Daydreaming escrita por A Stupid Lamb


Capítulo 4
Pequena conversa.


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora, mas tem sido tudo muito corrido para mim. Tem competição chegando, teve surto no fandom, tem busca por um trabalho e alguns outros problemas pessoais. Enfim, não consegui revisar o capítulo, então me desculpe por eventuais erros e se está muito confuso, tentarei evitar que isso se repita. Aproveitem o capítulo!



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Passei o restante das aulas no mais profundo mundo dos sonhos. Por mais que eu tentasse, não conseguia tirar a menina de minha cabeça, muito menos o pequeno pedaço de papel que continha os números de seu telefone. De início pensei que estava apenas esperando pensar na mensagem certa para mandar, porém, quando mais pensava, mais afundava-me em um buraco negro.

Foi ai que, na última aula do dia, encarando algum texto literário sem realmente vê-lo ou prestar atenção nos comentários, curiosidades e opiniões, estas que vez ou outra eram apenas coisas banais, ditas com a única intensão de prender a atenção dos alunos – o único motivo que me fazia ficar desconfiada da professora –, da Senhora Solo, percebi que não eram apenas palavras que me faltavam, mas também coragem.

Já lera sobre pessoas tão perdidamente apaixonadas que, apesar das infinitas combinações que as palavras nos permite fazer, falavam não conseguir expressar seus sentimentos. Sempre achara isso uma grande bobagem, para mim, as palavras eram tudo e poderiam, de uma forma doce, cativante e delicada, expressar cada mínimo detalhe do que se era sentido e pensado. Mas ali, em uma aula que eu sempre prestava atenção, que eu fui tomada pela descoberta de que eu estava errada; Ainda assim, eu não queria dar o braço a torcer, resolvi culpar somente o nervosismo, dizendo a mim mesma que, por eu ter me apaixonado por uma estranha, eu sentia medo do que sentia, fazendo as palavras se esquivarem de mim, mantendo meu sentimento encoberto para ela, como se, com um simples oi, eles fossem expostos e a menina se afastasse de mim. Afinal, ela poderia não gostar disso.

O sinal tocou, me tirando dos meus devaneios. Suspirei, recolhi meu material e levantei.

“Senhorita Stewart, pode vir aqui um minuto?”

Virei-me, indo em direção a mesa da professora.

“Pois não”

“Aconteceu alguma coisa?” Ela começou, a voz áspera e baixa, me olhando por cima da armação do óculos meia lua que ela usava.

“Não, por que a pergunta?”

Ela me olhou por um tempo, talvez tentando detectar algum indicio de que eu estava mentindo.

“Você pareceu um pouco distraída durante a aula, você não é assim”

Sorri delicadamente, realmente grata pela preocupação dela. Não fosse pelo fato de que ela apenas falava o que os alunos queriam ouvir, e não a verdadeira história por trás das páginas do livro, tinha certeza de que ela estaria na minha lista de amigos.

“Não é nada tão preocupante assim, mesmo assim obrigada por se importar” Dei o assunto por encerrado e me voltei para a porta.

“Troian” A voz da mulher me fez parar, voltei-me para ela, sem me afastar da porta. “Você é uma garota incrível, não deixe que te façam pensar o contrário”

“Obrigada, senhora Solo” Sai o mais apressadamente da sala, para evitar uma possível continuação do assunto.

Caminhei lentamente até a minha casa, como se isso fosse desacelerar o tempo, me dando mais alguns minutos, quem sabe horas, para pensar no que dizer e reunir coragem suficiente para mandar uma simples mensagem.

Minha mãe não estava, o que me deixou um pouco mais aliviada. Minha mãe era um amor de pessoa quando queria, eu a amava, mas sinto como se nunca fossemos realmente próximas. Não soube o exato momento em que nos afastamos ainda mais, nem o motivo, embora eu desconfiasse, mas sei que, na maioria das vezes, nossos diálogos terminavam em briga, a maioria das vezes porque seu assunto preferido era religião e eu não concorde com a dela.

Não é que eu não acredite, na verdade, ao meu modo, acredito em Deus. Não entendo algumas coisas, mas acredito que exista um Deus. Porém acho que todo o resto é puro jogo de ilusionismo, com o objetivo de entreter, cativar e conquistar a plateia. Tenho isso em mente desde que começara a estudar história por completo e que, entre olhares discriminatórios e palavras ofensivas, começara a ler alguns livros de Dan Brown.

Sai do banho, colocando uma regata e um short, pronta para permanecer em casa o resto do dia. Coloquei o almoço no micro-ondas e tentei não pensar em mais nada; Enquanto comia, fui tomada pelo mesmo sentimento de toda segunda, um sentimento de vazio, comparava com o sentimento de uma mãe que fica muito tempo sem seu filho, embora até o momento eu não tenha tido tal sentimento. Sinto isso pois o senhor Tolkin, dono da livraria, não abria as segundas, privando-me da companhia dos meus livros. Bem verdade que eu tinha a chave, se eu quisesse poderia passar o dia lá, mas achava que isso era, além de invasão, falta de respeito. Então, as segundas, me limitava a olhar pelo vidro da livraria, matando um pouco da vontade de estar rodeadas pelos livros. Era uma vontade tão forte que, mesmo do outro lado do vidro, eu era capaz de sentir o aroma do lugar.

Acebei e fui até meu quarto, pegando uma pequena caixa. Dentro dela tinham cartas que eu havia recebido das meninas que já namorara. Embora nunca tivesse lido nenhuma, tinha certeza que as cartas que Savannah possuía eram bem melhores que aquelas, mas, ainda assim, aquelas eram especiais.

Não namorei muitas, foram três ao todo e todas da cidade vizinha. Eram ótimas meninas e, de certa forma, continuo amigas delas; Reli algumas cartas na esperança de encontrar alguma inspiração, mas só consegui pensar que talvez, eu afastasse as pessoas e visse o pior delas porque eu queria, simplesmente porque me cansava delas; Sempre com as mesmas conversas, sonhos limitados, desesperanças e rotinas que faziam um looping eterno. Me peguei pensando que o problema talvez fosse eu, que as pessoas não fossem assim tão fúteis, apenas repetitivas e cansativas e, ao contrário dos livros, nem sempre era bom ficar relendo. E então, como em um dos truques de mágica, onde um pano se interliga ao outro, outro pensamento me veio à mente, assim como existem livros ótimos, que estamos sempre relendo, existem o que não nos interessa reler, pensei que o mesmo acontece com as pessoas, existem aquelas que, por mais que se repita, é sempre bom passar o máximo de tempo com elas. Eu conhecia três pessoas assim, possivelmente quatro, mas eu tinha certeza que existiam outras.

Foi com um gruindo de frustração que joguei a caixa de lado e me limitei a encarar o teto. Um simples oi não me parecia o mais adequado, mas além disso, nada me vinha a mente. Senti o celular vibrar e atendi antes que pudesse tocar.

“Quem é minha garota preferida?” A voz risonha do outro lado começou.

“O que você quer, Allan?” Disse, me encostando na cabeceira.

“Te tirar de casa e fazer você se divertir”

Revirei os olhos, vasculhando mentalmente alguma boa desculpa para recusar o convite.

“Eu já disse que vou a sua competição, mas não vou na festa”

Escutei ele bufar.

“Não vai comemorar a vitória do seu melhor amigo?”

“Nem sabemos se você vai ganhar ou não”

“Assim você me magoa” Ele fez uma pausa, deixando o som de nossa respiração ser o único a ser ouvido. “Eu sei que nas festas você se dá bem e, com algumas gotas de álcool na mente você conversa animadamente com todo mundo”

“Isso não é verdade”

“Tá, não é. Você conversa com os esquisitões, mas ainda assim, conversa. Por favor, vai”

“Ok, vou pensar”

“É por isso que eu te amo” Ele desligou antes que eu pudesse falar alguma coisa.

Voltei então a estaca zero, quase dando a batalha por vencido e só mandando um simples oi. Deixei meus olhos caírem para o pequeno quadro que eu tinha no meu quarto, algumas folhas presas nele, folhas essas que tinham meus primeiros sonhos, aqueles que eu sonhara quando criança. Lembrava claramente de alguns. Um eu era o Alladin, no outro o Simba, uma viajante do tempo, uma fada, mas um em especial me fez sorrir em esperança. Eu era um soldado.

Levantei da cama de um pulo, pegando uma camisa xadrez e saindo apressada para onde, talvez, encontrasse uma solução.

Bati na porta algumas vezes. Savannah a abriu, com um sorriso gentil e feliz, como sempre exibia quando me via.

“Entre minha menina” Ela me deu passagem.

Sentei no sofá, mexendo inquieta nos dedos. Ela sentou-se na poltrona de frente para mim, respeitando meu silencio. Eu sabia que, caso eu não falasse nada, ela também não falaria, nem que fosse para questionar o motivo do meu silencio.

“Eu conheci uma pessoa” Disse, ainda encarando minhas mãos.

“Outra” Ela tinha um certo humor na voz.

Savannah era a única que sabia da minha orientação sexual e das três meninas que eu já namorara.

“Essa é diferente”

“Está aí um clichê que eu nunca imaginara ouvir de você” Ela disse depois de um tempo. “Isso prova que todos temos em nós futilidades”

Revirei os olhos mentalmente. Savannah amava falar que eu não deveria ter me afastado das pessoas por causa disso, que eu deveria ter mudado, mas não me afastado das pessoas usando um motivo desses.

“O fato é que não a conheço” Disse, deixando o assunto anterior morrer.

“Não me diga que está apaixonada por uma personagem de um livro novamente”

“Emily Bronte não é só uma personagem de um livro, ela existiu de verdade” Defendi meu amor pela escritora britânica. “E eu sempre irei ama-la. Mas essa menina é de verdade, de carne e osso”

“É daqui da cidade?”

Meneei a cabeça em confirmação.

“Qual o nome dela?”

“Sarah Hastings” Ao pronunciar o nome dela, minha voz saiu diferente, um tanto quanto devota e carinhosa. Olhei enfim para a senhora que me escutava. Esta tinha os olhos brilhando e o sorriso ainda mais doce nos lábios.

“Pelo tom de sua voz, suponho que seja um sentimento intenso e verdadeiro esse que sente”

“E é”

“Então qual o problema?” Ela segurou minhas mãos, tentando me reconfortar, talvez.

Expliquei toda a história para ela, desde nosso encontro, até o papel com o número, e então o apagão em minha mente, onde nenhuma palavra ou frase, fosse boa o suficiente.

“Você só está com medo, isso é normal. Você não sabe se ela retribui o que sente e não sabe como ela reagiria se soubesse” Ela afagou meus cabelos. “Você está sentindo medo de perde-la porque você a ama verdadeiramente, por isso está se privando das palavras, seu sentimento é tão forte e grande que você teme que as palavras o entregue e a afaste” Ela fez uma breve pausa. “Mas isso eu sei que você conseguiu entender por si só” Ela fez outra pausa, dessa vez maior, me fitando nos olhos como se conseguisse ver minha alma. “Um soldado vai a guerra para lutar, ele não sabe se morrerá no campo de batalha, ele corre esse risco, mas mesmo assim vai, pois sabe que, caso morra, ele morreu tentando” Ela tocou meu ombro, massageando de leve. “O não você já tem, minha querida, vai atrás do sim”

Ela se levantou, indo até a cozinha. A segui, vendo ela fazer o chocolate quente que tanto amava e deixando o aroma me relaxar.

“Às vezes” Ela disse, colocando uma caneca na minha frente. “A mais simples das respostas e das coisas, são as melhores saídas para um problema complicado” Ela piscou para mim, bebericando de sua caneca.

Tomamos o chocolate em silencio, eu ainda confusa e assustada com o que sentia, mas, de alguma forma mágica, quando tomei o último gole, senti que algo mudara em mim, que eu tinha que ao menos tentar e lutar pelo que eu queria. Se a derrota fosse o destino final, eu terminaria com a sensação de que ao menos eu tentara e lutara por aquilo que queria.

“A senhora tem razão” Disse, me levantando. “Tenho que ir atrás do meu sim” Eu beijei a mulher e a abracei forte antes de sair de sua casa.

Caminhei até a livraria, parando na janela de vidro e olhando os livros lá dentro. Para qualquer pessoa podia soar como maluquice, mas para mim era como se eu tivesse meus amigos ao meu lado, todos torcendo por mim quando eu enviasse a mensagem, até agora, mais importante de minha vida.

Escrevi e pairei o dedo sobre o “enviar” que a tela exibia. Desviei o olhar da tela por um momento, voltando a encarar os livros. Assim que o fiz, uma brisa leve passou por mim, fazendo o aroma dos livros ficar ainda mais forte. Fechei os olhos e coletei o cheiro o máximo que eu pude, como se aquilo fossem palavras de apoio e encorajamento. Por fim enviei a mensagem, torcendo para que o mais simples, fosse um começo grandioso.

Oi. –Troian.

Fora essa a mensagem em que eu confiara todo meu amor.


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Notas finais do capítulo

Mais uma vez desculpa se não ficou bom, realmente não tive tempo de revisar e, como já estou a um tempo sem postar, resolvi fazer sem revisar mesmo. Tentarei postar um outro ainda essa semana -com revisão-. Xingamentos, sugestões e/ou elogios, comentem!! Espero que tenham gostado!! Beijos e até a próxima.



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