Guerrear ou Morrer escrita por Rob Sugar


Capítulo 3
No Leito




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Acordo no hospital. Meu peito coça muito. Não tenho problemas em respirar, o que é bom. Sinto todas as partes do meu corpo, o que também é bom. Além da coceira, estou com uma dor de cabeça terrível.

–Tudo bem? - Thresh pergunta e só assim me dou conta que ele está do meu lado. Ele está tomando soro mas parece melhor que eu - O médico passou mais cedo e disse que se você estivesse sentindo coceira, passasse isso aonde está coçando. - ele diz e me entrega um pote menor que a minha mão. Tem um cheiro tenebroso e a cor não é das melhores, mas isso vai parar esta coceira. Espalho e sinto um alívio. Solto um gemido de prazer - Quer ajuda aí? - Thresh pergunta sorrindo. Estou ocupada sentindo prazer pra responder.

Quando acho que já tem creme demais fecho o pote e o ponho no criado-mudo do lado da minha cama. Tento lembrar dos acontecimentos da última vez que estive consciente. Pergunto a Thresh quanto tempo durou o coma dele, já que ele acordou antes, mas ele não sabe.

–Não me disseram quando eu perguntei. - ele se esforça e se senta na cama - Acho que agora que você acordou eles dirão.

–Mas você acordou hoje? - pergunto.

–Sim. - ele responde balançando a cabeça - Alguns minutos depois de acordar, o médico chegou me contou sobre o creme e não respondeu minhas perguntas. - ele tosse um pouco - Aí ele foi-se embora e uma hora depois estamos aqui, com você acordada.

O médico entra no quarto e interrompe nossa conversa. Ele pega uma cadeira dos parentes, que só agora notei que estavam as sete desocupadas, e se senta entre Thresh e eu. Ele nos olha por um momento. Um momento longo. Longo demais. Estou começando a ficar incomodada quando ele abre a boca e diz:

–Vocês não vão morrer agora. - ótima frase de abertura - Não estão com sequelas irreversíveis nem nada do gênero. Vamos começar com os relatórios.

Ele pega duas pranchetas e diz que vai começar por Thresh. Ele fala de um braço quebrado, uma perda de sangue absurda, de cortes no abdômen e em como ele foi sortudo de o hospital ter sangue suficiente para ele ter sobrevivido a isto. Ele puxa a minha prancheta e me preparo para o pior. Queimaduras de primeiro grau nas pernas, um traumatismo craniano que está resolvido, um corte na perna que dificultou a cicatrização com as queimaduras e uma alergia desconhecida porém inofensiva no peito.

–Os dois entraram em coma. Thresh, você perdeu muito sangue e desmaiou. - ele se vira para mim - Garnet, por conta do seu traumatismo você acordou hoje. Os dois ficaram desacordados por três semanas. Além destas coisas, vocês dois chegaram aqui em furos exatamente iguais e no mesmo lugar: na nuca de vocês. - o arpão daquelas criaturas também pegou Thresh - Isso foi muito perigoso, um pouco mais abaixo e talvez vocês pudessem ficar tetraplégicos. A coluna vertebral é muito sensível.

O doutor Padtror pergunta como tudo isso aconteceu e eu e Thresh nos entreolhamos. Não sei se deveríamos contar e levanto as sobrancelhas para traduzir isto. Ele olha para o médico de soslaio, interpretando "Se quiser, vá. Mas eu não vou dizer nada." e me dou conta de que nos conhecemos muito bem para nos comunicar com o rosto dessa maneira.

–Estávamos na floresta. - digo.

–E como explica as queimaduras? - congelo, não existe uma explicação lógica fora a realidade. O que vou dizer? "Ah, é que sem querer pisei no meu lampião." Por mais estúpido que seja...

–Pisei sem querer no meu lampião. - vejo pelo canto do olho Thresh desabar no travesseiro e encarar o teto. Foi burrice minha.

–Como Thresh perdeu tanto sangue? Por acaso você cortou o peito dele com os cacos do seu lampião? - o doutor pergunta com ironia. Se ele está cansado disso alguém no quarto está mais.

–Você não me deu respostas quando eu perguntei, porque deveríamos dar a você? - Thresh grita e encara o médico.

–Estou dando suas respostas agora. E pelo seu comportamento, estou começando a me arrepender de ter salvo você.

–Você é médico, não pode julgar se minha vida vale alguma coisa! - Thresh responde - Porque não volta daqui a uma hora pra pegar as respostas? É justo, não é?

Estou calada. Sei que se eu der mais um pitaco Thresh pode explodir aqui e o médico não faria nada. Enquanto eles discutem começo a pensar no que aconteceu na floresta.

Os pontos brancos. Tenho que descobrir mais sobre eles. Eles podem ser ainda mais perigosos que os Noturnos, teriam matado a mim e Thresh se não fosse... O helicóptero! O piloto do helicóptero deve ter visto o que eram aqueles pontos brancos. Tenho que descobrir quem ele é.

Quando volto a realidade vejo que o médico não está mais aqui. Thresh está sentado com os pés para fora da cama olhando para mim.

–Você está bem? - pergunto a ele. Me distraí e não sei o que ele falou ou ouviu - Desculpa não ter te ajudado.

–Não se preocupe. Algumas pessoas não gostam de ouvir a verdade, mas temos que falar assim mesmo. - ele encara o chão por um tempo. Levanta a cabeça olha para mim e sorri. - No que estava pensando tanto, Garnet?

–Sobre a floresta. - vejo seu sorriso ser morto por um semblante de seriedade - Eu quero saber mais sobre aqueles pontos brancos. O que eram. Se alguém sabe tem respostas é o piloto do helicóptero que nos salvou.

–Deveria ter dito isso antes do médico sair. - Thresh me diz mas não sei se entendo - Enquanto você estava pensando nos pontos, ele disse que se arrependia "do pai dele" ter nos salvo.

O médico é filho da pessoa que vai salvar a minha sanidade.


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