The Races escrita por Diego Miranda


Capítulo 1
Capítulo 1 - Sarah


Notas iniciais do capítulo

Este é o primeiro capítulo desta história e será narrado pela personagem Sarah. Espero que vocês gostem e boa leitura ^^



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O dia estava escuro. Nuvens cinza cobriam todo o céu deixando toda a cidade com um aspecto sombrio. Mas esta não é a primeira vez em que o dia parece ser noite e nem será a última. Desde a grande guerra há centenas de anos, o mundo nunca mais foi o mesmo e eu imagino que nunca voltará a ser como antes.

- Estou aqui há anos e parece que nunca irei me acostumar com este clima. – Disse John abraçando a si mesmo para se aquecer um pouco mais. – Este frio não parece ser normal.

- Nada neste lugar é normal. – Eu respondi repetindo o mesmo gesto feito por ele. Respirar era difícil por causa da enorme poluição e o chão estava coberto de neve e poeira, o que também dificultava a passagem de automóveis. Não que houvessem muitos afinal poucas pessoas tinham recursos suficientes para isso, mas ainda assim, os poucos motoristas que existiam não se atreviam a ir mais rápido ou poderiam sofrer um grave acidente.

John e eu caminhamos por cerca de meia hora em silêncio até chegar a nossa casa. Nós moramos nesta cidade desde que nascemos e ainda assim é difícil se acostumar com todo este lugar. As ruas são estreitas e há moitas espalhadas por todos os cantos. Por mais que pareça estranho para uma cidade chamada Zona do Fogo, as casas são feitas de madeiras e todas apresentam uma aparência velha, como se estivessem ali há séculos. Durante esta época do ano, a neve cobre tudo ao redor, mas não se parece nem um pouco com as imagens dos filmes natalinos atuais.

Mesmo tendo algumas habilidades especiais, ainda não fomos permitidos a usá-las e isso torna tudo ainda mais difícil.

Eu sou Sarah, tenho 17 anos e vivo na Zona do Fogo. O nome pode parecer estranho, mas após a grande guerra, foi nesta cidade que pessoas com a mesma habilidade sobrenatural se reuniram e vivem até hoje, centenas de anos depois de tudo. John é meu irmão e é três anos mais novo que eu. Muitos dizem que somos muito parecidos, talvez por termos a pele pálida, os cabelos loiros e os olhos cinza como o céu atual. Talvez nos achem ainda mais parecidos já que vivemos juntos. Depois da morte de nossa mãe e da prisão de nosso pai, nós tivemos que viver sozinhos e isto não vem sendo uma tarefa muito fácil.

Nós entramos em casa e eu fui direto para o meu quarto, pois realmente precisava de alguns cobertores para me aquecer um pouco mais. Parecia que a nova era do gelo estava prestes a se tornar real e o ar parecia queimar todo o pulmão de tão gelado que estava. É dezembro e o inverno parece estar mais rigoroso do que os anteriores, como sempre. A cada ano o clima piora e as pessoas deste planeta parecem não notar, ou apenas não ligam para isso e preferem morrer intoxicados.

Após pegar alguns cobertores, luvas e uma toca, me dirigi até a cozinha onde John preparava sopa de algumas ervas que ainda existiam nesta região.

- E mais uma vez iremos tomar esta sopa nojenta, - John me olhou com o canto dos olhos – sem ofensa, claro. – Disse chegando mais perto e olhando para dentro da panela.

- É o que temos. Soube que os armazéns estão fechados devido ao mal tempo e ainda assim, temos pouco dinheiro. Não sei até quando iremos aguentar. – Ele disse com um olhar triste e vê-lo daquele jeito não me deixava nem um pouco bem.

- Nós vamos dar um jeito. As coisas não são fáceis, mas sempre há uma solução não é? – Tentei forçar um sorriso, o que pareceu não ajudar muito. Fui até a sala enquanto o meu irmão preparava a sopa. Eu precisava pensar em algo ou nós seríamos os próximos a morrer de fome. Não é justo que nós tenhamos habilidades tão incríveis, mas somos proibidos de usá-las. Isso seria extremamente útil.

Alguns minutos, que na verdade pareceram alguns segundos, se passaram e John apareceu para me chamar. O tempo parecia ter sido afetado pela radioatividade de anos atrás e passava tão rápido que às vezes eu não conseguia perceber.

- Sarah, a sopa está pronta. É melhor comermos logo para nos aquecermos.

- Sim, vamos. – Nós voltamos para a cozinha e comemos. O silêncio reinou por alguns minutos. Dessa vez, pareceram horas. Pois é, o tempo aqui era algo louco.

- Sarah, uma vez ouvi algumas pessoas falarem que este lugar se chama Zona do Fogo devido às habilidades que todos aqui possuem sobre o fogo.

- Sim, é verdade. Mas nem todos podem usá-las. Por isso nós ainda não sabemos. – Eu o respondi rapidamente e isto pareceu deixa-lo um pouco cabisbaixo. – Não se preocupe com isso. Temos coisas mais importantes por enquanto como pensar numa maneira de conseguir dinheiro.

Aquilo não era algo que uma criança de 14 anos devesse se preocupar, mas era a nossa vida e não tínhamos outra saída.

- Uma vez você me prometeu contar a história da grande guerra. – Ele me olhou novamente com o canto do olho. Ainda assim era um olhar intimidador e que me convencia a qualquer coisa. E o garoto era especialista em fazê-lo.

- É uma história muito longa, você quer mesmo ouvi-la?

- Temo que não temos nada melhor para fazer. – E mais uma vez o menino me convenceu. Ele falou dando um leve sorriso e achei melhor começar logo a história.

- Há algumas centenas de anos o mundo, que era completamente diferente do atual, estava à beira de um colapso. Os países viviam grandes crises e guerreavam durante todo o tempo. Onde hoje é a Zona do Fogo, antes havia uma cidade que era conhecida como Quebec. O planeta tinha belas florestas, lagos, rios e uma incrível diversidade de animais. Mas os humanos eram extremamente consumistas e foram destruindo tudo até que um dia uma grande guerra se iniciou. Todos queriam roubar essa diversidade de outros países e junto iam as maiores riquezas. O que surpreendeu a todos foi que aquela acabou se tornando uma guerra atômica. Bombas nucleares e várias outras armas de poder radioativo foram utilizadas contaminando tudo. Várias explosões aconteciam ao mesmo tempo matando milhões de pessoas em todos os continentes. No fim de tudo, uma grande camada de poeira e fumaça cobriu todo o céu impedindo que a luz do sol penetrasse no planeta e assim, espécies de plantas e animais foram se extinguindo aos poucos. A população foi reduzida a muito mais da metade e a área mais afetada, a América do Norte, se tornou tão radioativa que gerou mutações em todos os sobreviventes.

- Foi assim que nós surgimos? – Ele perguntou interrompendo o meu relato. Eu estava tão envolvida em toda a história que não percebi que o garoto me olhava com a boca aberta e olhos vidrados como se estivesse hipnotizado. A esta altura o sol estava prestes a se por e a temperatura caía ainda mais.

- Mais ou menos. Essas mutações não surgiram repentinamente. Algumas dezenas de anos depois surgiram relatos de sobreviventes que conseguiam manipular alguns elementos como o fogo ou a água. E então o mundo se viu mais uma vez em um beco sem saída. Milhares de pessoas começaram a apresentar habilidades diferentes ao mesmo tempo e isto acabou gerando uma grande guerra civil que devastou mais uma vez todos os cantos do planeta. Tsunamis, furacões e incêndios de grandes proporções remodelaram o planeta e então numa última tentativa de paz, uma grande organização resolveu exilar todas as pessoas em zonas diferentes espalhadas pelo mundo de acordo com suas habilidades. Desde então, pessoas com domínio sobre o fogo vivem aqui, mas apenas os superiores podem usar estas habilidades. Por isso, nós nem ao menos fomos ensinados.

- E desde então o mundo vive em paz? – Ele me perguntou, porém permanecia imóvel e com o mesmo olhar de hipnotizado.

- Bom, eu não diria que vivemos exatamente em paz. Somos controlados o tempo inteiro. A terra continua poluída mesmo após centenas de anos e o clima continua castigando todo o mundo. Poucas pessoas tem liberdade e ainda sofremos com o toque de recolher. Não sei se posso chamar isso de paz. – Eu respondi enquanto tentava terminar de tomar a sopa que àquela altura parecia extremamente gostosa.

- É. Este é um lugar estranho.

- E instável. – Completei enquanto me levantava para limpar os pratos sujos. – De qualquer maneira, nós só podemos pensar em como vamos conseguir dinheiro para comermos. Não fique pensando muito nessas histórias. Talvez nós nem sejamos capazes de controlar o fogo.

- Pode ser.

Após contar toda aquela história, eu fui até o banheiro. Precisava tomar um banho quente antes de dormir. Aquele era o único momento em que eu conseguia relaxar de verdade e então sonhar. Alguns minutos se passaram e pude ouvir um som forte que fez a mobília vibrar levemente. Aquele era o sinal de que o toque de recolher havia começado e qualquer um que estivesse na rua durante toda a noite... bom, não teria um destino muito legal.


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Notas finais do capítulo

Bom, espero que vocês tenham gostado e prometo não demorar com o segundo capítulo. Se você leu e gostou, ou se leu e não gostou, não importa, deixe um comentário, nem que seja só com um "bom" ou "ruim", isso sempre motiva a escrever mais e melhorar cada vez mais. Até a próxima o/