A Lenda dos Santos de Atena escrita por Krika Haruno


Capítulo 16
Tortura




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Nono dia em solo grego. Quinto dia na morada de Atena. O céu estava límpido, sem uma única nuvem. A temperatura estava amena devido a chuva da noite anterior. Os primeiros raios de sol batiam em toda extensão do santuário, secando os lugares que ainda estavam molhados.

O café tinha sido servido mais cedo e feito no mais absoluto silêncio. Nem Saori, nem Marin, nem Shion tomaram a refeição com eles, por motivos óbvios, a separação entre eles era certa, mas não tão aceitável.

Depois do café, o grupo voltou para os quartos, só aguardando a hora de serem levados.

Nas casas abaixo o clima não era diferente. Já estavam quase todos de pé, pois Atena solicitara a presença deles durante a abertura do vértice.

Em Gêmeos, Kanon sentindo o sol bater em sua face acordou. Sentiu todos os músculos rígidos por ter dormido no sofá. Levantou indo até o quarto não vendo Saga. Procurou pela casa inteira, não o encontrando. Kanon apenas fez sua higiene tomou um rápido café e saiu, tinha que achar o irmão. Acabou por encontrar com Ricardo e Mu que subiam rumo ao templo. Durante o caminho outros se juntaram a eles, o silêncio reinava nos golds, estavam com os pensamentos voltados para o grupo que voltaria ao mundo normal. E assim em silêncio foram direto para o pátio da estátua.

Kanon suspirou aliviado ao ver o irmão sentado num canto. Saga trazia uma expressão indecifrável. Marin também estava lá.

No templo uma serva foi até os quartos chama-los. De posse de suas malas desceram para o primeiro andar, onde as deixariam para serem levadas posteriormente.

– Bom dia. - disse Saori, Shion que estava ao seu lado apenas acenou. Procurou não olhar para Paula. Ela também não o fitou.

– Bom dia Atena, Shion. - disse Rodrigo por todos.

– Espero que me perdoem, mas é pelo bem do santuário.

– Tudo bem Atena. - disse Mabel. - nós entendemos.

– Vamos?

O cortejo partiu em direção ao pátio da estátua. Ao saírem da cozinha, olharam para o céu, pois algo brilhando em dourado chamou a atenção.

Os cavaleiros dispostos um ao lado do outro estavam em silêncio. As meninas e os meninos surgiram na escada, parando a certa distancia dos cavaleiros.

– Por favor, fiquem na frente da estátua. - disse a deusa.

Foram parando um do lado do outro e de frente para os dourados. Cris correu os olhos pelo local, pois não viu Saga. Olhando para o lado o viu sentado num canto. Seu rosto estava sério.

Atena não se importou com o fato do geminiano não está ao lado dos outros.

A barreira emitia pequenos clarões dourados, que podiam ser vistos por toda extensão do santuário.

– Estão prontos?

Cada uma lançou um último olhar para seu dourado. Fernando fitou Marin, ela, que estava ao lado de Aioria, abaixou o olhar. Aioria também não olhou para Gabe. Rodrigo olhou para Atena, ela lhe deu um sorriso tímido.

Marcela abaixou o rosto, pois Miro não estava presente.

Era notável as expressões melancólicas de alguns dourados, Shura, Kamus, Aiolos, Shaka e Giovanni estavam sérios.

– Suas máquinas e celulares seguirão para o hotel onde estavam hospedados. Não terão que se preocupar em dar explicações, pois tudo já está sobre o controle. Alguns familiares ligaram para vocês então resolvemos da melhor forma.

– Como assim? - indagou Julia.

– Enviamos cartões postais de Athenas, informando que estavam bem e que por conta do sinal do celular estava difícil a comunicação.

– Você pensa em tudo. - disse Rodrigo, tentando imaginar até que ponto Atena controlava tudo e a todos. - "só não pensa nela mesmo."

– É necessário. - disse. - Agradeço a compreensão.

De posse do báculo elevou seu cosmo e em resposta a barreira brilhou como numa aurora boreal...

O.o.O.o.O

Miro sentia o corpo todo mole, efeito dos remédios. Com dificuldade abriu os olhos, passando a fitar o céu, ou melhor o brilho dourado que cobria-o.

– PQP! - deu um salto, para depois se arrepender, pois sentiu cãibra na perna. - droga... - doía.

Ele voltou o olhar para o céu, aquilo significava que o vértice...

– Marcela!

Ainda com dores, o cavaleiro trocou de camisa, saindo de casa. Queria usar a velocidade da luz, mas a dor não permitia.

– " Por favor, não abra ainda.." - olhou para o céu. - "não abra." - estava arrependido por ter brigado com a brasileira. Ela não se lembraria da briga, mas não queria que ela fosse embora com raiva dele.

O.o.O.o.O

A cada segundo, a barreira emitia luzes mais fortes. Começaram a sentir um vento brando...

Mu olhava fixamente para Ester, queria gravar na sua mente o rosto dela. A americana olhava com pesar para ele. Era muito injusto esquecer dos momentos que passaram juntos. Aldebaran e Mabel fitavam-se, para em seguida darem um fino sorriso. Kanon olhava para Suellen lamentando não poderem mais conversar, pensamento este compartilhado pela brasileira.

Cris olhava para Saga, arrependia-se por não ter contado a Kanon sobre os planos dele, talvez fizesse a diferença. A expressão de Saga continuava estática. MM fitava Julia, ate que desviou o olhar para Heluane. A brasileira sequer o olhou. Shaka trazia a expressão dura, o que levou Juliana a pensar que ele estava com raiva e dando graças a Deus por ela ter ir embora.

Já Dohko não tirava os olhos de Juliane, ela também o fitava intensamente. Aiolos trazia a expressão séria, nem parecendo o descontraído sagitariano. Sheila lançou-lhe um último olhar sendo correspondida. Shura tinha a expressão tão fria quanto Kamus, ele olhava para Julia, mas essa, não o fitou hora alguma.

Kamus mantinha a postura séria, mas hora alguma tirou o olhar de Isa, a brasileira também o fitava. Shion trazia o semblante austero. Encarava a partida de Paula, como tantas outras que teve na vida. Ela por sua vez o encarava.

A luz foi ficando mais forte, Atena e os outros sabiam que quando o brilho ofuscasse lhe a visão, o vértice estava aberto...

O brilho intensificou, Miro já estava atrás do templo, subindo as escadarias que davam no pátio da estátua. Quando chegou, procurou com os olhos por Marcela.

– Marcela!

A brasileira escutou seu nome, olhando para onde tinha ouvido. Viu em meio a luz o cavaleiro de Escorpião.

– Miro!

Um clarão ofuscou a todos...

O.o.O.o.O

Um local traiçoeiro, considerado a prisão de Chronos, dos demais titãs e de outros deuses. Mas era ali que quatorze almas mortais estavam aprisionadas. As almas dos humanos eram jogadas em Hades, mas para eles esse seria um castigo leve. Por levantarem a mão contra os deuses, seriam condenados a ficarem confinados naquele lugar inóspito. Somente três humanos, da Era mitológica até os dias de hoje, foram parar naquele lugar. Sísifo o ladrão, Ixion o assassino e Tantalo o mentiroso*.

O Tártaro era guardado por uma Hidra de cinquenta faces negras, prostrada no enorme portão feito de um material tão duro quanto o diamante. Logo atrás, das grandes muralhas, um enorme castelo, com quatro enormes torres de ferro. O castelo na verdade era a prisão. No primeiro andar ficava alguns deuses de menor poder, guardados pelos espectros de Hades. No primeiro subsolo ficava os deuses de maior poder, no segundo subsolo os titãs e no terceiro subsolo os humanos condenados. Para se chegar ao terceiro subsolo era necessário descer por um profundo poço cercado por labaredas de fogo...

As faces da Hidra olhavam fixamente para uma pessoa que se aproximava. O vestido branco estava com a barra suja de lama, ela andava lentamente por causa das dores que sentia, mas mesmo assim tinha que fazer isso pessoalmente, era o mínimo que podia fazer depois de tudo que fizeram por ela.

– O que queres filha de Zeus? - uma das cabeças aproximou. Seus olhos eram vermelhos como sangue e a face pálida. Os caninos saltavam para fora como duas garras.

– Vim buscar meus cavaleiros. - disse resoluta. - abra o portão.

– Não tem autoridade aqui menina. - disse outra cabeça. - vá embora!

Atena que trazia algo na mão direita jogou na direção do portão.

– A espada do imperador do submundo? - a Hidra recuou.

–--- Seis meses antes ----

A noite seguia alto, em seu leito Atena olhava para o teto. Desde o fim da guerra contra Hades, há seis dias, não conseguia dormir. Os cavaleiros de bronze estavam bem, até mesmo Seiya que recebera um ataque direto de Hades tinha um quadro estável, mas e os cavaleiros de ouro? Sabia que os deuses não teriam piedade deles. Ela precisava fazer alguma coisa, qualquer coisa para salvá-los. Levantou da cama de repente. Só havia uma solução, um acordo com Hades.

Seu corpo foi consumido pelo cosmo e segundos depois o quarto estava vazio...

O vento suave tocou seu rosto, o cheiro das flores invadiram suas narinas reconhecendo de imediato o local onde outrora morou: Olimpo. Estava ali não para procurar seu pai, pois ele veemente negaria-lhe aquele pedido, estava ali para pedir ajuda a Perséfone. A passos decididos dirigiu-se para a morada da deusa. Era um templo pequeno, mas ricamente decorado, cercados pelas mais belas flores.

– Atena?? - a deusa de cabelos loiros e olhos azuis a fitou assustada.

– Como vai Perséfone? Será que podemos conversar? - estava aflita.

– Claro. - indicou-lhe um divã. - não esperava uma visita, ainda mais depois do que aconteceu. Eu sinto muito por tudo que Hades fez.

– Eu que deveria lhe pedir desculpas.

– De maneira alguma. Como está?

– Péssima.

– Por que? - a deusa ordenou que as ninfas trouxessem algo para Atena, algo que seu corpo mortal pudesse beber.

– Meus cavaleiros. - toda vez que se lembrava deles os olhos enchiam de água. - Eles deram a vida por mim e agora...

Perséfone ficou séria.

– Sabe onde eles estão?

Atena balançou a cabeça de forma negativa.

– Hades os levou para o Tártaro... para a terceira prisão.

– O que??? - arregalou os olhos. - mas lá... - seu desespero aumentou ainda mais.

– Só para humanos indignos de ficarem no inferno. A situação deles é critica, muito crítica. Quem é jogado no Tártaro recebe castigos todos os dias. Hades deve ter feito questão que os piores castigos fossem aplicados a eles.

A deusa derramou algumas lágrimas. Aquilo não era justo.

Perséfone notou o liquido prateado, descer pela face branca da deusa. Quando os deuses choravam ao invés de água, descia pelos olhos um liquido prateado. Aquilo significava que Saori e Atena estavam tristes.

– Perséfone pode me levar ate Hades?

– Como? - arregalou os olhos. - mas Atena...

– Por favor, - ajoelhou diante da deusa. - eu suplico.

A loira ficou em silêncio por alguns segundos.

– Ele está em Elíseos. Seu corpo foi muito ferido e levará milênios para se recuperar.

– Eu sei disso. E a alma?

– No mesmo local. Depois que o inferno foi destruído ele permanece em Elíseos.

– Eu preciso vê-lo, por favor.

– O que pretende?

– Fazer um acordo. - disse resoluta.

Atendendo aos desejos de Atena, Perséfone usando seu poder a levou ate o inferno.

O estado do local era desolador, sempre foi desolador, mas sem a presença de seu imperador parecia abandonado. As prisões estavam em ruínas, assim como Guidecca. Depois que o cosmo do imperador dos mortos sumiu seu reino entrou em decadência. Atravessaram as ruínas, ganhando o que restou de Guidecca. O buraco do muro ainda estava lá. Envolvida pelo poder de Perséfone, já que Atena estava viva, seguiram para Elíseos.

Mal pisou nos campos, um cosmo negro envolveu a deusa.

– Como tens coragem depois de tudo? - a voz soava como um trovão. - como ousas, sua garota petulante?

Perséfone mantinha-se afastada. Não interveria na conversa, pois tanto Hades como Atena lhe eram caros.

– Vim em paz. - disse firme.

– Paz? - gargalhou. - o que fizeste ao meu reino!

– É sobre ele que vim. Quero fazer um acordo.

– Não tens nada que me interessa! Saia daqui!

– Não antes de me ouvir. - disse resoluta.

– Diga!

– Você quer a recuperação do seu corpo e o restabelecimento de seu reino, eu quero os meus guardiões de volta e...

A risada de Hades a interrompeu.

– Aqueles mortais infames! Suas almas estão seladas no Tártaro, onde sofrerão pela eternidade por ter levantando a mão contra mim!

– Você começou a guerra.

A resposta de Hades foi o aumento do seu cosmo.

– Como ousas?

– Já te derrotei várias vezes, posso fazer de novo. - não se abalou pelo poder que provinha do deus.

– Insolente! - a voz foi como trovão, levantando num rompante, flores e folhas.

– O que te proponho é de seu interesse. - a voz continuou firme.

– Escute-a Hades. - disse Perséfone. - eu não a traria aqui se fosse prejudica-lo.

O cosmo do deus serenou. Atena achou o fato curioso. Hades obedecendo Perséfone.

– Fale.

– Cederei uma parte do meu cosmo e sangue para seu corpo e em troca libertará as almas deles, com seus corpos originais.

– Nunca! - berrou.

– Então viverá milênios como alma.

O deus ficou em silêncio. A proposta era boa. Seu corpo se recuperaria mais rápido e sem a preocupação de tentar restabelece-lo poderia se ocupar em reconstruir o inferno.

– De acordo.

O cosmo de Hades elevou-se e diante de Atena apareceu sua espada.

– Vá até o meu corpo e derrame seu sangue e cosmo, em troca te darei seus humanos desprezíveis.

Atena pegou a espada e acompanhando Perséfone seguiu para o templo onde o corpo de Hades estava recuperando-se. Por ter sido ferido por uma arma divina, levaria milênios para voltar a ser o mesmo. A deusa da guerra parou ao lado do corpo. Perséfone a fitava mais atrás. Saori pegou a espada e fez um ferimento no pulso. As primeiras gotas do liquido vermelho começaram a escorrer. Esticou o braço até o corpo deixando seu sangue divino cair sobre ele. Enquanto fazia isso, seu cosmo dourado queimava ao redor. O corpo de Hades reagiu e uma energia negra saia, indo de encontro com o pulso de Atena. Sentiu um grande desconforto, mas continuou. Aquilo não era nada perante o sofrimento de seus cavaleiros. Já tinha entregado quase a metade.

– É o suficiente Atena. - Perséfone aproximou, tocando o pulso da deusa de forma a parar o sangramento.

A deusa apenas sorriu, pois estava esgotada fisicamente e espiritualmente. Perséfone a levou até o Santuário, onde ficou de cama por vários dias, por causa do contato com o cosmo negro de Hades. Shina e Marin revezavam na recuperação dela.

Levou três meses para Atena se recuperar e mesmo assim, como era esperado, ficou com sequelas. O corpo de Hades se recuperava, contudo só seis meses depois do encontro em Elíseos é que ele liberou as almas dos cavaleiros.

–---- FFB-----

A hidra recuou diante da espada de Hades.

– Abra. - ordenou Atena.

A figura mitológica abriu espaço, revelando o enorme portão de ferro. A medida que ele abria, um rangido forte podia ser ouvido de longe.

Atena ensaiou os primeiros passos, pegou a espada e entrou. O caminho que levava até o castelo era lamacento e íngreme, mas a deusa não desanimou.

A fortaleza lembrava muito as construções góticas humanas, entretanto a cosmo energia que emanava dela era poderosa e intimidadora. Saori apresentou a espada de Hades na porta principal e ela rapidamente foi aberta. Da porta até a entrada propriamente dita do castelo era ligada por uma ponte. Nos dois lados labaredas de chamas quase a atingiam, aumentando muito a temperatura. Tendo a espada a frente a deusa adentrou o castelo e foi conduzida até a entrada do subsolo. Um vento quente e abafado soprava. Ela chegou na beirada, não vendo o fundo, a escada em caracol também só era vista até um certo ponto.

Não soube precisar por quanto tempo desceu, já que a única iluminação ocorria quando as labaredas de fogo subiam. Alcançando seu objetivo parou diante de uma enorme porta de madeira escura que separava-a de seus cavaleiros...

Seis meses antes....

Primeiro veio um clarão, era o cosmo da elite de Atena chocando-se contra o Muro das Lamentações e em seguida uma escuridão profunda. Quando recuperaram suas consciências, perceberam que estavam num local sem luz e sem som.

– Acordem seus humanos desprezíveis!

Então o local ficou iluminado. Uma luz muito clara que praticamente os cegavam, mas puderam perceber que não usavam armaduras e que seus “corpos” estavam cobertos por um farrapo de “pano” escuro.

– Por terem levantado a mão contra os deuses serão punidos eternamente. – a voz era grave, mas não sabiam de onde provinha ou de quem era.

– Tudo que fizemos foi para proteger Atena de vocês! – gritou Miro.

– Como ousa?

O cavaleiro foi atingido por uma descarga de cosmo muito forte. Miro foi ao chão.

– Miro. – Deba o acudiu.

– Como primeira punição não poderão usar seus cosmos! Se usarem sofrerão com dores terríveis.

Os doze dourados mais Shion e Kanon sentiram um grande mal estar, parecendo que suas energias estavam sendo sugadas.

– A segunda é que não são dignos de ficarem em Hades, serão levados para o Tártaro! Para a terceira prisão!

– Não podem fazer isso conosco! – disse Aiolos.

– Silencio! Serão torturados eternamente, mas manterão os cinco sentidos para sofrerem com as torturas! Outras punições surgirão com o tempo.

Eles foram amordaçados e presos. Em silêncio foram levados para a prisão no Tártaro. Ao alcançarem a área onde ficariam presos foram separados em duplas. As celas, sete no total, estavam dispostas frente a frente. Na cela um estavam Aldebaran e Mu, na dois Saga e Kanon, na três Mask e Dite, na quatro Aioria e Aiolos, na de frente para a do ariano, na cinco, Shaka e Shura, na seis Shion e Dohko e na sete Kamus e Miro. Um enorme vão separava as celas dispostas frente a frente, portando possibilitando que todos se vissem. As torturas seriam diárias e a cada dia uma dupla era escolhida para recebê-las por horas e horas.

Antes até tentavam se defender, mas era pior, a cada rebeldia, a próxima dupla era punida com castigo em dobro. Aos poucos, os antigos cavaleiros conformavam-se com a situação. Era a punição por terem levantado a mão contra os deuses...

E assim os dias passavam...

Na cela dois, Saga estava agachado num canto, seus problemas psicológicos foram agravados pelo sentimento de culpa que ele carregava. Kanon tentava de tudo para manter sua saúde mental no mínimo, mas meses naquele lugar e sem qualquer esperança, tornava a tarefa ainda mais árdua.

Nas outras celas estavam todos em silêncio, até que escutaram o barulho da porta se abrindo, já sabiam pelo som que era o carrasco pronto para executar os castigos e naquele dia seriam feitos na cela cinco.

– Saiam seus vermes! - abriu a cela.

Shura foi o primeiro. Não bastasse as várias marcas cravadas em seu "corpo" por ter utilizado a Surplice, seu ombro direito estava quebrado há dias e sem tratamento, uma grande gangrena aumentava lhe a dor, seria questão de dias para necrosar.

– Hoje será leve. - o carrasco deu um sorriso cínico.

O espanhol caminhou até a parede, onde eram aplicadas as chicotadas. Depois de semanas recebendo esse tipo de castigo, já amarrava os punhos por conta própria.

– Bom mortal. - o homem elevou o chicote. - será rápido.

Começou a chicoteá-lo. Shura sentia a ponta de ferro entrar "na carne", abafando a voz para gemer de dor. Ele aceitava aquele castigo de boa vontade, como forma de se punir por ter matado Aiolos anos atrás.

Aiolos sentado na sua cela trazia o rosto baixo, a cada som do chicote de encontro com as costas do espanhol fechava os olhos. Não aguentava mais ver o amigo sofrer daquela forma. Depois de horas recebendo as chicotadas, o carrasco encarregou Shaka de tira-lo da parede. O indiano com cuidado, soltou as amarras do cavaleiro e o carregou até a cela, sob o olhar dos demais.

– Venha. - ordenou o homem.

Shaka deitou Shura de bruços, que entorpecido pela dor, não esboçava reação alguma.

O virginiano, assim como Shura, amarrou os próprios pulsos. A medida que recebia as chicotadas, a pele alva ficava avermelhada e pequenos filetes de "sangue" escorriam por ela.

Shaka mesmo com o corpo dolorido, arrastou-se para perto de Shura e impôs suas mãos sobre os ferimentos. Todos os dias, no breve período que todas as celas eram abertas, Shaka tentava amenizar a dor de seus companheiros com seu cosmo. Mesmo a proibição do uso do cosmo e o mal que ocasionava, por ter alcançado o Arayashiki, Shaka conseguia utiliza-lo sem sofrer muito. Era evidente que quando o carrasco descobria aplicava-lhe os mais terríveis castigos, mas o indiano continuava na sua missão, com o tempo, seu "corpo" passou a padecer devido ao desgaste "físico" e de energia, já não queimando cosmo como antigamente, então para amenizar um pouco a dor do indiano, Mask se ofereceu para receber os castigos em seu lugar. As vezes o carcereiro deixava outras não.

– Para fora cavaleiro! – gritou o carcereiro, ao ver que Shaka ajudando Shura.

O virginiano levantou resignado. Foi até o local anteriormente utilizado para castiga-lo recebendo uma nova carga de acoites. Mask pediu que ele levasse no lugar dele, como o combinado, mas o carcereiro não aceitou.

A noite para eles foi dura, pois não conseguiam "dormir" por causa das dores e dos gritos de Chronos na prisão logo acima.

Dia seguinte.... a cela era a de Kamus e Miro. O cavaleiro de Aquário não enxergava mais com o olho esquerdo, devido a queimadura sofrida por um marcador a brasa. Lentamente foi conduzido a Roda. Nem sabia porque seu "corpo", marcado de cicatrizes por ter usado a Surplice, ainda não tinha sido desmembrado. Miro passou por todos os tipos de tortura, mas sempre questionador, foi punido a permanecer acordado dia após dia, vendo os castigos aplicados aos seus companheiros e escutando a noite os seus gemidos de dor, fora os gritos dos titãs. Seus olhos ardiam e seu "corpo" desprovido de qualquer descanso e pelo uso do cosmo para se defender, definhava a cada dia...

A manhã seguinte chegou para Aiolos e Aioria. O cavaleiro de Sagitário tinha uma grande cicatriz de queimadura no braço surgida da explosão dos cosmos dos doze dourados. De todos era o que sofria menos com os castigos, pois apenas levantara a mão contra Hades. A pena consistia em açoites, mas seu maior castigo foi a perda do cosmo.

– Para fora humano! - gritou o carcereiro.

Aioriasaiu resignado. Aiolos olhou para o irmão, pois só voltaria a vê-lo dois dias depois. O leonino era levado para um local ao lado do cômodo das celas, onde era amarrado pelas mãos numa jaula que era jogada num fosso de água quente. As vezes a água batia até a cintura, mas na maioria das vezes, a água encobria a jaula sendo por milagre não "morrer" por afogamento. Por causa da temperatura da água, seu corpo era acometido por bolhas.

No próximo dia foi a vez de Aldebaran e Mu. O brasileiro era pendurado pelos pulsos onde recebia descargas elétricas. Depois era acoitado até o sangue escorrer. E assim como Aiolos, seu cosmo foi sendo minado até desaparecer.

Muera preso na berlinda, seus braços e pescoços eram presos, levando diversos tapas no rosto. As vezes o carcereiro usava pedaços de madeira e na maioria dos casos, o ariano perdia a consciência devido as pancadas na cabeça. Mesmo ele desacordado, não era solto, permanecendo horas na mesma posição.

As punições de Shion e Dohko não eram diferentes dos demais. Depois de sofrer com os acoites, Dohko era colocado no triturador de cabeças. Sua cabeça era colocada numa barra de ferro com o queixo apoiado. A pressão exercida era enorme o que provocava uma dor alucinante, o propósito do objeto era esmagar o crânio, mas o carcereiro não chegava a esse extremo, ele queria que Dohko sofresse lentamente dia após dia.

Shion era todo acorrentado e preso ao teto. As correntes que o mantinha preso eram puxadas lentamente, a ponto de provocar desmembramento, quando não estava sendo puxado recebia violentas descargas elétricas.

Afrodite era preso numa câmara recebendo doses diárias de veneno por inalação, quando não injetadas diretamente nas veias. Quando isso acontecia, o cavaleiro contorcia-se por dias por causa dos efeitos dos venenos. Depois de um longo tempo sendo exposto, seu sangue acabou se tornando venenoso. Era acoitado todos os dias, até que o liquido vermelho escorresse. O carcereiro colhia o sangue e aplicava em alguns dos cavaleiros, mas o que mais sofria era Kanon.

Kanon, além da tortura física, tinha o sangue do pisciano injetado na veia. Passava dias agonizando. Para não "mata-lo" de uma vez, o torturador aplicava o veneno uma vez por mês. Sua outra punição foi a perda sistemática de seu cosmo...

Os cavaleiros não tinham noção de dia e de noite, muito menos as horas, por isso esperavam a tortura a qualquer momento. Saga estava num canto, abraçado as pernas. Kanon ao seu lado sofria pequenos estralos por causa do veneno do pisciano. Saga vez ou outra o fitava. Queria fazer alguma coisa, mas não sabia o que. Uma nova convulsão fez o dragão marinho se mexer de forma desordenada.

– Kanon... Kanon... – Saga tentava controla-lo, sendo em vão. – Kanon... – começou a chorar. – Kanon...

Somente depois de minutos é que o dragão marinho parou de se mexer. O carcereiro abriu a porta levando o geminiano mais velho. Saga era colocado na donzela de ferro. Os ferros atingiam pontos não fatais, mas não menos dolorosos, pois ele era deixado por horas, provocando pequenas hemorragias, mas não era apenas seu corpo que era torturado, sua mente também era, o que ocasionava em crises psicológicas.

Mask sofria todo tipo de torturas, não apenas pelos crimes contra os deuses, mas também pelas mortes de homens, mulheres e crianças. Somado a isso as vezes que apanhava no lugar de Shaka....

Shaka estava ajoelhado ao lado de Dohko, o libriano tinha apanhado mais que o normal. Com suas mãos impostas sobre o corpo dele liberava seu cosmo. Os demais acompanhavam a cena. Shaka agia rápido para não ser pego, pois se o pegasse Mask receberia o castigo. Ouviram o barulho da prisão ser aberta, rapidamente o virginiano levantou, indo para sua cela, mas o carcereiro tinha percebido.

– Ainda não aprendeu verme? - agitou o chicote. - será punido até perder a consciência.

– Seu idiota, e o nosso acordo? - indagou Mask.

O carcereiro voltou o olhar ferino para o canceriano.

– Do que me chamou...?

– O que ouviu.

– Não provoca Gio. - disse Dite.

– Seu infeliz... vai desejar nunca sequer ter nascido.

– Pode me bater no lugar. - disse Shaka, sabendo que o torturador não perdoaria a afronta.

– Fica na sua virgem. - disse Mask, caminhando até o carcereiro. - trato é trato.

Se está preso naquela prisão, ainda poderia lhe garantir surpresas, essa era realmente uma, pensava Shion. Mask sempre foi egoísta, mas desde que foram para lá, as suas atitudes eram contrarias. Não era só Shaka que era poupado das surras. O italiano sempre pedia para apanhar no lugar dos outros. Era porque queria punição por seus crimes? Era em solidariedade aos companheiros de batalha? Ou algum motivo oculto?

O próprio canceriano amarrou-se pelos pulsos.

– Comece logo.

– Insolente!

Bateu uma e Mask sentiu as pontas de ferro contra as costas. Foram duas, três, quatro... até perder a conta. O italiano aguentava tudo calado.

– Já é o suficiente... - disse Deba temendo pelo amigo.

– Suficiente? - o homem sorriu maldosamente. - é só o começo.

Voltou a bater e o italiano aguentava, contudo a sessão estava prolongando e já sentia tanta dor que as pernas fraquejavam. O sangue escorria pelas costas. A expressão dele era vaga. Mask era conhecido por sua grande resistência física, mas estava no limite.

O carcereiro notou isso. Foi até a roldana que prendia as correntes, afrouxando um pouco. O canceriano foi de joelhos ao chão. Pensaram que tinha terminado contudo o homem voltou a bater e com mais força.

– Pare, por favor. - pediu Mu.

A suplica serviu como incentivo. Nas celas todos acompanhavam a cena com raiva por não poderem fazer nada. Mask já não via com nitidez e praticamente não sentia mais as dores, o corpo estava entorpecido e tudo que sentiu foi as pálpebras fecharem... o corpo foi ao chão.

– Mask!

Ele ficou por dois dias inconsciente e quando se recuperou, os castigos continuaram sem trégua.

Não bastasse as penas individuais, os cavaleiros eram obrigados a lutarem uns contra os outros para satisfazer os carcereiros do castelo. Caso se recusassem o companheiro de cela era duramente castigado. Também não bastava encenar uma luta, pois os demais companheiros eram castigados....

A pequena arena improvisada estava lotada, homens gritavam pedindo sangue. De um lado da arena Aiolos, do outro Shion. Os demais cavaleiros assistiam a luta.

Como era difícil para Aiolos levantar a mão contra o grande mestre. Por mais que as consequências atingissem os amigos era difícil. Shion o fitava com a expressão impassível.

– Lutem! – gritou o que seria o juiz.

Shion partiu para cima de Aiolos, pegando de surpresa. Como não podiam usar cosmo a luta era no corpo a corpo. O ariano dava socos e chutes e na medida do possível Aiolos defendia-se.

– Seu humano imprestável! – gritou o juiz. – se não lutar todos sofrerão, principalmente seu irmão!

Aiolos respirou fundo antes de dar um soco em Shion. Foi com força, pois o ariano recuou dois passos indo de joelhos ao chão.

– Shion...

– Continue Aiolos. – disse baixo, para apenas ele escutar. – faça o que tem que fazer. Para o bem de todos.

Aquilo não era o correto, aquilo não poderia ser o fim para um cavaleiro de Atena. Reprimindo a raiva, o grego partiu para cima de Shion para o deleite da plateia.

Com isso seis meses se passaram...

Atena ordenou que a porta fosse aberta e foi atendida. A iluminação ali era diferente, pois via claramente o chão e as paredes. O calor era insuportável e o corpo estava tomado por suor.

Nas celas os cavaleiros escutaram o som de passos, mas julgaram ser apenas o reinicio das torturas, estavam tão desprovidos de percepção que nem sentiram o cosmo de Atena.

– Vocês tem sorte. - disse o carcereiro com ironia. - vão sair do inferno.

Ele passou as chaves para Atena. Ele não se daria ao trabalho de abrir cada uma das celas.

Atena aproximou, receosa por não sentir cosmo algum. Com as mãos tremulas abriu a primeira cela. Seus olhos marejaram.

Mu estava atirado ao chão inconsciente. Aldebaran estava sentado ao fundo, os olhos fechados como se estivesse dormindo.

– Aldebaran... - murmurou.

O taurino abriu os olhos, fitando a figura de branco e cabelos lavanda. Pensou que se tratava de uma miragem.

– Ricardo... - foi até ele abraçando-o.

– A-tena? - a voz saiu baixa, incrédula.

A deusa o examinou. Estava muito magro, os olhos azuis estavam sem brilho, fundos, não lembrando nem um pouco o grande Aldebaran que era.

– Atena...

– Seu sofrimento acabou. - esboçou um sorriso. - vamos embora.

A deusa olhou para o lado vendo o ariano estirado no chão.

– Mu. Mu.

– Está inconsciente. - disse o taurino.

A deusa fitou o cavaleiro de Áries. Sua face estava muito pálida, o rosto coberto de sangue e terra. Não pode deixar de derramar algumas lágrimas. Que ponto seus cavaleiros tinham chegado?

Levantou indo até o touro, elevando um pouco seu cosmo. Deba sentiu um pouco das suas forças físicas serem renovadas.

– Consegue carrega-lo?

– Sim.

Ela rumou para a próxima cela. Kanon estava sentado encostado numa parede, a face estava pálida e os olhos opacos. Ao seu lado Saga tinha pequenos espasmos, fora os sangramentos. A deusa aproximou do dragão marinho. Tocou-lhe a testa, estava fria. A medida que o cosmo da deusa envolvia, as cores voltavam-lhe para o rosto.

– Atena...?

– Está tudo bem agora Kanon. - voltou a atenção para Saga fazendo o mesmo movimento, ele porem adormeceu. - consegue leva-lo?

– Para onde? Estamos presos aqui.

– Para a casa. O santuário.

Rumou para a terceira cela. Afrodite e Mask estavam acordados, sentados um do lado do outro, mas não menos melhor que os demais.

– Afrodite... - foi para toca-lo.

– Não me toque Atena. - virou o rosto.

A deusa assustou-se com a reação.

– Seu sangue tornou-se venenoso. - disse Mask.

– O que fizeram com vocês...

– Por que está aqui? - indagou o italiano.

– Para leva-los embora. Foram castigados injustamente.

– Não fomos. - disse Dite. - sabíamos quem Saga era. Matamos inocentes.

– Somos pecadores Atena. – completou o italiano.

A resposta dela foi abraça-los, o que os deixou surpresos.

– Lutaram por mim, é isso que importa.

Atena foi para a próxima cela. Aiolos estava ao lado de Aioria tentando ajuda-lo, pois o leonino respirava com dificuldade.

– Aiolos... Aioria...

– Atena? - o sagitariano levou um susto. Era a primeira vez que via Atena pessoalmente. A última vez que a viu ela era apenas um bebê.

Ela aproximou do leonino tocando o peito dele. Aos poucos Aioria sentiu a respiração voltar ao normal.

– O que a senhorita faz aqui?

– Tira-los.

Atena foi para a cela onde estava Shaka e Shura. O virginiano estava no chão dormindo, Shura ao seu lado velava por seu sono.

– Esdras...

– Atena. - tentou ajoelhar, mas seu corpo magro e cheio de ferimentos não permitiu.

– Não se esforce. - segurou-lhe.

– Por que veio até aqui?

– Para salva-los. - olhou para Shaka. O homem mais próximo de deus estava desprovido de sua condição divina. Estava muito magro, os cabelos loiros sujos de lama e com diversos hematomas pelo corpo.

– Shaka...

– Eu posso leva-lo Atena.

Dohko contorcia de dor na cabeça, Shion não menos pior estava deitado ao lado. Atena aproximou dos dois.

– Shion...

O grande mestre a fitou com o olhar vago.

– A-tena...

Ela apenas sorriu e com uma das mãos tocou a testa de Dohko, fazendo-o serenar.

– Pode leva-lo?

– Sim... - não tinha forças para sair dali mas encontraria alguma.

A última cela foi a de Miro e Kamus. Miro estava acordado, os olhos azuis fundos com grandes olheiras abaixo deles. Rosto magro bem abatido. Kamus dormia.

– Miro...

O cavaleiro a fitou, pensando que finalmente tinha conseguido dormir e agora sonhava com sua deusa.

– Atena...

Ela segurou suas mãos, liberando um pouco de cosmo. Em seguida foi até o aquariano.

– Kamus.

Ele abriu os olhos, e a deusa não pode deixar de ficar comovida. O olho esquerdo estava com uma mancha esbranquiçada e o direito estava ficando do mesmo jeito.

– Atena...

– O que fizeram com seus olhos?

– Estou cego do esquerdo...

A deusa suprimiu o choro.

– Pode andar?

– Sim.

Reuniram-se todos na área em frente as celas. Atena fitou seus cavaleiros, faria de tudo para que eles recuperassem por completo suas vidas.

Deixaram a prisão indo para o santuário.

Seiya, Shiryu, Hyoga, Shun, Ikki e Kiki receberam com alegria os santos dourados, mas pelo estado que se encontravam precisam de um tratamento. Foram levados para a fonte medicinal de Atena. A deusa também os envolveu com seu cosmo.

Foi preciso um mês para que eles pudessem se recuperar, mesmo assim não foi por completo, pois muitas sequelas foram repassadas para seus corpos mortais.

Devido as pancadas na cabeça, a telecinese de Mu foi bastante prejudicada. O ferimento da mão direita de Aldebaran não foi curado completamente, não conseguindo fecha-la. Quanto ao seu cosmo a deusa nada pode fazer. Kanon teve seus ferimentos curados, mas seu cosmo continuou reduzido. Saga continuou com os ferimentos provocados pelo uso da Surplice, seus problemas psicológicos tinham sido agravados e mesmo com o cuidado de Atena, não diminuiu. Giovanni teve o corpo cem por cento restabelecido, como também seu cosmo, mas de alguma forma, não conseguia aplicar sua técnica maxima. Aioria também se recuperou por completo, exceto pelo problema pulmonar, o que dificultaria sua rotina de treinos. Shaka teve seu cosmo afetado e com isso não tendo mais condição de eleva-lo ao Arayashiki, somado isso as dores constantes que sentia no corpo. Atena restabeleceu o cosmo e a disposição física do libriano, mas não conseguiu aliviar as dores de cabeça, levando-a ter crises fortes.

Miro não conseguia mais dormir, tendo como única solução o uso de remédios.

Aiolos além da cicatriz no braço, perdeu a capacidade de usar a armadura. O problema do ombro de Shura foi apenas amenizado, o que ocasionou na impossibilidade dele usar seu golpe "excalibur". A cegueira de Kamus foi diminuída. Seu olho esquerdo voltou a enxergar um pouco e a do direito estabilizada, mas era preciso usar óculos. Afrodite não teve a mesma sorte. Os ferimentos da Surplice ainda continuavam no peito, assim como seu sangue venenoso....

A elite de Atena, havia perdido seus momentos de glória. Apenas restavam-lhes seguir com a vida e viverem no mínimo preparados caso uma guerra estourasse. Eram eternamente gratos pela benevolência de Atena e nunca ficaram sabendo do preço que a deusa pagou para tê-los de volta. Somente anos depois que Shion ficou sabendo, prometendo ficar em silêncio.

Restabeleceram o santuário, e a rotina de treinos voltou, mas claro eles não tinham o mesmo vigor de antes. Em seus íntimos torciam para que nenhuma guerra ocorresse, pois não teriam condições de proteger sua deusa e o mundo. Não tinham mais a confiança em seus poderes, a honra tinha perdido espaço para a descrença.

Um ano depois o santuário recebeu uma visita inesperada e meses depois, a história dos Santos de Atena caiu no mundo. A grande maioria dos dourados assistiu suas historias, aumentando ainda mais o sentimento de impotência, pois não eram mais tão fortes e o sentimento de culpa, pelos atos cometidos no passado.

Um ano depois...

A terceira casa estava completamente destruída por dentro. Saga tivera uma grave crise, seu outro “eu” manifestara e só com a intervenção de Atena é que tinha sido controlado. Quando voltou a si e vendo o que tinha feito, Saga sumiu. A crise tinha sido de manhã e já passava das nove da noite sem que Kanon e os demais tivessem o achado. O santuário estava em alerta. Atena na sala do trono não parava de chorar por medo que Saga fizesse alguma besteira. Shion os tinha separado em duplas. Kanon na companhia de Mu, estava desesperado.

– Nós vamos encontra-lo Kanon. – disse Mu tentando anima-lo.

– Eu espero que sim.... mas estou com um mau pressentimento.

A procura varreu a noite toda inicio da manhã.

Aiolos e Kamus procuravam nos limites do santuário, na base da montanha atrás do templo principal.

– Saga vai fazer besteira. – Aiolos estava nervoso.

– Vamos encontra-lo antes. – disse Kamus igualmente preocupado.

– Ele não vai tentar se matar de novo, não é?

– Iríamos perceber. – Kamus fitou o rosto juvenil do sagitariano.

Naquela parte do santuário, o local era coberto por um bosque. Escutaram um ruído, em seguida de leve o cosmo do geminiano. Não perderam tempo indo para onde tinha sentido. Quando chegaram ficaram paralisados, principalmente Aiolos.

O geminiano estava sentado debaixo de uma árvore, com o punho direito cortado. Pelo ferimento constataram que ele tinha acabado de fazer.

– Saga!! – gritou Aiolos.

Kamus elevou seu cosmo comunicando a todos que tinham encontrando-o. Em seguida foi até ele utilizando seu cosmo para estancar o ferimento. A face do grego estava pálida.

Saga foi levado para o hospital, onde ficou por algumas horas. Felizmente não tinha perdido muito sangue. Quando saiu não foi para o santuário e sim para uma clinica psiquiatra, onde foi diagnosticado seus problemas mentais, agravados pela profunda depressão. Durante o ano que ficou mergulhado na depressão, tentou se matar mais duas vezes. Kanon sempre ao seu lado tentava lhe passar segurança, assim como Aiolos, amigo desde a infância.

Mas não era apenas Saga que sofria....

Dohko há dois dias sofria com suas dores e naquela noite parecia pior. Estava deitado na cama, tendo Shunrey ao seu lado ministrando uma medicação.

– Como ele está? – indagou Shiryu parando na porta.

– Dormindo. – a chinesa fitou seu mestre com pesar. – acho que a dor diminuiu.

– O remédio funcionou? – o cavaleiro de dragão aproximou.

– Não muito... pelo menos a convulsão não voltou.

Shiryu fitou o libriano. Horas antes seu mestre foi acometido por uma forte convulsão que só parou com a intervenção do cosmo de Atena....

Desde que foi trago a vida, a visão do olho esquerdo de Kamus tinha voltado, ficando assim por alguns meses, entretanto ele começou a notar, que a visão diminuía a cada dia. Ele usava óculos, mas esses já estavam ficando fracos. Sentando em sua biblioteca, tentava ler um livro.

– Kamus. – Miro chegou na porta.

O francês continuou na leitura.

– Está tudo bem? – indagou.

– Sim. – fitou o escorpião, o rosto dele não estava muito nítido, mas notou profundas marcas roxas debaixo dos olhos. – não está usando o remédio?

– Você disse que não era para usar muito. – deitou no sofá.

– Mas também não é para ficar quatro dias sem dormir. – voltou a atenção para a leitura, ou pelo menos tentou, já que não estava enxergando muita coisa.

Miro notou.

– Eu leio para você. – pegou o livro.

Normalmente Kamus relutava contra isso, mas sua visão estava tão problemática que não se importou.

Miro leu um capitulo inteiro, antes de passar para o próximo, Kamus arrumou a desculpa de pegar um chá para eles, mas na xícara destinada ao Escorpião, dilui um pouco de remédio para dormir. Miro precisava descansar.

O grego tomou, retomando a leitura, dez minutos depois estava dormindo profundamente. Kamus recolheu o livro e saiu...

... Mu estava no jardim das árvores gêmeas. Shaka ao seu lado ajudava-o a controlar sua telecinese que estava desequilibrada. Da última vez, a casa de Áries teve todos os seus objetos destruídos.

– Fixe o pensamento no rosário. – Shaka trazia o nas mãos.

O ariano bem que tentou, mas num rompante o rosário foi arrancado das mãos do indiano sendo jogado longe.

– Eu não consigo Shaka.

– Pois tente até conseguir. – o indiano pegou o rosário.

Mu fechou os olhos concentrando-se. E tentou, tentou, tentou, ate conseguir fazer o rosário sair das mãos do indiano para ir até a sua.

Quando Mu retirou-se, Shaka foi para seu quarto. Desde cedo sentia dores fortíssimas, por causa do uso do cosmo numa tarefa que Atena solicitou. Claro que ele não disse a ela que aquilo traria consequências para seu corpo. Deitou em sua cama, depois de tomar um chá, sentido o corpo relaxar um pouco...

Devido ao seu problema respiratório, Aioria teve sua rotina de treinos reduzida. Para ele, acostumado a exercícios físicos, era uma situação difícil. Quando não era o cansaço que o deixava de fora eram suas crises.

– Respira Aioria. – disse Marin preocupadíssima.

O leonino tentava puxar o ar, mas não estava conseguindo.

Aiolos revirava o quarto do irmão atrás da bombinha. Sabia que o leonino tinha várias, para casos de emergência, mas não estava conseguindo achar nenhuma. E a cada segundo, o irmão ficava sem respirar. Felizmente achou uma correndo até o irmão. Marin acostumada a aquelas crises, acoplou a bombinha. Aioria puxava o ar com força, até que a respiração voltar ao normal.

– Obrigado... – fitou o irmão e a namorada.

Os dois respiraram aliviados....

Atrás da Arena dourada, num local descampado, Shura mirava algumas pedras. Aquele era o lugar que costumava treinar na época de aprendiz. Ele olhou para o ombro, quem o visse não imaginava que aquela parte tinha um grave problema. Foi erguendo o braço aos poucos, a dor ainda era branda, entretanto enquanto erguia, sentia a dor aumentar. Mas ergueu o braço a quarenta e cinco graus, a dor era tanta que estancou o movimento.

– Droga...

– Não deveria se esforçar tanto Shura.

– Preciso fazer alguma coisa. – disse sem se virar para o dono da voz. – sem a Excalibur não sou nada, Afrodite.

O cavaleiro de Peixes aproximou parando ao lado dele.

– Você não pode usar seu golpe e eu posso derrotar um inimigo, só com um misero corte. Não é irônico?

– O tratamento com Atena não está dando resultado?

– Está. Já posso tocar alguém sem ferir. Só não posso estando ferido. Meu sangue continua letal.

– É o preço que temos que pagar pelos nossos erros.

Dite ficou calado, pois Shura tinha razão. Shura, Mask e ele tinham muito o que pagar...

Sentado na porta da segunda casa, Aldebaran olhava para a mão que não conseguia fechar. Se esse fosse o maior dos problemas estava feliz, mas não era. Um cavaleiro sem cosmo não poderia existir. Estava tão mergulhado em seus pensamentos que não viu a aproximação de Mu.

– Está tudo bem Deba? - indagou o ariano ao fitar a expressão do rosto dele.

– Está... - o olhar continuava na mão.

– Se servir de consolo todos nós ficamos com sequelas. - disse sentado ao lado dele.

– Não tenho mais cosmo. - o fitou. - não sabe como me sinto frustrado por causa disso.

Mu não disse nada, pois entendia o sentimento do taurino.

– Quem sabe ele não volta? - disse na tentativa de anima-lo um pouco.

– Já tem anos que voltamos do Tártaro. Nem Atena conseguiu restabelece-lo. Não tenho esperanças quanto a isso.

O ariano ficou em silêncio...

Com essa nova condição, os anos para os cavaleiros de ouro foram passando, alguns problemas se agravaram e restando-lhes apenas a resignação.

Até que num dia, um grupo composto por quinze pessoas atravessou a barreira...


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Notas finais do capítulo

Íxion figura entre os três maiores vilões da mitologia grega, ao lado de Sísifo e Tântalo. Íxion divulgou para os primeiros mortais que encontrou que havia possuído a esposa do próprio Zeus. Este, enfim, irritou-se ao ver a possibilidade de angariar a fama de ter sido traído por um mortal. Imediatamente Íxion foi fulminado por um raio e lançado no Tártaro, onde foi preso a uma roda em chamas e condenado a nela girar pela eternidade.

Tântalo: ousando testar a omnisciência dos deuses, roubou os manjares divinos e serviu-lhes a carne do próprio filho Pélope num festim. Como castigo foi lançado ao Tártaro, onde, num vale abundante em vegetação e água, foi sentenciado a não poder saciar sua fome e sede

Sísifo: Mestre da malícia e da felicidade, ele entrou para a tradição como um dos maiores ofensores dos deuses. Segundo Higino, ele odiava seu irmão Salmoneu; perguntando a Apolo como ele poderia matar seu inimigo, o deus respondeu que ele deveria ter filhos com Tiro, filha de Salmoneu, que o vingariam. Dois filhos nasceram, mas Tiro, descobrindo a profecia, os matou. Sísifo se vingou e, por causa disso, ele recebeu como castigo na terra dos mortos empurrar uma pedra até o lugar mais alto da montanha, de onde ela rola de volta.

Roda: é um meio de execução medieval , onde a vítima era firmemente amarrada pelas mãos e o carrasco utilizava em seguida um enorme martelo para lenta e metodicamente esmagar os ossos dos braços e pernas do condenado. Tinha-se o cuidado especial cuidado de não desferir golpes mortais.

Berlinda: colar de tortura de madeira no qual o condenado é obrigado a introduzir a cabeça e as mãos.

Triturador de cabeças: Com o queixo colocado sobre a barra inferior e a cabeça sob a tampa superior, o torturador lentamente gira o parafuso pressionando a barra contra o cabeça Isso resultou na cabeça lentamente sendo comprimido.

Donzela de ferro: A dama de ferro, também conhecida como "Virgem de Ferro" ou "Donzela de Ferro" devido a alguns exemplares, trazerem uma representação da face da Virgem Maria, é um instrumento de tortura e execução. O instrumento consiste em uma cápsula de ferro com uma fronte esculpida, suficientemente alta para enclausurar um ser humano. Possui dobradiças e abre como um ataúde. Usualmente, existem pequenas aberturas por onde o suposto torturado ou condenado pudesse responder ao interrogador ou sofrer ferimentos através de facas ou pregos. No interior da cápsula havia cravos de ferro que perfuravam o corpo do aprisionado mas não atingiam órgãos vitais. Este perderia sangue ou mesmo agonizaria por asfixia.



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