Guerrear ou Morrer escrita por Rob Sugar


Capítulo 4
Capivara




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Se não fosse essa perna defeituosa do inferno eu correria atrás daquele médico.

–Thresh... Temos que falar com o piloto do helicóptero antes do médico. - olho pra ele e engulo seco.

–Eu sei. - ele pousa a mão no meu ombro e sorri - Você não pode andar, mas eu posso. Não saia daí. - ele se levanta e vai até a porta.

Tento me levantar. Não posso deixá-lo sair sozinho. Não sei do que esse médico é capaz. Ele vê meu esforço ridículo e vem até mim. Ele acaricia meu cabelo e pede pra que eu pare de imitar uma capivara com parkinson parindo trigêmeos. Eu apenas o encaro.

Vejo o sair e fechar a porta atrás de si. Me viro para o lado oposto à porta e tento dormir. Fico com os olhos fechados por uma eternidade, mas não é o suficiente. Penso em como minha vida pode nunca ser a mesma.

Viro para o teto e vejo mais uma vez. Um par de pontos brancos. Grito o mais alto que consigo. Esfrego os olhos e eles somem. Uma enfermeira entra às pressas no quarto e me pergunta se estou bem.

–Eu... Eu... - me dou conta que meu coração está a mil por hora - Achei ter visto uma coisa... No teto...

–No teto, querida? - a enfermeira olha para o teto e procura qualquer coisa, mas o teto é uniformemente verde mar em todos os pontos - Acho que não. Pode ser só uma consequência do seu coma. Se precisar, me chame, tudo bem? - concordo com a cabeça e a vejo ir embora também.

Agora sei que é uma boa hora para dormir.

E é o que faço. Após alguns segundos caio no sono.

Não tenho um pesadelo sobre os terríveis pontos brancos, florestas em chamas, explosões. Nada ruim. Um sonho maravilhoso onde sou minha versão de dez anos.

Que saudade dessa época. No sonho, vou a uma campina que tinha perto da minha casa para encontrar um amigo meu. Me surpreendo ao ver que não é Thresh, pois na minha memória lembro de ter sido ele. No sonho, Dominik está em seu lugar.

Lembro-me imediatamente de Dominik. Ele era uma criança prodígio que morava no nosso bairro. Ele não tinha amigos, só Thresh e eu, apesar de que ele e Thresh não se davam muito bem. Tudo no sonho tudo acontece do mesmo jeito que aconteceu com Thresh, só que com Dominik.

A situação era a seguinte: no dia anterior Thresh tinha me convidado para ir até a campina para me contar um segredo. Quando eu chegava lá, ele me dava uma maçã e me convidava para sentar em um tronco que ele mesmo tinha derrubado com seu machado. Eu comia a maçã enquanto ele me contava que os pais deles estavam voltando a se falar, mas às escondidas, e ele tinha descoberto por sua avó.

Tudo segue a mesma ordem, só que com Dominik. Nada de "romântico" acontece no sonho, caso você esteja com segundas intenções, mas dessa vez Dominik me beija. E eu acordo.

Vejo Thresh em pé do meu lado. Ele me diz que o piloto do helicóptero quer falar com nós dois amanhã ao meio dia. Eu agradeço e ele sorri em resposta.

–Garnet... Tenho que te contar uma coisa que você talvez não saiba... - ele se agacha e ficamos face á face - Aquela maçã tinha uma espécie de sonífero leve... - arregalo os olhos - Nada perigoso... É que eu gostava muito de você e fiz aquilo para te beijar. Dominik que criou o sonífero, achei que você precisava saber disso. Desculpa esconder por tanto tempo.

–Tudo bem, Thresh. - dou um tapa na cara dele sem força - Amigos têm segredos, isso é normal.

Ele sorri e se senta na cadeira ao lado. Diz que entende o que quero dizer, o que é ótimo.

Não quero contar para ele que beijei Dominik...


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