Quando você tem dezesseis anos, a maiorias das pessoas desejam ganhar um carro, eu não era exceção, mas minha tia Vitoria achou muito comum, então ela me chamou depois da escola e me levou em um estande de tiro, me fez ficar treinando com ela a tarde toda. Quando estávamos para chegar em casa, parou o carro e pegou uma caixa de presente preta com bolinhas rosas. Eu me lembro bem da minha expressão de horrorizada quando abri aquela caixa.

Agora eu estou com aquela caixa nas mãos de novo, abro e dentro há uma Glock vinte e seis e três pentes embrulhados em papel ceda rosa. Minha tia é meio esquisita! Na hora eu fiquei pasma, como ela podia dar de presente uma arma para mim. Ela disse que se eu não precisasse deixasse a caixa escondida, mas se precisasse eu já tinha habilidade para usa-la. Agora acho que era hora de colocar minhas habilidades em xeque.

Tomei um banho e me troquei, deixei a janela entreaberta (não acredito que ele fosse aparecer hoje, porém não quero mais janelas quebradas), fui para cama e dormi rápido mas com sonhos muito tumultuados. Acordei no susto, olhei no relógio eram três e vinte da madrugada. Resolvi me levantar e tomar um copo de água. Quando passo pelo sofá vejo que tenho um visitante ali.

Vou para a cozinha bebo minha água, e penso sinceramente em deixa-lo dormindo no sofá, mas minha consciência pesa.

–Oliver? Oliver?

– O que foi? – Sua voz é sonolenta como se não quisesse acordar.

–Vem pra cama. –Ele me olha e balança a cabeça afirmativamente.

Vou primeiro e deixo a luz acesa, ele não demora a chegar, apaga a luz e deitasse. Ele diz:

– Você me dá forças.

–Então não me afaste de novo. –Isso é um aviso para ele se controlar.

– Não.

Dormimos até tarde novamente, e dessa vez um sono tranquilo e relaxado, como em tão pouco tempo ele já exercia esse poder sobre mim?

Me levantei em silencio para que ele não acordasse, fui ao banheiro tomar um banho, enchi a banheira enquanto escovava os dentes. Eu adoro ouvir musica enquanto tomo banho, peguei meu celular e coloquei em uma pasta onde tinha as minha musicas favorita, pus os meus fones no ouvido e entrei na banheira. A primeira musica a tocar foi Never gonna be alone do Nikelback. Quando ele iria perceber que ele não estava mais sozinho em uma ilha, que eu estaria com ele.

Por causa dos fones não ouvi quando Oliver entrou na banheira, levei um susto. Ele posicionou-se entre a banheira e eu, fazendo minhas costas encostarem-se a seu peito, retirou um dos fones do meu ouvido e colocou em seu próprio. Passou suas mãos em volta da minha cintura e eu encostei minha cabeça em sua omoplata.

Passamos o resto da manha naquela banheira.

Quando terminamos o banho e nos trocamos, percebo que estou com muita fome. Vou até a cozinha e abro a geladeira em busca de algo. Oliver vem por traz de mim e a fecha.

–O que você pensa que esta fazendo?

–Eu to com fome, da licença?

–Não. –Ele me olha com um olhar brincalhão, vejo que ele esta achando muita graça da situação, sinceramente não entendo.

–Como não?

–Vamos comer fora!

–Oliver eu agradeço a convite e tudo mais, mas prefiro comer por aqui mesmo, você sabe o que aconteceria se nós fossemos a um restaurante?

– O quê?

–Amanhã estaria publicado em todas as revistas de fofocas e colunas sociais.

–Ao meu ver são a mesma coisa.- Ignorei seu comentário.

–Portanto, sai da frente dessa geladeira, e deixe eu pegar alguma coisa para comer. –Ele não saiu e a sua expressão de divertimento só aumentava. - Então?

–Então vamos sair para comer fora!

–Oliver...

–Vamos à minha casa.

–Oliver sua família vai estar lá....

–Minha mãe quer um almoço em família e pediu para que eu a levasse. –Meu queixo caiu no chão.

–Você contou para sua mãe?- Eu estava horrorizada. - Depois de eu ter te pedido para não contar?

–Ei calma lá, eu disse que eu ia te dar um tempo, depois eu não contei, para ela já estamos juntos já há algum tempo. E ontem quando eu cheguei em casa ela percebeu que eu estava diferente, e me perguntou se agente tinha brigado, eu fiquei espantado, mas ela disse que havia notado como estamos sempre juntos, e que nossa ligação é muito forte, então deduziu que estávamos realmente juntos.- Ele deu uma risada, como se estivesse sem graça, e continuou.- Ela falou que se eu estivesse tão mau quanto parecia, precisava vir até você e conversar. Mas quando cheguei aqui você estava dormindo, e eu estava com medo de você me expulsar, ai você me chamou para ir para cama, e eu sabia que iriamos ficar bem.

–Tapado! – Eu estava irada.

Ele me olhou atônico.

–Como eu iria te expulsar? Eu perguntei se você viria para casa comigo.

–Sei lá, mas a questão é que temos um almoço com minha mãe, irmã e o Roy.

–Ótimo, além do Daniel, provavelmente o Caio, Diggle, sua mãe, agora Thea e Roy? Porque não anunciar em um outdoor?

Ele me abraça e me dá um selinho.

–Por mim tudo bem.

Eu o olho com olhos acusadores, e ele ri descaradamente.

Eu estava deitada na cama do Oliver, ele estava dormindo ao meu lado, um sono leve e tranquilo. Levantei-me e vesti a sua camisa que estava jogada em um canto do quarto. Como é que tínhamos chegado aqui?

Quando chegamos à mansão Queen eu estava tremendo na base, Oliver olhava para mim e dava risada:

–Vai ficar tudo bem. Minha mãe gosta de você.

–Ela gosta da sua assistente, não sei quanto à nora.

–Nora? – Ele sente o peso da palavra e isso me apavora.

–Foi você que colocou nomes no nosso relacionamento. Você me chamou de namorada, lembra-se?

–Sim, é que você nunca tinha assumido assim. Gostei!

–Vai gostando, quero ver quando for um almoço com a minha família, o que você vai ter para gostar? – O sorriso some do seu rosto. – Viu?!

–Chega de pensar nisso, uma coisa de cada vez.

Nós dois passamos pela porta e somos recebidos com um ‘Finalmente’ vindo de algum lugar dentro da casa.

Aparece uma Thea revolta por uma das portas que fica localizada atrás das escadas.

–Sabe que horas são? Eu estou morrendo de fome, mamãe não deixou ninguém comer nada desde o café, ela entrou naquela cozinha e se trancou lá dentro, dispensou todos os empregados, falou que era uma ocasião de família, e sem ninguém mais.

–Mamãe na cozinha?

–Eu sei, aterrorizante. Mas a mãe falou que era só a família. –Thea falou e me encarou, eu não sabia onde enfiar minha cara. Oliver decidiu contar para a sua irmã e evitar mais constrangimento.

–Thea você já conhece a Felicity...

–Sei a sua assistente!

–Felicity é minha assistente e minha namorada. – Thea ficou muda por um tempo, mas logo abriu um imenso sorriso que me mostrava que era bem vinda.

– Já era hora desse meu irmão tomar juízo, sinceramente estava apavorada com a ideia de você se envolver com aquela tal de Isabel. Ela me dá medo!

–Thea sua mãe está te chamando. –Roy vem saindo da mesma porta que Thea tinha vindo há pouco. Thea sai correndo até ele e agarra seu abraço e o arrasta até nós.

–Roy você conhece a Felicity? – Ele concorda com a cabeça.

–Nos conhecemos do clube. - Eu concordo com a cabeça.

–Ela é a namorada do Oliver. – Ele faz uma pequena cara de espanto, mas me dá um sorriso de boas vindas.

– Ai estão vocês. – a Sra. Queen sai de uma porta na lateral esquerda, ela usava um avental que estava bem sujo e seus cabelos estavam amarrados em um coque. Vem até nós parou em frente de Oliver e deu um forte beijo em sua bochecha esquerda. Olhou pra mim e me deu um grande sorriso. – Que bom que você tenha vindo. Venha o almoço esta pronto.

Olive olhou assustado para sua mãe.

–Mãe desde quando você cozinha?

–Fazia algum tempo que eu não ia para cozinha, desde que eu casei com o seu pai. Mas depois que passei aquele tempo na prisão, eu queria comemorar com meus filhos que são o mais importante para mim e é claro com as pessoas que são mais importantes pra eles também. –Falando isso ela coloca a mão no braço do Roy e dá um largo sorriso para mim. – Então vamos comer?

–Vamos. –Thea parecia desesperada. Sinceramente depois que Oliver falou que iriamos comer na sua casa toda a minha fome tinha desaparecido. Fomos até a cozinha, e Oliver não largou minha mão, parecia sentir que precisava de um pouco de ajuda.

–Oliver e Thea coloquem a mesa por favor? – Os dois se olharam sem saber muito o que fazer.

–Mãe até colocamos mas onde fica o jogo de jantar. –Thea olhava meio perdida naquela enorme cozinha, com certeza era o sonho de muitos chefes ter uma cozinha como aquela.

–Francamente meninos, nos armário a direita do fogão. Levem tudo para sala de jantar. Menos você dois. –Ela olhou para mim e para Roy. - Eu quero ver como meus filhos lidam com isso!

Oliver já tinha achado algumas coisas e trazia para a mesa.

–Mãe se a intenção é ter um almoço intimista, em família, aquela mesa enorme na sala de jantar tira um pouco esse proposito. Porque não almoçamos aqui na cozinha mesmo?

–Isso mãe, eu realmente gosto dessa ideia. –Thea veio por traz de sua mãe e deu um beijo no seu rosto.

–Ok, mas arrumem direito essa mesa e Oliver pege um vinho.

Oliver e Thea se entreolharam e reviraram os olhos.

O almoço estava uma delicia o que foi um choque para a prole Queen. Moira (porque a Sra. Queen me proibiu de chama-la de uma maneira tão formal) surpreendeu a todos. Serviu salmão ao molho de aspargos, e de sobremesa torta de sorvete. Depois do almoço conversamos e rimos muito, Moira realmente queria um ambiente mais tranquilo e familiar possível. Quando todos terminamos me levantei e comecei a tirar meu prato, Moira criou uma grande objeção:

– Nem pense nisso Felicity, você não vai mexer nisso.

–Sra Queen...

–O quê foi que eu disso sobre isso de Sra. Queen?

–Desculpe, Moira, mas você dispensou todos os funcionários hoje não foi?

–Isso, mas pode deixar que eu cuido dessa cozinha.

–Não mãe você já fez muito, nos quatro cuidamos da bagunça agora. –Oliver foi para a pia, vi sua cara de perdido. Ficar preso em uma ilha ok, lavar uma louça nem tanto!

–Ok, eu vou tomar uma banho agora então. –Ela passou por cada um e deu um leve beijo, quando chegou à porta virou-se. - Felicity, Roy, obrigada. Obrigada por fazer meus filhos felizes. – Eu realmente não sabia o que dizer e pela a expressão do Roy ele tão pouco.

Virei para a pia e falei:

– Eu lavo, Oliver seca, Thea guarda e Roy limpa o chão.

Em poucos minutos estava tudo arrumado. Tanto que quando Moira apareceu levou um susto.

–Vocês foram rápidos.

Oliver levou-me para dar um tour pela casa, mostrando a sala de tv, de jogos, a piscina, o jardim, a sala de musica (o que era de mais, já que naquela casa ninguém tocava nada, mas ali tinha um Piano, violino e violão selo). Ele me levou até o seu quarto e fiquei impressionada como era lindo, elegante e simples ao mesmo tempo.

–Como tudo isso aqui, me pergunto por que você passa tanto tempo na minha casa?

–Você realmente não sabe? –Ele veio até mim, e me deu um leve beijo nos lábios. – Te dou uma chance.

– Hum vejamos? - Apertei seu coxão e disse brincado. – É isso, minha cama é mais confortável que a sua!

–Isso também. –Ele admitiu.

Descemos, e percebi quão tarde era. Virei-me para Oliver, e perguntei se podíamos ir embora? Moira me ouviu e chamou minha atenção.

– Vocês dois beberam hoje, não estão em condições de dirigir.

–Então vou pedir um táxi.

–Não vai não. Roy vai dormir aqui, você poderia fazer a mesma coisa.

Olhei para Oliver, e ele assentiu.

–Isso Felicity, durma aqui hoje.

–Oliver, eu não trousse nada e amanhã é segunda-feira e preciso levantar cedo.

–Saímos um pouco mais cedo e você se troca em casa.

–Pronto. –Moira interviu.- Resolvido.

Eu vi que era inútil brigar, eu era voto vencido.

–Então me digam para que vocês tem uma sala de musicas se ninguém aqui sabe tocar.

–Minha mãe sempre esperou que um de seus filhos tivesse alguma inclinação para musica, coitada!- Thea descia as escadas segurando a mão de Roy.

Ficamos ali conversamos e nos distraímos um pouco, mas eu já estava ficando meio sonolenta, Moira vendo isso falou que iria se deitar me deixando a vontade para chamar Oliver para dormir também.

Eu estava encabulada uma coisa era dormir com ele em meu apartamento e outra era dormir na casa de sua família. É claro que ele percebeu isso e fez pouco caso da minha vergonha.

–Não fique tímida. Casa grande. E velha. Paredes grossas. Ninguém nos ouvirá.

Ele saiu e foi para o banheiro me deixando a vontade para pensar em todo o dia. Quando ele saiu me passou uma toalha e foi minha vez de tomar um banho. Quando estava me secando ele passou pela porta.

–Tem escova de dente e tudo que você possa precisar na primeira gaveta embaixo da pia. – O agradeci, quando sai do banheiro estava enrolada na toalha.

–Você poderia me emprestas alguma roupa?

Ele me olhou com uma cara brincalhona, e me puxou para cama.

–Para o que eu estou pensando em fazer, você não precisa de roupa.

Agora era quase três horas da manhã e eu estava sentada em uma poltrona olhando a escuridão através da janela.

–Perdeu o sono? – Ouço a sua voz sonolenta, olho para ele, e ele este perfeito ainda na cama, agora sentado me encarando.

–Muita coisa para assimilar. – Digo com uma voz profunda.

– Eu sei!- Ele espera um tempo e continua. - Você podia pensar aqui na cama?- ele abre os braços e um convite irrecusável. Eu me levanto e jogo-me nele. Aconchego-me em seus braços. - Você sabe que eu não deixaria nada de mal acontecer com você?!

–Não é só o que acontecer comigo que me preocupar, mas o que pode acontecer com Diggle, sua mãe, sua irmã, com todos, mas principalmente o que acontecer com você, se acontecer alguma coisa com eles ou comigo o peso que isso vai tem em você. Oliver eu te amo, e não suportaria que nada de ruim te acontecesse.

Ele pisca perplexo com a minha confissão, ele abre a boca, com a intenção de falar algo. Eu coloco meu dedo o impedindo.

–Não quero uma resposta, não era uma pergunta. Quando você estiver pronto, se um dia estiver pronto, ai sim você pode me dizer. – Ele me abraça forte e caio em um sono tranquilo