Magdalena me trouxe algo hoje. Isso me fez repensar tudo o que eu já pensei sobre ela. De verdade. Sabe, talvez ela tenha um bom coração afinal de contas. Uma parte pequenininha, mas existente.

Ela trouxe uma foto de Etta para mim. A foto que eu tinha em casa, que eu deixava no meu quarto, ao lado de uma foto de Arlo, uma de Tom e um quadro meu.

—Ei... - eu a chamei quando ela saiu do banho. Obrigado pela foto.

—Você chorou essa noite. Ficou chamando por ela. Pensei que uma foto faria você parar de choramingar e me dar um descanso.

—Eu chorei?

Isso não é comum para mim. Eu não choro desde os doze anos. E não, não é essa coisa de "ser machão". Eu só não tinha motivos pra chorar.

—Aham. - ela nem olhou pra mim. - Parecia um filhote de cachorro. Quase não dormi por causa disso.

—Obrigado, de qualquer forma.

—Tá, tá. - ela balançou a mão como que me dispensando.

Lena disse que vamos sair daqui hoje. Eu sinceramente estou muito animado com isso. Cansei de ficar preso nessa porra de apartamento. Não nasci pra ficar parado, então quando Magdalena me chamou para arrumar as malas, eu não hesitei nenhum segundo para obedece-la. Só quero sair logo daqui.

Com o capuz sobre a cabeça, Arlo no bolso do casaco e as malas cobrindo parte do meu rosto, nós saímos do hotel e fomos para o carro novo que Magdalena arranjou. Sentei no banco de trás e ela no do motorista. Tirei Arlo do bolso e o deixei dentro de uma pequena caixa.

—Deus, achei que fosse morrer dentro daquele quarto.– disse.

—Você reclama demais. Você está livre.

—Ah, sério? Estou livre?

—Não, talvez não seja essa a palavra correta. –a voz dela ficou mais grave do que a minha. –Mas você não está em uma cadeia, você pode sair de um lugar para o outro pelo menos uma vez a cada mês, você tem companhia, tem boa comida... mas não liberdade, porém não seria a primeira vez que alguém abriria mão da liberdade para ter segurança.

—Ei, eu nunca escolhi nada disso!

—Ah, não? Então tá. -ela parou o carro no acostamento, saiu e abriu a porta ao meu lado. - aqui, decida. Pode ficar comigo ou pode tentar a própria sorte. Não está feliz? Pegue essa tartaruga e saia do carro. Me dê um pouco de paz.

Parei para pensar. Eu não ia sobreviver um mês sozinho. Eu seguiria meus padrões e Melinda teria minha cabeça como prêmio.

Se eu soubesse que ela iria ficar doida desse jeito eu nunca teria chegado perto dela.

E eu com certeza não quero chegar perto dela novamente.

—Tá. Você venceu. Continue, capitã. -resmunguei.

Ela fechou a porta com força e voltou para o banco do motorista.

—Eu fui contratada para isso, Zachary Russell. Não gosto de ficar presa. Não gosto de hotéis e, sobretudo, não gosto de ficar presa a você. É só um trabalho. - ela não olhou para mim.Eu nunca tentei fazer com que os mais clientes ficassem mais confortáveis porque, francamente, eu não gosto dos meus clientes. Vocês fizeram merda e merecem pagar. Mas você não fez nada além só seu trabalho, por isso estou tentando se benevolente contigo. Não me faça mudar de ideia.

Eu não disse nada. Só agradeci novamente pela foto de Etta.

Não vou deixar Melinda vencer.

—Você conhece a desgraçada?

—Sim.–ela responde.

Ela ficou calada. Como se um simples "sim" respondesse todas as questões de todos os universos existentes (eu acredito em universos paralelos, mas isso é história pra outro momento).

—Posso perguntar como, ou é exigir demais de vossa excelência?

Arlo olhou para mim como quem diz "se você quer morrer, não é mais fácil se jogar da ponte?". Eu mandei ele calar a boca.

—Sim, é pedir demais.

—Vamos, como quer me deixar confortável se nem posso te conhecer?

—Isso não pertence a você para saber.

—Ei, se tem a ver com a Melinda tem a ver comigo. A mulher quer acabar com a minha vida! Ela quer me ver dormindo de conchinha com o capeta, se você a conhece então tem informação, não pode me privar disso!

—Ela é minha irmã mais nova, feliz agora?!

—Vai pra puta que pariu, Magdalena! E nem pense em me bater! Não tem como você ser irmã daquela... Daquela coisa!

—É melhor calar essa boca, Russell! ela freia o carro bruscamente.

—Vou calar porra nenhuma! Se você tá falando sério, como é que eu poderia confiar em você?! Como posso saber que não vai me levar pra boca da mocreia?!

—Tá me chamando de traidora?

—Tô falando que tem chance!

—Ela pode ser minha irmã, mas nunca trairia ninguém por ela. Não tenho nenhum sentimento positivo por ela, do mesmo jeito que você e não tem.

—Meu Deus, Magdalena... Como assim você esconde essas coisas? Eu não ligo se você tem medo de escuro ou se odeia seu pai ou se gosta de Pokemon, mas isso...

—E de onde diabos você tirou essas ideias?

—Eu sou um vingador, Magdalena, eu consigo minhas informações e nem tente desviar do assunto! Fala o que você sabe sobre Melinda e eu vou acabar com toda essa porra agora!

—Eu não sei nada sobre ela.

—Vai se foder! Você tem que saber alguma coisa, são irmãs!

—Nós somos meio-irmãs. Ela é filha do bastardo do meu pai. Não crescemos juntas, não sei sobre ela. Eu juro.

—Você é ucraniana pelo menos, ou foi outra mentira?

—Eu sou. Melinda é alemã. Não temos absolutamente nada em comum a não ser nosso pai, então se acalma ok?

Peguei Arlo de sua caixa e o coloquei bem perto do rosto de Magdalena.

—Você não mentiria para uma tartaruga, certo?

—Não, Zach, não mentiria para uma tartaruga. –um leve sorriso. O primeiro em meses.

—Tá. Eu vou me acalmar.

Ela assentiu e voltou a dirigir.

Eu fiquei bem puto com toda essa história, queria que vocês sentissem isso também, por isso fiz meu melhor pra transcrever aqui.

Enfim, Magdalena vai me deixar em uma fazenda de uns amigos de confiança dela e não, eu não estou nem um pouco a vontade com essa ideia. Arlo também não parece estar pondo muita fé nisso não. Estou tentando acreditar que vamos ficar bem. Afinal ela não mentiria para uma tartaruga, certo?

E aqui está Etta:

se essa porcaria me trollar de novo, então vou deixar um link aqui:

http://www.destrinchando.com.br/wp-content/uploads/2013/04/Jane+Birkin+86365_11_122_544lo.jpg

Queria poder dizer a ela que nada disso é verdade e que eu estou bem...

Enfim, tenham um bom dia.