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—Criança tola. - uma voz masculina e ameaçadora reverbera pela caverna escura.

—Quem está aí? - nada se via.

—Não me reconhece? Esqueceu de tudo que fiz você passar? - escuto passos rápidos de cavalos por toda parte, mas não os vejo, ouço apenas sua voz sarcástica. - Esqueceu do medo?

—Pitch...

—Ainda acredita em mim... - ele ri - era só disso que eu precisava saber.

—O que...?

—Enquanto você tiver medo, eu vou continuar existindo para você.

—Eu não tenho medo de você!

—Apenas continue acreditando. - ele fala. - continue - ri maléfico - bons sonhos...

E um clarão toma conta da minha mente.

~•~

—Elsa - uma voz masculina fala, mas não é uma voz maléfica. - não tenha medo.

A voz parece se misturar com uma outra, Pitch.

Era como uma briga entre as duas vozes.

Mais um clarão.

~•~

—Hey!

Dou um pulo na cama de susto.

Jack Frost se encontrava pairando acima de mim. De onde ele veio? Como conseguiu entrar?

—Isso está se repetindo! - Resmungo.

E ele ri colocando os pés no chão.

—Você estava se mexendo muito enquanto dormia... - Ele fala e eu franzo o lábio. - pesadelo?

Concordo com a cabeça.

Ele deita-se ao meu lado e desejo que o tempo congele. Mas não tenho esse poder.

—O que foi que você sonhou?

—Eu não me lembro. - minto.

—Certeza?

—Sim. - sinto minha garganta fechar, não acredito que ainda minto para ele.

—Então quer dizer que agora você é imortal...

—E onde isso poderia ser bom? - o corto.

—Ah, não sei.

Suspiro.

—Isso só irá prolongar meus medos.

—Ei. - ele segura meu queixo com os dedos - Você não precisa ter medo, está tudo acabado, Pitch foi embora, você nos salvou, chega disso.

—Não Jack, eu não salvei vocês, pelo contrário, fui eu quem os levou para toda essa confusão.

—Você sabe o que eu penso sobre isso não é?

—Sei. - digo triste.

—Escuta - ele me olha nos olhos se apoiando em uma das mãos - eu sei de todas as coisas que te fizeram ser como você é, e eu te amo por isso. E eu te amo apesar disso, e eu vou te amar para sempre.

Sorrio e o olho, puxando sua boca para junto da minha, não sei por que mas tive vontade de fazer isso.

Me separo.

—Não fui acostumada a pessoas falando assim comigo.

—Melhor se acostumar. - ele fala sério e eu sorrio.

—O que eu fiz pra te merecer? Eu nunca pensei que alguém realmente me amaria.

—Nós descobrimos o amor juntos. - ele fica de barriga para cima e olha para o teto nevando agora.

—Não, com certeza alguém já te amou.

—Elsa - sorri um sorriso triste - minha vida, ou morte, também foi muito complicada, ver todas aquelas pessoas passando por dentro de mim, como se eu não existisse, aquilo machucava, ninguém me via, ninguém acreditava em mim - ele sorri com um olhar distante - ninguém me amava.

Me viro para ele, ficando de lado.

—Eu acreditei em você.

—E você me viu.

—Sim - faço uma pausa o encarando sem expressão nenhuma em meu rosto - e eu te amo.

Ele sorri.

—Você me tirou do meu mundo solitário. - diz brincalhão.

—Assim como você me tirou do meu.

Sorrio.

—Você esteve sempre lá comigo, não é?

—Sou seu guardião, você querendo ou não.

—Desculpa ter saído correndo, eu não aguentava mais eles falando. - eu digo.

—Eles já foram. - Jack deita-se de lado para me olhar, eu estou de barriga para cima. - digamos que um marshmallow gigante os manterá afastados por um tempo, não fui eu que o fiz, juro.

O encaro e rio.

—Por que você não veio junto com eles?

—Porque eu sabia que eles iam te irritar e eu não queria estar aqui quando isso acontecesse - dá de ombros - porque eu sei bem como é uma rainha Elsa irritada - ele ri e eu também acabo rindo.

—Ah é né?

—É!

Formo uma bola de neve na mão e jogo nele.

—Ei! - ele reclama mas está rindo.

Ele forma uma bola de neve e joga em mim, depois se levanta com um travesseiro na mão como se fosse um escudo, pego o meu também.

—Se é guerra que você quer, é guerra que você vai ter! - digo e rio jogando mais bolas nele.

Ele se defende com os travesseiros mas algumas pegam nele o fazendo rir.

Rio também quando ele joga uma bola de neve em mim do tamanho da minha cabeça, e cai no meu cabelo o enchendo de neve.

—Ei! - dou risada e continuo brincando.

Uma guerra de bolas de neve.

Duas pessoas em um quarto feito de gelo.

Travesseiros como escudo.

Tinha que ser obra do Jack Frost.

Ele se esquiva de uma bola minha e se aproxima.

Continuo jogando bolas o impedindo de continuar chegando perto.

Rimos quando uma bola enorme acerta seu peito fazendo ele parar.

—Será que eu posso te beijar? - ele pergunta indignado e ri, me fazendo rir também.

—Não! - finjo indignação e continuo rindo.

Ele continua chegando mais perto, até que seu rosto fica a poucos centímetros do meu.

Nossos lábios frios roçam um no outro.

E uma bola de neve gigante cai bem em cima de Jack, o deixando totalmente coberto de neve.

Eu rio.

—Você é teimosa hein? - ele se desvencilha da neve restante.

—Força do hábito, garoto irritante, sei todos os seus passos.

—Mas você não estava esperando por isso! - ele fala batendo o cajado no chão o deixando escorregadio, como se fosse patinação.

Tudo bem que meu castelo já era feito de gelo, mas não era o tipo de gelo que se usa pra patinar, esse gelo que o Jack usou era muito mais liso e sem atrito.

—Ah não Jack, você sabe que eu não gosto de deslizar no gelo, desde o dia que a minha irmã... Você sabe que eu não gosto!

—Eu sei. - ele dá de ombros e se afasta com um sorriso travesso no rosto.

—Ei! volta aqui!

Tento um pé, depois o outro e quase caio.

Jack andava como um profissional ao meu redor. Tentei me lembrar do dia em que patinei com ele.

Tentei mais uma vez.

Comecei devagar e desenhos se formaram.

Quase cai, mas Jack segurou minha cintura e brincamos de deslizar e fazer desenhos.

Ele solta-se de mim e se mostra deslizando perfeitamente enquanto eu ainda dava uns passos pequenos.

Ri e mandei uma frente fria para ele que o derrubou no chão.

—Ai! - ele reclama e eu rio alto.

—Me aguarde, eu sou a diversão, lembra?! - ele se levanta.

—Jack... - advirto preocupada.

Ele se aproxima e uma frente fria maior do que o esperado lambe meu rosto me desequilibrando e me fazendo cair junto a Jack que havia tentado me segurar ainda.

Caímos juntos na cama atrás de mim, um meio de nos apoiar em vez de cair no chão.

Damos risadas, ele está em cima de mim e nossos corpos frios estão colados, nossos mesmos frios, mesmos medos, mortos e vivendo no gelado da própria alma.

Continuamos rindo e dou um pequeno tapa em seu braço.

—Não faça mais isso! - digo com semblante sério e apontando para seu rosto em tom de advertência.

—Foi divertido, não foi?

—Tenho outra opção?

Dessa vez eu deixo quando ele chega perto o suficiente para que nossas bocas geladas virassem uma só.

Uma nevasca.

Uma mistura de amor e diversão.

Frio e adrenalina.

Eu e ele.

Meus poderes são perigosos, sim.

Mas sem eles eu seria apenas normal, e não sei se isso é o que eu realmente quero ser agora.

Espero que não haja mais dor.

E eu espero que meu medo vá embora, porque eu não quero pensar em mais nada.

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