The last picture escrita por Nyo


Capítulo 10
New days, old surprises


Notas iniciais do capítulo

A pergunta é: Como mostrar minha cara depois de tanto tempo? Simples, não mostro.
Mentira, tenho que falar algumas coisas antes do início do capítulo: Eu sou uma idiota desleixada, mas não pretendo abandonar esse bebê.
Agora, o que tem de importante sobre a fica: Um dos personagens que eu mais esperei para colocar nessa fic vai aparecer! Prêmios para quem adivinhar quem é ele. Um dos meus personagens preferidos de Kuroko.
O resto é para as notas finais.



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O interfone tocou, exatamente como no dia anterior, ou mesmo no dia anterior ao anterior. Já sabendo quem era, Kasamatsu levantou-se da cama, sentindo sua cabeça doer, atravessou o corredor e a sala, sem prestar atenção em seu caminho, afinal, se olhasse muito ao redor, com certeza sua visão acabaria borrada.

Custosamente, chegou até o receptor do interfone e atendeu. A voz vinda do outro lado da linha o estava atormentando há muito tempo.

— Kasamatsu?! – Kise fez-se ouvir. – Sou eu. Como você está hoje?

Com mais amargura que o normal, Yukio respondeu:

— Não melhor que ontem, maldito. Pare de vir até o meu apartamento todo dia, cada vez que venho atender o interfone minha cabeça parece uma bomba nuclear prestes a explodir.

— Você está só exagerando – o modelo respondeu. – Não tem como sentir tanta dor assim. É só um resfriado.

Kasamatsu suspirou. Não era “só um resfriado”, após o dia em que ficou na casa de Kuroko e passou a noite com Kise, havia ficado fortemente doente, podendo sair de casa somente para ir ao médico. Dor de cabeça terrível, vômito, enjoo, dor de garganta, fraqueza, dificuldade para respirar – seu nariz estava congestionado -, foram alguns dos sintomas que acompanharam sua rotina diária pelos últimos dias.

— Kise, se fosse só um resfriado eu estaria trabalhando agora. E não mofando em uma cama.

— Eu vou poder subir hoje? – O modelo o ignorou completamente.

— Não. Se subir vai acabar doente, e eu não vou permitir isso.

O modelo não só insistia todos os dias em vê-lo, como também pedia para ir até o seu apartamento, o que para Kasamatsu era impensável permitir, já que seu pequeno apartamento era seu lugar sagrado, e não podia permitir que o loiro ficasse exposto aos germes.

— Meu sistema imunológico é ótimo – Ryouta protestou. – Eu vou ficar bem, me deixe subir.

— Já disse que não. E também não vou deixar amanhã. Agora vá trabalhar, você não pode ficar por aí com Aijima atrás de você.

Desde o “fatídico dia” o empresário do modelo ficara mais carrasco. Kise não parecia notar tanto, mas Kasamatsu, que somente recebia notícias, tinha uma grande noção disso.

— Eu não quero ir, quero ficar com você!

— Vá logo. Você não vai subir de jeito nenhum. Já disse que quando eu melhorar nós vamos conversar – dizendo isso, Kasamatsu desligou o interfone, voltando para seu quarto.

*

Como se não bastasse a maldita dor de cabeça constante, veio a febre. Havia se acostumado com os sintomas normais – o máximo possível – e ter uma novidade não estava em seu planejamento, principalmente uma novidade tão ruim.

Vendo o ambiente ao seu redor girar, levantou-se da cama e se dirigiu a cozinha procurando seus remédios. “Abençoado seja o dia em que eu comprei remédio para febre” pensou.

Após encontrar o tão sonhado comprimido, encheu um copo com água da torneira e tomou o remédio, dali para frente seria só esperar que fizesse efeito.

Suspirando, tomou a direção de seu quarto, mas sentiu uma dor terrível em sua têmpora, como se uma bala estivesse perfurando seu crânio, ao ouvir a campainha tocar pela segunda vez ao dia.

“Não pode ser. Aquele modelo desgraçado não pode estar vindo aqui novamente. Não tem como ter chegado até meu apartamento, já avisei ao porteiro que não é para deixa-lo subir.” Aquilo o fazia lembrar da primeira vez que Kise tocou o interfone de seu apartamento. Ou melhor, de como o modelo havia descoberto o número de seu apartamento, algo que até aquele dia não fazia ideia de como havia acontecido. Achava aquilo uma grande fatalidade, já que desde o suposto acontecimento Kise havia aparecido todos os dias.

Caminhou sem a menor pressa até a porta de entrada, perguntando-se quem poderia ser. Não tinha amigos que moravam próximo, ou mesmo que soubessem de sua recente doença, sua família dificilmente viria visita-lo, Kazuki teria ligado se precisasse ir até a casa dele, então a opção mais provável era Kise. Mas se fosse o modelo, como teria burlado o porteiro?

Estava prestes a abrir a porta para começar um discurso ao ver o Ryouta ali, mas ouviu uma voz desconhecida – na verdade, aquela voz lhe trazia uma certa lembrança, mas não sabia de onde.

— Entrega de Pizza! – Gritou o estranho de fora do apartamento.

“Eu não pedi pizza nenhuma.” Pensou enquanto abria a porta.

— Aqui está a sua pizza, senhor – disse um rapaz alto, usando um boné com o logo de uma pizzaria, sem tirar os olhos do celular que segurava. Kasamatsu não reconheceu aquele rosto imediatamente, mas era tão familiar quanto a voz. – Vai custar-...

O rapaz levantou os olhos do aparelho eletrônico, voltando-se para o fotógrafo. Um sorriso surgiu em sua face no momento em que olhou com quem falava. Provavelmente aquilo era mais uma peça que o destino resolvia pregar nele, afinal sua vida era cheia de reviravoltas.

— Yukio Kasamatsu – falou tranquilamente enquanto retirava o boné para expor sua face.

Yukio olhou estupefato para aquele parado a sua frente. Cabelos escuros, quase negros, olhos tão incomuns que a maioria das pessoas imaginaria que não estavam nem sequer sendo observadas e analisadas pela incrível mente parada na entrada de sua casa, um sorriso de escárnio, e a voz debochada que lhe pertencia unicamente desde o colegial formavam a figura que foi uma de suas maiores dores de cabeça na juventude.

— Quem imaginaria que nos encontraríamos depois de tanto tempo.

Em um canto escuro de sua mente, sabia que nunca o esqueceria.

E não esqueceu.

Imayoshi Shoichi.

Kasamatsu quase caiu para trás. Definitivamente estava tendo uma alucinação. Não via aquele homem desde que jogava basquete no colegial, não podia um fantasma – e um dos mais desagradáveis – de seu passado reaparecer agora para atormentá-lo. Já não bastava Kise?

Sem a menor cerimônia, o ex-estranho entrou no apartamento do fotógrafo.

“É um pesadelo, só posso estar alucinando.”

— Já que é você, acredito que não vai querer a pizza.

— Eu não pedi pizza nenhuma – dentre tantas coisas que poderia falar, aquelas palavras óbvias foram as únicas que saíram de seus lábios.

— Claro que não – Imayoshi riu. – E eu também não sou entregador de pizza. Você mora aqui?

— Moro...

— Ótimo, então tenho boas notícias. Sou seu novo vizinho, moro no andar de cima.

— O quê?! – Kasamatsu voltou a racionar.

— Exatamente o que você ouviu.

— Vá embora daqui, agora. A última coisa que eu quero é ter um fantasma morando no meu prédio.

O sorriso de escárnio só alargou-se no rosto de Shoichi.

— Fantasma? Então você ainda está nisso?

Kasamatsu estava prestes a responder, mas foi interrompido.

— Não importa. Já tenho o que preciso. E você está horrível, está doente?

— Sim – respondeu o fotógrafo suspirando. Não valia a pena tentar entender aquele homem, nunca valeu.

— Melhoras. E por sinal – disse Imayoshi dirigindo-se para saída do apartamento – para que você não se surpreenda, eu invadi o seu wi-fi e vou usá-lo pelos próximos dias enquanto não encontrar uma rede mais estável. Muito obrigado por tudo.

Com a pizza em uma mão e o celular em outra, o estranho rapaz de óculos deixou o apartamento do fotógrafo.

— Era só isso o que me faltava – resmungou enquanto ouvia a porta se fechar.

“E eu achei que não podia ficar pior.”

Para sua surpresa, depois da aparição de Imayoshi, nunca mais teve notícias do falso entregador de pizza, a única dor de cabeça que não o deixou em paz foi Kise. O Modelo realmente não desistia.

“Será que aquilo foi realmente uma alucinação? Depois daquele incidente também não tive mais febre, será que foi culpa disso?” Aceitaria qualquer explicação que dissesse que o encontro não fora real.

Em vez de melhorar, Yukio só piorou. Em contrário ao que havia imaginado, a febre não fora ocasional, e depois de três dias se tornou uma companheira constante, e resolveu trazer consigo dor muscular.

“Como é possível alguém ficar tão doente? Eu nunca fico doente, mas aí o mundo desaba de uma só vez.”

Para piorar a situação, seu estoque de remédios estava acabando e não tinha condições de sair para comprar mais. Estava de mãos atadas, e precisava de remédio para dor urgentemente.

Sem pensar em melhor solução – lhe custava muito fazer aquilo, mas estava sem alternativas – ligou para o porteiro e perguntou se alguém havia se mudado para o apartamento acima do seu recentemente. A resposta que recebeu foi afirmativa, o que confirmou o acontecimento do outro dia. Pediu o telefone residencial do novo proprietário, alegando que era um amigo antigo do colégio.

Queria evitar aquilo de toda forma, mas sua segunda opção seria pedir ajuda para Kise, o que implicaria riscos grandes demais. “Não vale a pena.” Pensava.

Usando todo o esforço que tinha, ligou para o apartamento de Imayoshi.

— Você ligou para Shoichi Imayoshi. Com quem falo? – A voz do outro lado da linha atendeu.

— Imayoshi? Aqui é o Kasamatsu... – a voz lhe trancou naquele momento, as palavras com gosto amargo em sua boca. – Eu queria pedir a sua ajuda.

Houve um momento de silêncio na linha, mas logo a voz, a maldita voz, soou nos ouvidos do fotógrafo.

— Mesmo? E o que deseja?

— Você tem algum remédio para dor? E para febre, se possível.

— O grande Yukio Kasamatsu está pedindo a minha ajuda, que honra.

Yukio suspirou.

— Só me traga a porra do remédio – respondeu desligando o telefone.

Em poucos minutos, a campainha soou incessantemente.

— Eu já ouvi, não precisa quebrar o botão – resmungou abrindo a porta para seu novo vizinho.

— Se eu não fizesse isso, não teria graça – respondeu Imayoshi, entrando.

Yukio bateu a porta, arrependendo-se de ter ligado para o moreno.

— Aqui estão os remédios. Você não parece estar só com febre e dor, então trouxe mais alguns.

— Obrigado – respondeu pegando os remédios que lhe eram oferecidos.

Quando sentiu o musculo de sua mão se contrair para pegar a sacola que Imayoshi trazia, um clarão passou em frente aos seus olhos e Yukio desmaiou.

*

Kasamatsu sentiu a dor da claridade em suas pupilas, enquanto tentava abrir os olhos, um travesseiro embaixo de sua cabeça e os lençóis sobre seu corpo. Não recordava ter dormido, nem ao menos de estar na cama, sua última lembrança era de estar conversando com Shoichi.

— Você está doente mesmo, em – a voz do moreno soou. – Você só pode ser maluco de andar pela casa com uma febre de quase quarenta graus.

— O que aconteceu? – O fotógrafo perguntou, erguendo seu corpo. Imayoshi ofereceu um punhado de remédios e um copo de água, o que prontamente aceitou.

— Você desmaiou.

Yukio tomou a água junto aos remédios.

— Isso não acontecia há bastante tempo – resmungou – E não é uma sensação muito legal.

Shoichi riu:

— É mais simples do que dormir – o fotógrafo fez mansão de levantar-se. – Não. Você pode ficar deitado aí, sem esforço. Sua febre está começando a baixar agora, não podemos correr o risco que ela volte.

— Obrigado por tudo, mas não preciso de uma enfermeira particular.

— Precisa sim. Olhe o que aconteceu com você agora a pouco, nem venha dizer que está bem. E tem mais, estou te pagando por usar o seu wi-fi de graça. Cale a boca e aceite.

O tom de Imayoshi deixava claro que não estava aberto a discussões. Então Yukio simplesmente largou o copo de água e afundou-se na cama.

— Não venha pedir nada em troca depois.

— Não vou – o moreno respondeu, sorrindo misterioso.

Um silêncio constrangedor se instalou no ressinto, pelo menos para Kasamatsu, já que Imayoshi parecia sentir-se bastante confortável.

Depois de aguentar a pressão do ambiente por mais tempo que sua sanidade permitia, Yukio resolveu levantar-se.

— Eu só vou ao banheiro. Consigo fazer isso sozinho – falou antes que seu novo enfermeiro pudesse retrucar.

O alívio que sentiu ao se ver sozinho foi enorme. Aproveitou para tomar um banho, já que a febre estava diminuindo e ele estava suando como um porco.

Enquanto saia do banheiro, revigorado pelo banho, ouviu o interfone tocar e no mesmo momento a voz de Imayoshi soou.

— Eu atendo, você volta pra cama.

“Aparentemente ele continua com a mesma visão e audição”

Ouviu a voz do outro vinda do outro cômodo, quando lembrou-se de quem provavelmente seria. Correu para sala como se sua vida daquilo e, conhecendo Imayoshi, provavelmente dependia.

— Alô? Residência de Yukio Kasamatsu, posso ajudar? – Ouviu assim que chegou perto de Imayoshi.

— Hã... quem é? Posso falar com Kasamatsu? – a voz de Kise soou do outro lado da linha clara como um dia de sol.

Naquele momento, Kasamatsu quis sumir com todas as suas forças.

— Eu sou Shoichi Imayoshi, namorado do Yukio. Desculpe, mas ele não pode falar com você agora, está incapacitado.

O moreno olhou para Yukio com um sorriso brincalhão, e desligou o interfone.

— Imayoshi... Eu vou te matar – o fotógrafo não sabia se era a febre que estava voltando, ou se era sua irritação que borbulhava.

*

Ter a ajuda constante de Imayoshi fez melhor para sua saúde do que Kasamatsu esperava e gostaria de admitir. O moreno havia lhe arrancado uma cópia da chave de seu apartamento, mas em compensação agora não precisava mais ficar levantando-se da cama.

Imayoshi cozinhava, lhe trazia remédios, cuidava de sua temperatura. Se não conhecesse o demônio, acreditaria que era um anjo. Perguntava-se o que o outro queria ajudando-o, algo tão grande vindo de Shoichi Imayoshi não ficaria barato, ele sabia e muito bem disso.

— Imayoshi, me diga logo, por que você está fazendo tudo isso? – Yukio perguntou vendo que o outro parecia particularmente de bom humor, talvez conseguisse arrancar algo.

— Só estou querendo ajudar um amigo, ora – Shoichi respondeu.

— Como se você fizesse esse tipo de coisa.

A típica risada chegou aos ouvidos do fotógrafo.

— Me poupe disso, fale logo – insistiu.

Imayoshi sorriu, fazendo um calafrio correr a espinha de Kasamatsu.

— Não quero nada demais, só conhecer Ryouta Kise.

“Dentre tantas coisas no mundo, dinheiro, poder, qualquer coisa, por que logo isso?”

— Não – respondeu secamente.

— Você não pode me negar um favorzinho desses depois de tudo que eu fiz para você, Yukio.

— Não me chame assim. E nem fodendo que vou apresentar o Kise pra você. Aliás, por que você quer conhece-lo?

— Tenho meus motivos.

Aquela resposta diminuiu ainda mais a vontade de Yukio de deixar que Imayoshi conhecesse Kise. Ficaria devendo ao ex-companheiro esportivo a vida toda, mas não pagaria sua dívida daquela forma.

Sem esperar mais conversa, Imayoshi saiu do quarto do fotógrafo, deixando-o sozinho com suas suposições.

“Lá me vem mais uma dor de cabeça.”

Mas antes que pudesse perder-se em pensamentos, seu celular tocou.

— Alô? – Atendeu o aparelho sem vontade.

— Alô? Kasamatsu?

Oh não, ele tinha que sair dali, se Imayoshi o ouvisse estaria ferrado.

— O que quer, Kise?

­— Então, eu queria dizer que acho estraguei tudo...

— O que você quer dizer com isso?

Aquilo simplesmente não fazia sentido na mente de Yukio. O que diabos Kise tinha feito para que ligasse pra ele. Foi quando reparou que não havia reconhecido o número, Kise não estava ligando nem do próprio ou do celular de Aomine.

— Kise... O que você fez?

— Ele está muito irritado comigo pelas vezes que saí para tentar falar com você. Digamos que eu sempre aparecia quando deveria estar em outro lugar e ele descobriu... Aijima ainda acha que é sua culpa, mesmo não tendo nenhuma prova – a voz do loiro parecia preocupada. Não era normal de Kise ficar daquela forma.

­­— Esse cara é maluco? Kise, mas por que você está tão nervoso?

— Ele não quer me deixar sair! E eu ainda não entendo o que ele viu de tão ruim em você! Disse que ia sair com o Kuroko, que teve que vir até o escritório dele pra que eu pudesse sair, e estou indo até aí... Estou pensando em desistir de ser modelo, ou pelo menos procurar outro agente...

— Você é maluco?! Não diga uma coisa dessas, você não vai conseguir algo assim tão facilmente!

­— Eu nunca gostei dele, sempre achei meio estranho. E tinha razão. O cara daqui a pouco vai acabar, sei lá, pedindo uma ordem de restrição!

Kasamatsu pôs-se a pensar. Não fazia ideia do que estava acontecendo e entendia cada vez menos. O homem só podia ser louco. Demitir Yukio por “motivos profissionais” era uma coisa, contudo prender Kise em casa era outra.

Kasamatsu, algumas pessoas fazem tudo por poder. Eu nunca achei importante falar isso, mas Aijima nunca foi uma pessoa muito boa de qualquer forma. Eu não sou estúpido a ponto de trabalhar com alguém que não conheço nem um pouco, então procurei sobre ele e adivinhe o que encontrei: N-a-d-a! Tive que aceitar a oferta ou estaria ferrado, mas nada nunca fez sentido aqui!

Yukio suspirou. Kise só podia ser um idiota, não era possível alguém aceitar uma proposta assim, se é que o modelo estava falando a verdade.

— Venha. Dessa vez, só dessa vez, você pode subir. E porque eu já estava achando esse seu empresário muito estranho.

Desligou o telefone sem esperar uma resposta e sabia que Kise não precisava dar uma, iria aparecer ali e eles iriam se acertar. Mas ainda havia um problema, e esse era preservar sua casa. Ainda não queria deixar que o loiro entrasse em seu santuário.

Como uma luz divina, a porta de seu quarto se abriu e sua salvação entrou. Mais uma vez entraria em um jogo perigoso e ainda estaria fazendo aquilo que havia prometido a si mesmo que não faria, deixaria Ryouta conhecer Shoichi.

— Parece que finalmente vou conhecer o famoso modelo Ryouta Kise, não é? – Imayoshi falou como se estivesse lendo sua mente. Detestava concordar com o desgraçado, principalmente quando ele carregava aquele sorriso vitorioso.

— Levaremos ele para o seu apartamento.

O homem de óculos maneou a cabeça, satisfeito.

*

Menos de meia hora depois da ligação, a campainha do apartamento tocou e Kasamatsu, seguido de Imayoshi, foi atender a porta.

Kise estava parado a sua frente como se os dias não houvessem passado. O tempo que ficou em casa era razoavelmente longo, mas o modelo estava exatamente igual à última vez que se viram – ao contrário dele, que estava um trapo.

— Kasamatsu, ainda bem- – a fala do loiro se interrompeu, ele viu, no momento em que os olhos tão claros que pareciam ouro cruzaram com os do moreno atrás de si.

— Acho que não temos tempo a perder aqui – Sem prestar atenção na raiva que Kise dirigia a si, Shoichi passou pelos dois rapazes e rumou para seu apartamento.

— Depois explico isso para você, agora vamos logo – Yukio puxou Kise para o elevador. O modelo não resistiu, mas ainda não parecia satisfeito com a presença de Imayoshi.

Assim que entraram no apartamento, Kasamatsu percebeu como era diferente do seu. Completamente arrumado e limpo, todas as coisas nos devidos lugares e, o que chamou sua atenção, a falta de objetos. Enquanto sua casa tinha lembranças, indicações de seus passatempos e hobbies, a casa de Shoichi era completamente vazia.

— Não fique surpreso Yukio. Você ainda não viu nada – o dono da casa sentou no sofá, sendo seguido por Kise e por fim Kasamatsu, que estava olhando o local bastante perplexo.

Kise, sem sombra de dúvida, era o mais perturbado, talvez por ainda pensar que Imayoshi era seu namorado. Ao contrário do que imaginou, não fazia a menor ideia do que dizer, não fazia ideia de como deixar o modelo confortável em um ambiente que nem ele mesmo sentia-se confortável.

— Ryouta Kise, é um prazer finalmente conhece-lo, eu sou Shoichi Imayoshi – Kise não respondeu, mas isso não impediu que o dono da casa continuasse a falar. – Tenho interesse em você faz algum tempo, sua fama cresceu rapidamente nesses últimos tempos.

Algo não fazia sentido para Yukio, desde quando Imayoshi prestava atenção em pessoas famosas e moda, a chance de ele conhecer o nome de Kise era quase negativa. A menos que estivesse querendo falar com o modelo só para provoca-lo.

— Nunca ouvi falar de você – Kise respondeu, menos na defensiva e mais confuso, Kasamatsu percebeu.

— Isso é bom, não esperava que já tivesse ouvido. Mas enfim, acredito que vocês estão com um problema, não estão?

Aquelas palavras tiraram Kasamatsu, que não havia se pronunciado até o momento, de seus pensamentos.

— Kise, me explique direito o que você estava falando. Como assim você não sabe nada sobre o Aijima?

O loiro voltou-se para Kasamatsu.

— Não é que eu não sei de nada sobre ele, só não achei informações. É como se ele não existisse, quero dizer, sem informações de família, redes sociais, nada.

— Kise – Yukio suspirou. – Como você foi acabar trabalhando com uma pessoa assim?

— Isso não importa agora... O que importa é achar um jeito de fazer ele largar do meu pé.

— E descobrir quem é ele – o fotógrafo completou.

— Vocês querem encontrar uma pessoa? Se é isso, eu posso ajudar – a voz de Shoichi foi ouvida novamente. E mais uma vez estava lá, o sorriso que aterrorizou muitas noites de Kasamatsu.

— Como? – Kise perguntou.

— Eu tenho meus contatos – o homem de óculos levantou-se e rumou para um quarto no final de um corredor.

Igual à sala, o corredor não revelava nada sobre o dono da casa, nada naquele lugar parecia necessariamente pertencer à Imayoshi. Tudo estava impecável, como se o apartamento não houvesse sido mexido desde que fora ocupado.

— Imayoshi, esse apartamento é mesmo seu? – Antes que pudesse se controlar, as palavras saíram da boca de Yukio.

— Claro que é. Eu moro aqui legalmente.

— E o que você faz da sua vida?

Não imaginou que se arrependeria tanto de falar algo em sua existência. A expressão de Imayoshi iluminou-se, mas ao contrário do normal, aquilo não era um bom sinal, as faces do moreno estavam tão alegres que os olhos estavam expostos, os olhos do demônio. E o outro parecia feliz, parecia querer compartilhar a alegria cruel que sentia naquele momento.

— Eu sou hacker.

Assim que terminou de falar, Imayoshi entrou em uma sala.

— Posso encontrar quem vocês quiserem, em qualquer lugar, a qualquer momento e época – sentando-se em uma cadeira, Shoichi se aproximou do notebook que estavam em cima da mesa.

— Como ser hacker dá dinheiro? – Kise perguntou, se aproximando para ver o que Imayoshi fazia.

— Não dá. Digamos que eu tenho alguns contos que me ajudam a sobreviver.

Chocado, Yukio encostou-se na mesa. Se Shoichi era um hacker, isso queria dizer que ele trabalhava ilegalmente.

— Você está me dizendo que rouba para sobreviver?

— Hackeio contas de bancos, vendo informações e essas coisas. Já fui pego pela polícia e agências internacionais algumas vezes, mas adivinhem? Nunca conseguiram me manter sob custódia porque os arquivos sobre mim sempre somem. Estranho, não? – As feições de Imayoshi estavam tão tranquilas que o hacker parecia estar comentando sobre o tempo, mas sua voz possuía um veneno tão poderoso que Kasamatsu podia senti-lo correr por suas veias.

— Não, nem pense, nós não vamos nos meter com essas coisas ilegais, eu não quero nem saber. Kise, vamos embora – a vida de Yukio já estava ruim demais, não precisa se envolver com um criminoso e piorar tudo.

— Achei – Shoichi falou antes que qualquer um dois outros dois pudesse sair da sala. – Não se preocupe, não fiz nada tão ruim. Mas encontrei algumas cosias que podem interessar a vocês.

— Como o quê? – O loiro, movido pela curiosidade, se aproximou.

— Nome dos pais, onde nasceu, alguns contatos, o que fazia antes de ser empresário... E vários podres.

— Podres? Isso não é hora para suas brincadeiras, Imayoshi – Kasamatsu também chegou mais perto, olhando para a tela do computador com mais atenção do que deveria. Havia muitas janelas abertas, internet, programas e algumas coisas que não sabia identificar, nem mesmo tinha certeza dos sites em que Shoichi estava.

— E quem dera fosse brincadeira, caro Yukio. O cara tem mais crimes registrados que eu. Furtos, roubos, trabalhos ilegais, falsificação de identidade.

— Mas o que ele poderia querer como empresário de um modelo desconhecido?

Kise olhou para ele parecendo um pouco magoado, mas o fotógrafo ignorou-o. Estavam em uma situação importante demais para render-se aos caprichos de um garoto mimado.

— Desconhecido, mas com talento. Ele quer o dinheiro do Kise, ao menos é isso que eu iria querer. Esse loirinho não parece muito esperto, deve ser fácil dar um golpe nele.

Kasamatsu não podia negar, Kise era inocente demais, bonzinho demais. Já era um milagre estar tão desconfiado de Aijima. Mas algo ainda não fazia sentido, o que ele tinha a ver com tudo aquilo? Se o empresário não houvesse agido de modo estranho, talvez nunca tivesse suspeitado de nqda e o homem poderia seguir com seu plano como se nada houvesse acontecido.

— Mas o que isso tem a ver comigo?

Shoichi virou-se para ele, analisando-o com os olhos frios e calculistas.

— Você é um cara inteligente. Se ficasse próximo de Kise provavelmente acabaria descobrindo, ou mesmo, em um caso mais extremo, se ele pretendesse um assassinato, o Kise poderia deixar os bens para você, o que seria a perda dele. Então para evitar o iminente, ele afastou você – o rapaz de óculos sorriu, parecendo divertir-se bastante com as deduções. – Ao menos, claro, é isso que eu faria. Não arriscaria meu prêmio por algo tão pequeno como uma paixão.

— Eu não estou apaixonado pelo Kasamatsu! – Kise se intrometeu.

— Não? – Shoichi riu, não se convencendo. – Desculpe, então.

— Ugh, não é hora para discutir isso, se vocês não perceberam – Kasamatsu, irritado, resolveu voltar à conversa. – O que diabos nós podemos fazer para que esse desgraçado saia da cola do Kise, ou melhor, vá preso?

— Posso dar uma ajudinha com isso também – o hacker ofereceu-se.

— Mas? – Yukio completou.

O sorriso que dava calafrios na espinha do fotógrafo estava ali novamente, ninguém parecia estar se divertindo tanto quanto Imayoshi naquela pequena brincadeira de “pegar o ladrão”.

— Mas não garanto que vocês irão gostar do procedimento. Vou tentar não sair muito da lei, para não prejudicar a imagem de Kise, mas não garanto nada.

— Quem garante que podemos confiar em você? – Kise perguntou, e pela primeira vez, parecia completamente sério.

— Ninguém. Não há nenhuma garantia que vocês podem confiar em mim. Mas pense bem, eu sou sua melhor chance, você pode demitir seu empresário e dizer que ele estava ameaçando você, mas não terá provas e a mídia ficará sabendo disso, o que não vai ser bom para sua imagem. Pense um pouco, Ryouta Kise, nem tudo que vai protege-lo é limpo, às vezes é preciso correr alguns riscos.

Kasamatsu ficou admirado de ver a postura profissional de Kise, o modelo parecia estar pensando seriamente no assunto, assim como ele mesmo estava pensando. Não era sua escolha, Kise era o único responsável pela própria vida e carreira, mas isso não deixava de preocupa-lo. Sabia que Imayoshi não hesitaria em usar métodos sujos ou fazer qualquer coisa ilegal, mas naquele momento, para seu descontentamento, teria que concordar com homem sentado que encarava o modelo. A carreira de Kise poderia estar em jogo, talvez a segurança do modelo também estivesse, quem sabe do que as pessoas são capazes?

Entretanto, antes que pudesse se manifestar, a voz do loiro quebrou o silêncio.

— Tudo bem. Vou deixar você fazer isso, mas quero pedir duas coisas.

— Claro, pode pedir.

A tensão corria no ar, Yukio olhava tanto para Imayoshi quanto para Kise e não sabia qual das duas feras era a mais perigosa. Tinha medo do que o loiro poderia pedir, não imaginava que seria nada insano, mas algo o estava deixando inquieto e já havia aprendido a prestar atenção em seus palpites.

— Primeira, não quero o nome da minha família sujo. E segunda e mais importante, não quero, sob qualquer circunstância, que o nome de Yukio Kasamatsu seja mencionado. Se for extremamente necessário, para proteger o nome dele, pode usar o meu.

— Oh – Imayoshi tinha um ar divertido. – Você prefere se perder a deixar que ele se perca? Tudo bem, se é o que quer.

— É sim.

Yukio entrou em pânico, Kise não podia fazer aquilo, era loucura. Sujar o próprio nome para proteger o dele?! Absurdo. Queria gritar com o modelo, mandar Imayoshi se recompor e fazer o que era certo, mas não teve coragem. Seu erro foi olhar para a figura do modelo. A seriedade e convicção presentes ali eram tamanhas que as palavras ficaram trancadas em sua garganta e a única coisa que podia fazer era admirar e sentir, como tantas outras vezes, a forte vontade de guardar aquela imagem através das lentes de uma câmera.

Estava acordado. Deixariam tudo nas mãos de Imayoshi e manteriam contato. Assim que conseguiu ir para casa, Kasamatsu começou a refletir sobre os acontecimentos até o momento. Nunca quis se evolver com Kise, disse a si mesmo que não se deixaria levar, mas ali estava ele, ajudando o modelo e arriscando o futuro de ambos. Sua vida estava recomeçando com um emprego e um apartamento novos e já estava metido em problemas, mas o que mais o incomodava não era o problema de Kise, mas sim o próprio modelo, inocente, bobo, chato, ousaria dizer até mesmo um pouco fofo, mas que também sabia ser sério. Os problemas do modelo viraram a vida de Yukio de cabeça para baixo, mas o próprio modelo havia virado a mente dele de cabeça para baixo. E ele não sabia o que era pior.


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Notas finais do capítulo

Antes de tudo, eu sei que sou péssima de enredo, além de não aprofundar as cosias direito. Isso é triste, mas espero compensar de alguma forma com várias coisas do casal.
Agora: IMAYOSHI SHOICHI. Gente, me chamem de louca, mas eu amo esse homem e um dos meus brotps preferidos é ele e o Kasamatsu, então eu não resisti.
Apesar de chato, eu gosto desse capítulo, pelo Imayoshi e pelo momento comédia pastelão do interfone (que eu simplesmente não resisti em colocar).
Acho que é isso, não darei prazo para o próximo porque acho que vocês já me conhecem a essa altura...
P.S.: Estreia da capa nova! O que acharam?!