The Races escrita por Diego Miranda


Capítulo 4
Capítulo 3 - Quando O Instinto Se Revela


Notas iniciais do capítulo

Esta aí o terceiro capítulo de The Races. Espero que gostem, especialmente do final



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Mais um dia chega na Zona do Fogo. Como sempre, o céu estava nublado, mas não dava pra saber se aquilo eram nuvens de tempestade ou apenas a poeira que se levanta todos os dias para esconder a luz do sol. Eu ainda estou deitado na cama. Depois do péssimo pesadelo que tive na noite passada, não consegui mais pregar os olhos. Mas na verdade, eu tinha que levantar a cabeça e esquecer tudo aquilo mais uma vez. Sarah já está muito preocupada com a falta de comida e o frio está ficando cada vez mais angustiante, não posso deixa-la preocupada com mais uma besteira, embora eu deva confessar que estes sonhos são tão reais que quase posso sentir o calor do fogo tomando conta de meu corpo.

Levanto-me e vou até a sala e ouço o ranger das madeiras velhas que compõe o chão de nossa casa. Mas o aspecto aconchegante essas casas deveriam ter não existe neste lugar. O frio toma conta de tudo e uma garoa molha toda a rua aos poucos, como se o céu chorasse por uma nova era.

Sarah está sentada no sofá abraçando as pernas. Eu me sento ao seu lado e toco o seu ombro. Ela me olha e percebo o cansaço em sua face. As olheiras tomam conta de seus olhos e então noto que mais uma vez a minha irmã passou a noite em claro. Olho em seus olhos e digo:

– Sarah, por favor, você precisa descansar. – Toco seus cabelos úmidos e ela torna a abaixar a cabeça me respondendo lentamente.

– A comida acabou e a última gota de água potável já era. Não sei mais o que podemos fazer. As pessoas mal saem de suas casas, muito menos abrem as portas após as ameaças do toque de recolher e... – Ela pausa e levanta a cabeça me olhando e tentando forçar um sorriso. – isso não vem ao caso agora. Você acabou de acordar e temos que sair e caçar.

– Caçar? – Respondo assustado e me levanto indo até o meio da sala nervoso. – Nós não temos ferramentas para isso, muito menos sabemos caçar.

– Isso é verdade. Se sairmos, o mais fácil é que a gente seja a caça. As pessoas estão cada vez mais psicóticas por aqui.

– E se formos para a capital? – Sugeri, embora soubesse que isso era um pedido de morte.

– É a nossa única saída. – Sarah diz se levantando e indo até a cozinha. Ela abre um dos armários, mas logo volta ao se lembrar que não existe mais nada naquela casa que possa sustentar a nossa vida.

– Você está falando sério? E como vamos chegar lá? – Digo animado. Aquele talvez tenha sido o primeiro momento de animação em vários anos.

– Sim, mas precisamos ser discretos. A ONT está de olho em cada um em todos os lugares. Se não passarmos despercebidos, podemos ser presos ou até morrer.

– Não consigo entender toda essa segregação.

– Eles tem medo que nossos domínios se mostrem ativos. Na verdade eles temem apenas perder o posto de “poderosos chefões”. Enfim, ponha alguma roupa um pouco mais quente, temos um longo caminho pela frente.

Alguns minutos depois, Sarah e eu já estávamos no caminho para a capital. Tínhamos que ser rápidos para voltarmos antes do toque de recolher. Qualquer erro pode ser fatal.

Enquanto caminhamos em silêncio, me lembro mais uma vez dos sonhos que venho tendo. Talvez eu possa controlar o fogo em breve, mas Sarah nunca permitiria que eu fizesse isso, poderia ser o nosso fim. Além disso, devo me preocupar apenas com a nossa longa viagem. Estamos carregando apenas algumas facas. Se algumas das bestas nos encontrarem, não teremos nenhuma defesa. Essa realmente é uma jornada muito perigosa.

Olho para Sarah que caminha a minha frente tomando cuidado onde pisa e me fazendo seguir todos os seus movimentos. As ruas são cobertas de neve e cinzas que podem esconder um grande buraco.

Duas horas se passaram e não podemos parar para descansar. A Zona do Fogo já foi deixada para trás. Nos aproximamos agora da grande estrada que leva até a capital. Embora não seja muito movimentada, precisamos ser cautelosos.

– Ali! Está vendo? – Sarah para e aponta para um carro parado próximo à beira da estrada. É a nossa hora de pegar uma carona clandestina.

– Sim, vamos antes que o motorista resolva sair.

Nós corremos com o corpo abaixado para evitar que o motorista nos visse. Com certeza ele está indo para a capital e uma carona é tudo o que precisamos. Entramos no fundo do carro que estava aberto e cheio de tralhas. Por sorte não fomos percebidos e alguns segundos depois o carro começou a andar.

Aquela era a estrada mais bem cuidada que eu já devo ter visto, ou ao menos sentido. O carro parecia deslizar pela rodovia e então aproveitei o momento para dormir um pouco. Percebo também que Sarah já caiu no sono. Bom, será uma longa viagem, temos tempo para um breve descanso.

Cerca de 40 minutos se passaram, e estes pareciam apenas alguns segundos, e então eu acordei ao sentir o carro parar lentamente. Havíamos chegado ao nosso destino.

– Sarah, acorde, acho que chegamos e precisamos sair logo. – Digo sacodindo a minha irmã que acorda confusa, mas logo entendeu o que eu estava dizendo e tentou se sentar para preparar a nossa fuga. – O que vamos fazer?

– Primeiro temos que ter certeza de que não há ninguém do lado de fora. Preste atenção. – Ela diz aproximando a orelha de um dos lados do carro. Eu sigo seus movimentos mais uma vez.

– Não ouço nada. – Digo ainda confuso.

– Isso. É o nosso momento! - Ela diz levantando a grande lona que nos cobria e nós pulamos discretamente para fora do carro. Mas a nossa sorte parecia ter ficado no meio da estrada. Assim que toco o chão e olho para frente, cinco soldados estão parados com armas enormes apontadas em nossa direção.

– Quem são vocês e por que invadiram este carro? – Um dos soldados se aproxima de mim com a arma e fala de forma arrogante.

– Por favor, senhor, só estamos atrás de comida. Não queremos problemas! – Sarah diz tentando acalmar o soldado que não pareceu se abalar.

– Nós estamos falando a verdade. Viemos da Zona do Fogo. Vocês precisam entender que as pessoas por lá estão morrendo de sede e de fome. Precisamos de ajuda!

– Cale a boca moleque petulante! – Ele diz me empurrando e então eu caio sentado. Sarah pula na direção do soldado que a empurra com a arma, fazendo um grande corte em sua testa.

– Não faça isso! – Eu me levanto e grito quando os cinco soldados formam um círculo em nossa direção nos impedindo de fugir.

– Vocês não são bem-vindos aqui. A Zona do Fogo está perecendo e isto é o que irá acontecer. Agora, se rendam e seremos mais piedosos com suas mortes. – O mais alto dos soldados fala se aproximando de mim aos poucos e em suas últimas palavras aponta a arma em meu queixo, me fazendo ficar na ponta dos pés.

Então este era o nosso fim. Iríamos morrer após tanta dificuldade para chegar a este lugar. A grande metrópole. A que devia apoiar as Zonas, mas apenas as deixam jogadas de lado enquanto seus habitantes morrem. Mas o que mais me decepcionava era o fato de não ter ajudado a minha irmã. Enquanto estou nas mãos de um soldado que está prestes a me matar, Sarah está caída e sangrando. Eu não podia deixar isso acontecer.

O tempo parece passar mais devagar enquanto vejo os outros soldados se reposicionarem para nos atacar com suas armas de última geração. É então que toda a raiva que poderia sentir toma conta de meu corpo. Me sinto mais pesado e ao mesmo tempo mais forte. Eu não podia deixar a minha irmã morrer e então sinto o meu corpo se aquecer. No estante em que reajo, os sons de um soco flamejante em um dos soldados se mistura com o som de um tiro.

Vejo então o soldado que me prendia caído ao chão com o rosto desfigurado e a única coisa que consigo fazer é olhar para Sarah. E não havia sangue apenas em sua testa cortada. Havia sangue também em seu ombro. Muito sangue. Aqueles malditos haviam atirado em minha irmã. A raiva que já estava próxima de seu ápice me faz ver o mundo num tom alaranjado e só então percebo que o que havia acontecido me meu sonho estava acontecendo naquele instante. E era real. Eu estava em chamas. Eu tinha forças para tentar de alguma maneira ajudar a minha irmã.

Me abaixo e chego mais perto dela que consegue abrir o olho e tenta falar algo enquanto lágrimas caem de seus olhos. Eu sinto que estou prestes a cair aos prantos, mas as lágrimas evaporam assim que tocam a minha pele em brasa.

Eu me viro para trás e vejo que os outros quatro soldados restantes se reestabeleceram do susto e estão prestes a nos matar. E desta vez a coisa estava ainda mais séria. Então apenas sigo os meus instintos.

Levanto o meu braço e grito com todas as minhas forças interrompendo o silencio que resistia naquela área da capital. Foi então que a mesma cúpula de fogo que me cobriu no sonho, estava agora protegendo a Sarah e eu, impedindo que os soldados se aproximassem. E aqueles foram os piores segundos de minha vida.

Voltei-me novamente para a minha irmã que ainda estava caída e ensanguentada. Seu rosto ainda estava molhado de lágrimas e sangue. O fogo que me cobria se dissipou, mantendo-se apenas na cúpula. De alguma maneira, eu assumi o controle deste elemento. Toquei a face de Sarah e então pude chorar. Toda a nossa vida e toda a nossa luta parecia ter sido em vão. As lágrimas escorriam de meu rosto e pingavam no chão. A única coisa que pude fazer foi levar minhas mãos as suas e abraça-la. Neste momento, o fogo nos cobriu completamente e o mundo escureceu ao meu redor.


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Notas finais do capítulo

Então, o que acharam?? Tentarei postar o capítulo 4 até o domingo e vem muuuuuuuita coisa ainda =)