Eu havia acabado de sair da cozinha quando ouvi aquele som forte e alto que fez a mobília vibrar. Aquele era o início do toque de recolher. Por mais assustador que possa parecer, não faz diferença para mim afinal, não sou louco de ficar perambulando pelas ruas frias há esta hora. Ou eu seria congelado ou morto por algum outro louco da Zona. De qualquer forma, o melhor a fazer é dormir e tentar pensar em algo útil. A Sarah já está ficando preocupada demais com a falta de comida e eu sinto que não posso fazer nada.

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Mais uma vez tive um sonho estranho. Desta vez eu estava no centro de uma arena e estava muito quente, o que é estranho já que nunca senti calor neste lugar. Milhares de pessoas gritavam como loucas nas arquibancadas enquanto o sol penetrava as suas peles. Eu não podia entender o que estava acontecendo até me dar conta de que eu estava em pé no meio da arena e com roupas rasgadas e ridículas.

Agora sim eu podia entender, eu havia sido julgado e condenado. Aqueles eram os meus últimos minutos e cada inspiração poderia ser a última. O público gritava como se quisesse expulsar todo o ar dos pulmões e desta vez eu podia entender. Eles queriam a minha morte. Seja lá o que for que eu tenha feito, irritei muita gente e agora todos querem me ver morto.

Eu permaneço parado no centro da arena até que uma voz única e muito alta ressoa por todo o lugar. Não consigo entender as suas primeiras palavras até que ele começa a falar em meu idioma com um sotaque italiano extremamente forte e irritante.

– John Hooper, você foi acusado e condenado por ter destruído o tratado de paz. Por levar seus poderes proibidos às outras zonas e causar desordem em nosso novo mundo. Seus atos colocaram a todos em perigo e agora este é o seu último momento vivo. – A voz continuava alta, mas não parecia vir de alguém presente. Era como uma gravação.

Eu tentei gritar e dizer que não havia feito nada e então percebi que eu não tinha voz. Por mais que eu tentasse, eu estava mudo e então as portas ao fundo da arena se abriram. O que eu menos esperava apareceu. Uma besta de 5 metros de altura, presas gigantes e espinhos espalhados por todo o corpo. De sua boca escorria uma gosma fumacenta e eu não precisava ser especialista em bestas assassinas para saber que aquilo iria fazer um grande estrago caso encostasse em mim.

O desespero tomou conta de mim e eu não conseguia me mexer. Ótimo, há uma besta gigante prestes a me matar e eu estou mudo e imóvel. Não era assim que eu imaginava a minha morte.

Aquele monstro gigante começou a caminhar lentamente em minha direção e eu podia sentir o calor aumentar cada vez mais. Se de longe eu podia sentir o calor daquelas presas, de perto eu iria sentir muito mais além de um simples calor. Mas aquilo estava ficando cada vez mais assustador e a cada centímetro que a besta se aproximava, o calor ficava maior e eu quase sufocava com tanta fumaça. Mas não havia fumaça naquele monstro. Não havia fumaça em nenhum outro lugar da arena.

De repente todos os loucos e fanáticos pela minha morte se calaram e então eu pude entender o porquê. Eu estava emitindo tanta fumaça. Eu estava em chamas.

Cada milímetro de meu corpo estava pegando fogo. Não posso explicar como consegui fazer isso, provavelmente o meu poder se desenvolveu extremamente rápido e aquela era a minha chance de se safar.

Quando a besta finalmente percebeu que eu estava em chamas, ela balbuciou algo que não pude entender e então correu na minha direção com a boca aberta e presa pingando ácido. Não teria fogo que me salvasse deste ataque e então a única coisa que pude fazer foi me abaixar e tentar me proteger.

Assim que toquei a minha pele, o fogo cresceu ainda mais, como se tentasse se livrar de meu corpo e lutar no meu lugar, e então uma grande cúpula de fogo me cobria e queimava a besta que tentava de qualquer forma me atacar. Mas então o que eu menos esperava aconteceu.

Todo o público voltou a gritar. Mais uma vez eles queriam me ver morto e acho que eles iriam conseguir. Eu estava completamente cansado e com certeza não iria suportar manter as chamas por muito tempo. Até que um homem segurando um grande controle entra na arena pela mesma porta em que o monstro gigante passou e então diz:

– Você acha que isto é alguma brincadeira não é? Então vamos torna-la um pouco mais divertida... para mim, é claro. – E com um sorriso sarcástico e cruel ele aperta um dos botões do controle e o chão começa a vibrar. Da terra, começa a brotar água e em poucos segundos eu me vejo no meio de um grande lago. A má notícia? O fogo apagou. A notícia pior? O monstro se adaptou muito bem a este novo ambiente e corre desesperadamente na minha direção. Agora sim, este é o fim.

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Eu acordo assustado e extremamente suado com Sarah sentada próxima a mim me sacudindo. Então realmente foi tudo um sonho. Eu não consigo controlar o fogo e nem fui morto. Isso é bom, mas não aguento mais ter este sonho toda a semana.

– Tem certeza de que está bem? Você estava gritando muito! – Sarah parece preocupada e me sinto mal por isso. Ela já estava cansada demais e não precisava de mais isso.

– Estou sim, não precisa se preocupar. – Tento acalma-la e volto a deitar na cama.

– Bom, então acho que temos que voltar a dormir, mas se quiser pode me contar o que você sonhou. Não pode ser boa coisa tem pesadelos terríveis assim.

– Eu realmente estou bem Sarah. Não precisamos conversar sobre isso agora.

– Tudo bem. Então voltarei a meu quarto, mas qualquer coisa pode me gritar que eu venho. – Sarah estava saindo do quarto quando olhou novamente para mim e eu tentei forçar um sorriso para acalma-la. Se tem uma coisa que Sarah não precisa no momento, é se preocupar com um irmão infantil com medo de pesadelos. Mas a frequência com que eu tinha o mesmo sonho estava realmente me assustando.