A cada dia piorava o treino. Eriem já havia sido “convidada” a andar em uma corda sobre o rio. Pela Lua, ela já não aguentava mais isso, mas tinha que fazer, porque senão iria quebrar sua promessa e ficar em dívida com aquele homem...

Hoje o treino parecia ser pior ainda. Finalmente haviam começado a usar lâminas pesadas, mas sem corte algum (já que ocorrera um acidente em uma das vezes que treinavam e Eriem acabou por acertar ele em suas partes baixas. O espadachim ficou exatos três dias deitado sem poder se levantar enquanto ela tinha que cuidar dele), para ninguém se machucar.

Ela já estava começando a baixar a guarda, pois já estava muito cansada então deu seu último golpe que o surpreendeu, colocando a espada debaixo do seu pescoço.

–E tudo volta ao início...

Ela havia apenas sussurrado aquilo, mas ele escutou.

–O que volta ao início?

–Nada que deva se importar...

Ela já estava indo para a caverna novamente, guardar a espada, mas ele a pegou pelo braço. Naquele momento, uma faísca passou entre eles e ela se soltou rapidamente.

O que era aquilo? Ela simplesmente não sabia dizer.

–Ei! Me diz o que você pensa! Assim não tem graça...

Estavam na entrada da caverna quando ela finalmente olhou pra ele. O sol já estava se pondo e isso fazia com que luz e sombras brincassem no rosto dele. Ele era lindo, mais do que ela podia imaginar. Ela foi caminhando devagar até ele e parou em sua frente enquanto se inclinava até seu ouvido e sussurrava.

–Você fica muito fofo bravo desse jeito sabia?

De repente, ele ficou muito vermelho e ela também. Por sorte, ele nada via.

–Você é malvada sabia?

–É eu sei...

Eriem saiu correndo da caverna deixando ele sozinho enquanto ela mesma ia se banhar no rio. Não aguentava mais aquelas roupas suadas e o corpo cheio de poeira.

–Yuki! Isso é injusto! Estou com fome!!!

Ele estava claramente brincando porque sorria. Era uma coisa muito estranha poder tomar banho com ele “olhando” para ela nua. Tudo bem, ele não enxergava e isso fazia parte da estranheza. Ficar sem roupas na frente de um homem era algo difícil, mas ela já não mais se importava.

–Eu sei criatura, já estou acabando!

Outra coisa que ele odiava, quando ela o chamava de criatura. Mas ela não podia fazer nada já que era um mau hábito. Fora que era bem divertido o ver tentando criar apelidos como esse para ela.

Ela adorava entrar no rio a essa hora porque a água ficava na temperatura ideal, nem muito quente, nem muito fria. Infelizmente ela nunca podia fazer isso sem que ele ficasse bravo, então tinha que terminar logo.

Ela teria que ir até a caverna pegar a outra roupa limpa. Com as roupas que ela havia usado para servir a ele por engano, havia conseguido fazer outras quatro roupas diferentes e assim não precisava ficar esperando em um rio ou caverna enquanto suas roupas de guerreira secavam.

–Rukasu, fecha os olhos, preciso pegar minhas roupas!

–Você manda um CEGO fechar os olhos porque tem medo de ser vista nua? É idiota ou o que?

Pronto, ele tinha arrumado um motivo ótimo agora pra ela ficar brava. Odiava ser chamada de idiota, ainda mais por ele.

–Não, só preciso ter certeza de que seu deus sol não te devolveu a visão assim do nada.

Ele já estava com os olhos fechados, então não argumentou novamente e ela pôde se trocar de costas.

–Sabe, você deve ser muito feia se me pede pra ficar de olho fechado toda hora sendo que toma banho sem precisar disso.

Isso era a gota d’água, ele a conhecia, já havia visto seu rosto e parte do seu corpo. Ela ainda era muito jovem, mas seu corpo era desejado por muitos homens da sua aldeia.

–Você deveria calar a boca sabe? Se não pode ver, então não pode argumentar e vai logo tomar um banho também senão vai ficar sem jantar!

Pela deusa, se isso era o que ela precisava aguentar para poder ajudar a ele, estava tornando-se cada momento pior. Tomara que ele volte com um humor melhor.

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Ainda bem que ela já tinha feito o jantar, porque ele não tinha falado nada sobre o que queria ou não comer.

–Ei, não vai mais falar comigo não?

Nada, ele parecia não querer mais falar mesmo com ela. Por fim, ela acabou por se irritar e o segurou pela gola.

–Rukasu, estou literalmente cansada de você me ignorar, odeio dizer isso, mas se continuar assim vou te deixar.

–Se me odeia, porque está me ajudando?

Ótimo, agora sim ele a havia pego em um ponto fraco. Ela o soltou e se sentou, esgotada.

–Não te odeio, só não gosto que você fique me ignorando ou sendo rude comigo. Só estou cansada de tanto treinar e não ter nada de volta.

Ele estava olhando pra ela com calma até demais.

–Tudo bem, você quer mudar o treino, nós mudamos.

–Obrigada, agora vou dormir. Boa noite durma bem.

–Boa noite Yuki...

Ela estava muito fraca e cansada e queria muito dormir. Deitou-se e adormeceu rapidamente.