Correntes: Atados pelo Sofrimento escrita por Jacqueline Sampaio


Capítulo 5
Capítulo 4: Chamado




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Não tinha sido um pesadelo, realmente tudo aquilo aconteceu comigo na noite passada. Pude constatar isso ao ver o machucado em minhas mãos e meu pijama sujo pela caminhada no bosque. Em minhas lembranças ainda via Edward, caninos a mostra, olhos com um brilho imprudente, as roupas banhadas em sangue pelos lobos que matou.

Uma batida na porta me despertou da letargia.

-Hei Bells, acorda! Nós vamos sair hoje, lembra-se? –Jacob disse. Droga! Havia prometido a ele que sairíamos juntos!

-Ok Jake. Já acordei. –Murmurei contra o travesseiro.

-Tudo bem. –Ouvi os passos de Jake caminhando para longe do meu quarto. Suspirei derrotada e fui me arrumar. Poderia ser uma boa idéia sair, assim eu não pensaria no que houve envolvendo Edward e não enlouqueceria.

...

-Hei pessoal, aqui está a Bella! –Jake disse colocando seu braço por cima do meu ombro e me exibindo para seus amigos. Eu me senti um bicho de estimação. Diante de mim estavam um grupo de adolescentes muito parecidos com o Jacob, deviam ser descendentes de índios como Jacob e Billy eram.

-Nossa, cara ela é uma gata! –Um dos rapazes falou avaliando-me dos pés a cabeça. Senti-me desconfortável. Até por que não estava me sentindo gata com a calça jeans um pouco surrada que usava junto com meus tênis de guerra branco e uma camisa branca simples por baixo do meu casaco.

-Hei Quil tira o olho dela! –Jake disse divertido ao rapaz que havia feito tal comentário. –Bella essa é a minha gangue: San, Quil, Embry, Paul e Seth. –Ele apontou para cada um dos rapazes. Eu sorri para todos eles.

-Melhor nós irmos logo Jacob. Vamos aproveitar que a praia ainda está seca. –O rapaz aparentemente mais velho de nome San falou levantando-se. Os outros que estavam próximos a ele encostados-se à parede de uma lanchonete fizeram o mesmo. Em pouco tempo estávamos todos dentro de um furgão preto pertencente a San, seguíamos pela auto-estrada para La Push, único divertimento da pequena cidade de Forks, uma praia bela, quase deserta, que ficava próximo a casa de Billy. Eu havia ido aquela praia algumas vezes quando era criança e vivia em Forks com meus pais, eu adorava aquele lugar. Fiquei surpresa quando cheguei lá e, mesmo diante de toda aquela beleza paradisíaca, eu não me senti bem, feliz. Será que era por que havia perdido meus pais? Era provável. Os rapazes estavam esfuziantes. Vi que haviam trazido pranchas de surf e trocavam suas roupas por macacões típicos de surfistas. Eu me afastei do grupo e sentei-me no galho seco e já esbranquiçado de uma árvore.  

-O dia está bonito, não é? Algo raro aqui em Forks. –Era Jake. Sentou-se ao meu lado.

-O que? Não vai surfar com os outros rapazes?

-Não. As ondas não estão boas e, prefiro sua companhia ao do mar. –Jake olhou-me e sorriu. Eu sorri de volta. O grupo de amigos de Jake passara por nós, estavam devidamente trajados para surfar, corriam e brincavam uns com os outros, uma cena bonita de coleguismo.

-Bells, quer caminhar? Deve ser um saco ficar muito tempo parada. Agente pode caminhar pela praia. –Jake sugeriu. Sinceramente ficar parada para mim era melhor, até por que eu estava com os músculos doloridos pela corrida frenética que tive no bosque.

-Tudo bem. –Eu assenti. Seguimos pela beira da praia a esquerda da praia.

-HEI GALERA! EU E A BELLA VAMOS CAMINHAR! –Ele gritou para seus amigos. Um deles, San, acenou. Não ouvi os murmúrios entre os amigos, mas poderia jurar que eles especulavam sobre o tipo de relação que eu e Jacob temos. Começamos uma lenta caminhada, Jake puxou assunto e conversamos sobre bobagens. Eu não estava dando muita atenção a conversa ou ao caminho que fazíamos, isso até uma construção me chamar a atenção. Um terreno cercado por um muro alto, portões de ferro alto que impossibilitavam de alguém ver algo nítido no interior da propriedade. Parei minha caminhada e fixei meu olhar naquela mansão.

-De quem é aquela mansão? Não me lembro dela por aqui.

-Ah, isso é por que ela é nova, tem uns dois anos.

-Quem mora nela? –Como se eu não soubesse!

-Não sei bem, o cara malmente sai. Acho que o sobrenome dele é Collen, Cuten... Algo assim. Nem sei o primeiro nome dele.

-Por que ele não sai?

-Não sei Bells. As poucas vezes em que alguém o viu foi ao anoitecer. O cara é estranho. Vamos continuar nosso passeio. –Jake pegou em minha mão. Eu não repeli seu contato, mas também eu não fiquei a vontade. Eu nunca gostei muito de contato físico com outras pessoas, nem mesmo com os meus pais. Muitas pessoas acharam que isso era frescura minha, algumas até cogitaram a possibilidade de eu ser altista, vai entender! Continuamos a nossa caminhada pela praia, meus olhos aos poucos deixaram a grande casa e se fixaram sem vontade alguma para frente. Estranho dizer, mas a todo o momento, desde que me aproximei do casarão, eu me senti sendo vigiada.

...

-Quer dizer que você conseguiu a proeza de levar Bella para passear? Fico feliz com isso! –Billy disse enquanto se servia do jantar, eu comia quieta, sentado na mesma com ele e Jacob. Às vezes dava sorrisos esporádicos. Eu odiava aquela sensação de peixe fora da água que me acompanhava não importasse aonde eu fosse. E eu sabia que aquilo nunca passaria. Refletindo sobre minha conclusão tive de admitir que houve sim um lugar onde me senti a vontade: a casa de Edward. Mesmo ele sendo um desconhecido, mesmo aquela casa sendo desconhecida, ainda sim eu me senti bem lá, ouvindo-o tocar naquele piano de calda.

-Sim. Nem acredito que Bella saiu! E amanhã sairemos novamente! Não é Bella? –Jacob olhou para mim esperançoso. Eu assenti. Embora o passeio não tenha sido desagradável eu não me encontrava com disposição para sair novamente.

Eu fui uma mera espectadora do entrosamento de Tio Billy e Jacob. Não agüentando todo aquele clima familiar, me recolhi mais cedo do que o costume.

Quando sai do banheiro após um banho, eu olhei pela janela e tive aquela vontade de sair e ir à casa de Edward. Claro que eu não poderia sair afinal o Edward era... O que o Edward era afinal? Toda a sua descrição daquela noite se resumia a uma palavra: vampiro. Estremeci com minha conclusão. Eu nunca fui de acreditar nessas estórias, minha mãe nunca me impressionou com estórias fantásticas. Agora me sentia desnorteada por estar diante de uma criatura mística. Cheguei a pensar na possibilidade de que tudo o que tinha visto tivesse sido obra de meu problema de saúde, essa era uma explicação que queria agarrar como um náufrago segura uma bóia em meio a uma tempestade.

Entregue as minhas duvidas eu nem tinha percebido que uma musica soava ao longe, Clair de Lune. Era Edward. Arremeteu-me a lembrança de que Edward usara a música para me chamar até ele. Era tentador, mas eu não iria. A lembrança de seus caninos sujos de sangue era o suficiente para me manter bem longe dele.

...

Desta vez passeamos por Forks eu e o grupo de Jake. Eles eram divertidos e faziam de tudo para me deixar a vontade. Eu não conseguia me sentir a vontade com eles, realmente eu era absurda. Um rápido giro pela cidade que não se modificou quase nada desde minha saída. Quando passeávamos pela avenida principal eu estaquei. Vi uma livraria.

-Hei Jake, pode pedir para pararmos? Quero ver um livro. –Eu falei. Jake, que estava sentado ao meu lado no furgão de San, falou:

-Gente vamos dar uma parada. A Bells quer comprar um livro.

Eu sabia que minha idéia de ir a uma livraria não fora muito bem aceita, mas ninguém reclamou e San estacionou. Eu desci com Jacob em meu encalço.

-Eu não vou demorar Jake. Prometo. Fique ai com os seus amigos. –Jake queria me acompanhar, eu podia ver isso em seus olhos. Mas ele aceitou numa boa meu pedido.

-Tudo bem. Agente espera o tempo que for. Sem pressa. –Ele disse piscando para mim. Eu sorri e fui até a livraria.

Decepção.

Aquela livraria quase não tinha bons livros ara vender, a maioria era exotérica. Eu sabia que era perda de tempo tentar encontrar algum clássico. Enquanto olhava as prateleiras algo me chamou atenção: um livro.

“Vampiros de A a Z?” –Estranhei o titulo. Peguei o livro, mas nem poderia folheá-lo pelo mesmo estar envolto em um plástico. Resolvi comprá-lo. Eu sei era muita imbecilidade minha, mas na atual circunstancia não custava nada comprar um material de pesquisa. Eu o comprei e pedi ao atendente para embrulhá-lo bem. Não queria que Jacob e os meninos vissem o titulo. Eu não cheguei a demorar, logo seguíamos para nosso passeio por Forks.

...

Última parada: praia de La Push. Era fim de tarde e as ondas estavam magníficas. Desta vez Jake decidiu surfar com seus amigos. Eu me empoleirei no tronco de uma árvore e retirei o livro do plástico. Comecei a ler. Era algo bem simples, um livro mostrando os diferentes tipos de vampiros pelo mundo. Antes eu acharia um livro deste ridículo, mas, após ver com meus próprios olhos um deles, era como se tudo aquilo no livro fosse real. Existiam vampiros dos mais diversos tipos com os mais diferentes poderes. Alguns belos como anjos (certamente Edward se encaixava nesse perfil) e outros horripilantes como monstros. Muitos dos vampiros citados lembraram-me Edward: rápidos, velozes, caninos grandes e até mesmo a sua pele fria (constatei a frieza certa vez quando nos tocamos).

Mais cinco minutos de leitura foi o suficiente para achar aquele livro uma grande babaquice. Levantei-me e passei a caminhar, sem me preocupar em avisar aos outros que daria um rápido passeio, o livro em minhas mãos. Eu não sabia se o que estava acontecendo envolvendo Edward era bom ou ruim. Talvez fosse bom, assim eu não pensaria tanto na morte de meus pais ou no meu futuro. Por outro era ruim, eu julgar Edward a coisa mais interessante daqui e persegui-lo ao invés de correr. Eu não sabia ao certo o que ele era, mas estava na cara que se eu quisesse continuar a viver... Interrompi meus pensamentos. Queria mesmo prolongar minha vida dessa forma? Não era eu que estava ansiando pelo meu fim? E eu havia encontrado uma boa forma de ter meu fim rapidamente, uma forma bela e sedutora que poderia, quem sabe, fazer aquele grande favor para mim.

Eu estaquei após um tempo de caminhada e percebi que estava em frente ao portão da casa de Edward.

“Será que eu devia... Não sei. Não importa, ele me salvou naquele dia. Deveria ter agradecido.” –Caminhei até o portão e fiz menção de abri-lo, mas isso não ocorreu de imediato. Ainda me permiti ficar prostrada em frente ao portão e decidir o melhor. Após instantes de reflexão, abri o portão que estava destrancado e penetrei na mansão.

Eu não sabia muito bem o que faria, se bateria sua porta e agradeceria ou se covardemente sairia sem ser percebida. Enquanto caminhava, meus olhos fixos nas janelas na tentativa de vê-lo, eu acabei por tomar uma decisão nada edificante. Segui direto para os fundos onde poderia sair da propriedade e chegar à casa de Billy.

Burra! Idiota! Covarde! Eu não parava de me xingar. Diante de tudo o que passei e que iria passar, como eu poderia fugir de Edward? Eu não deveria temer nada mais a essa altura, mas eu temia. Pateticamente temia. Havia algo em sua figura que me repelia, aquela imagem que guardei na mente de não um ser humano, mas uma criatura sedenta por sangue, por morte. Instintivamente caminhei mais rapidamente, não demorei a entrar no bosque pela trilha que me levaria para casa.  

Desta vez eu não iria me perder, o Sol ainda reluzia fraco por entre a copa das árvores. A trilha estava nítida. Caminhei despreocupada pelo local demorando mais do que o necessário. Eu não queria encontrar com ninguém na casa, talvez Billy estivesse lá. Eu provavelmente acabaria parando e sentando em uma pedra esperando mais alguns minutos se eu não tivesse ouvido um ruído familiar. Um uivo. Meu coração saltitou. Lembranças do dia em que quase fui morta por lobos vieram.  

“Merda! Devo ter algum feromônio estranho que está atraindo lobos pra mim!” –Pensei em meio ao pânico enquanto praticamente corria pela trilha. Como poderia existir alguém mais azarada do que eu? Vi um vulto passar ao meu lado e passei então a correr desenfreada. Uma rápida olhada e tive a certeza que eram lobos. Eu sabia que não conseguiria correr muito, já sentia a exaustão me atingir. Claro que eu não fazia muita questão de viver, mas ser comida por lobos não era algo que estava na gama de minhas escolhas. Eu tive uma idéia insana e sabia que era minha única alternativa. Peguei do bolso minhas chaves de casa e usando a chave com ponta mais afiada produzi um corte na palma da mão direita. Já podia ver a casa a minha frente, mas tropecei antes de chegar ao local. Eu olhei aterrorizada para os lobos a minha frente e fechei os olhos quando os vi vir em minha direção.

“MERDA! EU VOU MORRER! EU VOU MORRER!” –Minha mente gritava.

Um uivo.

Grunhidos.

O barulho cessou bruscamente.

Eu não abri meus olhos de imediato. Temia abrir e me deparar com a face horrenda de um lobo. No entanto, por ainda estar respirando, achei que não teria problema. Ao abrir meus olhos eu me deparei a milímetros com a face de Edward, os lábios levemente manchados com o sangue dos lobos que matou, caninos a mostra, os olhos com um brilho estranho, cor de ocre. Ele soprou em meu rosto e senti um cheiro maravilhoso vindo do seu hálito. Edward deu um meio sorriso enquanto eu estava paralisada como morta.

-Encontrei você, Isabella. –Ele sussurrou e então eu soube que meu plano havia tido sucesso, Edward atendeu ao meu chamado através do meu sangue.  


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Notas finais do capítulo

Gente ajudem a aumentar minha popularidade o/
ah obrigada por lerem e comentem por favor! o/