The last picture escrita por Nyo


Capítulo 9
From the rain to the stars


Notas iniciais do capítulo

Um mês de atraso, isso é sempre inaceitável, vocês já devem ter praticamente se acostumado.
Tenho esperança de algum dia conseguir compensar isso, mas espero que por enquanto, isso baste.
Aqui vai o capítulo o/
P.S.: E gente, eu quero me desculpar de verdade, parece ter bastante gente lendo e eu demorando desse jeito, vou realmente tentar melhorar, espero que continue tendo o apoio dos meus amados leitores



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– Eu tenho que ir pra casa – Kasamatsu avisou aos dois que lhe faziam companhia à mesa.

Kuroko manteve-se impassível, enquanto Kise contorceu o rosto de forma manhosa.

– Não, Kasamatsu, você ainda não pode ir embora. Fique mais um pouco!

– Kise, nós já abusamos demais da hospitalidade do Kuroko, e o dia já está no fim, se eu não for agora, chegarei em casa à noite – o fotógrafo falou da forma mais controlada que conseguiu.

O modelo resmungou ainda mais, fazendo mais uma porcentagem da paciência de Kasamatsu esvair-se.

Ver Kise daquela forma o deixava muito irritado. Tudo bem, sabia que ele ainda era um adolescente, mas seus atos não condiziam com a idade, muito menos com a profissão. Aquele jeito infantil e descuidado, a personalidade birrenta e mimada, a aparente inocência e desleixo, deixavam Yukio com os nervos à flor.

– Mas nós não estamos incomodando, não é Kuroko? – O loiro voltou-se para o anfitrião.

Kasamatsu tinha certeza que o modelo agarraria Kuroko e o sacudiria em busca da resposta, e pensando o mesmo, Kuroko afastou-se de Kise.

O pequeno rapaz olhou para seus dois convidados, detendo-se em Kise. Sua expressão não dava ao fotógrafo nenhum tipo de pista sobre seus pensamentos, o que o deixava, de certa forma, irritadiço. Havia estudado para saber ler as expressões das pessoas, havia trabalhado com aquilo que seu antigo professor chamava de “Essência Humana”, o que permitia à ele fazer com que as fotos e modelos passassem as emoções certas às pessoas, no entanto, Kuroko lhe era um mistério.

– Na verdade, Kise, você é um pouco escandaloso demais, então sua presença me incomoda um pouco, mas Sr. Kasamatsu pode ficar o quanto quiser, sua companhia é bem-vinda.

– Você é muito cruel, Kuroko. Eu não sou assim – o modelo contra argumentou.

Sem paciência para ouvir mais reclamações do mais alto, Yukio interrompeu-o, levantando-se.

– É muito gentil da sua parte, Kuroko, mas eu realmente tenho que ir para casa. Não moro muito perto daqui, e não gosto de ir tarde para casa.

– Não é problema – o anfitrião levantou-se também. – Deixe-me acompanha-lo até a porta.

O fotógrafo agradeceu com uma mesura, e então seguiu Kuroko até a porta da frente, deixando Kise sozinho na cozinha, que não tardou muito a ir atrás deles.

– Por favor, não vá ainda Kasamatsu – o loiro pediu.

Yukio imaginou que só faltava Kise atirar-se em frente a porta para impedi-lo de sair. Os apelos do modelo tornavam-se cada vez mais fortes enquanto Kuroko pegava as chaves para abrir a porta.

Depois de uma discussão assídua entre o modelo e fotografo, que alertou a Kise mais uma vez que este já estava abusando da hospitalidade de Kuroko, o anfitrião voltou com as chaves.

No entanto, como se estivesse a zombar da cara de Kasamatsu, no momento em que Kuroko abriu a porta, uma chuva torrencial começou a cair.

– Ótimo, como vou conseguir ir para casa agora? – Irritou-se Yukio. – A culpa disso é sua Kise, maldito.

– O que eu fiz? – O modelo perguntou.

Kasamatsu virou-se para o loiro, com tamanha ira que fez Kise dar um paço para trás.

Tinha certeza que acabaria tomando outro banho de chuva se saísse, mas não queria atrapalha mais Kuroko, haviam desperdiçado quase toda a tarde do rapaz. Culpava Kise por seu infortúnio, pois fora ele quem o fez pegar seu primeiro banho de chuva, e também fora o culpado de sua demora a ir para casa.

– Absolutamente tudo. Se não fosse por sua culpa, eu estaria em casa nesse momento.

– Então, deixe-me compensa-lo – Kise pegou-o desprevenido com aquela resposta, não imaginava que o modelo poderia tira-lo daquela situação.

– De que forma? – Perguntou, abrandando sua ira.

O loiro pegou o celular, desbloqueou-o e começou a procurar algo.

– Me deixe leva-lo para casa,

Kise fez menção a dirigir-se para sala, porém Kasamatsu nem se mexeu, fazendo-o retornar.

– Como? – Perguntou. – Você não tem um carro, pelo que sei. E não venha me oferecer um motorista particular, não vou aceitar.

– Como sabe que não dirijo? – Kise perguntou curioso. – Enfim, isso não é importante. Nós vamos pegar carona.

– Carona? Com quem?

Kise olhou algo mais em seu celular e voltou-se para Kasamatsu.

– Posso ligar para o Aomine ou para o Himuro, mas o Aomine é melhor, ele me deve alguns favores.

Kasamatsu sabia quem eram ambas as opções, apesar de não ter conhecido Aomine pessoalmente. Não o agradava conhecer o “cumplice” de Kise, em sua trama para que os dois se encontrasse, mas não sabia se queria encontrar novamente com Himuro, o rapaz era uma companhia agradável, mas lembrar-se da conversa que teve com ele na casa de Takao não o fazia muito bem.

Kise estava prestes a discar o número quando o fotógrafo tomou sua decisão.

– Ligue para o Himuro, então, pelo menos eu já o conheço.

O modelo abriu a boca para falar algo, mas foi impedido por Yukio com um gesto.

– Certo, estou ligando – Ryouta discou o número e retirou-se para a sala.

Ouviu-o conversando com Himuro, e mais de uma vez seu nome foi mencionado. Percebeu mudanças no tom de voz de Kise, assim como uma animação estática ao terminar a conversa.

Perguntava-se o que havia sido dito, apesar de ter entendido algumas partes da conversa. Assim que foi seguido pelo fotógrafo para a sala, Kise foi para a cozinha, deixando-o sozinho – Kuroko havia se retirado em certo momento.

– Certo, o Himuro já está passando aqui, ele disse que estava coincidentemente por perto, então não se importa de nos dar uma carona.

O modelo sentou-se no sofá, porém Yukio manteve-se em pé.

– Preciso agradecê-lo depois – falou casualmente.

Kise fez bico perante sua fala e o agarrou pela cintura.

– E quanto a mim? Fui eu que o chamei.

Tentando disfarçar seu rubor, Kasamatsu virou-se de costas para o loiro, quase derrubando-o no chão.

Nunca se acostumaria com a forma que Kise agia, nem com a personalidade infantil, nem com o súbito contato casual que o loiro fazia questão de ter. Não que odiasse aquilo, só sentia-se desconfortável, não estava acostumado a ter pessoas abraçando-o, ou chamando por ele incessantemente. Kise era um completo estranho em seu mundo.

– Você só deu mais trabalho para ele, por que eu te agradeceria? – Questionou tentando manter sua voz firme.

– Porque eu não deixei que você se molhasse.

– Ah, claro – respondeu de forma irônica. – Salvou a minha vida.

Ryouta continuava a abraça-lo e não parecia querer soltar-se, então Kasamatsu deixou se corpo cair no sofá, assustando o modelo.

– Salvei, ué. Você já anda pouco agasalhado, se saísse assim na chuva pegaria uma pneumonia grave.

O moreno estava prestes a responder, quando foram interrompidos pela súbita aparição de Kuroko, que carregava Tetsuya Dois adormecido em seu colo. O filhote parecia tão confortável nos braços do dono que Kasamatsu perguntou-se se Kuroko estava habituado a ter o pequeno cão dormindo em seu colo.

– O que aconteceu? Como vocês irão para casa?

– O Himuro vem nos buscar – Kise respondeu prontamente.

O anfitrião olhou-o desconfiado.

– Himuro?

– Sim, eu liguei pra ele e pedi uma carona.

A expressão de Kuroko voltou à neutralidade enquanto sentava-se a acariciava o pelo do animalzinho adormecido.

– Ele aceitou assim tão facilmente?

– Sim – Kise respondeu parecendo animado. Mais animado do que deveria, na opinião de Yukio.

Ele deve estar planejando algo. Onde ele vai se meter agora? Ou melhor, nos meter, porque eu estou aparentemente envolvido nisso, novamente.

Teve que controlar-se para não suspirar e chamar a atenção. Não conseguia prever as ações de Kise, o que o deixava profundamente frustrado.

Menos de meia hora depois, ouviu-se uma buzina do lado de fora e Kise constatou ser a carona deles.

Despediram-se de Kuroko, e recusaram a ajuda para atravessar o pátio até o carro.

– Nós vamos chegar ensopados lá, idiota – repreendeu Yukio.

– Não vamos – Kise aproximou-se dele, colocou seus braços sobre ambos e os cobriu com seu casado.

Kasamatsu sentiu o calor tomar suas bochechas, Kise estava absurdamente próximo. Seus corpos estavam colados e seus rostos a poucos milímetros um do outro, seria fácil para o fotógrafo virar o rosto para o lado e beijar Kise, o que lhe era uma perspectiva constrangedora.

Tamanha proximidade o deixou nervoso, sentia cada músculo do corpo de Kise, e estava mais consciente de tudo que estava acontecendo. Seus sentidos e corpo estavam alertas, mas sua mente estava em branco, a única coisa na qual conseguia pensar era na presença alta e protetora do modelo.

– Vamos lá, assim você não se molha tanto, pelo menos – Kise falou guiando-o para o carro de Himuru.

Caminhou mecanicamente até ouvir uma porta sendo aberta. Entrou o mais rápido que pôde sendo seguido pelo modelo, que estava um pouco mais molhado que ele. Como Kise havia usado seu casaco para mantê-lo seco, havia pego maior parte da chuva, o que preocupou Yukio, se o modelo ficasse resfriado poderiam ter problemas.

Relaxou assim que ouvi a porta do carro ser fechada, e tirou um momento para observar o modelo encharcado ao seu lado.

Kise tinhas os cabelos completamente colados ao rosto, a franja cobrindo-lhe os olhos. Sua roupa estava, estranhamente, em estado melhor que seu cabelo, sua blusa tendo sofrido mais que sua calça social, que estava somente com algumas manchas das gotas de chuva. Achou que Ryouta havia ficado bonito daquela forma, em um ambiente correto, conseguiria belas fotos. Talvez se aquela blusa fosse de outra cor, não achava cinza uma cor adequada para o modelo.

– Hey, Himuro – o loiro falou parecendo cansado.

– Oi pra vocês dois – Himuro virou-se no banco do motorista para cumprimenta-los.

Assim que o jovem se virou, o fotógrafo tratou de analisa-lo. Parecia ser o mesmo que conhecera na casa de Takao, mas sua aparência estava mais arrumada. A primeira constatação de Yukio era que Himuro iria sair naquela noite, e que eles estavam atrapalhando.

– É bom revê-lo, Himuro – Kasamatsu falou, recebendo em resposta um sorriso.

– Também é bom te ver de novo, e junto com esse aí – uma risadinha escapou do dono do carro enquanto apontava para Kise com a cabeça.

Porém antes que Yukio pudesse reclamar, Himuro voltou-se para o volante.

– Vamos para onde você me indicou, Kise? – Perguntou.

– Sim, muito obrigado, Himuro.

Sem muitos questionamentos, tendo em mente que seria levado para casa, o fotógrafo aproveitou para observar o veículo. Não sabia nada sobre carros, nunca teve interesse no assunto, mas o carro de Himuro lhe parecia ser razoável. Por dentro, os bancos eram de couro, sendo o frontal único, o painel tinha um ar condicionado e um rádio, que estava ligado em uma estação aleatória. Gostou especificamente do teto solar que o carro tinha, não era muito grande, mas mesmo assim era uma abertura para o céu. Gostaria que quando pudesse comprar um carro – apesar de não gostar de dirigir, sentia-se obrigado a aprender, não queria depender de outras pessoas, ou transporte público – pudesse te um carro com teto solar.

Não percebeu o caminho passando, perdido em seus pensamentos. O dia se passava repetidamente em sua mente, não havia planejado nada daquilo, mas foi interessante. Mesmo os momentos constrangedores que teve com Kise valeram-se de algo... Certo, nem tanto assim, preferiria ter evitado aqueles momentos. Lembrar-se do loiro abraçando-o o fez corar, a simples memória de ter Ryouta próximo a si já era o suficiente para deixar suas reações alteradas.

Voltou seu olhar para aquele que ocupava seus pensamentos. Kise procurava algo em sua bolça, e pareceu satisfeito ao tirar de lá uma nova camisa. Sem o menor pudor e, aparentemente, sem saber estar sendo observado, Kise tirou a camisa molhada.

– Mas o que diabos você está fazendo, idiota? – Yukio perguntou alarmado ao vê-lo tirando a peça de roupa.

– Estou trocando de roupa, ué. Aquela camisa estava molhada, eu não posso ficar com ela daquele jeito – o modelo respondeu como se fosse a coisa mais simples do mundo.

Himuro, se estava prestando atenção, não se manifestou. Parecia não ligar para o fato de ter Kise com o tronco desnudo no banco de trás de seu carro.

– Não faça isso tão deliberadamente! – Kasamatsu o repreendeu, sentindo suas bochechas esquentarem.

Não pode evitar sentir suas bochechas aquecerem. Quando Kise terminou de retirar a camisa, os olhos do fotógrafo imediatamente focaram-se em seu peito, analisando a estrutura forte, porém levemente esguia. Os braços fortes também chamaram sua atenção, eram definidos e lembravam-lhe os braços de um atleta. O corpo de Kise era o corpo de um atleta, apesar da aparência fina e vaidosa, o corpo escondido por baixo de roupas parecia ser forte, resistente e muito bem treinado. Kasamatsu conhecia o corpo de um atleta, poderia diferencia-lo do corpo de um “rato de biblioteca”, ou mesmo de um modelo comum. Ver a forma de Ryouta o fez lembrar de si mesmo em sua época de colégio.

– Mas nós estamos no carro! E está anoitecendo, ninguém vai perceber – o modelo se defendeu.

– Não é esse o problema, seu maldito.

"Esse cara não pensa? Não é possível ele ter tão pouca noção. Certo, temos apenas homens aqui, mas isso não quer dizer que ele possa tirar as roupas dessa forma."

Enquanto Kise vestia suas roupas novamente, Yukio desviou seu olhar para a janela. Havia ficado surpreso ao ver o corpo do modelo, a imagem estava perfeitamente fixada em sua mente, seus olhos treinados e ágeis haviam captado muitas coisas, desde informações gerais até alguns detalhes, que poderiam ficar mais numerosos se ele tivesse mais tempo para prestar atenção. Fechou os olhos tentando concentrar-se, viu o tronco claro mais uma vez a sua frente. O calor tomou seu corpo, apesar da baixa temperatura. Em poucas palavras, havia achado o corpo de Kise lindo, era o corpo perfeito para fotografar. Imaginou como seria ter sua câmera em mãos, as fotos que poderia bater. Queria conhecer mais do corpo de Kise, queria se ater aos detalhes que a maioria das pessoas nem ao menos perceberia a existência, daria seu corpo e alma para poder trabalhar com o modelo daquela forma.

Perdido em seus devaneios, não percebeu a passagem do tempo, nem prestou atenção para onde estavam indo, só foi acordado quando ouviu a voz de Kise, e percebeu a infinidade de luzes brilhando ao seu redor.

– Chegamos – anunciou o modelo.

Assim que seus olhos acostumaram-se com a súbita aparição da luz, a área comercial da cidade abriu-se a sua frente. Primeiramente estranhou estarem naquele lugar, a casa de Kasamatsu ficava longe daquela zona, e não era necessário passar por ali para chegar.

Enquanto tentava entender o motivo de estarem ali, sentiu Himuro estacionar o carro em frente a uma enorme loja de eletrônicos. O rapaz moreno saiu do carro, sendo seguido por Kise. Yukio ficou no carro, ainda atônito. Aproximou-se da janela, baixou o vidro do carro e prestou atenção na conversa dos dois estudantes.

– Como pedido, Kise. O carro é de vocês – Himuro atirou as chaves para Ryouta.

– Muito obrigado, Himuro. Fico te devendo uma – o sorriso do loiro era radiante.

Assim que entendeu mais ou menos o que se passava, Kasamatsu saltou do carro. Himuro já se afastava em direção à multidão.

– Espere, o que vocês estão fazendo?

– Eu vou emprestar o carro pra você e pro Kise – o moreno virou-se para eles.

– Mas e você? – O fotógrafo se apressou em perguntar. Em sua mente, Kise seria o encarregado de leva-lo até sua casa a partir daquele momento.

– O Atsushi está me esperando em uma loja de doces aqui perto – um sorriso apareceu na face de Himuro. – Por isso concordei em traze-los, já estava vindo para cá mesmo.

– Tem certeza disso? – Kasamatsu insistiu.

Não poderia impedir Himuro de fazer aquilo, se era o que deseja, mas seria mais um incomodo para o rapaz.

– Claro que tenho. Sei o que estou fazendo – o sorriso que surgiu nos lábios do moreno fez um arrepio passar pelo corpo de Yukio. – E Kise, - começou enquanto virava as costas para os outros dois fazendo um sinal de despedida – não quero nenhum arranhão no meu carro, entendeu?

Kise riu, levantando uma mão animadamente e acenando.

– Pode deixar, ele vai estar impecável – gritou.

Assim que Himuro sumiu de vista, o loiro virou-se para Kasamatsu. Seu sorriso era tão alegre que parecia brilhar mais que as luzes das lojas

– Vamos? – Perguntou tão animado quanto uma criança.

– Claro – sem esperar mais respostas, Kise dirigiu-se para o banco do motorista e Yukio entrou no lado do carona.

Assim que o loiro colocou a chave na ignição, um ponto importante passou pela mente do fotógrafo.

– Você não tem carteira de motorista – falou, olhando desconfiado para aquele ao seu lado.

O modelo virou-se para ele, seu sorriso e felicidade pareciam inquebráveis, pois nem mesmo perante o olhar desconfiado de Kasamatsu, ele se abalou.

– Isso é somente um detalhe, eu sei dirigir. Ninguém vai nos pegar – a resposta veio acompanhada pelo barulho do motor começando a funcionar. - Nada do que você disser vai me fazer mudar de ideia, pode até mesmo me bater se quiser, mas não vai funcionar.

– Você vai ser preso se alguém te pegar. E Pior,eu vou ser culpado por ser o maior de idade aqui– resmungou, mas Kise não prestou atenção.

O modelo se mostrou habilidoso com o volante, o que surpreendeu Yukio. Saiu da vaga onde estavam estacionados com facilidade, e se mostrou atento e paciente no trânsito.

Kasmatsu observava o centro ao redor, perguntando-se para onde estavam indo – não reconhecia o caminho – e onde Kise havia aprendido a dirigir daquela forma.

– Não estamos indo para o meu apartamento, estamos? – Àquela altura, o fotógrafo já estava resignado com o fato de Kise estar fazendo o que bem entendia.

– Não – o divertimento com o qual o modelo falou o fez suspirar. – Mas acho que você vai gostar de para onde estou te levando, não falta muito para chegarmos.

Então, o carro começou a se afastar do centro da cidade. Estavam indo para uma zona mais tranquila, onde haviam poucas casas e nenhum comércio, talvez alguns mercados próximos, mas nada maior que isso. Kasmatsu tinha a sensaçãp de já conhecer aquela região, no dia em que fora bater suas fotos ao ar livre, passou por ali, mas à noite era bem diferente. A iluminação era baixa, e a falta de carros e pessoas o deixou desconfortável.

Enquanto observava a mudança na paisagem, percebeu uma coisa. Havia parado de chover. Abriu a janela do carro, sentindo um ar completamente renovado bater em seu rosto. O clima parecia mais ameno, continuava frio, porém nem tanto quanto esteve naquela manhã. Tirou um momento para observar as estrelas também, estavam muito bonitas naquela noite. A chuva havia limpado o céu, se houvesse um pouco menos de claridade, poderia ver perfeitamente o céu estrelado.

Perdido observando o céu, não percebeu Kise parando em um lugar. Só se deu conta de que haviam parado quando o modelo chamou sua atenção.

– Hey, Kasamatsu, aqui – ele lhe esticou um ticket.

Yukio, confuso, pegou o ticket, observando atentamente o papelzinho.

– Mas o que é isso? Onde nós estamos? – perguntou, tentando situar-se.

Não conhecia o lugar, nem mesmo havia visto nada parecido antes.

Kise manobrou o carro para dentro do lugar. Havia um corredor comprido, com alguns cartazes, um balcão com pipocas, doces e bebidas e uma pessoa recebendo os tickets.

Percebeu que estavam em um cinema, mas nunca havia visto um que se pudesse entrar com carro. Kise comprou uma pipoca e um refrigerante, seguindo para a porta do que ele imaginava ser uma sala de cinema.

Assim que entraram, porém, percebeu que estava redondamente enganado. Havia uma enorme tela ao ar livre, poucos carros espalhados no campo e uma cerca que denominava os limites da área. O modelo parou o carro em frente à tela, bem posicionado.

– Sorte que o carro do Himuro é com banco único, isso seria um saco se não fosse – o loiro se aproximou, colocando o refrigerante e a embalagem de pipoca entre eles.

– Kise... Isso é sério? – Kasamatsu perguntou ainda um pouco atordoado.

– Por que não? Se você quiser sair do carro e ver o filme lá de fora, tudo bem também.

– Não é isso. As pessoas só veem esses cinemas ao ar livre em filmes.

– Não é? – Kise riu. – Por isso que quando descobri esse aqui fiquei empolgado para vir! Não é todo dia se encontra um cinema ao ar livre.

Perplexo, o fotógrafo o encarou. Dentre tantas pessoas, por que ele? Kise tinha muitos amigos, e provavelmente uma namorada, por que não convida-los? Não imaginou que todos eles gostariam de ver um cinema ao ar livre, mas não é como se ele fosse obrigado a gostar também. E mesmo assim estava ali com o loiro.

– Eu imaginei que você gostaria, e também... Eu queria vir com você – o modelo sorria, sem olhar para ele. – Como tínhamos combinado de ir ao cinema hoje e eu acabei te dando bolo, imaginei “Por que não?”. É uma compensação por hoje.

Yukio pensou em reclamar mais, mas no momento em que abriu a boca para falar, a tela se iluminou, começando um filme que parecia ser antigo, seguindo o modelo do próprio lugar. Voltou-se para o longa-metragem, aproximando-se do modelo e pegando um punhado de pipoca. Resolveu aproveitar, de que adiantaria reclamar se já estavam lá? Kise já havia comprado as entradas e o filme já até mesmo havia começado.

Ouviu uma risada do loiro, que apoiou um braço no encosto do banco, - como se estivesse passando sobre seus ombros - focado no filme.

Não só assistindo o filme, que não era dos mais interessantes, o fotógrafo prestou mais atenção no lugar todo. Se não fosse pela tela, estariam completamente no escuro, o que lhe daria uma visão privilegiada das estrelas, mas naquele momento, ver o céu limpo e observar os vários carros ao redor, com pessoas fazendo o mesmo que eles, era incrível. Queria guardar aquela imagem, seria uma lembrança perfeita, e uma foto magnifica.

O modelo ao seu lado estava concentrado nas cenas, em preto e branco e sem som, que corriam pela tela. Kise havia colocado uma camisa branca no lugar da antiga, que era cinza. Achava-o lindo de branco, a cor caía perfeitamente com o tom de pele e os cabelos loiros, além de fazê-lo parecer ainda mais radiante.

Enquanto sua mente corria a mil, dividindo-se entre reparar em todos os detalhes do ambiente e prestar atenção no filme e em Kise, Kasamatsu sentiu uma mão em seu ombro, que pertencia ao modelo. O loiro puxou-o para mais perto de si, agora que já estavam sem as pipocas e o refrigerante.

– Está frio – falou o modelo sem tirar os olhos da tela. – Você vai pegar um resfriado.

Yukio corou, pensando que tinha sorte por Kise não estar prestando atenção nele.

– Eu estou bem – respondeu. Porém, contraditório a suas palavras, não se afastou. Apreciava o calor do loiro, e uma pontada de cansaço do dia que teve se abateu sobre ele, fazendo com que se sentisse ainda mais confortável.

Ter sua vida dividida em trabalho e encontrar Kise não era chato, longe disso, amava seu trabalho e gostava de encontrar o modelo, apesar de não admitir. Entretanto, não podia deixar suas preocupações sumirem, e a principal delas era justamente aquele que tirava a monotonia de seus dias. Ainda não era permitido de se encontrar com Kise, e quando seu chefe lhe questionou sobre aquilo, a pedido do empresário do loiro, Kasamatsu havia negado piamente que havia visto Kise depois da partida do modelo.

Havia pesquisado sobre o empresário de Kise e os resultados não eram os melhores, o homem era bem renomado, não um simples empresário como imaginava, seus registros acompanhavam grandes nomes do mundo das artes, além de figuras governamentais. O mais estranho, era que em todos os casos, o homem havia sido afastado do emprego. Pensando em todas aquelas coisas, se Aijima resolvesse realmente vigiar o loiro, ou pior, se resolvesse vigiar ele, estariam pondo tudo a perder. Ambos poderiam perder seus empregos, e se fosse vontade de Aijima, Kasamatsu provavelmente nunca trabalharia como fotógrafo novamente.

“Vale mesmo a pena arriscar tudo para ficar ao lado desse idiota?” Perguntou-se voltando seu olhar para Kise.

Seria difícil encontrar a resposta para aquela pergunta, mas em momentos como aquele, uma pequena pontinha de sua mente lhe dizia firmemente que sim. Cansado, deitou sua cabeça no ombro de Kise, – sem questionar-se o que aquilo poderia parecer, ou o quão mal poderia ser interpretado – suspirou, e voltou sua atenção para o filme, tentando esquecer seus pensamentos desagradáveis.

Sua falta de interesse no filme, o conforto que Kise lhe transmitia e o cansaço do dia incomum fizeram seu corpo pesar e sua mente ficar nublada, antes que pudesse lutar contra a sensação entorpecida que o atingia, mergulhou na inconsciência de um sono pesado.

***

– Kasamatsu? Kasamatsu? – Uma voz suave puxou-lhe da aconchegante escuridão de sua mente.

Yukio abriu seus olhos vagarosamente, sendo incomodado pela quantidade de luz presente no ambiente. Ainda contagiado pelo sono, bocejou longamente e obrigou-se a abrir completamente os olhos. Para sua surpresa, a sua frente estava Kise, sorrindo.

Logo as memórias do dia invadiram sua mente, ficou estático por lembrar-se que não estava em casa, mas sim com Kise, no carro de Himuro, assistindo um filme no estilo dos cinemas antigos de filmes americanos. Suas bochechas tingiram-se de vermelho quando se deu conta de que havia adormecido no meio do filme, e sua vergonha só aumentou ao sentir-se coberto por algo, um casaco, que provavelmente pertencia ao modelo.

– Ainda bem que você acordou, o filme já terminou.

Sentou-se ereto imediatamente, surpreendendo um pouco seu acompanhante. Limpou os olhos e retirou o casaco de cima de si, sentindo o frio da noite entrar pelas janelas abertas do carro.

– Certo – respondeu ainda tentando recuperar-se de seu estado semiadormecido. – Hã, desculpe ter dormido durante o filme.

Sentia-se realmente envergonhado, de seu ponto de vista, a situação era embaraçosa. Kise o havia levado para ver um filme - apesar d’ele não ter concordado diretamente com os planos do loiro - com toda sua boa vontade e ele havia caído no sono no meio do longa-metragem, e ainda por cima, para piorar sua situação, havia adormecido encostado no ombro do modelo.

– Tudo bem – o sorriso do maior tornou-se ainda mais largo. – Você me pareceu bem cansado hoje – como Kasamatsu manteve-se em silêncio, Kise continuou. – Posso te levar pra casa?

– Dessa vez é sério? – O fotógrafo perguntou.

– Sim – Kise riu. – Dessa vez vou te levar mesmo pra casa.

Saíram da “sala de cinema” e pegaram o mesmo caminho pelo qual haviam chegado lá. O loiro explicou-lhe que precisariam voltar ao centro para pegarem o caminho para o apartamento do mais velho.

Kasamatsu aproveitou o silêncio para perguntar, apesar de realmente não ter interesse, como havia sido o desenrolar do filme, o que acabou em Kise falando incessantemente ao seu lado sobre o que havia achado da história, como pensava que poderia ter se desenrolado melhor e o que retirado como lição.

A conversa, ou o monólogo de Kise, só terminou quando pararam em frente ao apartamento do fotógrafo.

– Viu, em casa como o prometido.

– É. Depois de você me arrastar para uma cessão de cinema – retrucou Yukio.

– Não seja mal, Kasamatsu! Tenho certeza que apesar de ter dormido na metade do filme, você gostou de ter ido comigo.

Suas bochechas se tornaram rosadas mais uma vez ao ouvir aquela acusação. Não era mentira, havia gostado de ir ao cinema ao ar livre e sentia pena de não ter aproveitado melhor o encontro. Mas não admitiria aquilo para Kise.

– Até outra hora – resmungou e abriu a porta do carro sem responder o modelo apropriadamente.

– Ei, Kasamatsu, espere – o loiro o chamou.

Virou-se de costas somente para sentir a mão de Kise em seu cabelo, acariciando os fios delicadamente e um enorme sorriso na face do rapaz.

– Boa noite. E vê se não pega um resfriado.

– Boa noite – respondeu atrapalhado, correndo para fora do carro e batendo a porta o mais rápido possível, querendo evitar o modelo.

Não esperou nenhuma reação de Kise. Imaginando o riso travesso do modelo, correu para dentro do prédio, morrendo de vergonha. Quando encontrasse Kise novamente, com certeza iria mata-lo por aquilo.


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Notas finais do capítulo

Meu... Kasamatsu... é... muito... viado... Que medo que esse menino esteja muito ooc, sério, meu Deus do céu. E o Kise também, caraca.
Bem, minha gente, espero que tenham gostado desse capítulo. Teve bastante foco no casal e bastante cu doce, he.
O nome desse capítulo me cativou, me senti super dramática e criativa



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