Earth Ruins escrita por MH Lupi


Capítulo 9
Capítulo 9 - Tempestade.


Notas iniciais do capítulo

Então, Sim, Olá pessoas.
Eu acho que esqueci de avisar: Os capítulos serão postados aos fins de semana, já que dá pra escrever e modificar melhor com mais tempo livre.
Bem, esse capítulo é um grande "enchedor de linguiça", o que significa que essas 2000 palavras são um tanto quanto nada a mais que uma enorme enrolação para vocês :3
Nem sei se deveria postar, na verdade. Tá meio que incompleto. Mas o próximo capítulo vai ser da hora!
Eu acho.
Enfim, e lá vamos nós:



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A tempestade veio com uma canção. No caminho de casa, Lupus ainda não conseguia dirigir. Algumas partes do seu corpo tremiam, e sua cabeça doía. Ainda não conseguia fazer muito mais que encarar as próprias mãos. Não sabia se estava envergonhado ou assutado. Provavelmente os dois. Estavam saindo no meio do dia – deveriam ser onze ou doze horas – mas o cinza tinha tornado tudo ainda mais opaco. Tão morto e vazio.

Ele foi sozinho no banco de trás. Não falou uma palavra – e também não murmurou mais nenhuma profecia estranha.

Ele odiava não lembrar o que falou. Odiava saber que era algo importante, e não saber o que era. Quando acordou de verdade, estava nos braços de Isa, sussurrando palavras sem ligação. Quando percebeu o que tinha acontecido, teve que segurar as lágrimas.

O segundo raio veio um pouco depois que Elena ligou o rádio, também competindo com uma musica. O clarão iluminou a rua por um décimo de um segundo, então veio o estrondo, e tudo voltara a ser opaco de novo. As nuvens faziam filas no céu. Isa entra no carro alguns segundos depois, e os pingos de chuva entraram antes dela. Seu cabelo e roupas estavam molhados, assim como a pequena caixa em sua mão.

–Eu não vou tomar isso.

Aquelas foram as primeiras palavras de Lupus desde que ficou realmente consciente. Não levantou o olhar, entretanto. Viu a caixa de relance, e soube exatamente o que era.

–Não é como se você tivesse uma opção – Elena responde, dando partida no carro. - Você vai tomar, e eu não quero ouvir sua reclamação.

Isa olhou pelo retrovisor, o suficiente para ver o rosto do outro. Ele o virava pro lado, ainda com a cabeça baixa. Isa tentava entender ele – sabia que aquilo era algo ruim. E, mesmo que ele nunca falasse sobre isso, ela tinha essa sensação em seu estômago. Conhecia Lupus por toda sua vida.

–Elena, eu acho que...

–Não, Isa. Já nos descuidamos o suficiente; Eu fiz vocês usarem seus nomes verdadeiros por cause de um plano idiota, mas isso...

Não é algo que poderia ser planejado. – Isa continua.

–Exatamente. Nós nos arriscamos demais. Não sei se seria uma boa ideia...

–É uma ótima ideia. Nós vamos continuar com o plano; Vamos vencer. Certo, Lupi?

Ele não respondeu.

~~//~~

–Meu pai também tinha convulsões.

Sky estava sentado em um dos sofás grandes da casa, à frente de uma tevê. Atrás dele, Walker cruzava os braços.

Porque ele as tinha?

Um ato de boa-vontade não era algo que o garoto pudesse ser recompensado. Sim, deveria chamar atenção, e deveria ganhar a confiança das pessoas. Mas aquilo foi demais. Uma mentira que não pode ser perfeitamente sustentada não é uma mentira digna o suficiente.

–Ele tinha tumores no cérebro. - continua. Mais uma história falsa, e um passado inventado. Outro em sua coleção inacabável. - Foi isso que causou sua morte.

–Diga com mais emoção. - Incentivava Orion, sentado em outro sofá. Segurava o controle remoto, mantendo a televisão desligada.

–Isso é idiotice. Eu já consegui decorar...

–Não. - Interrompe Walker - Uma falha, S, e você volta para aquele lugar. A menor das falhas pode ser o fim. Agora, repita, e diga com mais emoção.

Sky respira fundo, olhando o reflexo da mulher ruiva na parte apagada do monitor. A mulher continua:

Por que você correu para ajudar Lupus?

Então improvisou. Enquanto criava e proferia as linhas de seu texto imaginário, ele lentamente se levantava, se virando pra Walker, fazendo gestos com as mãos.

–Porque eu não quero que ninguém sofra o que eu senti. Porque eu sei como isso é algo difícil de superar, e como o medo vai perseguir você. Porque eu também sei como é ser a vítima, e, mais do que tudo, quero ser o que ajuda, em vez de ser ajudado. Eu quero ser o herói destemido, e não o covarde sendo resgatado. Quero me sentir especial, uma única vez na vida.

Ele para, inclinando a cabeça para o lado, virado em direção à Walker. Nunca exatamente aprendeu o significado real de sarcasmo, mas, agora, reunia todo o seu conhecimento em uma única frase:

–Então, mãe, isso é emoção o suficiente? - E, após uma pausa, ele sorri – Eu criei isso em, aproximadamente, cinco ponto quarenta segundos, enquanto parte da minha mente se concentrava em um modo de... - Em um movimento, ele acende a pequena lanterna em seu chaveiro, apontando-a para Orion, que fica cego tempo o suficiente para apenas retomar o controle remoto. - De roubar o controle da mão do cara de quase dois metros na minha frente. E eu fiz isso sem ajuda de nenhum de vocês dois, devo ressaltar.

Ele liga a tevê. Orion ri no sofá, Walker tosse em aprovação.

–Bom.

–Muito bom – Completa o Mogadoriano.

–Sim, muito bom. Mas isso precisa ser o mais próximo da perfeição abstratamente possível.

–Sim senhora – Sky responde, ligando a tevê – Se quiser, amanhã terá uma redação sobre meu passado trágico na sua mesa.

–Então você entende a definição de Redação, e de Sarcasmo. Ótimo. Então você também deve entender o que significa castigo. Para os eu quarto.

Orion ri outra vez, cobrindo a boca com a mão. Por alguns segundos, o único pensamento na cabeça do garoto eram várias variações da pergunta “sério?”, e nenhuma delas lhe parecia exatamente apropriada no momento. E, enquanto soltava o controle no sofá – que, consequente à falta de suavidade adolescente, quicou na almofada coberta, até espatifar-se no chão – não conseguiu mais reunir o tal sarcasmo suficiente.

Então sobe as escadas, pulando de dois em dois degraus, na direção do seu quarto. Estava livre da base subterrânea por uma semana.

E já estava preso outra vez.

Quando abriu a porta do quarto, a surpresa não foi a das melhores. Com um grunhido, ele percebeu a janela com persianas brancas estava aberta. No céu, a pequena garoa da manhã gelada agora ganhava um tom roxo, quando a luz do pôr-do-sol se espalhava pelas nuvens carregadas. O laranja respingava em algumas delas, invadindo o ar aqui e ali, e então era engolido pelo cinza. Um terceiro trovão retumbou nos céus, e o roxo tornou-se brevemente um azul vívido, que pulsava junto à luz. Elas se remexiam, se contorciam uma sobre a outra, em um brincadeira.

Ou, nesse caso, a maior das brigas.

O frio na barriga de Sky veio junto ao vento gélido, mas nenhum dos dois tinha a menor ligação.

Ele tinha as mãos nas janelas, e estava pronto para batê-las e traca-las; Depois teria que mudar tudo o que tinha sido molhado. Porém não se mexia. Uma força invisível o segurava ali. Não vinha de fora – ele mesmo estava fazendo isso. Parte dele queria olhar a chuva, mas por quê? Saberia o que encontraria: Água evaporada e condensada flutuando, e então caindo de volta na terra.

E, mesmo assim, estava hipnotizado.

Os pingos de chuva batiam no seu peito, impulsionados pelo vento gritante. Poeira molhada – se é que é possível continuar poeira depois de molhada – e outras coisas entravam, passando por debaixo dos seus braços, ou por cima de seus ombros.

Como se refletissem tanto as nuvens vindo abaixo, quanto o interior nebuloso da mente de Sky, seus olhos se tornavam nublados. Do brilho azul, vieram as labaredas. Mudavam de cor gradativamente, com pequenos fios em lilás aparecendo pelo contorno da pupila. Se espalhavam como raízes, tomando o a íris como um campo de batalha. Os seus aliados surgiram depois, em tons de roxo, púrpura e magenta. Mais um raio o obrigou a fechar os olhos, ainda com a guerra acontecendo. Quando os abriu, já se obtinha o vencedor. O vermelho claro balançava suas bandeiras, e tornavam vivas o fogo nos olhos do garoto.

O seu outro lado tinha finalmente aparecido. O outro Sky, aquele dos olhos rubros.

Aquela tempestade era sua. Ela a criara. E ele a usaria.

~~//~~

Quando tinham chegado do consultório médico, o horário escolar já deveria ter acabado.

Lupus segurou firme o copo d'água na mão, e jogou os comprimidos na boca. Os engoliu de uma vez, sem contestar, ou falar qualquer coisa, e subiu as escadas na direção do seu quarto.

–Ele não gosta deles – Isa diz, sentando-se à mesa. - Os comprimidos têm... Esse efeito nele que o Lupi odeia.

Elena parecia um tanto quanto irritada. Ela colocava uma chaleira alumínica no fogo, e se apoia no balcão de mármore ao lado.

–Sim, eu sei, o deixa fraco...

–Ai meu Deus, Elena – Isa interrompe, suspirando – Não, Elena, nós não somos tão superficiais assim. Aquelas coisas trazem algo nele que ele não gosta... Mas eu não sei o que é, ele nunca me fala.

–Se ele não fala para você... Iniciar uma conversa seria inútil. Seja o que for que os comprimidos tragam nele, eles o protegem das convulsões. E isso é o mais importante que qualquer outra coisa.

E é o que veremos, pensa Isa, se levantando, e indo em direção às escadas. Bateu na porta três vezes, e invadiu sem esperar convite. Nenhuma das luzes estava acesa quando ela entrou, e o som da música escapando pelos fones se perdia entre o chiado da tempestade do lado de fora. Isa apenas olhou o quarto por alguns segundos, e então voltou ao corredor.

Um dos comprimidos que Lupus havia tomado era um calmante, e um que era bem forte, pelo que via. O novo relâmpago acendeu o quarto no momento em que fechava a porta, e o som não afetou o garoto deitado.

Mas ele desejaria que tivesse, no dia seguinte. Na fria manhã confusa, ele queria ter acordado aquele momento.

Ele submergiu em sonhos.

E foi visitado pelos olhos vermelhos.

~~//~~

A meia-noite foi marcada por um pesadelo e um despertar.

Naquela noite, uma janela foi deixada aberta à mercê de uma tempestade. Os raios encobriam os rastros de um caçador. Sky tinha pulado do primeiro andar, e corria debaixo dos pingos rápidos. Rápido demais para ser uma pessoa comum, desviava de hidrantes, pulava caixas de lixo, e deslizava no asfalto molhado a fim de esconder-se de qualquer um que pudesse vê-lo.

Chegou ao objetivo minutos depois, na rua iluminada e coberta por jardins e quintais cheios de vida. Mas apenas um deles chamava sua atenção. A casa duzentos e cinco estava totalmente apagada, e apenas olhos treinados poderiam ver os cinco pontos vermelhos minúsculos nos jardins. Mas isso não o preocupava – ele não precisaria andar ali. Escalou a casa do vizinho pela canaleta, e, com um impulso, pulou até o outro telhado, e outro, e mais um até chegar ao destino.

Pousou agachado, e se arrastou até ficar perto da lage. Então fechou os olhos.

Isa acordou com um grito. Não era seu – aquela voz estava longe de parecer com a sua. Vinha de outro lugar, e de outra pessoa.

–Droga! – gritou e, com um movimento, puxou o cano prateado, um pequeno souvenir da sua última visita ao Grand Canyon. Com telecinesia abriu a porta e correu pelo corredor. Quando chegou à porta do quarto de Lupus, a arrancou dos trincos com um movimento de braço.

Não o encontrou deitado em sua cama, e a janela também tinha sido arremessada para fora do quarto. Os lençóis tinham sido rasgados e sujados de sangue no caminho.

–Elena! - gritou outra vez, e voltou ao corredor, indo em direção à escada – Elena! Acor--

–Eu estou aqui – Respondeu, na sala. Em sua mão, tinha uma arma que se dividia em dois canos, como uma espingarda. Exceto que atirava tranquilizantes, e não projéteis metálicos que poderiam ser um tanto quanto letais. No seu bolso, o celular acende em vermelho, apitando como uma sirene. - No quintal.

Isa correu primeiro, empurrando os móveis na sua frente com a sua mente, até chegar à porta dos fundos.

Foi mergulhada na tempestade quando pôs o corpo para fora, forçando sua visão no escuro mortal e chuvoso. Um raio iluminou a pequena relva apenas o suficiente para deixá-la paralisada por alguns segundos. Ele estava lá – deitado no chão, com suas pernas presas em uma das armadilhas de treinamento. Quando conseguiu se controlar, a rasgou com suas unhas, e localizou a silhueta de Isa contra a luz da porta.

O som que saiu dele não era humano – e não poderia ser. Naquele momento, ele era um animal. Quando as luzes se acenderam, quando os refletores pendurados em árvores e nas paredes da casa tomaram vida, Isa pôde ver que era tarde demais.

A primeira coisa foram os olhos. Não eram os olhos dele, com suas pupilas dilatadas demais, e as íris douradas ocupando os limites da cavidade ocular. E também tinham os dentes, mais afiados e longos que o normal, que rasgavam a parte interna dos seus lábios, e fazia o sangue escorrer pela sua boca. Não eram os reais – ele cobriam os dentes, como uma prótese, que partia de sua gengiva e tinham poder suficiente para destroçar qualquer coisa em seu caminho.

Os seus dedos terminavam em garras amarelas, curvadas e pontiagudas, que arranharam suas pernas enquanto tentava se livrar da corda que o prendia no chão. Em suas costas, duas próteses se projetavam das suas costas, o que seria a base inicial para um grande par de asas. Se dobravam no meio, apontando para baixo, e riscando o chão com sua ponta afinada.

Lupus se levantou lentamente, curvando sua cabeça, analisando Isa, estudando cada centímetro que os separava. Então atacou.


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Notas finais do capítulo

É, pois é.
O próximo capítulo pode demorar, eu não sei direito se vou conseguir me concentrar, porque, cara, eu sou inconsistente. Não acho que tenho algo mais a acrescentar, acredito eu.
Bem, até o próximo capítulo!



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