Tears of blood escrita por IS Maria


Capítulo 38
Último Suspiro




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– Ofereceu isso a ele ? - Perguntou Samantha, claramente irritada com o que eu havia feito.

– Não deixarei que Anael morra. - Cruzei os braços. - Eu gostaria que houvesse uma maneira, mas não há.

– Sabe o que Aro fará com todo esse inferno ? Se acha cruel o que ele faz com o nosso povo, apenas espere quando ele não puder ser vencido por ninguém. - Revirou os olhos.

– Eu acredito que encontrarão uma maneira de detê-lo - Suspirei. - Eu não posso fazer isso sem você. - Supliquei,

– Não posso permitir que faça isso.

– Por favor Samantha... Pela primeira e última vez em toda a minha vida eu preciso ser um pouquinho egoísta... eu não posso o ver morrer, não quero que ele sofra... por favor...

– Se eu fizer isso...

– Eu preciso que faça. - A cortei. - Por favor...

– Fará mesmo sabendo que custe sua vida ?

– Sabemos que o amor é uma coisa valiosa, não é surpresa que ele no final custe alto. - Abri um sorriso. - Ele fez sabendo que custaria a vida dele... ele fez por mim e eu farei por ele.

– Eu farei. - Ela suspirou pesadamente.

– Eu agradeço profundamente - Segurei suas duas mãos em um gesto de gratidão. - tenho muito o que fazer.. - Revirei os olhos e me afastei. Assim que me virei, me deparei com uma silhueta feminina coberta por sombras que havia acabado de se formar. Não revelou o seu rosto, mas eu não precisava vê-lo para saber de quem se tratava. - Eu espero que não esteja aqui para me impedir...

– Eu não poderia... é uma escolha que apenas você pode fazer. - Sua voz estava diferente, porém eu ainda a reconhecia.

– Eu fico feliz em ouvir isso, porque a minha decisão já foi tomada.

– Apenas deveria saber que o seu criador está ligado a você... se você morrer, ele sentirá uma dor insuportável..- Foi curta e grossa, deixando claro o humor em que eu havia a colocado.

– O que ? O que quer dizer com isso ?

– Uma gota. Ele precisa de uma gota. - Ignorou completamente a minha pergunta e desapareceu em seguida.

– Ela era... ? - Começou Samantha, com o olhar de espanto estampado em seu rosto.

– Sim... minha querida mãe - abri um sorriso cheio de sarcásmo.

– Nossa... - bufou, ainda surpresa. - Quando ? - Perguntou repentinamente.

– Ao anoitecer... - Hesitei por um segundo. - Venha ao anoitecer. - Eu sabia que se disse a ela que Aro havia me dado apenas algumas horas ao invés do anoitecer, no último momento ela poderia tentar me impedir... eu não poderia ser impedida.

Não havia sido fácil convênce-la e mesmo depois de ter arrancado um "sim" dela, ainda pude notar a relutância em seus olhos. Eu deixei a casa assim que pude e parti a procura de Anael. Eu havia lhe deixado só durante a noite e mal sabia se ele estava bem. Eu apenas esperava que tivesse encontrado uma maneira de passar as horas. Ele estava no mesmo lugar onde eu havia o deixado, aparentando estar melhor, porém por mais que ele tentasse encobrir, eu podia ver a dor estampada em seus olhos, tão estampada que eu quase podia senti-la. A única desvantagem de possuir aquele dom. Abriu um meio sorriso e pude sentir meu coração pesar. Eu não podia acreditar que por pouco havia me esquecido de como seu olhar fazia eu me sentir. Não havia sido muito complicado me apaixonar por ele, ele sempre esteve ao meu lado e foi responsável pela maioria das coisas que eu mais amei. Me lembro até hoje do meu ritual de passagem para a vida aduta. Eu e mais quatro meninas fomos escolhidas para representar as demais, cada uma representando um elemento na dança. Eu pirei. Nunca havia dançando antes e Anael, fez com que isso não fosse um problema ao passar semanas me ensinando.

– Eu fico contente em ver que está vivo. - Brinquei, me sentando ao seu lado.

– Ficarei por mais muito tempo... não precisa se preocupar. - Passou seu braço ao meu redor e puxou um pouco mais para perto, fazendo-me notar o quão quente estava a sua pele.

– Claro que ficará. - Concordei. Ele ficaria. Eu faria com que ele ficasse bem por muito tempo.

– Sabe... eu não poderia ficar na aldeia... depois que saiu, tudo parou de fazer sentido, como se você fizesse com que tudo funcionasse. - Começou. - Eu entrei em desespero quando soube que havia sido entregue.

– Como soube que eu não estava morta ? - Perguntei, lembrando-me de que não havia encontrado ninguém da minha vida passada após a transformação.

– Naquele dia na floresta eu tinha saído para caçar... eu a encontrei. Quando a olhei nos olhos e percebi que era um deles, entrei em um grande conflito interno, onde eu a amava e a odiava intensamente ao mesmo tempo... porém estava tão feliz em vê-la que não pude me conter. - Pude o sentir sorrir.

– Passei dias sem tirar você da cabeça... Eu não sabia quem era e voltei aqui muitas vezes para tentar o encontrar... - Deitei minha cabeça em seu peito.

– Quando me pediu que ajudasse a criança, meu coração se encheu novamente. Você era um deles porém, ainda sim continuava você... o meu maior medo foi perdê-la.

– Eu estava segura... - Apertei-me contra ele. - Você não devia ter feito isso... - sussurrei enquanto sentia ele aos poucos adormecer. As lágrimas deixando os meus olhos, quentes, embaçando a minha visão. Assim que soube que ele havia adormecido, o beijei brevemente e aos poucos fui me afastando... não era a melhor das despedidas, mas ainda sim eu havia o visto por uma última vez.

Caminhei um pouco pela floresta, parando apenas ao chegar no lugar onde passei os melhores dias, ganhei as melhores lembranças e onde dancei junto a natureza. Parecia uma época tão distante agora, porém ainda sim, eu podia me lembrar vividamente. Não era como se eu desejasse partir , ou desejasse morrer e daquela maneira... eu estava com medo e assustada... mas eu faria. Chamei para mim a mais recente descoberta do meu dom. O espirito. O quinto dos elementos, estando presente em cada pequeno canto. Levantei delicadamente e vagarosamente os braços e o convidei para mim, sentindo-o aos poucos me encher. Eu sempre havia sentido o elemento vivo em minha vida humana e era gratificamente o sentir cada vez intensamente agora.

– Me dê coragem... - Sussurrei, fechando os olhos por um instante.

Retornei assim que notei as horas passando. Tomei um longo banho e me vesti, assim como faria se aquele fosse qualquer outro dia. Escrevi aquelas que seriam responsáveis pelas despedidas que eu desejava evitar e as entreguei para Jane, na esperança de que ela não mostrasse a ninguém e apenas as entregassem na manhã seguinte, quando tudo já houvesse sido consumado. Fui em seguida para o quarto de Caius, mesmo sabendo que ele não estaria lá. Eu ainda precisava resolver uma última coisa. Sai do quarto e me aproximei dele assim que o encontrei, o beijando. Eu precisava de uma das lágrimas. Graças a ele, por mais que tnha me trazido muitas dores, eu havia ficado segura e protegida, eu havia recuperado minhas memórias e eu havia amado, mesmo que não tenha sido correspondido e por mais que agora, eu leve uma profunda dor em meu coração, eu ainda não desejo vê-lo sofrer e foi por isso que com uma gota, cortei a nossa ligação. Ele adormeceu e eu parti, era hora.

Não estava surpresa em notar tudo o que ele havia preparado. Como se já não fosse demais ele ter escolhido um dos salões de festa, ainda havia uma enorme cadeira cheia de adornos, onde mal se notavam as tiras de couro que embreve eu seria presa. Eu não sabia se ao certo ponto me conteriam, porém, eu sabia que boa parte do controle deveria partir de mim. Comprimentei com olhares todos aqueles presentes, demorando um pouco em Jane. Ela dizia tão pouco, mas ao mesmo tempo sentia tanto. Fiquei brevemente tocada em notar que em seus olhos havia um certo pesar por saber que seria grande responsável por tudo o que aconteceria naquela sala. Abri um sorriso tentando a confortar e em seguida, caminhei vagarosamente em direção a cadeira, sem pronunciar uma sequer palavra. Permiti que me amarressem e em seguida, depois de um gesto de Aro, Jane cravou seus olhos em mim e eu pude sentir os primeiros espamos de dor começarem.

Eu já havia passado pelo seu dom, então eu sabia o que esperar. Eu não sentia tanto ao começo, mas a medida que ia se intensificando, se tornava cada vez mais insuportável, tornando-se cada vez mais difícil eu me segurar a cadeira. Rangi os dentes e cravei as unhas no braço da cadeira. Eu sentia muita dor porém nem sequer sentia meus olhos molhados. Eu precisava fazer aquilo funcionar. Fechei os olhos e fiz tudo o que pude, apenas pensando em salvar aquele que nunca me faltará. Anael havia sido o mundo para mim. Ele havia me ensinado a caçar, ele havia me ensinado a dançar, a tocar piano e até mesmo a subir em árvores. Havia me contado diversas histórias que ele mesmo havia criado, nas noites de lua cheia e quando éramos pequenos, enquanto as outras crianças não se aproximavam de mim, ele se aproximou e nos tornamos amigos e aos poucos... amantes. Eu não poderia faltar a ele, eu não poderia o deixar agora. Depois de todas as lembranças, uma lágrimas deixou o meu olhar, grossa e quente...

Depois da primeira, as outras saíram fácilmente e francamente depois de algumas horas, eu já suplicava para que parassem. Aro agora me observava de perto, seus olhos presos aos meus, olhando atentamente para o que acontecia. As lágrimas escorriam cada vez mais, deixando-me cada vez mais cansada. Eu podia sentir minhas mãos e pés formigando. Jane continuava fazendo-me sentir dor e as tiras de couro conseguia me segurar perfeitamente, afinal eu já não possuía mais dor alguma. Foi estranho escutar meu coração bater pela primeira vez. Foi uma batida pesada e alta, estremencendo cada pedaço de mim. Alguns segundos depois, pude sentir o sangue tornar a correr em minhas veias e minhas bochechas queimarem. Eu não deveria, mas mesmo assim sorri, não que eu sentisse falta de ser humana, mas as sensações de se estar viva... eram simplesmente mais do que eu esperava.

Não demorou muito para que eu notasse que as lágrimas pareciam veneno. Assim que deixavam meus olhos, que ardiam profundamente, e entravam em contato com a minha pele, elas queimavam como fogo, cortando todo o meu rosto no caminho em que percorriam e a dor era tão agoniante que fazia com que mais lágrimas escorressem. Gritava cada vez mais alto, desejando que tudo parrasse, que tirasse aquela taça que estava embaixo do meu rosto e que me deixassem sair correndo, mas eu sabia que deveria continuar... só mais um pouquinho... eu só precisava aguentar mais um pouquinho. Olhei uma última vez para os olhos do Aro cheios de diversão e eu não sabia exatamente como, mas, eu pude ver tudo... tudo o que ele sempre tentou esconder.

Eu sabia que sua maldade ultrapassava limites, mas as atrossidades que vi deixaram-me surpresa. Ele não apenas havia massacrado centenas de filhos da lua, como ainda havia se mostrado a eles como um "protetor", fazendo com que aqueles que sobraram os respeitassem e ainda oferecessem oferendas a cada cem anos. Ele não apenas havia mandado uma filha da lua se aproximar de Daniel Cullen com o intuito de possuir um motivo para machucar aquela família, como também havia matado a mesma, acusada de traição. Ele sabia quem eu era e quem eu me tornaria quando pediu que me transformassem... na verdade ele havia passado anos a minha procura depois que não conseguiu extrair o que desejava de Samantha. Ele havia matado milhares e sentava diariamente em um trono, chamando a si mesmo de justo. Ele havia matado a própria irmã para impedir que Marcus lhe fosse tirado... ele havia condenado aquele que chama de irmão... e eu havia o chamado de mestre. Desviei os olhos já não podendo aguentar mais e pude sentir uma forte dor em meu peito.

Meu coração batia frenéticamente e aos poucos a taça foi retirada de perto de mim e entregada a Aro. Meu corpo formigava por completo e eu me sentia cada vez mais tonta e desnorteada. Pude sentir uma lágrima fina sair dos meus olhos e parar ao meio de minha bochecha. Puxei o ar pela boca quando contrei dificuldade para respirar e então repentinamente a porta se rompeu e meus olhos pararam, tudo parou.

– Manterei minha palavra... acredito que ela gostaria que levassem isso. - Aro suspirou, enquanto se afastava com a taça em suas mãos.

Samantha se aproximou rapidamente, levantei os olhos me deparando com o seu desespero enquanto ela recolhia a lágrima de minha bochecha e se afastava, com os olhos cheios. Eu podia sentir que ela estava sozinha. Eu não queria que ele me visse daquela maneira, porém, eu mal conseguia me mover. Ele se aproximou ferozmente e arrebentou as tiras fazendo com que meu corpo, já fraco, despencasse sobre ele. Quase não consegui me segurar contra ele. Seus olhos encontraram os meus e eu agradeci por mesmo humano, ainda possuir um pouco do dom que me fora atribuído. Depois de ver o muito que ele havia me escondido, as lembranças que ele havia mantido encobertas por sombras, abri um sorriso... eu não podia acreditar no quanto eu havia o odiado, sem conhecer a sua verdade, permitindo-me ser manipulada pelas circustância... eu me odiava por ter dito a ele que o odiava, sem saber o quanto que aquele homem havia passado a me amar. Levantei vagarosamente a minha mão ao seu rosto e o toquei.

– Eu amo você... - Sussurrei e aos poucos, aproximei meus lábios dos seus. Mesmo que com dificuldade, eu precisava fazer.

– Você está bem... você está bem...Eu amo você . - Sussurrou frenéticamente, o medo e o desespero estampados em seu olhar, fazendo-me sentir ainda mais.

– Sim... eu estou bem... - Tentei o confortar ao abrir um pequeno sorriso. Olhei profundamente em seus olhos e eu pude sentir aos poucos as minhas forças me deixando... Avistei ao canto o rosto de Lilith. Ela se aproximou e me deu a mão. De repente desejei voltar, porém, eu sabia que não podia, não mais, meu tempo ali, havia enfim terminado. Suspirei profundamente, ainda me agarrando aos braços de Caius e então... tudo parou.


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