Tears of blood escrita por IS Maria


Capítulo 39
Let it go




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Narrador

Aproximou-se furioso, porém, antes mesmo que suas mãos o alcançassem, a guarda rompeu impedindo o ataque. Pode-se ouvir o estraçalhar do vidro e em segundos o líquido avermelhado dançou pelo chão de madeira polida e lhe chegou até os pés. Caius observou o líquido provocante aos seus pés e em seguida cravou seus olhos naquele que parecia aos poucos entrar em puro desespero. Ajoelhado ao chão, Aro parecia desejar apanhar cada uma das gostas, mas, antes que ele tocasse em uma delas, o sangue secou, como pedra ao chão. Samantha já havia deixado a sala apressadamente e agora apenas restavam ali os três irmãos, sendo Caius contido por cinco vampiros da guarda, Aro ao chão ainda fitando o líquido derramado agora endurecido e Marcus os observando incrédulo.

— Viu o que você fez ? - Aro se voltou enfurecido para Caius, apenas o atiçando cada vez mais.

— Eu vou matar você - O irmão respondeu. Os olhos cintilando em um vermelho flamejante, deixando transparecer a raiva que o dominava.

— Agora o sacrifício dela foi em vão - Aro completou angustiado, ignorando as ameaças. Suspirou pesadamente e se aproximou do corpo de Emma, que permanecia ao chão, empalidecido e fragilizado. - Uma pena que ela teve de partir...

— Afaste-se dela - Caius rosnou. Ainda mantendo seus olhos no irmão, Aro se aproximou ainda mais do corpo sem vida e deslizou a ponta de seus dedos pelo rosto de Emma em uma clara provocação e então se afastou.

De pé diante ao irmão, ainda incrédulo com os sentimentos que ele demonstrava possuir, ele mal notou que algo nos ventos, não permanecia igual. Terra saia das paredes de madeira, de todos os cantos. Os grãos enormes rolavam como se fossem atraídos para algo e aos poucos, como se possuíssem vida, se direcionaram para o meio da sala. Cercaram Emma e vagarosamente, adentraram seu corpo pelos buracos dos ouvidos e por seus lábios entreabertos. O corpo se contorcia a medida que cada vez mais se enchia, tremendo em seguida em uma séria de convulsões. Sua cabeça pendia rapidamente de um lado para o outro e por mais que ela se mexesse, ainda não parecia estar viva e sim possuída. Como se já não fosse o bastante, rajadas de vento romperam as portas e janelas, como se o peso de cada uma das estruturas fosse semelhante ao papel. Embalaram o corpo de Emma e aos poucos a levantaram, fazendo com que ela pairasse de pé ao ar com seus cabelos se misturaram ao vento, esvoaçantes como cobras vivas e as veias de seu pescoço saltando, como se estivessem cheias de terra. Perplexos, ninguém ali parecia compreender o que acontecia e aguardavam em silêncio o que poderia vir em seguida. Os olhos dela se abriram revelando um olhar frio e mortal. Olhos esbranquiçados e sem vida os encararam como se pudessem enxergar suas almas e naquele momento, Caius soube que sua amada não estava mais ali.

— Makena... - Aro arriscou, porém se manteve afastado. - Como pediu, a lágrima foi mantida e entregue à aquela que pediu... - Seu tom de voz era gentil, porém o medo se tornava visível.

Calado ! - Uma voz poderosa havia tomado conta de seus pulmões, diferente de qualquer outra que já havia saído de suas cordas vocais. Já não havia dúvida de que, ali, já não mais restava a doce e disciplinada Makena. - Criatura ingrata. - Resmungou.

— Ora ... Eu ? Ingrato ? - Aro disse, incrédulo. Segurava-se para se manter de pé, à medida que sentia o medo o dominar. 

Eu lhe dei um dom, uma vida de luxúria e poder, para que no fim tire a vida daquela que veio do meu ventre — Todos estremeceram, ainda sem crer naquilo que estava diante de seus olhos.

— Deusa mãe .... ? - Ele sussurrou, enquanto encolhia-se um pouco mais. Não havia necessidade para mais julgamentos, não restavam mais dúvidas.

Seus pecados envergonham a raça que coloquei neste mundo, sujam o sangue de seus milhares de iguais, sujam o meu sangue. - Ela aparentava cada vez mais assustadora e enfurecida. - Como ousa zombar de mim ?— As paredes tremendo como se estivessem prestes a ceder, apenas demonstravam um pedaço de sua ira.

— Mas veja só.., jamais foi o que eu desejei...- O medo estava cada vez mais visível em seus olhos.

A natureza o repudia— ela o cortou bruscamente. - Você não possui alma para ser humano, o céu não o aceitaria por seus pecados e até o inferno repudia a tua alma. Não és digno da imortalidade...

— Mãe, trabalhei por séculos para manter o controle de nosso mundo, fazer com que as regras fossem cumpridas...

Regras que você determinou, para que pudesse manipular aqueles que deveriam ser livres. - Ela o impediu de continuar novamente, mostrando que não lhe concederia misericórdia. - Fechei os olhos diante a muito, mas não posso permitir que o espírito de minha filha não seja vingado...

— Eu lhe suplico... Ela insistiu para que eu fizesse...

Suas intenções sempre foram claras. - Ignorou sua súplica - Que aqueles que um dia sofreram em suas mãos, se levantem para que clamem por justiça...— disse levantando suas duas mãos ao alto, fazendo com que uma luz branca emanasse de seu corpo e em seguida engolisse a sala.

Quando todos puderam enxergar novamente, já não estavam mais no salão principal e sim ao meio da floresta. O corpo de Emma ainda parava ao ar diante a ele, mas em questões de segundos ele foi ao chão, caindo pesadamente por terra, novamente sem vida. Por entre as árvores, sombras o cercaram, mostrando-se muitas e em seguida milhares. Rostos que nunca haviam sido antes mas que para Aro eram muito conhecidos. Uma exclamação alta de surpresa deixou os lábios de Marcus quando se deparou com sua falecida esposa em meio aos espíritos raivosos e por mais que estivesse confuso, logo compreendeu a verdade. Caius correu ao encontro de Emma e a colocou em seus braços, deixando o campo para quem poupasse da batalha que logo seria travada. Para ele ainda não havia terminado, ainda não estava tudo perdido e ele poderia a ter de volta. Isso ou ele partiria junto a ela.

Samantha podia sentir que algo estava errado, porém não permitiu que sua intuição a impedisse de continuar seu caminho. Chegou até a cabana aonde havia levado o lobo assim como Emma tinha lhe pedido e em seguida, passou seu dedo indicador por seus lábios enfraquecidos, permitindo que a pequena gota que quase secava, lhe molhasse a boca. Em segundos ele tornou a abrir seus olhos castanhos, podendo sentir novamente o seu coração bater com a força de um lobo. Ele abriu seus olhos se deparando com um olhar desconhecido e seu corpo se contraiu ao notar que não era aquela que ele esperava ver. Podia sentir seu corpo se fortalecendo aos poucos e quis compreender o que acontecia. Em seus lábios lhe restava um sabor de ferrugem, ele conhecia sangue, mas não compreendia o porquê de não possuir o mesmo sabor doce. Pode sentir o veneno do vampiro o deixar e então sentiu com seu instinto que algo havia acontecido o que agitou seu coração.

— Muito bem lobinho - A sua voz parecia melodia aos seus ouvidos. - É melhor continuar deitado porque eu tenho muito o que dizer...

Ela não desejava lhe entregar aquela notícia, mas ela sabia que deveria lhe explicar sua repentina melhora, então despejar tudo de uma vez foi melhor. A dor que surgiu em seus olhos em seguida a esmagou por dentro. Ela não sabia como ele reagiria, sabia que Emma era a sua amada, mas aquilo era muito mais profundo do que ela havia imaginado e de repente sentiu inveja, porque ela jamais havia sido amada daquela maneira, nem mesmo por seu pai, que um dia tentou a matar em busca de uma lágrima. Ele rompeu a porta antes que ela pudesse dizer qualquer coisa. Ele precisava ir ao encontro dela, precisava saber que não era real, que ela ainda estava viva. Precisava a olhar nos olhos e a trazer para os seus braços, precisava estar junto a ela, precisava sentir que ela estava bem, que estava ali para enfim ficar junto a ele. Ele a encontrou entre as árvores, nos braços dele, que a apertava forte contra si e a sacudia enquanto sussurrava coisas que ele não compreendia. Ele parou a sua frente com o coração em mãos e os olhos cheios de lágrimas, porém Caius nem se importou em o olhar nos olhos, apenas permaneceu balançando o corpo de Emma, com os olhos presos no nada, como se a embalasse enquanto dormia. Marcus se aproximou, trazendo junto a si um espírito de um mulher presa ao seu ombro, que observava atentamente o que acontecia. Ele pousou a mão no ombro do irmão e o observou com olhos tristes. Anael soube que seu mundo havia chegado ao fim.

— Tem que deixá-la partir - ele sussurrou, fazendo com que Caius balançasse a cabeça freneticamente em um não e apertasse ainda mais o corpo de Emma contra si, fazendo com que todos ouvissem o barulho de ossos se partindo.

Marcus olhou para Jane que se mostrou presente e em instantes a vampira aplicou seu dom em Caius, fazendo com que ele gritasse alto, rosnasse e gemesse, protestando antes de finalmente soltar o corpo de Emma. Não eram preciso lagrimas para que todos pudessem sentir a sua dor. Ele foi carregada até o palácio e uma vez que ele não parecia poder voltar, caminhou até o seu quarto em profundo silêncio. Abriu a porta e se direcionou até a sacada, observando a lua com os olhos pesados. Uma sombra em meio à penumbra se aproximava com a destreza de um gato. Uma silhueta feminina de curvas acentuadas que em segundos se aninhou nas costas de Caius, colando seu rosto ao tecido grosso de seu casaco, permitindo que ele sentisse suas formas.

— Eu ouvi alguns rumores ... - sussurrou manhosa. - De que agora o meu maridinho é só meu ... - Soltou um risinho animado.

— Ah.. - Suspirou pesadamente, mal se importando com a presença dela.

— Uma morte que enfim valeu a pena a final... - Zombou.

— O que disse ? - Ele se virou para ela. Seus olhos presos em seu rosto, observando cada movimento seu.

— Estamos unidos por uma eternidade... Me aborreceu saber que alguém ameaçou isso. - Suspirou, observando suas unhas com atenção. - Eu nunca gostei de mortes mas esta é uma que devo apreciar - brincou.

— E a sua será a que eu apreciarei... - Um sorriso sombrio surgiu em seus lábios a deixando confusa. Ele se aproximava vagarosamente enquanto ela se afastava, apreensiva.

— Como assim ... ? - Perguntou, mas sem responder, ele depositou delicadamente suas mãos em seu pescoço e começou a arrancar sua cabeça enquanto a assistia gritar e se debater, como se aquilo lhe proporcionasse algum prazer. E de fato proporcionava. Quando Emma havia sido arrancada de seus braços, havia levado consigo qualquer pedaço de humanidade que ela havia trazido um dia. Qualquer coração que um dia havia estado ali por ela, agora, enfim, havia partido junto a ela. 


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