Daydreaming escrita por A Stupid Lamb


Capítulo 5
Primeira Lição.




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Resolvi dar uma volta pelo quarteirão, sentindo a brisa balançar meus cabelos e refrescar minha pele.

Eu passava por crianças correndo, casais de mãos dadas, donas de casas na rua, conversando sobre alguma banalidade da vida, em meus pensamentos tecia um breve conto sobre alguns casais que passavam por mim, imaginava também o assunto que cercava as animadas conversas das senhoras em suas varandas, mas, firme em minha mão, o celular queimava, como se eu tivesse segurando uma bomba, prestes a explodir a qualquer momento. O que tornava impossível eu esquece-lo, fazendo com que meu pensamento principal ainda fosse ele.

Depois de um tempo caminhando, resolvi parar em um pequeno cafezinho. Sentei na parte de dentro, não pelo cheiro bom e mesclado de café, bolo e chocolate que o lugar tinha e que geralmente me inspirava para escrever algumas estórias, mas pelo fato dele ser perto da igreja, lugar que minha mãe provavelmente estava.

Comecei a bebericar meu pedido e a mexer no celular distraidamente, quando a cadeira de frente foi puxada e um grandalhão sorridente ocupou o lugar vazio.

“Você está me seguindo ou o que?”

Ele deu de ombros.

“Eu treino aqui do lado e, todo final de treino sempre passo aqui para tomar um café. A senhorita sabe muito bem disso” Seus cachos ruivos ainda estavam molhados, deixando o menino com um rosto quase infantil, não fosse pela barba curta que ele mantinha com um exagerado orgulho. “Nesse caso” Ele se inclinou na mesa, dando um sorriso torto e exibindo um olhar galante. “Acho que é você quem está me perseguindo” Ele piscou, pontuando a frase e me fazendo sorrir.

“Eu?” Tomei um gole da minha bebida. “Te perseguindo?” Soltei uma risada, querendo provoca-lo. “Você é muito convencido, Allan Williams”

“Sei que você não gosta de filmes, mas até mesmo nos livros o mocinho” Ele apontou para o próprio peito. “Sempre fica com a mocinha” Ele apontou para mim.

Meu sorriso vacilou. Allan era meu maior e melhor amigo, fora o único que ficara ao meu lado quando cansei de fingir ser alguém que não era. Por mais que fosse popular por causa da esquipe de natação, ele sempre trocava qualquer festa ou qualquer um se eu pedisse. Por isso que quebrar o coração dele, quebrava o meu também.

“Allan” Comecei, com um suspiro pesado.

Ele levantou as mãos, voltando a postura normal.

“Não precisa repetir, eu já entendi” Sua expressão se tornou séria e o menino encarava meus olhos de uma maneira intensa, que ele só fazia quando o assunto era sério. “Mas eu não desistirei”

Limitei-me a sorrir. Mais uma vez eu estava ali com ele, pronta para lhe contar o porquê não ficaríamos juntos, mas, embora as palavras viessem até minha garganta, quase me sufocando, não tinha a força necessária para coloca-las para fora. Não podia partir o coração dele, não agora que ele estava na véspera da competição mais importante de sua vida.

“Preparado para amanhã?” Perguntei, ansiosa por trocar de assunto.

Ele sorriu, como se fosse uma pergunta tola.

“A bolsa já é minha, Stew” Ele tinha um tom um pouco prepotente, o que me fez revirar os olhos.

Ele estava me contando como estava animado pela competição amanhã, como estava ansioso para ir para a faculdade e o quão incrível seria a festa de comemoração, quando meu celular vibrou. O peguei na mesma hora, desbloqueando e sentindo meu coração aumentar o ritmo e meu sangue gelar quando vi o nome no display.

Caso dobrado que você demorou todo esse tempo pensando em palavras bonitas para me enviar. Só lembre que eu sou a menina dos filmes, você não precisa procurar palavras cultas para me dizer. –Sarah.

Sorri, sabendo que eu ficara corada. Era incrível como, em tão pouco tempo, ela conseguia despertar em mim emoções que ninguém mais despertara.

“Quem é?” Senti uma pontada de ciúme na voz do menino.

Ignorei a pergunta, começando a escrever uma resposta.

Mas você também gostará de livros, sou uma ótima professora. –Troian.

O menino bateu na mesa, fazendo com que eu finalmente desviasse meu olhar para encara-lo.

“Uma amiga” Respondi dando de ombros.

E eu também. Sua primeira aula é daqui a uma hora, topa? –Sarah.

Olhei para o relógio.

Me envia o endereço. –Troian.

Não demorou muito para que ela me respondesse. Olhei para o menino que tinha uma expressão vazia.

“Tenho que ir” Disse, já me lentando e deixando o dinheiro na mesa. “Até amanhã” Abracei o menino, o beijando.

Cheguei em casa em tempo recorde.

“Onde você estava?” A voz da minha mãe era firme, o que indicava que ela estava furiosa.

Corri até a cozinha, a abraçando por trás e dando um sutil beijo em sua bochecha.

“Passeando” Disse, ainda abraçada a ela.

“Com quem?” Ela se desvencilhou do abraço.

Me encostei na mesa, dando de ombros.

“Allan” Falei prontamente, ganhando a atenção dela.

“Ele é um ótimo rapaz” Seu tom era conspiratório, o que me fez revirar os olhos mentalmente, mas sorri por fora. “Deveria convida-lo para vir aqui mais vezes” Ela se voltara para o fogão.

“Somos só amigos, mãe”

“Entendo” Ela olhou para mim e piscou.

Bufei, sabendo que ela nunca desistiria de tentar me juntar com ele, não importa o que eu falasse.

“Vou sair, talvez eu volte tarde, então não se preocupe”

“Mande lembrança para Allan”

Ignorei o comentário dela, indo me arrumar.

Demorei mais tempo do que de costume. Geralmente pegava uma roupa, dava uns retoques no espelho de corpo inteiro e saia, porém, hoje, vesti umas cinco antes de achar uma que me agradasse.

A cada passo que eu dava, meu coração se acelerava e tinha a sensação de que minhas pernas falhariam a qualquer momento.

Desviei um pouco do caminho, mesmo correndo o risco de me atrasar, apenas para passar na livraria. Pode parecer bobeira, mas saberia que isso me traria calma.

“Me desejem sorte” Sussurrei, encostando de leve minha mão no vidro.

Eu estava parada na porta a, pelo menos, uns cinco minutos. Queria bater, mas maus braços não obedeciam.

“Cansei de esperar você bater” Disse a menina, abrindo a porta e me dando um susto. “Entra”

Entrei timidamente, odiando o fato de ter sido pega.

“Eu até deixaria você ficar lá fora, só para ver quanto tempo você ficaria encarando a minha porta, mas eu realmente quero ver um filme”

“Eu só” Meneei a cabeça, deixando a frase morrer.

“Você é muito nervosa” Ela segurou meus ombros, os massageando. “É assim sempre, ou só comigo?”

“Vamos ver o filme ou não?” Disse, me desvencilhando das mãos da menina.

“Ok” Ela disse, se encaminhando para o sofá e oferecendo o lugar vazio ao seu lado para eu me sentar.

Sentei no chão, apoiando o corpo contra o sofá.

“Eu não mordo”

“Eu prefiro sentar no chão”

Ela sentou ao meu lado, oferecendo o balde de pipoca.

“Mais alguma mania que eu deva saber?”

Meneei a cabeça.

“Acho que não, não por enquanto”

“Bom, pensei em começar com os meus preferidos” Ela fez uma pausa, chegando perto de mim como se fosse sussurrar algum segredo obscuro. “Não espere clássicos”

Cheguei ainda mais perto, de modo que nossas respirações se fundiam.

“Eu não sei se um filme é ou não é clássico” Sussurrei, no mesmo tom conspiratório que ela.

Ela sorriu, se afastando.

“Bom, como você gosta de livros, preferi começar com uma de minhas adaptações preferidas”

Tentei não fazer careta. Não curtia muito adaptações.

“Eu sei que você disse que acaba com a magia dos livros, mas pensei que você poderia mudar de ideia se visse essa”

“Pode tentar, mas não é a primeira que me faz ver Harry Potter, aviso que é bom, mas ainda não me faz amar cinema”

“Não é Harry Potter, esse seria o segundo”

“Qual é então?”

Ela abriu um largo sorriso, mostrando a capa de um filme.

“O Código DaVinci?” Arqueei uma sobrancelha.

“Vai falar que você não gosta nem do livro?” Ela disse, soando insegura.

“Pelo contrário, eu amo o livro, por isso não sei se seria uma boa ideia ver o filme estragando o livro”

Ela revirou os olhos, dando o play.

“Pelo menos tente”

Ela se ajeitou do meu lado, nossos braços se tocando de leve, o que tornava quase impossível eu me concentrar totalmente no filme. Minha pele formigava no local em que a dela me tocava.

Peguei um pouco de pipoca e voltei minha atenção para a tela, me esforçando ao máximo para prestar atenção e não decepcionar a garota. Respirei fundo, sabendo que as horas que seguiriam até o final do filme, para mim, seriam as mais angustiantes do dia.


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Notas finais do capítulo

Espero que ainda estejam gostando. Qualquer sugestão, elogio ou xingamento, estamos ai kkkkk... Até a próxima.



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