The last picture escrita por Nyo


Capítulo 8
Rainy Day


Notas iniciais do capítulo

Quem quer o meu rim? Oba, todos devem querer me matar, eu atrasei a fic em um mês :'D Gente, sério, eu peçoo mil desculpas, a data de postagem me pegou bem em uma época horrível e foi assim até hoje, um mês de tortura ,-; Mas eu estou aqui



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Kasamatsu estava irritado, estava esperando há mais de meia hora e nenhum sinal de Kise.

Após sua “feliz reconciliação”, Kise passou a chama-lo para fazer coisas sempre, ir ao cinema, comer, cantar, fazer compras – algo que o fotógrafo achava muito desagradável, pois o loiro era terrivelmente indeciso – e até mesmo conhecer seus amigos, sendo a última opção declina todas as vezes. Já lhe bastava conhecer Takao, Himuro e Murasakibara. Estava esperando Kise, que havia o convidado para ver um novo filme, porém não havia sinal do modelo.

Tentou ligar três vezes, quando sua paciência já estava completamente esgotada, o telefone foi atendido.

– Kise? O que diabos você está pensando? Eu já estou te esperando a mais de meia hora – gritou para aquele que o atendeu.

Para sua sorte, a voz do modelo soou do outro lado da linha:

– Desculpe, Kasamatsu. Eu estou tento alguns problemas com o trabalho hoje.

Aquela frase parou a resposta que Yukio havia preparado. Lembrava-se de Kise ter lhe dito que aquele seria um dia de folga, era estranho rapaz estar “com problemas no trabalho”.

– O que houve? Você havia me dito que não precisaria trabalhar hoje.

Kasamatsu percebeu a hesitação do outro lado da linha. Quando estava prestes a ameaçar seu interlocutor, ouviu um suspiro.

– Eu acabei sendo chamado aqui hoje pelo Aijima. Ele me deu um sermão e – houve uma pausa nesse momento, e Kise não parecia disposto a continuar.

– E?

– Ele aumentou minha carga horária, estarei cheio pelos próximos dias, se não pelo resto do mês. Eu não sei de onde ele tirou tanta coisa, eu vou acabar sufocando!

O fotógrafo olhou para o céu, a probabilidade de chover era alta, esperava que conseguisse chegar em casa antes disso. Um suspiro escapou de seus lábios enquanto imaginava o que havia ocorrido de verdade.

Não gostava do empresário de Kise, e o homem havia tirado algumas de suas noites de sono, não achava justo que ele havia feito ao modelo, não havia “justa causa”. Quebrou a cabeça imaginando quais poderiam ser os planos por trás do empresário, mas não obteve nenhum sucesso.

– Se você reclamar ele só vai piorar ainda mais a situação, trabalhe e não fique replicando.

– Mas-

– Sem “mas”. Ele vai acabar suspeitando de algo, é um milagre ninguém ter reconhecido você ainda.

– Deixa disso Kasamatsu, não vale reclamar por algo que está bem. E eu queria te ver hoje! Estou com saudade.

Uma veia saltou na testa do fotógrafo, lidar com um garoto inconsequente daqueles estava acabando com seus nervos. Prendeu a respiração e contou até dez para manter-se calmo.

– Pare de falar como se eu fosse sua namorada, idiota – falou tentando manter-se firme. - Se você tem que trabalhar, trabalhe. Nós temos nos encontrado quase todos os dias, deixe de ser criança.

Ouviu o choro manhoso de Kise do outro lado da linha, sem prestar atenção no que o loiro estava dizendo, desligou o celular.

Não queria dispensar Kise, mas se o modelo precisava trabalhar o dispensaria, e como sabia que o rapaz era como uma praga, teria que usar todos os meios ao seu alcance para que fizesse o correto. Sim, sentia-se frustrado por não ter que sair com o modelo, gostava da companhia dele, por mais chata que fosse, mas não queria arriscar de nenhuma forma, ainda era perigoso ser descoberto por Aijima, que parecia não brincar em serviço. Em muitos encontros que tivera com o loiro, Kise recebeu ligações do empresário, sendo questionado onde estava, o que estava fazendo, aquele tipo de coisa. Mentiram todas as vezes.

Kasamatsu tinha receio que se o interesse do empresário fosse tão grande como imaginava, o modelo acabaria com um localizador gps, ou um rastreador implantando em si.

As gotas de chuva começaram a cair, fazendo-o praguejar. Se pelo menos Kise tivesse aparecido, não pegaria chuva, àquela hora já estaria no cinema. Saindo do lugar parcialmente coberto em que estava, os pingos começaram a bater com força em sua cabeça. Preferia molhar-se ao esperar a chuva parar, e se a previsão estivesse correta, não pararia de chover por algumas boas horas.

Quanto mais avança, mais o frio se apoderava dele. Estava longe de casa, mal agasalhado para a temperatura que fazia, e não teria como pagar um táxi. Sua sorte estava cada vez pior. Rezou para que não ficasse resfriado, era a última coisa que precisava, se atrasar no trabalho. De vez em quando tinha a sorte de passar por uma área coberta, mas a chuva não lhe dava tamanha trégua.

A chuva apertou, fazendo com ficasse mais difícil enxergar. Andava cegamente em meio a um mar de pessoas e coisas, sua visão embaçada capturou apenas um vulto antes que sentisse o forte impacto, escorregasse e batesse com força no chão.

– Ei, você está bem? – Perguntou a voz.

Ótimo, agora suas roupas estavam realmente encharcadas. Antes de qualquer coisa, Kasamatsu limpou os olhos, tentando fazer sua visão voltar ao normal. Recobrando vagarosamente os sentidos, conseguiu focar-se na pessoa parada a sua frente. Olhos azuis muito claros faziam uma estranha combinação com o cabelo, que era exatamente do mesmo tom. Sentia como se já tivesse visto aquela estranha figura em algum lugar. Encarou o rapaz com o rosto franzido, tentando lembrar-se, aquele rosto, a falta de presença, o semblante completamente neutro só poderia ser...

– O garoto da lanchonete – falou em voz alta.

Assim que percebeu o que havia feito, seu rosto esquentou levemente, apesar do frio. Coçou a cabeça com uma das mãos, sentindo o atrito desagradável entre sua mão e seu couro cabeludo molhados. Para sua completa surpresa, o rapaz sorriu, fazendo com que o olhasse ainda mais espantando.

– É bom ver que se lembra de mim, senhor Kasamatsu – apesar do sorriso, a voz dele não aparentava muita animação. – Quer ajuda? – Ele esticou a mão.

Fazendo um gesto com a cabeça, o fotógrafo aceitou a ajuda. Surpreendeu-se com a força do garoto, que o ergueu com facilidade.

– Como... Como você me conhece? – Perguntou confuso.

Não lembrava-se de ter conhecido o rapaz antes de seu encontro no ‘fast-food’, e mesmo naquele encontro, o forte e esmirrado rapaz de olhos azuis já sabia seu nome.

– Você está completamente encharcado, gostaria de ir para minha casa se aquecer um pouco?

A cada momento que se passava Yukio ficava mais confuso, o menino que o ajudou o conhecia, e estava oferecendo-lhe abrigo para a chuva, porém ele não fazia a menor ideia quem era o rapaz.

– Sim, claro – antes que pudesse ponderar sobre como recusar o convite, a resposta afirmativa já havia deixado sua boca.

– Então vamos – o rapaz passou por ele, indo na direção oposta à sua casa.

Kasamatsu suspirou, sentia que estava se envolvendo em mais um problema.

Os problemas pareciam procura-lo sem que ele fizesse nada e curiosamente, aquilo havia começado desde que um certo modelo entrou em sua vida.

***

Entram na casa do rapaz em silêncio, Kasamatsu foi conduzido à sala, onde perdeu completamente seu salvador de vista.

Verificou que havia uma escada para o segundo andar, uma passagem para a cozinha e um provável banheiro, de onde ouviu um som. Tentando captar o que vinha de dentro do cômodo com a porta entreaberta não reparou na aproximação do rapaz.

– De onde você? – Perguntou tentando acalmar seu coração acelerado.

– Eu estava no banheiro – ele apontou para onde Yukio olhava.

O fotógrafo ficou perplexo, não havia jeito do rapaz de saído daquele cômodo sem que ele notasse, estava olhando diretamente para lá.

– Você não me viu saindo de lá? – O rapaz seguiu sem mudar a sua expressão.

– Não – respondeu ainda tentando entender o que havia se passado.

Enquanto Kasamatsu pensava, o rapaz atirou-lhe uma toalha, a qual aceitou de bom grado.

– Mais importante, seque-se e fique à vontade, acho que ainda tem um pouco do chocolate quente que minha mãe fez mais cedo.

Assim que o rapaz dirigiu-se a cozinha, Yukio deu-se conta que ainda não havia nem ao menos perguntado o nome dele. Sentia-se incomodado por estar na casa de um estranho, mas acreditava que nada de mal lhe aconteceria, a menos que aquele menino baixo e de pouca presença fosse na verdade um assassino disfarçado, o que achava uma ideia levemente absurda. Mais uma vez perguntou-se como ele sabia seu nome, e sem achar uma resposta lógica, imaginou que o rapaz conhecia algum trabalho seu.

Após secar-se, colocou a toalha sobre seus ombros, tentando conseguir uma fonte de calor. Sentiu sua garganta contrair-se e um arrepio passou para seu corpo, se não conseguisse um remédio rapidamente, em prováveis dois dias, não conseguiria trabalhar.

Suspirou sentando-se no sofá, tomando cuidado para não molhar muito o móvel. Nesse momento ouviu a porta da cozinha abrindo-se e a figura de cabelos azuis sair lá de dentro.

– Aqui, isso vai te fazer bem – o mais baixo lhe estendeu uma caneca.

Kasmatsu tomou um gole do chocolate quente, sentindo o calor voltar ao seu corpo.

– Muito obrigado – agradeceu.

– Não há de que – o rapaz sorriu.

Após mais alguns goles de sua bebida, e suas bochechas, antes brancas como papel, já com a cor normal, virou-se para seu anfitrião, que havia sentado em uma poltrona.

– Como você se chama?

O rapaz sorriu novamente. Aquele sorriso era tão tímido que intrigava o fotógrafo, a falta de presença do rapaz também não ficava para trás. Perdido em seus pensamentos, quase não ouviu a resposta.

– Tetsuya Kuroko. Você deve estar se perguntando como eu sei o seu nome, não, Senhor Kasamatsu?

Sua resposta foi um movimento afirmativo com a cabeça, porém antes que obtivesse seu 'prêmio', um latido foi ouvido pela sala. Kasamatsu foi atacado por uma bola peluda, que pulou em seu colo e começou a lamber seu rosto.

– Esse é o Tetsuya Dois – Kuroko falou.

Yukio segurou o cachorro longe de seu rosto. Recebeu um latido e um rabo abanando como cumprimento. Um sorriso despontou de seus lábios, o que o fez o filhote ficar ainda mais animado. O cão tinha pelagem branca e preta, um focinho comprido e usava uma camiseta de basquete.

– Ele é bonitinho – como se soubesse que o fotógrafo falava dele, Tetsuya Dois latiu.

Kasamatsu colocou o cachorro em seu colo, o animalzinho deitou-se enquanto ele acaricia seu pelo.

– Ele é como se fosse a mascote do nosso time.

Yukio assentiu voltando os olhos para Kuroko, o rapaz observava o cachorro, e quando seu olhar encontrou o do fotógrafo, a campainha tocou.

O mais baixo levantou-se sem falar nada mais.

Kasamatsu grunhiu, estava prestes a descobrir o queria, mas aparentemente, o mundo não queria que ele soubesse como um rapaz aleatório sabia seu nome.

Olhou mais uma vez para o cachorro que descansava em seu colo. Aquele uniforme lhe era familiar. Não gostava de lembrar-se daquela época, mas sabia que conhecia aquela camiseta. Esperava que aquele rapaz não tivesse nenhuma relação com basquete, queria manter-se longe de tudo relacionado ao esporte. Sua cabeça começou a latejar com a força que sua memória fazia para lembrar-se das informações.

Ao ouvir o barulho da porta sendo aberta, Tetsuya Dois pulou de seu colo, contente que mais alguém houvesse vindo visitar. Kasamatsu ergueu a cabeça, olhando na direção para qual o filhote havia corrido.

– Kuroko, você precisa me deixar ficar aqui um pouco, sua casa é o lugar mais próximo para o qual eu posso fugir – ouviu o recém chegado falar.

Viu a sombra alta dobrar-se e acariciar Tetsuya Dois, que parecia ainda mais contente que antes.

– Fique à vontade, mas você vai ter que ir embora cedo, eu estou com uma visita importante na sala. Se bem que, você a conhece.

– Que maldade, Kuroko, poxa, você não precisava fazer isso comigo – o tom de voz manhoso fez com que Kasamatsu percebesse que era o recém chegado que se encaminhava para a sala onde estava. O fotógrafo encolheu os ombros, amaldiçoando todos os seus ancestrais por sua má sorte. – E quem poderia ser? Não vá me dizer que é a Riko novamente, você sabe que eu conheço sua trei-

Kise congelou na porta quando o viu sentado no sofá. Yukio retribuiu seu olhar igualmente surpreso.

Tetsyua Dois corria de um para o outro, até que Kuroko o pegou no colo observando o modelo e o fotógrafo com um sorriso divertido.

– Você pode sentar, Kise.

O loiro não se moveu, ficou observando Kasamatsu até que seu corpo voltasse a ter reação.

– Kasamatsu, você conhece o Kuroko? – Perguntou-lhe.

Ainda sem força para falar, o fotógrafo apertou a xícara em suas mãos, mantendo os olhos na figura alta e fotogênica a sua frente.

Kise estava molhado, não tanto quanto ele esteve, o que o levou a acreditar que havia ido até ali sem nada que o protegesse da chuva, mas que esse lugar era próximo. As roupas que o modelo usava eram casuais, então provavelmente não estava trabalhando, seu rosto estava pálido e seus cabelos caídos por causa do contato com a água. Kasamatsu mais uma vez queria ter sua câmera fotográfica, talvez algum dia, se Kise voltasse a trabalhar consigo, sugeriria um figurino como aquele que estava a sua frente agora.

– Não – a voz de Kuroko o trouxe de volta para a realidade –, nós não nos conhecemos. Eu o encontrei uma vez, e agora o vi caminhando no meio da chuva, então resolvi ajuda-lo.

A mente do fotógrafo estava a mil, era óbvio que Kuroko o conhecia, pelo que podia observar, o rapaz de cabelos azuis era amigo de Kise, e com certeza o loiro já havia falado dele. Sentiu raiva do modelo por falar dele para os amigos. Uma veia pulsou em sua testa, o que fez o mais alto parado a sua frente se encolher enquanto Kuroko voltava a sua poltrona.

– A-Ah – Kise respondeu assustado, já sabendo que Kasamatsu não havia reagido bem à situação.

Com cautela Kise sentou-se ao lado de Yukio que o fuzilou com o olhar.

– Acho que não preciso mais explicar de onde o conheço, não é Senhor Kasamatsu?

O fotógrafo negou, ainda olhando para Kise, que evitou encara-lo, voltando-se para o amigo.

– Kuroko – sua voz estava suplicante a acusadora.

Tetsuya Dois, alheio a tenção que corria ente Yukio e Kise, pulo para o colo de ambos, contente por ter espaço o suficiente para se deitar e visitas das quais se aproveitar. Ambos voltaram seu olhar para o cachorro, Kise lhe acariciou o pelo, logo voltando a olhar para seu anfitrião.

– Onde ele se meteu? – Falou olhando ao redor. – Sumiu de novo – sua voz tornou ao tom manhoso. – Kuroko, não me deixe sozinho aqui.

Kasamatsu encarou-o com o olhar frio, fazendo o modelo se encolher.

– O que diabos você está fazendo aqui, seu idiota? – perguntou irritadiço.

O modelo olhou-o suplicante.

– Kasamatsu, juro que a culpa não foi minha, eu queria ter ido no nosso encontro, mas-

– Idiota, não foi isso que eu perguntei, quero saber o que você está fazendo aqui?

– Bem – o loiro pareceu relaxar – Eu fugi do Aijima, ele queria me levar para mais uma entrevista.

Uma veia saltou na testa de Yukio. Dentre tanto motivos para Kise estar ali, ele simplesmente havia fugi de um compromisso. Sem conter-se, deu um soco no outro, que começou a reclamar de dor.

– Não fuja de seus compromissos, você quer ser famoso, não quer? Então deixe de ser preguiçoso e trabalhe.

Yukio tomou um gole de chocolate quente, que àquela altura já estava quase frio, para tentar se acalmar.

– Eu estou trabalhando, você sabe disso! Mas já estou cansado, se ele aumentar minha carga horária, não terei tempo de fazer mais nada!

O fotógrafo suspirou contando até dez para diminuir sua raiva.

Acreditava em Kise, entretanto aquilo não seria desculpa para deixa-lo fugir de suas obrigações.

– Você tem que voltar, Aijima vai procura-lo, e só vai piorar sua situação se ele encontrar, eu já te avisei hoje, preciso repetir quantas vezes mais?

Uma xícara de chocolate quente, muito parecida com a de Kasamatsu, surgiu entre os dois, assustando o fotógrafo. Quem a segurava era Kuroko, que nenhum dos dois havia percebido a volta.

– Kasamatsu está certo, Kise, você não pode fugir do trabalho.

O modelo esticou-se para pegar a xícara, assoprando o líquido logo em seguida.

– Até você não, Kuroko. Eu só queria um tempo para descansar.

Kise bebeu um gole enquanto Kasamatsu o observava, nunca se cansava de olhar para o loiro, os detalhes que seus olhos capitavam eram impressionantes, e cada vez que olhava percebia algo novo, se não um efeito do tempo, algo particular do modelo que não havia reparado antes. Kise lhe era fascinante.

Encontrando seu olhar, o mais alto sorriu, o que o fez corar. Os sorrisos de Kise eram lindos, perguntava-se como o mundo ainda não havia visto a perfeição daquele rapaz, logo ele seria famoso, teria dinheiro e mudaria completamente.

O pensamento fez com que o fotógrafo estremecesse. As intenções de Kise naquele mundo eram puras, mas duvidava que se manteriam assim. Fama, fortuna, admiração, essas coisas mudavam as pessoas, ele sabia, e não lhe ocorria um motivo para o jovem loiro a sua frente ser exceção. Tinha prometido a si mesmo que manteria Kise ‘na linha’, mas quanto tempo poderia levar para que o talento subisse a cabeça e ele o deixasse de lado?

– Está com frio Kasamatsu? – A voz de Kise o puxou para a realidade. – Kuroko, você deveria ter oferecido um banho a ele pelo menos.

O modelo encarava o rapaz mais baixo com reprovação. Como se ele tivesse o direito de fazer isso, pensou. O maior exemplo de mal comportamento que já havia visto era Kise, o modelo não tinha o direito de julgar ninguém.

– Eu ia oferecer, mas você chegou – Kuroko respondeu-lhe.

Kise encarou o rapaz, pronto para responder quando Yukio interviu.

– Eu não teria aceitado de qualquer forma. Não estou com frio, e seria abuso da sua hospitalidade Kuroko, muito obrigado.

– Não seria abuso nenhum – o rapaz de cabelos azuis sorriu.

– E você Kise – continuou – Não tem o direito de repreender ninguém – deu-lhe outro soco.

– Eu só estava preocupado, Kasamatsu – a resposta foi em tom infantil e manhoso.

Antes que o fotógrafo pudesse responder qualquer coisa, Kise o abraçou, fazendo Tetsuya Dois latir pelo desconforto causado. Kasamatsu corou, sem saber como reagir, queria bater no modelo, mas o calor que proveniente dele não o deixou fazer nada. Sentiu-se confortável daquela forma e não queria ser solto.

– Você está encharcado, é claro que está com frio, só essa toalha não é o suficiente.

O máximo que Kasamatsu conseguiu fazer foi reclamar, o que não fez o mais novo desistir. Kuroko observava a cena com um sorriso enigmático, todavia o fotógrafo não tinha força o suficiente para se conscientizar disso e desvencilhar-se do loiro.

A temperatura de seu corpo normalizou rapidamente, e Yukio foi tirado de seu conforto quando Kise teve que solta-lo para entregar sua caneca à Kuroko, que aproveitou para pegar a do fotógrafo também – Kasamatsu corou ao lembrar-se que ainda estava com a xícara, já vazia, nas mãos. Alegou que levaria a louça para a cozinha e deixou os dois sozinhos novamente.

O fotógrafo imediatamente sentou-se ereto, seu rosto vermelho pelo contato anterior, mas agora sentindo sua temperatura bem melhor. Kise riu de sua reação, o que só o fez praguejar e tentar se afastar do modelo, que por sua vez se aproximou ainda mais.

Enquanto tentava manter o modelo longe, uma onda apossou-se do corpo de Kasmatsu, sua garganta se contraiu em dor, fazendo-o gemer e encolher-se no lugar, e foi atingido por um forte espirro.

– Você está doente – constatou Kise.

– Clae a bo- – Sua fala foi interrompida por mais um espirro.

O modelo riu de sua desgraça, o que fez a raiva recém abrandada voltar.

– Obrigado, capitão óbvio – sua voz estava venenosamente carregada de sarcasmo. – Quer declarar algo mais?

O mais novo continuou a rir, curvando-se de forma exagerada.

– Claro, você é cabeça dura e muito chato.

Yukio tentou responder, mas foi acometido por uma série de espirros que pareceram incessantes. Resolveu ignorar Kise, preocupando-se com sua saúde. Provavelmente precisaria de antibióticos, conhecia seu corpo, quando ficava doente era algo sério, sua imunidade era boa demais para um simples resfriado.

– Mas sério, você precisa de roupas e de um banho quente, se não vai acabar trancado em casa doente pelo resto do mês – Kise assumiu um tom preocupado, o que fez Kasmatsu virar-se para ele.

– Eu estou bem – rebateu.

Kise colocou a mão em sua testa. A aproximação súbita do loiro o deixou nervoso. Estava cansado, o frio começava a voltar, sua cabeça passou a latejar de forma incomoda.

– Não consigo sentir sua temperatura direito assim – Kise falou, tocando sua testa com os lábios.

Yukio corou, mas sabia o motivo do modelo fazer aquilo, sua mãe fazia a mesma coisa quando era criança.

– Eu pareço febril, por acaso?

Afastou-se do maior, olhando-o admirado pela postura serena.

– Um pouco. Você precisa se aquecer agora. Sua temperatura está um pouco acima do normal.

Queria perguntar a Kise como e porque ele sabia aquelas coisas, mas quando estava prestes a falar, uma voz veio de trás de ambos.

– Minhas roupas são pequenas demais pra ele, Kise.

Kasamatsu quase caiu do sofá ao ouvir Kuroko se pronunciar.

– Mas eu tenho alguns remédios que podem resolver a febre, e ainda posso oferecer um banho quente.

– Ele aceita – o modelo respondeu antes que Yukio pudesse se contrapor. – E não se preocupe com as roupas – Kise balançou uma bolsa que estava caída aos seus pés.

– Eu não preciso disso – o fotógrafo meteu-se.

– Não seja idiota, Kasamatsu, você só vai piorar se ficar assim. Sua febre vai aumentar.

Olhar para determinação de Kise o fez ceder, o modelo parecia realmente preocupado. Kasamatsu não admitiria, mas gostou de ver aquilo no rosto de Kise, gostou da sensação, por mais irritante que fosse, de ter alguém preocupando-se com ele. Depois de muita insistência, acabou sendo levado até o banheiro que ficava no quarto de Kuroko, onde recebeu uma toalha seca e foi ordenado não sair do banheiro até estar de banho tomado.

Tomou um banho rápido, ainda sentia como estivesse abusando da hospitalidade de Kuroko. Assim que saiu do box, percebeu que não havia roupa nenhuma para vestir, além de sua cueca. Praguejou contra Kise, que seria o responsável por lhe emprestar algo para vestir.

Ouviu três batidas na porta e a voz do loiro chamando-o.

– Se você entrar aqui, eu vou te matar, Kise – respondeu secamente, mas já era tarde demais, Kise havia aberto a porta e estava com uma muda de roupas.

– Qual o problema, Kasmatsu?

Irritado e envergonhado, Kasmastsu pegou as roupas, sem dar mais atenção ao loiro. Pode ver Kise observando-o antes de bater a porta na cara do loiro. Teria que lembrar-se de mata-lo depois.

Vestiu a roupa que lhe foi emprestada, ficou grande, como esperado, já que Kise era alguns bons centímetros mais alto e robusto que ele. Sentiu uma pancada em seu orgulho, um rapaz de 18 anos era maior e mais alto que ele.

A contra gosto, olhou-se no espelho. A camisa que estava usando ficava grande no comprimento e nas mangas, fazendo-o parecer ainda menor, a calça arrastava um pouco no chão, mas nada que fosse atrapalha-lo.

Saiu do banheiro rezando para que não houvesse ninguém lá, mas para seu azar, Kise estava deitado na cama de Kuroko, jogando uma bola pequena para cima. Assim que o viu sair do banheiro, o modelo sentou-se.

– Ah, Kasamtsu- – Kise parou analisando-o.

Notou as bochechas do modelo tingindo-se levemente de vermelho. Queria dar-lhe um chute, mas seria vergonhoso tentar fazer algo da forma que estava.

– Aqui está o remédio para febre – o mais novo entregou-lhe um comprimido e um copo de água sem olha-lo nos olhos.

Tentando ao máximo ignorar o outro, Kasamatsu pegou o comprimido e tomou-o, bebendo a água logo em seguida.

A tensão tomou conta do ar, nenhum dos dois sabia o que dizer. Kasamatsu ficou parado observando Kise, e olhando de relance para o quarto de Kuroko, no qual não haviam muitas cosias a serem vistas, apenas uma escrivaninha com alguns livros e material escolar, uma bola de baquete e uma televisão. Notou que estava faltando algo, então olhou ao redor procurando, mas não viu nenhum sinal de seu anfitrião.

– Onde está o Kuroko?

Kise olhou-o sobressaltado, logo substituindo a expressão pensativa por um sorriso.

– Ah, o Kuroko disse que precisava compara algumas coisas. Falou para ficarmos a vontade que ele não demoraria a voltar.

– Faz muito que ele saiu?

– Não, acho que nem cinco minutos.

A resposta que recebeu não foi animadora, queria passar o mínimo de tempo possível sozinho com Kise estando daquele jeito, era constrangedor.

– Por sinal, suas roupas estão na secadora, logo já devem estar secas.

Kasamatsu suspirou, havia pelo menos uma notícia boa. Sentou-se na cama ao lado de Kise, perguntando-se se outro sempre ficava tão a vontade na casa das pessoas. Ele é muito desleixado.

O silêncio o estava deixando constrangido, não era normal Kise ficar tão quieto, normalmente já teria começado a falar de algo aleatório, que o faria se irritar e brigar com ele. Remexeu-se desconfortável sem saber o que fazer.

– Como você está se sentindo? – Kise perguntou.

– Bem melhor – Kasamatsu respondeu. – Acho que a febre baixou.

– Vamos confirmar isso – o modelou virou-se para ele e colocou os lábios em sua testa novamente, ficando parado por alguns momentos. – Sua temperatura está normal – terminou com um sorriso.

Yukio olhou-o puxar as mangas da camisa deixando metade dos braços aparecendo. Kise tinha braços fortes, sua pele era clara e parecia quase delicada.

– Obrigado – falou ainda olhando para os braços de Kise.

– O que?

– Eu disse obrigado – repetiu dessa vez olhando o modelo nos olhos.

Um sorriso iluminou o rosto de Kise, fazendo o fotógrafo sentir-se levemente envergonhado.

– Merece, Kasamatsu.

Resmungando algo, desviou seus olhos do outro. Kise era irritante, chato, adorava faze-lo sentir-se envergonhado, completamente desleixado e realmente muito, muito irritante, mas algo fazia com que Kasamatsu não conseguisse odiá-lo, não importava o quanto tentasse.

Ouviu o riso do modelo e esforçou-se para não voltar a olha-lo.

– Você fica fofo assim, Kasamatsu, o que aconteceria se as pessoas com quem você trabalha descobrisse isso?

– Não se atreva – Yukio virou-se para o modelo, que riu ainda mais.

– Mas por que não? As pessoas deveriam te ver mais assim.

– Seu idiota – levantou-se da cama seguindo para o andar inferior.

Kise foi atrás, falando sobre como ele era fofo, e como como deveria mostrar aquilo para as pessoas. Logo ambos estavam em uma discussão acalorada sobre ‘como homens não deveriam ser fofos’.

Sentaram-se na sala e falaram de várias coisas, como geralmente faziam em seus encontros. Kise sempre começava um assunto, e logo Kasamatsu era absorvido por ele. Às vezes perdia-se observando o modelo, analisando-o e pensando sobre suas fotos e coisas do gênero, mas sempre era trazido de volta realidade.

Testusya Dois deitou-se no colo de ambos, tirando um cochilo. Yukio havia gostado do cachorro, apesar de preferir gatos, era uma boa companhia, e parecia ter gostado dele também.

Depois de um longo tempo, estranharam a demora de Kuroko, perguntando-se se havia acontecido algo com o rapaz.

– Ele costuma sumir assim? – Kasamatsu perguntou.

– Ele faz isso às vezes, mas está sempre atrás da gente quando acontece – Kise olhou para trás do sofá.

O fotógrafo lhe deu um soco, dizendo que obviamente ele não estaria lá, se não já o teriam visto a muito tempo.

Falar de Kuroko o lembrou de algo, queria perguntar a Kise se o modelo já havia falado dele para os amigos, não queria correr o risco de mais um esquisito – até aquele momento estava convencido que todos os amigos de Kise eram estranhos – o reconhecesse na rua daquela forma.

– Kise, o Kuroko me reconheceu quando me viu, isso quer dizer que você falou de mim para os seus amigos, não é?

– Bem – Kise começou –, sim, eu falei sim, mas não imaginei que alguém fosse te reconhecer. O Aomine diz que eu falo muito de você, mas isso é mentira.

Kasamatsu suspirou, tentando controlar-se para não bater no modelo. Não gostava que falassem dele, nem mesmo que fosse de forma boa. Seu senso de autopreservação era enorme.

– Seu idiota – respondeu simplesmente.

– Mas o que eu fiz? Eu só falei bem de você!

– Isso não vem ao caso.

Kise fez birra defendendo-se, disse que os amigos eram legais, e que gostariam dele, assim como Kuroko e Mursakabara haviam gostado. Yukio só pode suspirar, cansado demais para repreender Kise.

– O que houve? Sua febre está voltando?

– Não, eu só estou cansado – respondeu.

– Você pode dormir.

Kasamatsu negou. Não se sentiria confortável dormindo na casa de alguém daquela forma.

Olhou para Tetsuya Dois que dormia profundamente, acariciou a pelagem do animal, sentindo sua respiração. Poderia ficar mais um tempo daquela forma, estava gostando e como as cosias estavam.

– É uma pena que nossa ida ao cinema não aconteceu – Kise falou de repente.

O fotógrafo voltou-se para ele. Kise aprecia pensativo.

– É, mas nós acabamos aqui, então acho que conta como um encontro.

Kise riu. Ficou em silêncio um momento, um sorriso surgindo em seu rosto.

– Kise? Não venha me dizer que você está tendo uma ideia. Eu não vou participar de nada.

– Ah, mas eu nem disse nada Kasamatsu!

– Não me interessa.

Kise continuou a rir. Kasamatsu sabia que acabaria aceitando a ideia de Kise, desde que começaram com tudo aquilo, não havia conseguido recusar nenhuma das ‘ideias geniais’ do modelo. Imaginou o que ele poderia estar planejando naquele momento, sentindo que iria acabar mal.

– Você é impossível – declarou.

– Eu sei – o loiro sorriu.

Naquele momento ouviram a porta da frente se abrir. Kuroko entrou na sala, e cumprimentou-os. Para o alivio de Yukio, não houveram comentários sobre a sua roupa. Conversaram mais um pouco e logo Kuroko pegou as roupas, já secas, de Kasamatsu, que foi para o banheiro trocar-se, apesar dos protestos de Kise, dizendo que não se importava que ele usasse suas roupas. Logo saiu do banheiro com sua camisa e sua calça jeans, alegando ao modelo que levaria as roupas dele para lavar em casa.

Kuroko, que nenhum dos dois havia percebido a saída e reaparecimento, convidou-os para comer algo, o que Kasamatsu declinou, mas acabou sendo arrastado por Kise.

O dia já estava acabando, e o fotógrafo estava quase admitindo para si mesmo que havia gostado dos acontecimentos. Kuroko era uma boa companhia, apesar de seus sumiços, e Kise não o deixava em paz.


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Notas finais do capítulo

Eeeeeba, deu certo (Bugou as notas inicial e final)



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