– O quê?! - Mit grita. - Vocês estão loucas! Eu não tenho isso, não sou um... Um... Ah!

– Um Conjurador - ajudo. - Sim, você é, Mitchel.

– Prove.

– Tentaram te afastar da sua família paterna. Todos os seus tios, assim como o seu pai, morreram aos vinte e um anos. A família Wight é conhecida por gerações pela sua maldição.

– Isso não é prova alguma! - ele joga os braços para o alto. - Isso é loucura da cabeça de vocês!

– Agora ouça aqui, garoto - diz Amma, seriamente. - Não importa quantas vezes você negue, você é um Conjurador. A sua família tem essa maldição. E você vai morrer.

Mitchel para abruptamente, olhando para Amma. Parece que todas as forças se esvaíram do seu corpo. Seu rosto demonstra choque.

– Morrer - ele repete.

Amma não responde. Eu a conheço e sei que, no momento, ela sente pena dele. Arrancado de uma vida perfeita para um mundo que ele não conhece. Para morrer.

Não.

Algo dentro de mim diz que isso não é verdade. Não existem coincidências na minha vida. Por que eu encontraria Mitchel para vê-lo morrer pouco tempo depois? Não. Eu sei que posso fazer outra coisa.

– Amma - eu a chamo. - Genevieve.

Sei que Amma entende. Apenas esse nome explica o que eu estou pensando. Genevieve fez com que uma maldição caísse sobre a minha família, e a minha mãe a quebrou.

– É muito arriscado - Amma fala. - Praticamente impossível, dessa vez. A sua mãe... era uma exceção. Ela tinha uma chance.

Olho para Mitchel e ele me encara de volta.

Confia em mim?, pergunto.

Eu tenho escolha?

Assinto levemente com a cabeça para ele. Mit me retribui com o discreto sorriso.

– Eu também tenho uma chance, Amma. Você sabe que...

– Você é muito nova ainda. Seus poderes...

– Amma. Essas coisas não acontecem por acaso para mim. Você sabe. E meus poderes... Bem, se há uma oportunidade para usá-los, é agora.

Amma suspira, triste. Olha para Mitchel e depois volta-se para mim.

– Os destinos de vocês estão unidos agora. Estejam preparados para o que está por vir.

– Do que... Do que está falando? - Mitchel pergunta, confuso.

– Vamos procurar Miriam.

– Não. Procurem Liv - diz Amma.

– Liv? Por que Liv? Já faz tanto tempo que...

– Apenas a procurem. Irão entender.

Concordo, acenando com a cabeça, e pego a mão de Mitchel. Ele olha para nossas mãos, surpreso, e então entrelaça os nossos dedos. Sinto um calafrio percorrer meu corpo. Mit me encara e sorri, um pouco menos tenso. Sorrio de volta.

– Obrigada, Amma. - E para Mitchel: - Vamos, Mit, temos muita coisa para fazer.

Saímos do bosque mais rápido do que quando chegamos. Mitchel e eu ainda estamos com as mãos entrelaçadas. Agora que eu o toco, permito-me desfrutar a sensação de segurança que toma conta de mim. E, com um susto, percebo que me senti assim também na primeira vez em que o vi. Eu sorrio, olhando para o chão.

– Com tanta coisa acontecendo, você está sorrindo? - ele pergunta, mas vejo que um leve sorriso também está em seus lábios.

– Eu não sou a única.

Paramos perto do carro e viramos um para o outro. Mit está sério, encarando-me.

– Você está com medo? - pergunto.

Ele demora um pouco para responder, olhando fixamente em meus olhos. Um arrepio desce por minha coluna cada vez que ele me olha assim.

– Sim - murmura, soltando o ar. - Não consigo acreditar... Não sei. Isso é loucura para mim, ainda. Mas às vezes sinto como se tudo fizesse sentido agora. Acho que... Só não quero aceitar.

– Não é culpa sua. Você certamente cresceu ouvindo que magia é algo ruim.

Ele sorri de lado.

– Está ouvindo meus pensamentos, moça?

– Dessa vez, não - respondo, sorrindo de volta.

Mitchel ainda está sorrindo quando se aproxima mais. Ele me observa, esperando que eu me afaste, mas não faço isso. Então ele volta a falar, olhando em meus olhos:

– Como consegue fazer isso? - pergunta baixinho.

– Fazer o quê? - murmuro.

– Fazer com que eu me sinta assim. Confiar em você. É como se, apesar de toda essa loucura, a única coisa que faz sentido é que está ao meu lado. Eu a conheço há poucas horas, mas... É como se eu a conhecesse de outras vidas. - Ele passa a mão por minha bochecha. - Acho que eu não iria querer outra pessoa ao meu lado nisso.

Uma sensação gelada se espalha por meu corpo a partir do ponto em que ele me toca. Aproximo-me mais dele, apesar de tudo a minha volta pedir que eu dê um passo atrás. Seguro seu rosto, encarando-o fixamente.

– Vai dar tudo certo. Não vou deixar que essa maldição se concretize. Eu prometo.

Ele encara meus lábios.