Forbidden Love escrita por Miss Mikaelson


Capítulo 12
Capítulo 12 - Sementes do passado


Notas iniciais do capítulo

Olá, meninas, tudo bem? Eu sei, eu sei... muito tempo sem postar! Mas eu avisei anteriormente os motivos, e obrigada a todos que compreenderam. Eu estava com esse capítulo há tanto tempo, porém finalmente consegui postá-lo. Um capítulo bem grande, compensando o tempo que passei sem postar. Dedicado à Gabioliveh e berebebel. Obrigada, meninas, recomendação divina.
Beijos.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/456255/chapter/12

As cinzas subiam aos céus e o sangue banhava a terra. Do limite da planura dois soldados enviavam bombas de fogo lançadas de suas catapultas. As pedras vinham voando como pássaros e aterrissando nos crânios dos homens, levando-os ao chão. Os muros do castelo estremeciam com o peso das rochas e sustentavam o fogo que os consumia. Três soldados puseram um fundíbulo na entrada da ponte do castelo, disparando o armamento contra os dois guerreiros inimigos que corriam pela planície, abandonado os postos.

Os arqueiros de cima das muralhas deram inicio a chuva de flechas em chamas. Niklaus correu até o limite do castelo, desviando-se dos corpos caídos, emporcalhando as botas no sangue que brotava da terra com a mesma força de uma nascente. Viu através do fosso que rodeava o castelo, no limite das terras que davam passagem a cidade, os soldados do palácio pondo os corpos dos dois inimigos nos cavalos e trazendo-os até a casa.

Suspirou o loiro em alívio, mas o momento de calma durou pouco. Flechas atingiram os cavalos dos homens que traziam os corpos dos malfeitores, derrubando-os ao chão e em seguida pisoteando-os. De cima dos animais, com suas bestas em mãos, atacaram ao castelo. A primeira queda de flechas deu-se na torre da capela, despertando os gritos e euforias vindas das mulheres. A segunda atingiu uma fila de dez homens sem escudos.

Niklaus ouviu a voz de Camille a chamá-lo desesperadamente. Olhou para o alto da torre e viu a mãe, a esposa e a filha do duque a observar a batalha. Passou os soldados para trás, ordenando-os que continuassem a atacar com o lançamento de rochas, resultando na queda de metade dos homens inimigos.

— Putas insolentes! —reclamou ele ao rapaz de olhos escuros que carregava as pedras no engenho de guerra. — Quem pôs as senhoras na torre da capela?

— E-eu... meu senhor — respondeu o jovem menino assustado. — O senhor seu irmão me pedira para escondê-las em um lugar seguro, milorde.

Agarrou o mancebo pelos braços e estapeou-lhe o rosto.

— E por acaso uma torre é um local seguro para se esconder durante um ataque? — resmungou, encravando as unhas na carne dos braços do jovem servo. — Caso o filho da puta do seu pai não tenha ensinado, uma torre é o primeiro lugar evidente para um ataque.

Do lado de Niklaus um homem vigoroso de armadura negra e cabelos escuros derrubou dois soldados com uma flecha, provocando a queda do primeiro guerreiro do cavalo, e em seguida, fazendo o animal do companheiro tropeçar no corpo do soldado e vir ao chão, ferindo-se com a lâmina da espada.

— Vá — disse ele ao Mikaelson — Pegue as mulheres da capela e leve-as a um local seguro. Eu assumo seu posto.

Correu até a capela ao ver o fogo se espalhando ao redor. A fumaça já se impregnava no local, fazendo os olhos de Niklaus lagrimejarem com o aquecer das brasas. O teto de vidro estava estilhaçado ao chão, quadros caíam das paredes, pedaços de tijolos e madeira se rompiam a cada ataque. Subiu as velhas escadas no fim da ermida e no fundo do estreito corredor, encontrou uma porta rústica trancada com uma corrediça de ferro. Rosnou maldições, impelindo o corpo contra a porta, mas em nada resultou o esforço. Elijah, Sam e Kol vieram ajudá-lo. Lançavam-se ferozmente contra a porta, cansados, inspirando a fumaça e denegridos pelo calor das brasas. Foi o machado erguido por Sam, no entanto, que fez a porta vir abaixo após a quebra da madeira provocada pelos impulsos da arma.

O jovem O’connell foi o primeiro a invadir o local, apanhando a gêmea em seus braços e levando-a para fora. Elijah e Kol guiaram a mãe, a filha do duque e o restante das senhoras que cambaleavam para fora.

— Klaus — Elijah chamou-o, descendo as escadas e amparando o corpo bambo da mãe. — Onde está nossa irmã?

— Leve nossa mãe e as senhoras daqui — respondeu. — Eu a encontro.

— O templo está vindo a desmoronar... — disse ele no exato momento em que as paredes inferiores começavam a cair.

— Vá — rosnou para o irmão, que desceu as escadas com a mãe e o restante das senhoras, e forçou-se a acompanhá-las até que estivessem todas em segurança.

Na pequena sala nada havia. O ar faltava e as gotas de suor desciam da testa do loiro. A fumaça subia e o peito apertava-se. As paredes começavam a rachar e um estrondo de queda ecoou do corredor. No fim do compartimento um piano empoeirado e coberto por um velho lençol encardido tomava conta do espaço. De longe viu um braço desfalecido por debaixo das pernas do instrumento.

O suor vinha do rosto ínvio da irmã. Apanhou o corpo desmaiado e a levou para fora. Nas escadas, as hastes usadas como sustento dos blocos de pedra das paredes vinha abaixo, tomadas pelo fogo das flechas que caíam dos céus. Desviou-se dos blocos, saltou sobre as vigas que atravessavam a passagem das escadas e parou próximo aos bancos que começavam a incendiar. O corpo estava fraco. Mas a força de seu caminhar vinha dos suspiros comprimidos que levantavam o peito da irmã de forma leve. Ele não a veria morrer. Não hoje. Não enquanto estivesse vivo para protegê-la.

O ar dava espaço a fumaça e fazia o corpo do soldado se enfraquecer com o peso da irmã nos braços. Olhou a passagem a tremer com o calor. Os olhos ofuscantes viram uma figura a se aproximar da porta e chamá-lo pelo nome. A imagem tremulou e aos poucos percebera que Elijah estava a chamá-lo, sem conseguir entrar, empurrando a viga em chamas que bloqueava a porta.

Cambaleante foi até a passagem, entregando o corpo da irmã para os braços de Elijah e caindo no chão de terra, enfraquecido, fechando os olhos solenemente. Quando finalmente abriu-os, viu os cavalos dos homens Mikaelsons carregando os corpos dos inimigos e atirando-os numa pira acesa nos fundos do castelo.

Estava ele a observar a copa arredondada do carvalho vermelho que crescia no limite da grande casa. As nuvens voavam por entre o cair das folhas caducas e o céu estava de um azul vívido e aquecedor, bem como o azul dos olhos de Rebekah. Levantou-se com esforço e apoiou-se no grande tronco de casca grossa e escamosa. Do meio da fumaça de cadáveres, viu o guerreiro que antes derrubara dois inimigos com uma só flecha a cair ao seu lado, entregando-lhe um odre de vinho para molhar a língua.

— Como se sente, Mikaelson? — perguntou o guerreiro enquanto se punha a observar os corpos aos poucos se transformando em cinzas.

— Não é como se eu acabasse de ver a morte de perto — relatou. — Para onde levaram as mulheres?

— Estão seguras. Seu irmão cuidou para que as senhoras e suas crias não presenciassem a batalha de perto. Eu o carreguei até aqui depois que desfaleceu aos pés de Elijah.

Klaus o encarou diretamente. Pela primeira vez percebendo mansuetude por debaixo das armaduras e odor de sangue que vinham do soldado.

— Não me é estranho — disse o Mikaelson ao então desconhecido.

— Provavelmente por termos o mesmo sangue — revelou com quietude. — Não muito, mas dividimos alguma parte do sangue. Nossas mães são nascidas do mesmo pai. — largou a espada e estendeu a mão em saudação ao loiro. — Sólon Frey. Acho que devemos nos saudar primos, Mikaelson.

— Sólon — meditou ele por um tempo. — Seu nome dar-se em louvor a um dos sete sábios da Grécia.

Grandes homens precisam de nomes que falem por si, já dizia meu velho pai. — foi então que Niklaus percebeu os olhos do primo a encontrarem o chão. As mãos mergulharam nos profundos cabelos negros e por um tempo se perderam nos cachos.

— O que se deu? — indagou após decifrar os olhos do primo. Por um tempo, Sólon perdera a imagem de um engenho de guerra humano. — Como ele morreu?

— Venho de uma terra distante. Uma fortaleza forte o bastante para nos defender de qualquer inimigo, mas não segura o suficiente para livrar-nos da morte. Seria pedir além do que poderíamos alcançar. Uma praga o levou. Uma doença em comunhão com seus anos avançados.

Sólon avançou rapidamente para a queima de corpos, atirando os cadáveres ao fogo e recolhendo as espadas inimigas, prendendo-as na cintura.

Barão Aaron surgiu das cinzas. Sentou-se ao lado do sobrinho e roubou-lhe o odre de vinho. Trajava apenas a parte inferior da armadura, as sobrancelhas tostadas pelas chamas e um ferimento de facas no peito. Suspirou dolorosamente. O sangue escorria do ferimento a cada esforço em que o peito se enchia de ar.

— Está com uma aparência de espantalho — falou a Niklaus. — Mas não tanto quanto o espantalho que fode sua irmã. E há quem diga que o imprestável sobreviverá. Vejo que a surra não foi o suficiente para matá-lo.

— Não. — concordou. — Mas apenas um aviso prévio por ter tocado a mão em Rebekah. Além do mais, não quero vê-lo morto. Se fosse de meu desejo, já teria o enviado para debaixo da terra. Paguei alguns camponeses mortos de fome para assustá-lo; mas se ele tiver de ser morto, que sejam minhas mãos a lhe sugarem a vida.

— Certamente — disse o barão acomodando-se no casco do tronco. — Não se deve deixar um bando de camponeses desvairados fazer o trabalho de um homem.

— O que me diz a respeito do soldado Frey? — inquiriu ele para o tio, estudando os movimentos mínimos do primo.

— Conheci o pai do rapaz. Lorde Craig Frey. — pensou ele por um tempo, perdendo-se nas lembranças de um passado distante. — Um covarde governado pela esposa de bigodes. Mas em sua mocidade era um viciado em seios e um simples olhar fazia as mulheres se derreterem e abrirem as pernas.

Os dois riram abertamente. Aaron parou a gargalhada em devido o corte no peito. A ferida se abria, mas a boca do barão continuava a se molhar com a bebida roubada do sobrinho.

— Devida cuidar desse ferimento — o guerreiro loiro falou.

— É preciso mais que um corte de punhal para matar esse velho — sorriu dolorosamente. — Já vi homens fracos morrerem por picadas de insetos, mas não um Mikaelson. Nunca um Mikaelson. Deveria ver sua irmã. O fogo quase sugou suas vidas, portanto não seria insânia derrubar alguns guardas e ver a moça que tanto lhe tira o sono.

— Insanidade, tio Aaron — cantarolou. — Por que ainda nos dá acoito para essas tolices?

— Relações ilícitas sempre me instigaram — repousou os olhos na campina verdejante e mudou de assunto. — Vivemos hoje um recado do que nos espera futuramente. Conheço Caled e suas táticas. Fogo e bombas serviram para espantar e aniquilar parte de nossos homens. Mas a batalha maior chegará. E não haverá homem na terra que poupe a fúria do imbecil quando vier para o campo de batalha, principalmente após que seus generais o avisaram que matamos o infeliz de seu filho. Oh, ele com certeza matará todos nós! No entanto, eu me conteria apenas em enfiar um punhal em seus olhos cor de capim.

Niklaus o deixou a refletir na própria mendacidade. Subiu ao castelo esquivando-se das fogueiras e no meio das escadas do salão encontrara Henrik fadigado manuseando uma espada de madeira. Vira o olhar maravilhado do Mikaelson mais moço acompanhar o balançar das armas na cintura do soldado.

No terceiro piso, porém, estava o pai num dos quartos entreabertos. Parou a dois passos da porta, observando Mikael se entregar a loucura. Os cabelos estavam crescidos, parte desigual e parte cortada. Estava mais velho do que aparentava em idade. Uma das mãos enfaixada e os olhos perdidos nas armaduras da parede. Falava a si só; como os loucos da praça que pediam esmolas no comércio. Esse seria o fim do senhor feudal, não fosse suas moedas e o título de nobre.

Voltou a andar, até que por fim visse o corredor vazio, sem guardas armados nem qualquer sinal de vida. Provavelmente estavam todos a queimar os mortos, pensava ele enquanto seguia pela casa.

No último quarto as mulheres conversavam a respeito do espanto que sofreram mais cedo. Entrementes, em uma porta à frente, duas criadas cuidavam daquela que mais sofrera nos estragos da batalha.

O soldado parou em frente à porta, vendo as serviçais assistindo a cada movimento involuntário da mulher que agora repousava sobre a cama como um anjo que se sustentava nas nuvens. Com um olhar frio delegou uma ordem para as amas que saíram na mesma pisada espaçosa e com um sussurro insensível avisara-as para não incomodá-los novamente.

Passou a corrediça de ferro na porta e sentou-se na cama ao lado da irmã; satisfazendo-se com o toque dos dedos que dançavam por entre os fios loiros de maneira tênue, imperceptivelmente, admirando seu rosto amorável e se contendo apenas aos fios. Ela era tão delicada, vestida com todas as fatalidades passadas, e ao mesmo tempo tão venenosa. Os olhos da rapariga aos poucos se descerravam, mas ele não recuou. Permaneceu firme a lhe encarar duramente, mesmo quando ela deu-se por si e levantou-se de súbito, pronta para gritar — não fossem as mãos do irmão a impelirem-se contra seus lábios e lhe silenciarem.

Vagarosamente arrastou as mãos pelos seus lábios, tocando-lhes de maneira desesperada, até que enfim ela o mordesse:

— Rebekah — grunhiu ele, recolhendo os dedos e agarrando-a pelo braço, enfiando-a contra os travesseiros.

— Vou gritar pelos guardas — ameaçou, embora seu olhar estivesse mais amedrontado do que em condições de impor normas. — Nosso pai o enforcará.

— Faça — sussurrou com segurança. — Se é o que deseja. Caso tenha coragem.

E ele não precisava de mais nada a não ser o olhar doce e arrependido. Mas que tão logo foi possuído de fúria e os braços finos dela a virem contra ele como garras de um animal selvagem. Não foi preciso muito empenho para jogar o corpo contra a fina estatura da moça e paralisá-la sobre a cama; com a hipnótica solene de seus olhos a lhe roubarem a vida.

— Solte... — começou a lutar contra as mãos firmes que lhe prendiam. Mas naquele momento ele não se importou com nada que a rapariga fizesse. Nenhuma palavra sequer penetraria as camadas de pedra escura que sustentavam as paredes, nem mesmo as duas mãos de ferro derretido que faziam a porta.

Tão rápido quanto o agitar dos batidos cadenciados de ambos os corações, ela começou a chorar, cuspindo as palavras na face do irmão:

— Deixou que me levassem — soluçou. — Para longe. Para as mãos de um marido cruel e covarde. Seu coração narcisista e amargo não se permite amar ninguém. E infelizes são as tolas que como eu se permitem levar pela sua natureza açuladora.

O soldado a largou. Passeou pelo quarto sem vivacidade, em passos curtos, caminhando em círculos e olhando-a de canto. O rosto da mulher estava banhado pelas lágrimas que caíam em lentidão e molhavam a face arroxeada que fora atingida pelas mãos do marido imprestável. Ainda estava contundido, e provavelmente dolorido, apesar do intervalo de dias que se passaram.

Veio até ela com ira, tocando-lhe a face violácea e olhando-a nos olhos, intimidadoramente. Seus dentes produziam um ruído áspero ao chocarem-se uns contra os outros e o peito estimulava-se apressadamente até um ranger raivoso subir pela boca do rapaz.

— Não, Rebekah. — passou a mão em sua face em sinal de caricia. — Ele a tirou de mim, irmã. Embora eu lhe afirme que meu eu narcisista e paranoico ainda se importa com alguém. Minha doce irmã; saiba que uma parte de mim morreu junto, quando a vi partir. — caiu sobre ela e permitiu sua língua oscilar em seu rosto. Mas a irmã não lutou novamente. Seus olhos brotaram um fio de rendição que se deu no lugar da ira. — Eu irei matá-lo, Rebekah. Serão minhas mãos a roubarem a vida do imprestável. Mas antes o farei conhecer a dor. De todas as maneiras pensáveis.

{***}

Os homens cavalgavam através do vale. Barão Aaron, Elijah, Niklaus, Sólon e Kol seguiam autoritários na frente, e uma fila de três servos caminhavam atrás dos senhores a queimar os corpos das vitimas da batalha que padeceram no inicio da guerra. Os soldados despejavam o álcool e ascendiam as tochas, fazendo o caminho da cidade se iluminar com pilhas e pilhas de corpos espalhados ao chão.

A cidade estava em ruínas. Os mercadores aos poucos se arriscavam a sair de suas casas e resgatar o que sobrara do comércio destruído. A madeira das vivendas vinha abaixo, o fogo se difundia entre as casas e os infelizes feridos e agonizantes que não possuíam forças para se erguer do chão. A guerra na cidade passara com mais força.

Foi então que Sólon e Kol recolheram os soldados inimigos que sobreviveram durante o ataque e cercaram-lhes com uma barreira de homens raivosos. Dois servos os amarraram numa haste de prender cavalos que se mantinha entre dois comércios e os interrogaram:

— Então, falem-me... — Aaron enunciou autoritário. — Onde o imbecil de pau atrofiado do seu patrão está nesse momento? Será que tem ele coragem o suficiente para mostrar-se, ou ficará se escondendo atrás de lenhadores que brincam de cavalaria?

O olhar dos dois soldados devotos a Hilgert não durou meio segundo. O mais velho, de olhos cinza e cabelos raspados veio a se manifestar:

— Preferia eu morrer, milorde... — respondeu agonizantemente. As feridas em seu peito, braços e pernas ardiam e faziam o cavaleiro tremer. —... do que quebrar um juramento de lealdade ao meu lorde.

— Então temos um servo fiel ao seu soberano — disse o barão trocando olhares desviados aos seus homens. — Bem, vejamos o quanto essa lealdade lhe custará.

E fez sinal para que os homens arrastassem os inimigos até o castelo. Cavalgava, porém, dificultosamente, sendo que a ferida em seu peito doía a cada galopada do animal. De último, Niklaus viu o tio virar-se e dar-lhe uma ordem:

— Vá até a floresta certificar-se de que nenhum oponente se escondeu nas árvores para atacar durante a noite. E leve o soldado Frey consigo.

Niklaus e Sólon partiram com a ordem do tio. Mas Kol veio a contestar:

— Tio Aaron, a floresta é extremamente proibida.

— E quem lhe disse isso? — perguntou o barão. — Lera em algum livro de literário infantil ou foram histórias contadas por uma ama de leite para que dormisse depressa?

Os servos sorriram claramente. Elijah partiu na frente ao lado do tio, arrastando nas patas do animal que montava uma corda que sustentava um dos presos. E rapidamente apressaram os galopes dos cavalos e sumiram através dos comércios em direção ao castelo.

Sólon e Klaus soltavam as rédeas dos animais e cavalgavam além do vale. Tão rapidamente chegaram até a floresta e sentiram seu ar gélido rodeá-los. Abandonaram os cavalos na entrada do bosque para que os animais não se fundassem no solo pantanoso e seguiram caminho a pé.

O vento açoitava nas folhas das árvores e percorria a mata. A luz do sol de repente desapareceu e o dia se tornou noite.

— Vê algum inimigo? — Sólon inquiriu. — Não creio eu que alguém se esconderia nas matas para atacar a cidade.

— Não, mas... — Niklaus desviou os olhos para o fim da mata. —... Veja!

Uma senhora veio ter com eles. Dona de cabelos vívidos e avermelhados como as brasas de uma fogueira, pele ressecada pela idade avançada e ao mesmo tempo tão alva quanto às nuvens do céu que passavam despercebidas por sobre suas cabeças, ocultas pelas copas das árvores.

As folhas que caíam ao chão rolavam para os pés da senhora e punham-se em movimentos circulares, coreografadas, em junção com o uivar dos ventos. Sólon apressou-se em pegar a espada presa no cinto, porém o primo o interrompeu:

— Espere!

— Acaso a conhece? — perguntou rispidamente, sem afastar os olhos da mulher.

— Sim — falou. — Espere-me aqui, Frey.

A ordem, no entanto, não foi atendida. À medida do caminhar do primo para próximo à anciã, Sólon alargava o passo, e tão logo ambos já estavam face a face com a mulher.

— O que quer? — Klaus interrogou-a asperamente.

— Ora, rapaz, eu tenho plena certeza que conheces o meu desejo — respondeu-lhe sorridentemente. — O prazo esgotou-se. Os meses passaram. Fui até o castelo à procura do poderoso Mikaelson e encontrei-o vácuo. E como aviso, fui obrigada a enlouquecer o homem que se diz seu pai, visto que nada do que fiz vos amedrontou. As guerras não serão nada em comparação a sua luta interior. Eu sei o seu coração, Niklaus, e apesar de todas as feridas e maldades que o assombram, apenas uma pessoa no mundo é capaz de molificá-lo. E o que dirá ela quando descobrir o segredo?

Sólon trocou um olhar com o primo, que não o correspondeu. Niklaus fitou o chão por meio segundo e ergueu-se novamente, perdido nas palavras da mulher.

— Estamos com a moça, Hayley, e saiba que a criança já veio ao mundo. Devo dizê-lo que tens uma bela filha.

Os lábios do rapaz começaram a tremer e deles palavras amargas escaparam.

— Mate-as. Por acaso hei de me importar? — E virou-se para a entrada da mata, pronto para montar no animal e seguir caminho, sendo seguido por Sólon.

— Eu lamentaria ter de fazer. Mas a criança não tem o que nós precisamos. Sua irmã, porém... Oh, Klaus, o que dirá ela quando descobrir? Será que ainda o amará tão desesperadamente?

O mancebo soltou as rédeas do animal e ferozmente avançou contra a senhora, prendendo suas mãos na garganta da anciã.

— Primo! — Sólon gritou aturdido. — Solte-a. Ela é uma velha demente!

Entretanto, a ira de Klaus era mais forte que as palavras de Sólon. Aos poucos foi afrouxando as mãos e a garganta da mulher largando, vermelha, com o contorno de suas mãos envolvendo a pele branca da velha ruiva.

— Eu não sei o que deseja, Bastiana, mas se acaso tocar em um fio de cabelo da Rebekah, eu arrancarei seu coração e o enfiarei em sua boca.

Sólon recuou um passo, vendo o olhar enfurecido do primo, enquanto a mulher insana fechava os lábios num sorriso prazeroso.

— Ameaça-me com um amor de irmão ou amor de homem? De todos os modos, esse amor e devoção serão a sua ruína. E saiba que um preço inocente lhe cobrarei.

Ele deu as costas, dessa vez sem olhar para trás, cavalgando para o castelo na companhia do primo. Ódio e confusão o consumiam por dentro. O olhar atordoado de Sólon o encarara a maior parte do tempo, mas aquilo não o incomodou.

— Então... — começou o soldado Frey — ... de onde conhece aquela mulher?

Niklaus o olhou diretamente.

— Creio que a pergunta não seria bem essa — falou-lhe. — Durante um baile no palácio que se dera em comemoração ao retorno de Rebekah, Bastiana viera até mim para me relembrar as consequências de alguns barris de vinho e um prostíbulo cheio de belas curvas. Entreguei a meretriz para que as velhas viúvas que fazem morada ao redor da floresta se livrassem da criança. Mas, por alguma razão que desconheço, a puta recusou livrar-se da criança, preferindo trazê-la ao mundo.

— E com isso complicar sua vida — lorde Frey completou. — E com que finalidade Bastiana o atormenta?

— Quando descobri que a mulher desejava ficar com a criança — replicou o Mikaelson — paguei para que as velhas viúvas tratassem delas até que meu filho nascesse e por fim os levassem para longe. Pressupõe-se, primo, o quão vergonhoso seria para o feudo o filho de um senhor de renome ser pai de um bastardo. Mas ao descobrirem minha linhagem, as velhas vieram até mim no castelo, prontas a me importunar pelo sobrenome que carrego, cobrando-me para que cuide do filho que fiz e assombrando a todos no castelo. Acusam-me, porém, de ser filho do homem que enriquecera a custa de seus trabalhos.

Sólon puxou as rédeas do animal:

— Mas então, primo, o que fará agora que a criança viera ao mundo? — Sólon inquiriu.

Niklaus desviou os olhos para além da várzea.

— Confesso-te que a ideia de ser pai jamais me animara. E não será agora que mudarei de pensamento.

Os muros do castelo já estavam em frente aos olhos dos combatentes. Os criados e vassalos erguiam a ponte, atirando os cadáveres denegridos no fosso e apagando os restos de brasa que ainda consumiam a palha dos estábulos.

— Compreendo-lhe — Sólon averiguou-o. — Mas esclareça-me o que ela dissera a respeito de sua irmã?

Niklaus puxou as bridas do animal e o olhou ferozmente. Apertou os pulsos e puxou o ar alteradamente.

— És um homem sábio, lorde Frey — rangeu os dentes. — Se fostes sábio para honrar ao nome que recebera, esquecerá tudo o que ouviu e que toca a Rebekah.

E partiu na frente, abandonando o cavalo na ponte do castelo nas mãos de um servo e caminhando para os fundos da grande casa, onde se encontrou com o tio e os demais homens.

Barão Aaron interrogava o último prisioneiro enquanto Elijah e Kol arrastavam o primeiro homem para o meio do campo. Abriram a barriga do homem com um punhal e dentro puseram um milho, e posteriormente ordenaram que os criados soltassem os porcos. Niklaus esquivou-se para o canto da campina, observando os porcos gigantes invadir o terreno. Feras selvagens cuja estatura dava-se no meio do corpo de um homem maduro, correndo pelo campo do castelo e lutando entre si pela espiga oculta entre as vísceras do prisioneiro, devorando-a, assim como os demais órgãos.

Todos os homens da campina sorriram abertamente, bem como as gargalhadas que se ouviam no comércio. Da multidão de homens sujos, veio o filho mais velho do duque, apoiando-se num cajado, com olhos negros e corpo parcialmente ferido como resultado da surra que levara anteriormente.

Niklaus empurrou os servos e soldados que lhe bloqueavam a passagem e prendeu o pescoço do rapaz entre as mãos. O peito estufava-se com uma união de ódio e angustia.

— Venha — assobiou as palavras no rosto do homem, embora suas palavras cortantes e a postura dominante aparentassem mais uma ameaça do que um pedido. — Conversaremos a respeito de um assunto que temos em comum.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Hi, novamente.
Então, queridas, estou BASTANTE ocupada, mas peço que tenham novamente compreensão e paciência. Eu não tenho uma data certa para postar o próximo capítulo, porém espero ser breve. Afinal, todos querem saber o que acontecerá com nosso "querido" Domenico, hahahaha. E como o prometido, Gabioliveh , em breve teremos a lobinha... bem, não lobinha mesmo, mas... enfim, teremos a Hayley.
Beijocas.