Contos em Miniatura escrita por Goldfield


Capítulo 10
Execução ao Pôr-do-Sol




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Execução ao Pôr-do-Sol

O pôr-do-sol no Rio de Janeiro era um espetáculo à parte. Enquanto o sol bocejava cansado, recolhendo-se demoradamente em seu leito, as radiantes cores da tarde enferrujavam, transformando-se em maleáveis e cheirosas listras laranjas, que iam escurecendo até atingir o breu da noite.

Às vezes nem o sol tinha ido embora e a lua já dava seus gracejos, alta e distante, como uma mulher cujo homem apaixonado não consegue alcançar. O barulho do vento agitava as copas das árvores, que apreciavam atônitas o espetáculo metamórfico do fim vespertino. E o sol ia dormir, atrás das montanhas, enquanto a lua chamava as estrelas para tomarem parte do espetáculo. Elas eram como milhões de bailarinas graciosas, radiando na plataforma celeste. E o som da coruja finalmente anunciava que a noite havia caído.

Mas não na prisão. Na prisão tudo era frieza.

– Sai da cela, vagabundo! – bradou o oficial da PU (Polícia Unificada), abrindo a cela de liga Stelix com seu cartão magnético. – É hoje! Vai conhecer o capeta, assassino nojento!

O detento, Alfredo Torres Menezes, preso por assassinar a esposa, Maria das Dores Menezes, começou a seguir o policial com as mãos apertadas nas algemas elétricas. Logo cruzaram a porta da “Área 9”. Esta deslizou devagar após entrarem, enquanto as intensas luzes brancas no teto faziam os olhos de Alfredo doerem. Em sua mente, grande confusão.

Se ela não tivesse feito aquilo comigo, ela estaria viva agora. Mas ela teve que fazer! Ela teve que me trair com meu melhor amigo! Aquele traficante patife, que vendia seringas de Perestroika no metrô aqui do Rio! Foi me trocar por ele, eu que nunca fui criminoso! Ela me transformou num monstro, obrigando-me a matá-la! Não poderia continuar vivendo com ela sabendo que me traíra. Ela não poderia continuar vivendo.

Havia mais quatro oficiais da PU no local, um deles delegado. O detento condenado, de pé na frente dos inimigos, começou a ouvir calado esse último, cumprindo o protocolo previsto em lei:

– Alfredo Torres Menezes, você é acusado de assassinar com requintes de crueldade sua esposa, Maria das Dores Menezes. De acordo com a Constituição de 2014 e devido à falta de defesa competente, foi condenado à morte. O chip Rihamon inserido cirurgicamente em sua fronte responderá à senha pronunciada por mim com uma descarga elétrica que afetará mortalmente e dolorosamente seu sistema nervoso. Executo a sentença às dezoito horas e treze minutos do dia dez de março, 2028.

Silêncio. Súbito, o delegado exclama, com incrível frieza:

– Ananzabum!

Alfredo estremece e cai de bruços, após rápida convulsão e um grito seco. Os oficiais riem, enquanto o delegado se gaba por ter mandado ao inferno mais um criminoso através de uma simples palavra.

Luiz Fabrício de Oliveira Mendes – “Goldfield”.


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