Marcas da Meia Noite escrita por LunaLótus


Capítulo 14
Dourados como o sol


Notas iniciais do capítulo

POV Liz

"A única coisa em que acredito é que eu sempre posso escolher mudar. Sempre, sempre, há uma escolha. Cada minuto, cada segundo, é um recomeço."



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Talvez nada na vida tenha que ser fácil. Conjurador ou Mortal, acho que cada um tem aquilo que pode aguentar. Não sei se acreditar em vidas passadas ou em carma ajudará a entender a missão de cada um aqui na Terra.

Eu já não sei mais em que acredito. Não sei quem criou o universo, se foi Deus, com D maiúsculo, os deuses ou outra entidade qualquer. Não sei quem estabeleceu a Ordem das Coisas, mas sei que não estou aqui por um motivo à toa. Cada ser, humano ou não, da Luz ou das Trevas, existe por um significado. Cada um de nós tem uma natureza determinada, mas... será que devemos mesmo aceitá-la?

A única coisa em que acredito é que eu sempre posso escolher mudar. Sempre, sempre, há uma escolha. Cada minuto, cada segundo, é um recomeço.

E eu escolho não deixar a história se repetir.

– Liz - Mitchel me chama. Há preocupação em sua voz.

Passo a mão rapidamente para secar as lágrimas. Não posso acreditar que tudo aquilo esteja acontecendo. As visões... Tudo se repetindo, como minha mãe e meu pai. Mas o que seria dessa vez? Teríamos que perder de novo alguém importante para nós?

– Estou bem - digo, apressada, olhando em qualquer direção que não fosse os olhos dele.

– Está bem mesmo? - insiste.

– Estou bem, Mit. É sério. Só... Me emocionou. Eu acho. - Tento dar de ombros e parecer indiferente. - Sou uma garota, lembra? A maioria das garotas é super emotiva.

Ele analisa meu rosto, procurando algum rastro de mentira. Evito encará-lo e começo a amarrar o cabelo em um coque.

– Tudo bem - ele diz, devagar. Toca meu rosto. - Nunca imaginei que você seria assim.

Os dedos dele na minha pele me provocam formigamento. É incômodo, faz o meu estômago se revirar, mas ao mesmo tempo é bom. Pego-me pensando no beijo, que acontecera há tão pouco tempo, e que parece uma eternidade. Passo a língua por meus lábios e percebo que ele observa. Pergunto-me se ele também está pensando em nós.

– Eu não sei o que você faz comigo - sussurra, aproximando-se mais. - Só sei que não consigo ficar longe de você. E mesmo esta curta distância é mais do que posso suportar.

Então ele me beija, e nós nos perdemos mais uma vez nas palavras do diário de Victor.

~~

12 de abril de 1804, 2:17 pm.

Querido diário,

Ainda não posso acreditar que a noite de ontem foi real. Eu esperava tudo, mas nunca o que aconteceu. Saber que o que sinto é correspondido por Camila fez meu coração acelerar em meu peito.

Meu pai veio me acordar hoje. Não sei bem se "acordar" seria o termo correto. Ele praticamente derrubou minha porta, de tanto esmurrá-la. Felizmente, ser um Cataclista tem suas vantagens. Lancei um Conjuro sobre ela que impede que entrem sem a minha autorização. E ninguém pode desfazê-lo.

Sobre o meu encontro à meia noite, depois de todas as declarações, Camila se aninhou nos meus braços e ficamos sentados sob à sombra do velho carvalho. Ouvíamos o canto dos pássaros noturnos ritmado às batidas dos nossos corações. Aquele momento parecia tão surreal, que custaria a acreditar se não tivesse despertado com o cheiro dela no meu corpo.

Ela me contou sobre todos os dias longos e monótonos que viveu, à espera de um mínimo sinal de que seu sentimento era correspondido. Julgava-se e condenava-se por estar apaixonada por um Conjurador das Trevas. Talvez não seja o certo, diário, mas senti-me confortável com aquelas palavras. Saber que eu não era o único a se condenar por alimentar um amor tão impossível quanto o nosso.

Nós concordamos que nos encontrarmos à luz do dia é arriscado. Sabemos que nossas famílias, principalmente a minha, não iriam aceitar o nosso romance. Então Camila e eu decidimos nos encontrarmos sempre à meia noite, sob a sombra do velho carvalho da praça.

Fiz uma pequena marca no carvalho, exatamente onde nós nos beijamos. Farei uma marca a cada dia que nos encontrarmos. Serão as marcas de cada meia noite em que nos encontrarmos.

...

Tempus peregrinatione, in umbra cucurrerit.

Verba hæc, et testimonium,

Verbum quod factum est, et nemo est qui nesciat.

Hic et nunc, et usque in sæculum.

..

Viagem no tempo, viagem nas sombras.

Que estas palavras guardem e testemunhem

O que aconteceu e ninguém sabe.

Aqui, agora e para sempre.

..

Lucis et Tenebrarum una aestate.

..

Luz e Trevas juntos verão.

...

~~

– Mit... - murmuro, enquanto apenas nossos lábios se afastam. Ele está de olhos fechados, respirando profundamente. Toco seu rosto e fecho meus olhos também. Mit coloca sua mão sobre a minha e repetimos o Conjuro.

~~

Estou muito ansiosa. Enquanto caminho pela larga rua deserta, olho para trás, checando se estou sendo seguida. Meu vestido de mangas longas me protegem do vento frio da noite. Dessa vez, uso um tom rosado, as rendas destacando meus braços. Mantenho a cabeça baixa, esperando me esconder nas sombras.

A madrugada anterior tinha sido ainda melhor que meus sonhos. O amor que alimentei por tantos anos enfim se revelou correspondido. Victor, apesar de um Conjurador das Trevas, era o único homem a quem eu entregaria de bom grado o meu coração. Porque Trevas e Luz não nos definiam mais. Éramos apenas Camila e Victor, dois apaixonados que querem viver intensamente este amor.

Levanto o rosto e vejo sua silhueta sob a sombra do carvalho. As mãos nos bolsos do sobretudo negro, o sorriso sutil e ansioso destacando-se na escuridão. Aproximo-me mais, fixando-me em seus olhos dourados tão temidos por outros. Mas para mim, eles são os olhos do homem que eu amo. Sorrio.

– Oi - digo, sorrindo.

Seus braços envolvem minha cintura e ele me puxa para um beijo apaixonado. Sinto todos os meus nervos se entregarem a ele, meu coração saltando no peito e suspirando.

– Meu anjo - ele sussurra.

Fecho os olhos, inspirando seu perfume. Limão. Ele tem cheiro de limão. Apoio minha cabeça sobre seu ombro e relaxo.

– Senti sua falta - diz.

– Contei os minutos para este momento - respondo.

Ele me beija novamente e levanta meu rosto para encarar meus olhos.

– Custei a acreditar que tudo havia sido real... - Ele para. - Quero gritar para o mundo o quanto estou apaixonado por você, mas...

– Sua família jamais aceitaria - sussurro, completando sua frase, triste.

Encaramo-nos por diversos segundos, até que ele fala:

– Esperei muito tempo para isso. Briguei comigo mesmo, neguei para mim e para todas as evidências que eu amava você. Mas nada adiantou. Eu amo você. Se for preciso, fugiremos. Não importa o que pensem, eu sempre, sempre, irei lutar por você, por nós dois.

Uma lágrima escorre por minha face enquanto meu coração perde um compasso. Naquele momento, tenho certeza que Victor faria o que fosse preciso por nós. E eu também. Eu também farei.

Encosto meus lábios nos seus, sentindo seu sabor. Afasto-me somente um pouco e encaro seus olhos.

Dourados.

~~

Nossas mãos estão entrelaçadas, e nossas bocas, unidas em um beijo. Ainda não posso comentar nada sobre o que desconfio para Mit. Ainda não. Posso estar errada. Espero que esteja errada.

Afasto-me e abro meus olhos, encarando os de Mitchel. Antes negros, que não se podia discernir íris e pupila.

E agora tão dourados quanto o sol.


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Notas finais do capítulo

Ooi, gente! Desculpem o atraso, mas estou meio doente esses dias, então não tive como escrever... Mas aqui está o capítulo!
Bom, o que mais? Ah! A fanfic já está na reta final! É que não gosto que as histórias fiquem muito longas e, se não me engano, este já é o décimo quarto capítulo!
O que vocês esperam do final?
Quero reviews ♥
Beijoos



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