Quebrando as correntes do destino escrita por Jose twilightnmecbd


Capítulo 46
Infortúnio


Notas iniciais do capítulo

POV Narrador



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07/07/1883. Sábado.

Isabella sentiu-se embalada e estava gostando da sensação quando abriu os olhos para a claridade. Estava sendo carregada nos braços por um escravo e seu pai ia a frente.

─ Ei! Solte-me! – começou a se debater de tal maneira que o escravo já não tinha mais jeito de segurá-la.

─ Pode soltá-la. – o comendador se virou para eles. – Agora que acordou ela pode vir andando.

─ Não vou a lugar algum, papai! – ela olhou para trás e viu o galpão onde estava com Edward a poucos passos. Virou-se e começou a andar de volta para lá.

─ Isabella! – a voz estridente de seu pai a fez estremecer.

Isabella olhou para ele, mas deu de ombros e continuou andando. O comendador que ainda gozava de boa saúde, com poucos passos largos e firmes, alcançou Isabella e pegou-lhe no braço.

─ Papai, não vou a lugar nenhum com o senhor nem com ninguém! Edward precisa de mim, é ao lado dele que devo ficar!

O comendador arregalou os olhos e bradou.

─ Irás voltar comigo agora mesmo e não quero mais ouvir uma única palavra! João, vá buscar meu cavalo! Levarei você nem que seja amarrada! – o comendador começou a arrastar Isabella pelo braço. – Onde já se viu uma vergonha dessas! Volto para acertar seu noivado e a encontro na senzala! Queres me desmoralizar? Para que serviu todos esses anos na Europa?

─ Para que eu adquirisse experiência. – Isabella ironizou.

O comendador levantou uma sobrancelha para ela, sem entender o que ela quis dizer.

─ Escute aqui, Isabella, irás se casar com o senhor Mike e ponto final!

─ Não! Eu não o amo, eu amo... amo Edward!

O comendador parou de andar, mas não largou o braço dela.

─ Não sabes o que dizes... isso é... é... impossível!

─ Por quê? Por que ele é um escravo? Pois saiba que ele é mais homem que muitos outros que conheci. Eu o amo sim, de todas as formas que uma mulher pode amar um homem. Com meu coração, alma e meu corpo.

O comendador ficou pálido e fulminando Isabella com o olhar, largou o braço dela.

─ O que estas tentando me dizer? Tu te perdeste com Edward?

─ Perder? – ela soltou um riso debochado. – Com Edward eu me encontrei, papai. Sabe todos esses anos que passei na Europa? Fui mais escrava que qualquer um de sua senzala. Fui vendida e usada num bordel de quinta categoria em Paris.

─ Isso não pode ser verdade! E as cartas da madre superiora?

─ Falsas. Forjadas por ela mesma. E se eu mesma não tivesse cavado minha sorte, talvez nunca voltaria para casa.

Uma chuva fina e gélida começou a cair sobre os dois.

─ Isabella, minha filha... – o comendador passou a mão na cabeça e fechou os olhos.

Isabella teve vontade de chorar mas se segurou.

─ Por isso e por tudo tenho o direito de escolher a quem amar. E eu escolho Edward.

─ Não pode! – ele esbravejou.

Isabella tomou um susto.

─ Não posso por quê? Por que ele é um escravo? Por que ele não tem dinheiro para um acordo nupcial? Não me importo! Nenhum julgamento social ou moral irá me impedir de...

─ Nem um julgamento divino? – as palavras saíram quase sem som.

─ O senhor acha mesmo que Deus me julgaria por me unir a um escravo? Escravo esse que o senhor pode libertar! Não acredito num Deus preconceituoso como o seu!

─ Por ele ser um escravo não. Mas por ele ser... seu irmão.

A chuva aumentou e Isabella sentia-se por dentro exatamente como por fora: Uma torrente desabando em sua cabeça, destruindo tudo que via pela frente. Ela tonteou e suas pernas viraram gelatina. Seu pai correu para acudi-la.

─ Isabella, minha filha, fale comigo! – o comendador a sacudia com desespero.

O escravo voltava com o cavalo e o comendador pegando sua filha nos braços a colocou no cavalo, montou e seguiu a todo galope para casa.

Isabella mirava o teto de seu quarto e toda a conversa que tivera com seu pai, depois de acordada do susto, voltava como tiros de canhões em sua mente.

Ela fazia um resumo mental para não enlouquecer:

Seu pai havia se deitado com a mucama de sua mãe. Ela engravidara e dissera que o filho era dele. Morrera no parto. Seu pai escondia isso até dele mesmo. Achava que sua mãe desconfiava e por isso fez tudo o que fez por Edward, mas eles nunca tocaram no assunto.

Por que mesmo ele nunca dera a alforria de Edward? Se tivesse dado, talvez eles nunca tivessem se encontrado e não teriam se amado. Talvez. Mas seu pai não dera nenhuma razão lógica para negar a alforria de Edward. Disse apenas que pensara na sua esposa, que ficaria sozinha e triste se Edward fosse embora. Mais um talvez.

Naquele dia Isabella não almoçou, não lanchou e na janta, Alice tentava às suplicas fazer com que ela tomasse um pouco de sopa.

─ A sinhazinha precisa comer.... – falou chorosa.

─ Não tenho fome Alice. – sua fala era monótona.

─ Então o que? Vai morrer e deixar Edward se matar depois? Precisa seguir sua vida!

─ Que vida?

Alice pousou a colher no prato.

─ Não vais mesmo contar a ele?

─ Não! Ele não pode saber! Foi o acordo que fiz com meu pai. Eu me casaria com Mike e meu pai daria a alforria para Edward. Ninguém saberia da verdade. Isso seria a morte para minha mãe e para a reputação de minha família. Também eu quero poupar Edward dessa vergonha, irei poupá-lo dessa dor e amargura de ter se deitado com... – ela apertou os olhos e as lágrimas rolaram.

─ Vocês são meio irmãos, sinhazinha...

─ Isso não faz diferença, Alice. Não na sociedade em que vivemos. Não para nós. Edward jamais se perdoaria. E também não perdoaria meu pai, sabe-se lá o que ele poderia fazer.

─ Quando será o casamento então?

Isabella voltou a mirar o teto.

─ Daqui uma semana, tempo para Rosalie e as outras escravas aprontarem meu vestido. Amanhã mesmo partiremos de volta a chácara. – Isabella lembrou-se de algo muito importante no momento. – Será mesmo que essa tática de sua mãe irá funcionar?

Alice teve autorização para ir ver sua mãe na fazenda vizinha e voltara de lá com instruções de como Isabella iria sabotar sua primeira noite com o marido para que ele pensasse que ela ainda fosse virgem.

─ Mainha disse que funcionou com muitas sinhás... – ela abaixou a cabeça encabulada.

─ Então que seja. Meu casamento é um contrato e que pelo menos eu tenha filhos para aliviar minha dor e solidão.

Naquela noite e nas próximas, Isabella voltou a ter pesadelos. Mãos e barbas a agarrando e a machucando. Acordou no meio da madrugada gritando pelo nome de Edward.


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