Daydreaming escrita por A Stupid Lamb


Capítulo 6
Depois da lição.




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O filme acabou, notei com um certo alívio. Olhei para o lado e a menina tinha os olhos marejados, ainda fixos na tela onde as letras subiam. Sorri, sentindo meus olhos também marejarem só de olhar para ela.

“É um bom filme” Sussurrei, mais para ser gentil do que outra coisa.

Ela se virou para mim, um sorriso tímido estampado em seu rosto; Sequei uma lágrima que escorrera pelo seu rosto, sentido um leve choque onde minha pele tocou na dela.

“Não precisa me agradar” Ela disse depois de um silêncio desconfortável que se instalara. “Eu notei que você parou de prestar atenção antes da metade”

Sorri desconfortada, sentindo-me corar por ter sido descoberta.

“Me desculpe” Disse timidamente.

Notei ela dar de ombros levemente.

“Não esperava conseguir uma vitória de primeira” Ela sorriu mais abertamente, dissipando qualquer traço de que havia chorado. “Se eu conseguisse uma vitória de primeira, então eu não olharia na sua cara amanhã”

Franzi a sobrancelha.

“Por que não?”

“Porque não seria a menina com a qual eu quero fazer amizade” Sua voz era sutil e baixa, tentei detectar qualquer vestígio de que ela estava me dando alguma chance, mas não consegui detectar nada.

“Como assim?”

“A menina que eu quero fazer amizade é uma menina loira, com os olhos esverdeados que, segundo boatos, fumou muita erva medicinal que a fez surtar e mudar completamente da noite para o dia”

“Eles falam isso?” Fiz uma careta ao constatar que era muito pior do que eu imaginava.

Ela meneou com a cabeça.

“E eu quero ser amiga da menina que esconde os olhos esverdeados atrás das lentes do óculos e que é verdadeira o bastante a ponto de ir contra todos os preceitos mesmo podendo, e sendo, tachada como maluca viciada”

“Por que alguém iria querer ser amiga de uma pessoa assim?” Uma certa tristeza apareceu em minha voz; Por mais que eu tentasse negar, ser rejeitada e motivo de piada para todos doía.

“Porque essas pessoas são verdadeiras e não robotizadas pelo mundo.” Ela segurou minhas mãos, talvez notando que eu ficara triste. “Pessoas assim são raras e eu me sentiria muito, muito honrada se eu fosse amiga de uma” Ela sorria encantadoramente.

“E, pela segunda vez no mesmo dia, você me deixou sem palavras”

Passamos um tempo em silêncio, até que ela se levantou, me puxando junto.

“Fica assim ok?” Meneei a cabeça, confirmando. Ela se ajoelhou, ainda segurando minha mão. “Troian Stewart” Ela começou, o tom de voz solene que me fez soltar uma gargalhada. “Aceita ser minha amiga?”

“Isso parece mais um pedido de casamento” Brinquei.

“Te conheço a menos de três dias, ainda não estou certa quanto sua saúde mental ou se você realmente não é uma viciada, então, comecemos com um pedido de amizade”

“Tudo bem, aceito ser sua amiga”

Ela se levantou, me abraçando apertado; Senti meu corpo todo queimar, como se uma onda de choque percorresse meu corpo todo.

Ela se afastou; Mais uma vez um silêncio caiu no ambiente.

“Por que não gostou do filme?” Ela perguntou finalmente, quando ambas já estávamos de volta ao chão, terminando o terceiro balde de pipoca.

“Não é que o filme seja ruim” Comecei. “É só que” Fiz uma pausa maior, tentando encaixar as palavras certas em uma frase coerente. “Quando se lê um livro, você cria os personagens e cenários que você julga se encaixar nas palavras do autor” Dei uma pausa, buscando qualquer vestígio de dúvida no olhar da menina. Continuei quando vi que ela acompanhava. “Com certeza o autor, ao escrever, não pensou no mesmo cenário que eu, assim como o roteirista e o diretor não pensaram no mesmo” Sorri. “É apenas o homem achando que sua visão é melhor que a dos outros”

Ela revirou os olhos.

“Discordo” Disse, categórica, enquanto se servia de mais pipoca. “No livro está tudo detalhadamente narrado, com as mesmas palavras, se todos leem a mesma coisa, obviamente veem a mesma coisa”

“Não exatamente” Me servi de um pouco de pipoca antes de continuar. “Eu não vejo com os seus olhos, vejo com os meus; Não sinto com o seu coração, mas sim com o meu; Não penso com a sua cabeça, mas sim com a minha. Por mais que tudo esteja detalhadamente narrado e que comecemos a ler do mesmo jeito, compreenderemos e veremos a cena por ângulos diferentes, dando nossa própria visão à cena escrita. Uma cena que pode me emocionar, pode não te emocionar, ou ao contrário”

“Então é como se eu falasse que a beleza está nos olhos de quem vê?” Seu tom de voz era interessado, como se ela estivesse realmente entusiasmada com a conversa.

“No coração de quem sente e na mente de quem entende” Completei, sentindo meu sorriso aumentar. “Um livro dificilmente, atrevo-me a dizer que nunca, é lido do mesmo jeito. Nem mesmo se você o tiver relendo” Senti meu coração se acelerar de alegria, o que geralmente acontecia quando me davam corda e me deixavam falar sobre meus livros. “Por isso são mágicos. Eles mudam de acordo com você, de acordo com o que você está sentindo, sem mudar uma palavra do que está escrito” Sorri mais amplamente, se é que era possível. “Como disse Heráclito, uma pessoa não entra duas vezes no mesmo rio. Nesse caso, uma pessoa não lê duas vezes o mesmo livro, mas não porque o livro mudou, mas sim a pessoa, os sentimentos dela, a visão e o entendimento das coisas”

Notei um brilho diferente nos olhos dela, me sentindo ainda mais feliz por vê-la se interessar, e se sentir tão animada, com o que eu havia dito. Quando ela abriu a boca para falar, a porta abriu e uma mulher entrou, totalmente enrolada com algumas sacolas.

Levantei-me e a ajudei, deixando tudo onde ela indicara.

“Troi” A menina começou. Senti um arrepio ao escutar o apelido. “Essa é a minha tia Leslie” Ela disse, apoiando o queixo em um de meus ombros enquanto descansava a mão em outro. “E ela não tem cara de quem esteve em uma clínica psiquiátrica, tem?” Ela completou baixinho, enfatizando a palavra “clínica”.

Empurrei de leve seu corpo, o que fez ela esconder o rosto no meu pescoço para abafar a risada. Engoli em seco e fechei os olhos por um tempo mais demorado, tentando manter o pouco de controle que restava.

Estendi a mão para a mulher, que me olhava confusa, como se tentasse se lembrar de mim.

“Você” Ela começou, as sobrancelhas franzidas em confusão. “Você não me é estranha”

“Sarah disse que essa cidadezinha é especial para a senhora, presumo que já tenha morado aqui então”

“Sim, sim, a muito tempo”

“Provavelmente a senhora me viu bebê ou conhece alguém da minha família”

“Provavelmente” Ficamos em silêncio, a mulher me analisando. “Bom, vou tomar um banho”

Ela saiu, me deixando sozinha com Sarah, que ficou de frente para mim, de braços cruzados.

“Então, de qual clínica psiquiátrica você conhece a minha tia?”

Dei um tapa de leve no braço dela, arrancando a risada encantadora que ela tem.

“Acho que está na hora de ir” Disse.

“Por que não dorme aqui?”

Pensei por um momento no assunto, mas acabei por decidir que não teria controle para isso.

“Melhor eu ir, amanhã temos aula e eu tenho que escolher o seu livro”

Ela fez uma careta, a mais fofa que eu já vira.

“Obrigada por vir” Ela começou, encostada à porta.

“O prazer foi meu”

Passamos um tempo em silêncio, ambas olhando para o céu estrelado.

“Realmente gostei do que você disse sobre os livros”

Sorri para ela, me sentindo muito feliz com essas palavras.

“É o que eu acho”

“Acho melhor você ir antes que fique mais escuro” Concordei com a cabeça. “Até amanhã” Ela se inclinou e me deu um leve beijo na bochecha, fazendo o local formigar.

“Até amanhã” Consegui sussurrar. Virei-me em seguida.

“Avisa quando chegar em casa” Escutei a menina gritar.

“Pode deixar” Gritei por cima do ombro.

Antes de virar a esquina, olhei para trás. A menina permanecia na porta e, quando me viu virada, acenou; Retribui o aceno e virei a esquina, me sentindo feliz como a muito não me sentia.

Não previa o futuro, mas sabia que sonharia com ela essa noite, e essa certeza fez meu coração acelerar ainda mais e a felicidade aumentar, sabendo que os sonhos me alimentariam mesmo que eu nunca a tivesse na vida real.


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Notas finais do capítulo

Espero que gostem e espero não estar decepcionando ninguém. Sugestões, elogios e criticas, comentem. Beijos, até a próxima.



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