Bem, não consegui escrever no dia que saímos do Hotel. Magdalena não deixou. E sim, eu tive que obedecer a maldita.

Agora que finalmente voltei aos braços de vocês, meus queridos leitores, quero deixar minha reclamação. Algo que está ardendo na minha alma:

Magdalena me tirou da cama às 5:00 da manhã. CINCO DA MANHÃ. VOCÊ NÃO TÁ ENTENDENDO MEU PONTO. A PUTA ME TIROU DA CAMA ANTES DO SOL NASCER!

E agora nós estamos há uma semana dentro desse maldito hotel e eu não posso sair por nada. De vez em quando eu abro as cortinas só para ter certeza de que existe um mundo lá fora.

Tô me sentindo o Smeagol. Vivo numa caverna. Meu computador é meu precioso. Magdalena é o Bilbo tirando meu precioso de mim o tempo todo.

E ela não me deixa xingar.

Você pode achar que eu sou um frouxo, mas deixa eu descrever pra você o que aconteceu ontem quando eu disse: eu querio sair e comer torta e que você pode ir se foder, vaca leiteira dos campos de concentração de Hitler.

Tinha suspirado, tinha beijado a lona de repente. Era a primeira vez que me acontecia aquela dura fatalidade. O meu orgulho se esgotava com um golpe doloroso por entre as pernas, e meu corpo aturdido se assemelhava ao de um rato tépido. Sentia um decréscimo de estima por mim mesmo. Ela simplesmente me deixou ali, sentindo a dor lancinante que se estendia por todo meu corpo. Nem mesmo Etta havia me causado dor tão opressora.

Eu sou dramático? Imagina.

Magdalena não gosta nem um pouco de xingamentos e se eu não quiser sofrer com essa dura fatalidade novamente, é melhor eu parar com isso. Ao menos perto dela. Com vocês eu ainda vou xingar pra caralho. Vai ser minha sessão do descarrego.

Bem, me pediram para descrever a Magdalena. Vou fazer isso.

Ela tem 1,70 metro. É forte pra caramba. Não duvido nada que ela me dê K.O. em 30 segundos se ela quiser. Ela é bronzeada, cabelo preto que nem a alma do diabo e os olhos também. Ela parece ser foda. Ainda mais porque gosta de jaquetas de couro e de andar com o cabelo preso. Além de amar fuzilar as pessoas com aqueles pedaços do inferno que ela tem dentro das íris.

Não sei muito sobre ela. Magdalena não fala muito comigo sabe? Só quando é pra brigar comigo ou falar que o Arlo está incomodando ela. Mas consigo algumas informações quando ela acha que não estou olhando/ouvindo.

Lena tem um ódio mortal pelo pai. O motivo não sei.

Um dia fiquei curioso para saber o porquê de Lena sempre dormir depois de mim, mesmo quando ela estava obviamente cansada demais para se manter desperta. Então eu fiz o que qualquer pessoa faria: fingi que estava dormindo e ouvi o que ela dizia.

Lena cantava baixinho, para si mesma, todas as noites. Só peguei algumas palavras: I forgot to turn the lights on (eu esqueci de deixar as luzes ligadas) e you’ll be fine, just breathe (você vai ficar bem, apenas respire).

Eu fiz esse esquema por três noites e ela sempre cantava essa mesma musiquinha. Acho que ela tem medo de escuro. É claro que eu nunca vou perguntar. Ela parece ser o tipo de pessoa que acha que medo é demonstração de fraqueza (o que é mesmo, mas ela levaria a um nível extremo e tentaria me matar).

E eu suspeito que ela goste de Pokémon.

Enfim, isso é tudo que eu sei sobre Magdalena Anastasya.

Não, não sei a idade dela.

**

Tem um tempo que eu não assisto ao noticiário. Magdalena não permite. Ela diz que eu posso perder a cabeça e estragar todo o trabalho dela. Eu queria ver mesmo assim. Pode ter chance de ver alguém que eu conheça. Eu sinto falta da minha antiga rotina. Até mesmo da Nita. Sinto falta do Tom e da mania dele de dar em cima de mulheres 30 anos mais novas do que ele. Sinto falta de torta de morango. De xingar as pedras que eu tropeçava. Xingar a Nita. Xingar meus clientes para a Nita... Minha vida de antes. Não esse martírio que é ficar o dia inteiro com essa Ucraniana que precisa de umas doses de tequila e uma noite de sexo sevalgem.

Não, eu não estou me voluntariando. Nunca dormiria com Magdalena. Na real. Ela é bonita e tudo, mas não. Não consigo me ver transando com ela.

Por falar em sexo, eu não durmo com uma mulher desde o ano novo. Caralho hein? Aí ela reclama quando eu digo que quero sair daqui logo.

**

Eu acabei de ouvir um barulho e fui checar o que era. Quando ouço alguma coisa vou logo ver, com medo de que seja o Arlo se enfiando nas roupas da Magdalena de novo.

Mas dessa vez eu vi a Magdalena desmaiada no banheiro. Um frasco de comprimidos na sua mão.

Mais uma descoberta: Magdalena tem alguma doença.

Eu a levei até a cama e, sim, eu tava morrendo de medo achando que ela tinha se machucado e tudo mais. Mas ela não tinha batido a cabeça, e sim o ombro. Ela não demorou mais do que cinco minutos para acordar e voltar a si.

Aí, ela foi e me explicou que ela tem uma doençNÃO. Ela não falou porrissíma nenhuma pra mim. Ela só agradeceu, disse que estava bem e me mandou continuar a fazer o que estava fazendo antes (que seria escrever isso daqui).

Quando eu vi Magdalena desmaiada, pensei em ligar para Etta.

Por quê?

Etta sempre cuidou dos meus machucados. Até quando eu cresci. Se eu caísse, ficasse gripado, com febre, dor de garganta, qualquer coisa, eu ligava chorando pra ela e Etta ia lá em casa e cuidava de mim. Ela fazia isso para as outras crianças da fazenda lá de casa quando erámos crianças. Mas eu era o mais frequente.

Ela foi a única pessoa que passou na minha cabeça quando vi Magdalena caída lá no chão.

Etta saberia o que fazer. Eu nunca tentei aprender, porque ela sempre estava lá comigo. Ela sempre estava comigo. Se eu, Etta e Tom estivéssemos juntos, isso era casa para mim.

Não gosto de ficar longe de casa desse jeito.

Meu Deus, tô parecendo um idiota. Só não deleto isso porque deu trabalho pra escrever.

Bem, eu vou dormir agora. Magdalena parece cansada e não quero deixar ela acordada depois dessa história do desmaio e tudo.

Tenham um bom dia.