Daydreaming escrita por A Stupid Lamb


Capítulo 3
Começando uma nova amizade.


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora, andei meio enrolada. Espero que gostem.



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Passamos a noite na livraria. Conversamos um pouco, nada muito pessoal, basicamente ela me narrava seus filmes preferidos, enquanto eu pontuava as frases dela com um ou outro comentário, mas, na maior parte do tempo, eu dava o máximo de mim para me manter atenta ao que a menina dizia e não ficar perdida no jeito encantador e apaixonado que ela narrava os filmes.

Lhe contei alguns de meus sonhos, mas o fiz como se tivesse narrando um livro, narrando cada mínimo detalhe que eu me lembrava, deixando minha própria mente vagar pelas vielas italianas, pelos antigos castelos britânicos e até mesmo pelas ruas antigas de Paris.

Sempre que eu terminava um sonho, e voltava a focar meus olhos nos da menina, ela estava me olhando encantada, como se a cena se estendesse diante de seus olhos, e então ela sorria, fazendo o ar se dissipar e meu coração parar por breves minutos. E então falava que eu com certeza os realizaria, e que ela adoraria me acompanhar nas aventuras.

Não sei ao certo a hora que pegamos no sono, mas eu agora estava despertando com o celular tocando uma calma melodia. Demorei um tempo para me adaptar à claridade do ambiente e conseguir desligar o celular.

Assim que me senti mais desperta, me levantei. Notei que estava sozinha, suspirei, relembrando o sonho que tive e sorrindo. Caminhei até o balcão para pegar minhas coisas e vi o bilhete.

Oi dorminhoca,

Eu acordei com o sol, só consigo dormir no escuro total. Deixei esse bilhete para não pensar que alguma clínica psiquiátrica passou e me pegou.

Espero que você consiga acordar no horário do colégio. Eu pensei em te acordar, mas você parecia estar em um sonho tão bom que fiquei com pena.

Até o intervalo.

Sarah H.

P.S.: Ainda lembro da nossa aposta!

Sorri, ficando encantada com a preocupação da menina. Olhei a hora, dava tempo de passar em casa para um banho rápido. Peguei minhas coisas, coloquei o bilhete no bolso e praticamente corri as duas quadras que separavam a livraria de minha casa.

Faltavam apenas quatro minutos para o intervalo. Eu não consegui prestar atenção no professor de meia idade que estava explicando a última matéria. Normalmente essa era a aula que eu mais me concentrava e tentava me manter atenta, já que números nunca foram meu forte, porém acabava desistindo, hoje, contudo, eu nem tentara prestar atenção.

Passei a aula toda pensando na menina e se ela ainda falaria comigo. Sei bem como essas pessoas podem fugir da realidade quando o assunto é fofoca, mas saiam ainda mais quando eu era a fofoca.

Assim que chegara ao colégio, já a vira conversando com um grupinho. Observei de longe por um tempo, tentando descobrir o assunto da conversa, mas sem muito sucesso. Então comecei a caminhar até meu armário.

Geralmente, depois de um tempo, um assunto é sempre esquecido, já que as histórias ficam repetitivas e outras novas fofocas e assuntos surgem, mesmo depois de um tempo significativo da minha dita rebeldia, ainda assim, a maioria das pessoas, não só do colégio, me olhavam torto, cochichavam e provavelmente ponderavam sobre minha saúde mental. Percebia isso todos os dias quando passava pelos corredores, e hoje não fora diferente.

Resolvi passar pelo grupo que Sarah estava, e não deu outra, as vozes se tornaram sussurros e os olhares julgadores se viraram em minha direção, mas só um me chamou a atenção; Em um primeiro momento, Sarah tinha o mesmo olhar que as outras, mas depois, quando viu que eu olhava, revirou rapidamente os olhos e fez uma breve cara de tédio.

Foi por isso que passei as primeiras aulas angustiada, desejando ter compreendido que a menina não se assustara com as histórias sobre mim, e que não tinha a intenção de não falar comigo.

Agora eu estava a poucos minutos de ter minha resposta, meu coração parecendo que ia sair pela boca. Foi quando o sinal tocou e eu, que geralmente era a última a sair, praticamente corri para o lado de fora.

Fui para as mesas do jardim, sabendo que me sentiria pressionada no pátio, com todos os olhares em mim e sendo o assunto do almoço. Bom, de certa forma eu seria o assunto do intervalo, mas era melhor ser o assunto do intervalo, sem ver que é o assunto do intervalo.

Olhei todo o perímetro umas três vezes, atrás dos novos, mas para mim já familiares, olhos cinzas. Não encontrei a menina em canto nenhum, então peguei meu caderno da bolsa e comecei a escrever sobre o que sonhara noite anterior.

Não conseguia identificar que lugar era aquele, muito menos em que país ficava, começo a pensar que era simplesmente tirado de minha imaginação, como aqueles bosques, vilas e florestas encantadas que costumavam ser cenários dos meus sonhos infantis.

Mesmo com uma certa familiaridade e coisas em comuns com os cenários que eu pensara estar enterrados em minhas memórias, esse era diferente, me fazia sentir diferente. Não consegui – e mesmo agora, relembrando dele e passando para o papel ainda não consigo – encontrar um nome para esse lugar.

Tinha uma grama baixa, mas não tinha árvores ou flores; Se estendia para além de onde a vista podia enxergar, e conforme ia se afastando, o verde vivo da grama ia se transformando em azul, até se misturar ao céu no horizonte, tornando quase impossível a tarefa de separar um do outro; O sol era vermelho, não vermelho sangue, mas ainda assim, vermelho, era escuro, porém o local era bastante iluminado; Mesmo o local não tendo enfeites ou flores, ele me encantou, ao meus olhos, ele era um dos locais mais bonitos que eu já sonhara.

Comecei a caminhar, saber muito bem o porquê, apenas sentindo essa vontade. Caminhei pelo que pareceu ser horas, mas eu me sentia sempre como antes, na verdade, ao invés de ficar cansada, eu ficava cada vez mais disposta. Achei alguns animais pelo caminho, mas, da mesma forma misteriosa que apareciam, desapareciam.

Por fim cheguei a uma cachoeira. Similar com o lugar onde ia me esconder e passar o tempo, com a diferença que, a água dessa, era cinza, do mesmo tom que os olhos de Sarah.

“Bu”

Dei um pulo quando, no mesmo tempo que a voz gritou, mãos me seguraram pela cintura.

“Você quase me matou do coração, sabia?” Eu sorri, vendo a outra menina também sorri.

Chegamos perto uma da outra e...

“Bú”

Fechei o livro rapidamente, dando um pulo do banco quando mãos tocaram meus ombros. Olhei assustada para cima, me deparando com lindos olhos cinzas e um sorriso de tirar o folego.

“Está devendo?” A menina perguntou, brincalhona, se sentando ao meu lado.

“Digamos que sofri bastante com trotes para temer minha própria sombra”

A menina ponderou por um tempo, então puxou uma nota da carteira, estendendo para mim.

“Você ganhou a aposta, realmente sei tudo sobre você em tempo recorde”

Peguei a nota, sorrindo.

“Agora que cumpriu com sua parte da promessa, pode sair correndo” Olhei em volta, já sabendo que teriam olhares curiosos sobre nós. “Ou você se tornará a amiga da esquisita e amanhã seu nome também estará rolando na boca do povo”

Ela olhou em volta. Depois voltou-se para mim, revirando os olhos.

“Nos conhecemos em uma situação completamente inusitada, você sabe mais de mim do que eu de você, mas mesmo assim, você é a pessoa mais sensata desse lugar, pelo menos das que eu falei” Ela tinha algo indecifrável em sua expressão, como se nem mesmo ela compreendesse o que sentia e o que queria. “Não me importo de ser vista com você, melhor do que ser vista com eles”

Senti meu coração acelerar e um sorriso bobo, por mais que eu quisesse e me esforçasse para não exibi-lo, aparecer em meus lábios. As palavras da menina tiveram em mim um efeito que nunca antes nenhuma outra tivera, como se me renovassem.

“Então, isso quer dizer que você quer ser minha amiga?”

“É isso ou só falar de maquiagens, meninos e de como aquela menina” Ela apontou para uma ruiva, que tinha os cachos revoltos apontando para todas as direções. “Provavelmente não usa condicionador” Ela pôs um dedo na garganta, como se fosse vomitar.

“Depois perguntam porque eu surtei” Disse, mais para mim do que pra ela.

“Mas tem uma condição” Ela tinha um tom desafiador na voz, o que me fez semicerrar os olhos e entrar em seu jogo.

“Diga”

“Você vai me deixar quebrar esse muro que você construiu e me deixar te apresentar ao mundo do cinema”

Fiz uma careta. Sempre odiara filmes, com exceção de alguns desenhos. Os via como algo que estraga e acaba com o encanto e a magia dos livros, como se contasse uma história só para contar, a adaptando da melhor maneira possível para se lucrar e conseguir o maior número de seguidores. E não para encantar e por prazer de se contar uma, verdadeiramente boa, história.

“Desde que eu possa te apresentar alguns livros também”

Ela ponderou, mas por fim deu de ombros.

“Justo” Ela baixou os olhos. “Começando por este”

Olhei para meu caderno de sonhos e meneei a cabeça.

“Esse é meu. Particular. Meus sonhos”

Ela me encarou por um tempo.

“Quem sabe um dia eu não os veja, e até participe deles, né?”

Sorri, pensando em como ela reagiria se soubesse que, ontem à noite, ela já entrara nele.

“Quem sabe” Me limitei a responder.

A menina sorriu e estendeu um papel, se levantando justamente quando o sinal anunciou o fim do intervalo.

Fiquei um tempo ainda sentada, pensando no que acabara de acontecer. Abri o papel e tinha um número de celular. Salvei na agenda e me levantei, tentando criar alguma mensagem boa para enviar para a menina, enquanto acrescentava mais um amigo a minha tão limitada lista.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado... Comentem!!! Beijos, até a próxima!



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