Correntes: Atados pelo Sofrimento escrita por Jacqueline Sampaio


Capítulo 6
Capítulo 5: Sangue




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Embora tenha terminado a assepsia do meu ferimento no banheiro de Edward com a caixa de primeiros socorros que o mesmo me ofereceu, eu não saí de imediato do local. Eu estava pensando em como deveria me sentir agora que Edward havia salvado minha vida, de novo. Eu deveria temê-lo ou não? O que ele era afinal? Tantas perguntas e só havia um meio de ter minhas respostas: eu teria que sair e encará-lo. Foi o que fiz. Segui por um extenso corredor até as escadas que dariam para a sala.

Edward estava de pé encarando esculturas de madeira em cima de uma estante na lareira. Tentei fazer com que meus passos soassem ruidosos para que ele percebesse que eu estava me aproximando, mas mesmo assim ele não se virou para me encarar. Notei que trocara de roupa, usava uma camisa social verde escura e calça jeans preta, os pés descalços. Quando eu estava a uns dois metros dele...

-Fico feliz que tenha conseguido estancar seu ferimento.

-Pois é. Obrigada por ter me deixado fazer isso aqui. Eu não queria dar explicações ao Billy e aos demais. E... Desculpe pelo incomodo. –Falei fitando o chão. Edward virou-se, nesse momento a primeira coisa que notei é que meu livro “Vampiros de A a Z” estava em suas mãos. Edward caminhou até o sofá de couro marrom, largo, baixo, sentou-se. Ele tinha um meio sorriso sarcástico nos lábios enquanto folheava o livro.

-Pesquisa de campo? –Murmurou olhando para mim.

-É pra um trabalho da escola.

-Que eu saiba os estudantes de Forks estão no período de férias de verão.

Pronto, eu não tinha mais nenhuma desculpa.

-Ok esse livro é pra pesquisa de campo. Não tem nada haver com você!

-Quer mesmo que acredite nisso, Isabella? –Ele levantou-se do sofá deixando o livro em cima do mesmo. Observava-me dos pés a cabeça enquanto caminhava até mim, passou a me rondar.

-Hmmm... Eu estou curioso sobre algo. Por que se cortou ao invés de fugir dos lobos?

-Acho que você sabe o porquê.

-Não, eu não sei. Por isso estou perguntando para você, Isabella. Por que se cortou ao invés de correr?

-Eu caio muito quando corro.

-Por que não tentou pegar um galho de uma árvore para se defender?

-Eu não ia conseguir me defender de todos aqueles lobos. Minha única chance era... Era que alguém percebesse que estava correndo perigo e viesse me ajudar. –Senti que Edward parou atrás de mim, estava tão próximo que sentia sua respiração fria na minha nuca. Arrepiei-me.

-Então por isso se cortou. Sabia que eu iria ao seu encontro após sentir o seu sangue escorrer. Muito inteligente, mas... Eu poderia ter, naquele momento, passado de protetor a predador. O que você faria se isso acontecesse? –Eu quase poderia sentir a frieza de sua pele tão próxima a minha, os lábios quase tocando minha nuca.

-Eu lhe diria “Obrigada” antes do fim. –Sinceridade. Foi assim que agi. Edward afastou-se, tenho certeza que eu o confundira com minha resposta.

-Resposta interessante. Acredito que temos uma suicida em potencial aqui. –Ele afastou-se. –Melhor i menina, sua família deve estar preocupada.

-Família? Bom eu acho que mortos não tem preocupações então tudo bem se eu ficar um tempo desaparecida. –Me aproximei do sofá pegando meu livro. Caminhei para a porta. Num átimo Edward estava em frente à porta, me assustei com seu rápido movimento.

-O que está fazendo?

-Vou ir embora. Só por que não quero ir para a casa do Billy agora não significa que ficarei aqui quando claramente não sou bem vinda. –Falei azeda, indo para a porta. Coloquei a mão na maçaneta, mas Edward segurou minha mão impedindo-me de abrir a porta e sair.

-O que está fazendo? Deixe-me sair! –Retorqui.

-Não desejo que saia. Se quiser permanecer apenas fique.

-Não foi o que pareceu com suas palavras, Edward. –Falei entredentes. Edward deu um sorriso soturno.

-Não me interprete mal. Apenas estou surpreso com sua resolução. Depois do que houve pensei que iria querer distancia de mim e, no entanto... –Eu me aproximei de seus lábios e sussurrei:

-Talvez eu goste de coisas perigosas.

-Interessante. Você é bem diferente dos humanos com quem lido. –Edward disse enquanto aproximava-se de mim, nossos lábios a milímetros, as respirações mesclando-se. –O que aconteceu para amar tanto o perigo a ponto de confiar cegamente em mim para salva-la não uma, mas duas vezes? –Ele disse e quase podia sentir o gosto dos lábios nos meus. A lembrança veio de forma potente, meus pais morrendo. Virei-me encarando a porta e deixando Edward a míngua. Eu não queria que ele visse a cara que estava fazendo agora por ter tido subitamente lembranças tão desagradáveis.

-Obrigada por me salvar. Fico devendo. –Disse e sai. Dessa vez Edward não me impediu. Eu segui para a entrada de sua casa que dava para a praia. Surpreendentemente os rapazes ainda estavam surfando, não perceberam meu desaparecimento. Jacob olhou-me sentar em um galho grosso caído na praia e sorriu acenando do mar. Eu sorri de volta e acenei enquanto minha cabeça era tomada por pensamentos perturbadores. Uma idéia no mínimo mórbida me tomou:

Um pedido a Edward.

“Acabe comigo. Acabe com o meu sofrimento.”.

Eu sabia que, como o poderoso predador que aparentava ser, seria algo fácil. Pouparia-me meses de sofrimento com minha enfermidade.

...

Após um longo banho e ignorando o jantar, eu fui para a cama dormir. Estava tão cansada que poderia apostar que assim que deitasse, eu dormiria. Ignorei o livro que comprei, leria em outra ocasião. Após trancar o quarto, desligar as luzes mantendo apenas a do abajur ligada, o que iluminava precariamente o quarto, eu olhei para o machucado que fiz na minha mão.

Eu realmente queria tanto assim a morte? Então por que não deixei aqueles lobos me estraçalharem? Eu era uma incógnita para mim mesma. Ou talvez fosse apenas uma covarde que queria a morte, mas tinha medo quando a mesma batia minha porta. Ou talvez eu só quisesse vê-lo, um rosto querido e...

Eu estaquei com o pensamento. Rosto querido? O de Edward? Um cara que mal conheço e que nem humano é? Eu devia estar verdadeiramente louca! Ajeitando meu travesseiro com as mãos, eu deitei-me mais confortavelmente que pude e fitei o meu teto. A noite estava quente, acabei por abrir a janela e voltei a minha posição original. Fechei os olhos já sentindo o cansaço me alcançar. Uma rajada de vento pareceu passar por mim através da janela. Automaticamente abri meus olhos e então eu o vi, sentado na cadeira da minha escrivaninha que agora estava na minha frente.

-Espero não estar incomodando. Apenas pensei que, já que você tem liberdade para me visitar, eu poderia fazer o mesmo. –Ele falou tão baixo que quase não ouvi suas palavras, quase. Sentei-me na cama vagarosamente cruzando as pernas e o olhando o tempo todo, como se temesse ser atacada ou algo assim enquanto estava distraída. Eu o observei durante alguns minutos sem nada a dizer. Por fim me manifestei.

-Pode me visitar se quiser. Mas ficaria feliz se você se anunciasse. Eu poderia ter morrido do coração com sua súbita aparição. –Falei risonha. Edward deu um meio sorriso.

-Leu o livro que comprou? Sabia que não pode convidar um vampiro para entrar em sua casa, caso o contrário ele será imune a qualquer arma.

-Duvido que alho, prata e estacas de madeira o firam, ou você é como os vampiros da literatura? –Perguntei sem conter a minha curiosidade. Edward parecia conter uma gargalhada.

-De fato não sou como os vampiros da literatura. –Ele se levantou e sentou-se na cama cruzando as pernas assim como eu, ficamos a pouco menos de um metro de frente um para o outro. O silencio novamente nos tomou. Eu queria saber o que ele estava fazendo ali, mas sabia que minha pergunta poderia soar rude e Edward sair. Eu não queria que ele saísse, mas também não conseguiria segurar aquela pergunta.

-Não considere isso uma pergunta rude, ou insatisfação por estar aqui, mas... Por que veio? –Eu me inclinei mais para ele. Edward inclinou-se como se estivesse espelhando meus movimentos.

-Você não sabia? O ser humano é um ser social que precisa estar com os seus para manter a sanidade. Eu não posso me isolar afinal, precisava ter alguém para conversar e você é a única disponível.

-Ser humano? Que eu saiba, eu estou lhe dando com um vampiro. As mesmas filosofias se aplicam a você? –Falei zombeteira. Edward tinha o mesmo sorriso sarcástico nos lábios divertindo-se com minhas indagações.

-Bem eu já fui humano então as mesmas filosofias que estão presentes em sua vida governam a minha vida também.

-Então... O que quer conversar? –Relaxei encostando minhas costas na cabeceira da cama aumentando minimamente o espaço entre nós.

-Por que não tem medo de mim? –Edward falou com tanta intensidade que estremeci. Medo dele? Eu? Bom, era uma boa pergunta. Eu deveria temê-lo, no entanto...

-Acreditaria se eu dissesse que eu não sei? –Dei um meio sorriso. Edward fez o mesmo.

-Claro que acreditaria. Eu também não sei por que não quero devorá-la, embora seu sangue me dê água na boca. –Ele falou aproximando-se de mim, engatinhando pela cama até estarmos tão próximos que meu corpo reagiu em ressonância com o dele. Eu senti meu corpo inteiro tremer, minha respiração ficar ofegante como a dele. O que iria acontecer? Ele me beijaria? Eu deixaria ele me beijar? O que eu deveria fazer? Eu não fiz nada, nem ele. Edward afastou-se rapidamente, olhava-me tenso e então desapareceu pela janela. Eu fiquei chocada com sua atitude. Havia eu feito algo de errado? Eu percebi um pouco tarde o porquê de sua rápida escapada. Passei a mão em meu nariz e vi a mancha de sangue na palma, um sangramento nasal. A dor atingiu-me com força, a boa e velha dor aguda na cabeça. Levantei-me cambaleante para o meu banheiro e, após ligar a luz, olhei horrorizada para meu rosto. Eu estava sangrando, sangrando muito. Tentei conter o sangramento lavando meu rosto na pia, mas mesmo lavando o sangue descia pelas narinas. A dor novamente me golpeou e eu caí no piso do banheiro. Eu não poderia desmaiar ali naquele lugar, não sem antes estacar o sangue e ir para a cama. Eu não queria que Billy ou Jacob me encontrassem naquele estado e me obrigassem a ir até um hospital. Eu não queria nada disso, mas quem disse que tudo ocorre como nós queremos? Tudo ficou escuro e a última coisa que me lembro de ter sentido foi algo frio tocar meu rosto.

 


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