratos dentro da pia. - passar bem.

– Su o que foi? - a segurou.

– Me solta Kanon.

– Não até me explicar o que está acontecendo.

– Está acontecendo nada. Quer me soltar? - o fitou ferina.

Ele a soltou.

– Adeus.

Saiu pisando duro.

– Su, espera.

Kanon foi atrás. Enquanto isso no quarto de Saga...

O cavaleiro estava sentado no chão debaixo da janela, fitava o céu azul, mas o olhar estava perdido. obs. em itálico o outro 'eu' do Saga. Quando entre “” pensamento, sem “” voz alterada.

– "A verdade dói..." Cala a boca. "Até ela está farta de você, isso mostra que você é um merda mesmo." Chega! " Você é patético, aquela fedelha perdeu tempo em traze-lo de volta, você é um nada Saga." Chega! - levantou. - cala a boca!

Saga foi até a pia do banheiro lavando o rosto. Mirou-se no espelho, ainda era a sua expressão, contudo um sorriso cínico começou a brotar.

"O grande Saga de Gêmeos se tornou um bosta drogado. Um poder desperdiçado... " Eu não permitiria que você matasse Atena. "Falou o santo, arrependido pelo banho de sangue que espalhou pelo santuário. Lembra-se da morte daquela família?"

O grego levou as mãos a cabeça, para abafar a voz e apagar a imagem da família que mandou matar.

“Ficou atormentado? Coitadinho... são tantas mortes não são? Não fique preocupado com as mortes que encomendou, deveria preocupar-se apenas com uma...."– Saga fitou-se no espelho vendo o sorriso cínico aumentar. - " tem um sangue que terei o enorme prazer em derramar..." De quem está falando? - indagou alarmado.

Então sentiu o braço movimentar-se pegando a pasta de dente, o braço elevou mais um pouco, fazendo movimentos de escrita no espelho, a medida que as letras surgiam Saga foi tomado de pavor. C-R-I-S-T-I-A-N-E

– Não! - passou a mão pelo creme branco, na tentativa de apagar a escrita - não vai tocar nela! "Não vou? Vai assistir de camarote eu pegar a adaga dourada e enfiar no coração dela."– ele sorria, o olhar era cruel. Aproximou do espelho. A face refletida era demoníaca. - tenha certeza que vou mata-la com requintes de crueldade hihihihhahahaha! Não vai tocar nela! - Saga correu até a cômoda do quarto abrindo a gaveta onde ficava seus remédios, tomou dois de uma vez. - não vai tocar nela... não vai... - os olhos marejaram só de imagina-la morta. - não vai...

O.o.O.o.O

O filho de uma #%& era rápido, constatou Marcela. Não podia apressar o passo, pois poderia ser descoberta, mas se andasse devagar demais perderia o de vista, ainda mais naquela rua movimentada de Rodorio. Escondendo-se atrás de uma árvore o viu entrando num prédio estilo clássico de três andares.

–"É aí que fica a zona seu cafajeste... vou te pegar no pulo"

A paulista não queria surpreende-lo agora, pois daria tempo para ele dar uma explicação esfarrapada, então daria um prazo de uns dez minutos para pega-lo na cama com outra. Fim do prazo, rumou para a entrada do prédio. Olhou a placa, achando esquisito está escrito "Children of Hope".

– "Está pegando as professoras? Canalha!"

Entrou. Por sorte a recepcionista não estava atrás do balcão, mas viu algumas mulheres e crianças sentadas nos bancos dispersos pelo cômodo. Achou estranho, mas sua meta era achar Miro. Ao lado da recepção notou um longo corredor. Moças jovens iam e vinham levando crianças, parou uma para perguntar.

– Boa tarde, você viu o Miro? - estava se arriscando, pois se ela fosse uma das quais Miro se divertia, não ia entrega-lo.

A criança que estava com a jovem levantou a mão na hora.

– Tio Miro está lá em cima. - apontou para a escada.

– "Tio?" - pensou. - "ele não tem irmãos... será que é sobrinho de alguma namorada?" - o sangue ferveu. - obrigada.

Subiu as pressas, Miro tinha uma namorada e não falara nada, dando-a falsas esperanças. O corredor era tão longo quanto o do andar de baixo, mas conseguiu escutar a voz do cavaleiro e ele estava rindo.

– "Se divertindo com a sirigaita!"

Foi para onde ouvia a voz, vendo através de pequeno vidro na porta uma cena que a deixou surpresa. Era uma sala ampla e algumas crianças estavam dispostas enfileiradas. Todas usavam uma máscara no nariz e mais da metade não tinha cabelos. Miro por sua vez estava diferente. Usava uma roupa de palhaço e todos os acessórios que compunham o figurino.

– "Mas o que...?"

– Posso ajudar?

Marcela virou-se deparando com uma jovem que deveria ter a idade dela. Tinha cabelos pretos e expressivos olhos azuis.

– É o Miro? - só conseguiu articular essa pergunta.

– Sim. - sorriu.

– O que ele faz aqui? Alias que lugar é esse?

– Funciona como clinica e orfanato. A senhorita Atena mantém esse lugar para órfãos e alguns deles enfrentam o câncer. Tem moradia e atendimento médico. Três vezes por semana o Miro vem aqui para brincar com elas. Hora conta histórias, ora vem vestido de palhaço, pirata e no Natal de papai Noel. As crianças o amam.

– Sério? - ficou surpresa.

– Sim, tem anos que ele vem aqui. Elas já se sentem tão tristes pelo abandono e o Miro devolve um pouco o sorriso ao rostos delas. - a jovem sorriu, era nítido que ela admirava o cavaleiro. - nós já passamos por isso, sabemos bem a dor do abandono.

– Como assim? - indagou ressabiada.

– É amiga do Miro?

– Sim, há pouco tempo. - sorriu sem graça. - Marcela.

– Elsa. Miro e eu temos a mesma idade, ele foi deixado no "Caminhos da Luz" logo após que nasceu, a mãe era viciada em drogas e o pai... bom... a mãe dele nem sabia quem era o pai. Eu cheguei ao orfanato com dois anos. Como tínhamos a mesma idade... com sete ele fugiu junto com alguns garotos e perdemos o contato.

– Fugiu para onde?

– Para rua. Miro morou na rua dos sete aos nove, quando foi trazido para esse orfanato, Hendrik, o mestre dele, passava por aqui quando o encontrou. O resto da história já sabe.

Marcela fez que sim.

– Eu fiquei no orfanato até completar vinte e um anos. Miro conseguiu me reencontrar e Atena me deu esse emprego. Desde então moro em Rodorio.

– Não fazia ideia disso.

– Nós já passamos por muitas coisas. - a voz saiu vaga.

– Você o considera muito. - será que existia sentimento por ambas as partes?

– Sim. Miro é como se fosse meu irmão. Ele sempre me protegeu enquanto morávamos juntos, quando ele fugiu chorei muito, mas graças a Atena nos reencontramos.

– Não conhecia esse lado dele. Filantrópico, ele sempre pareceu...

– Irresponsável, mulherengo, desligado. Ele sempre foi assim, mas quando o assunto é sério, Miro se transforma. Fica igual ao Kamus.

– Posso imaginar...

– Marcela não é? - ligou o nome a pessoa.

– Sim.

– É do grupo que atravessou a barreira?

– Sou. - prendeu a respiração, Atena ia puni-la.

– Miro falou de você. - sorriu. - falou até demais.

– De mim? O que ele falou?

Quando Elsa ia responder, Miro abriu a porta. Tinha escutado vozes e sabia que uma delas era da brasileira.

– O que faz aqui? - indagou seco.

– Eu... só... - como responderia que tinha seguido-o. - entrei aqui sem querer... estava passeando pela vila e resolvi ver o que era. - queria sorrir, pois estava engraçado com toda aquela maquiagem e peruca.

– Mentira. - a voz saiu fria. - me seguiu.

– Não segui. - mentiu veemente.

– Elsa. - Miro olhou para a amiga. - leva-a para a sala de espera, só vou terminar a história.

– Está bem.

Pela expressão do rosto e o tom da voz, Marcela sabia que Miro estava com raiva. Elsa a levou para a tal sala e dez minutos depois Miro já estava lá.

– Por que me seguiu? - disparou.

– Pensei que estava saindo com outra mulher. Saiu sem dizer nada.

– Desde quando devo satisfação a você?

A paulista engoliu seco.

– Desculpe.

– Se tem uma coisa que eu odeio é que não confiem em mim. Se tivesse tendo um caso, você seria a primeira a saber, pois nunca escondi isso de ninguém.

– Foi mal está bem? - levantou. - não fiz por querer. Só queria certificar que não estava com nenhuma sirigaita.

– E se estivesse? O que tem com isso? Que eu saiba não temos nada. Você mesmo me disse várias vezes.

– Já pedi desculpas. Mas bem que poderia ter me dito sobre aqui. Faz um trabalho tão bonito.

– Não gosto que os outros saibam disso. É coisa minha.

– Tem haver com o fato de ter morado num orfanato?

– Elsa... - murmurou desanimado. - não consegue ficar calada.

– Nem isso ia me contar?

– Para que?

– Como para que? Tinha curiosidade sobre seu passado. Pensei que...

– Pensou errado. Se tivéssemos alguma coisa, seria a primeira a saber de todos os meus passos. Todos. Mas não passamos de simples conhecidos, por vontade sua, então não me cobre nada.

– Vai ficar jogando isso na minha cara? - indagou irritada.

– Não preciso jogar. - caminhou para a porta. - tenho mais que fazer do que ficar discutindo com você. Não sei qual caminho passou, mas passe pela trilha que começa na entrada da vila, vai sair ao lado do templo de Atena. Passar bem.

Miro saiu sem dá-la chance de resposta. Do lado de fora, Elsa esperava-o.

– Ela te seguiu mesmo?

– Sim.

– Por acaso ela é de escorpião?

– É...

– Está explicado. - abafou o riso. - Não disse que ela não quer nada com você?

– Disse.

–Não é uma atitude de alguém indiferente... Se chegarem a ter algo, vai andar na linha com ela.

– Vai trabalhar e não me amole. - praticamente a empurrou. - eu tenho mais o que fazer. - tirou do bolso o nariz de palhaço.


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Notas finais do capítulo

Fasolatha ou fasolada é uma sopa de feijão branco. Muitas vezes considerado o prato nacional da Grécia. Cozinha-se o feijão com cebola, cenoura, cebola, aipo, tomate, orégano, tomilho, azeite, sal e pimenta, até o feijão estar macio. Serve-se com salsa cortada.

Psarosoupa: 'sopa de peixe', pode ser cozinhada com diversos tipos de peixe, e diversos legumes e verduras, além de outros vegetais (cenouras, aipo, salsa, batatas e cebola); entre as diversas variedades está a clássica kakavia, que leva azeite.



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