O silencio constrangedor estava começando a deixar o moreno inquieto. Batia as pernas, mas não ousava falar coisa alguma, e nem dava sinal de que ia se pronunciar. Jack apenas tragava o cigarro após levá-lo a boca, ele parecia levemente irritado, talvez até mais inquieto do que Hiccup. A cabeça do moreno estava cheia de duvidas, tentava entender o que sua noiva queria dizer com “Só você não sabe quem ele é” e também quando Jack disse que já sabia que ele tinha uma noiva. Também tentou entender o motivo dele tê-lo arrastado até a sua casa trancando a porta e jogando a chave de qualquer jeito em algum cômodo qualquer da sala de estar. Jack sentou-se no sofá ao lado de Hiccup e depositou o cigarro no cinzeiro passando um dos braços pelas costas do menor.

– Jack... Por qu... – O moreno foi cortado por um beijo. No começo foi calmo e depois começou a ficar mais intenso até que Jack já estava por cima do menor. Assustado o menor o empurrou com força, levantando-se bruscamente do sofá. – Jack, você esta zangado? – O menor olhou para baixo com o rosto enrubescido.

– Por que eu estaria? – Jack deu um sorriso sarcástico.

– Porque eu não te disse que eu tinha uma noiva e... – O maior outra vez o calou um beijo.

– Eu já te disse que eu sabia. – O mais velho largou o menor tirando outro cigarro da caixinha, levando-o a boca. – Não é por isso que eu estou zangado. – Sentou-se outra vez. Mais uma vez o silencio tomou conta do local. Hiccup se sentia constrangido e confuso.

– Jack, por que você está zangado? – O maior deu uma longa gargalhada sádica.

– Pare de me fazer tantas perguntas, Droga! – Irritou-se, ficando de pé. Deu um tapa no rosto do menor. Hiccup sentiu o peso da mão no rosto, seus olhos se arregalaram e quase como reflexo cambaleou para traz assustado. Depositou a mão no rosto passando-a no local do tapa. As memórias vieram como um flash na sua cabeça. Tudo tão de repente que poderia sentir como se estivesse em um filme.

– Jack... – O menor o abraçou por traz. Sentiu seu corpo estremecer de repente, ele não sabia o que fazer apenas o fez. O maior o encurralou na parede o abraçando com força.

– Por que você não sumiu logo de uma vez da minha vida? – Jack assustou-se com os soluços baixinhos do menor. Hiccup sentiu sua garganta se fechar, até que seus soluços foram bem mais audíveis. O maior apertou o abraço.

– Você se lembrou... – Jack o apertava cada vez mais.

– Como eu poderia me esquecer? Você... – Jack tomou seus lábios com um beijo bem mais intenso que os anteriores.

– Você sabe o quanto eu te procurei ao longo desses anos? – Nesse momento sentiu raiva e os beijos foram descendo ao longo do corpo do menor. O menor o empurrou embaraçado sentando-se no sofá, as lagrimas ainda desciam por seu rosto.

– Meus pais... Eles tinham descoberto sobre nós. – Apertou os punhos. – E eu fui obrigado a sumir do mapa e te esquecer. Por que você veio aparecer logo quando eu tinha me recuperado?! Por que Jack? – O grisalho arregalou os olhos. – Eu te odeio... – Sussurrou.

– Hic... – Jack engasgou ao ouvir o sussurro.

– Eu logo vou me casar, Jack. – Encarou o maior procurando a chave. – Acho melhor a gente não se ver mais. – O maior segurou a chave no alto.

– Não... – Falou baixo, sua franja cobria seu rosto. – NÃO!

– Me da essa chave Jack... – O grisalho a segurava no alto enquanto o menor tentava inutilmente pega-la.

– Eu te dou a chave... Com uma condição. – O moreno o encarou. – Eu vou fazer você dizer que me ama outra vez Hic. – Sussurrou no seu ouvido. – Vou fazer você dizer isso até o dia do seu casamento. Caso eu não consiga, eu sumo da sua vida... Para sempre.

– Jack... – O moreno engasgou.

– Você quer a chave ou não? – O grisalho parecia descontrolado.

– E-está bem... – Tomou a chave das mãos do maior destrancando a porta e a depositando na mesinha perto da porta. Olhou para trás por alguns segundos encarando o grisalho que tragava mais um cigarro, já era o terceiro em alguns poucos minutos, isso estava começando a incomodar o menor. Abriu a porta da sua casa e Banguela veio correndo com um osso na boca. Não se lembrava de tê-lo comprado para ele até que pode olhar melhor e viu um enorme urso segurado por pequenas mãozinhas esbranquiçadas e os fiapos de cabelo castanho sobre a cabeça do urso. – Rima? – Encarou a garotinha de cinco anos que largou o urso e pulou no mais velho.

– Mano! – A pequenina levou os dois ao chão que começaram a gargalhar descontroladamente.

– O que você está fazendo aqui? – Bagunçou os cabelos da menor.

– A Nana ficou doente e nossos pais foram para um congresso. – A menor largou o mais velho e agarrou outra vez o urso. – Então eles me largaram aqui. – O mais velho por um momento sentiu-se nervoso. Não era o melhor em cuidar de crianças e nunca tinha cuidado da sua irmãzinha. Eles tinham um bom relacionamento, mas não se lembrava de quando foi a ultima vez que cuidou de uma criança. – Hey, mano... – A menor o tirou dos pensamentos. – Quem era aquele cara? – A menor deu uma risadinha.

– Cara? – Hiccup arregalou os olhos.

– Sim! Aquele cara com quem você estava conversando no apartamento ao lado. – O rosto do moreno ficou vermelho, se perguntava como ela havia descoberto. – Eu escutei a conversa de vocês! – Cantarolou. – Mano! Não me disse que tinha um namorado. – A pequenina riu. – Estou tão feliz!

– Eu não tenho um namorado! – Gritou embaraçado.

– Mas... Não vai negar que você tava na maior pegação com o vizinho, não é? – A menininha continuou a rir.

– De onde você tirou esse palavreado! Você só tem cinco anos! – Ela continuou a rir.

– Credo mano! Assim você parece um velho falando! – Revirou os olhos. – Eu acho que você já vai cobrar pelo meu sigilo completo. Então vou adiantando o preço. – Esticou a mão.

– Preço? Espera... O que? – O moreno continuava surpreso.

– Quero dizer que você não vai querer que eu conte desse episódio para a sua noivinha abusada com cara de bruxa, não é? Nem para a mamãe e o papai. – Cruzou os braços.

– Você não... – Ele foi cortado.

– Claro que não! Que absurdo! – Riu-se. – Eu nunca falaria. Mas esse meu sigilo, maninho, tem um preço.

– Qual é seu preço... – Tentou se tranqüilizar.

– Mil dólares! – O moreno engasgou com a própria saliva. – E um pacote de doces.

– Você só pode estar de brincadeira. – Encarou a pequena, que não parecia estar brincando. – Que diabos você vai fazer com todo esse dinheiro?

– Isso ai já não é papo seu. Quero o dinheiro ou a vaca vai pro brejo, sacou? – Continuou a gargalhar. O mais velho depois de muita revolta deu o dinheiro a menor e seus adorados doces. Os dois passaram a tarde brincando até que a pequena capotou no colo do mais velho. Hiccup ainda estava meio confuso com tudo que havia acontecido hoje, e foi dormir com a cabeça cheia de duvidas até mais do que anteriormente.