Earth Ruins escrita por MH Lupi


Capítulo 7
Capítulo 7 - Garoa.


Notas iniciais do capítulo

Então, sim, aqui estou eu, depois de duas semanas (?), E numa terça-feira.
Cara, eu sou confuso. Agora eu entendo meus pais.
BEM, é isso gente. Perdoem-me, juro que não foi preguiça (talvez um pouco). Eu tava um pouco travado com A Menina Que Roubava Livros (esse livro tá destruindo minha vida, alguém manda ajuda), e com toda a tensão de uma nova escola e tal.


PS: O texto ficará sendo narrado em terceira pessoa por um tempo, já que eu não quero ficar preso dentro dos pensamentos dos personagens, e ficar mudando os Pontos de Vista.



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SKY

Seu cabelo ruivo estava amarrado pra trás, com um laço forte. Suas roupas eram muito diferentes do que ele vira antes – seu terninho desaparecera pelo caminho, e agora ela usava uma roupa que poderia ser chamada de comum: Uma camisa branca e uma saia jeans, tudo coberto por um sobretudo preto e vermelho. Eu sorrio a vendo entrar no helicóptero, com suas feridas já curadas. Ela também tinha um óculos no rosto, e vejo um livro em sua mão. Não me contenho – corro e a abraço, sentindo o cheiro de avelã no seu cabelo.

–É bom te ver garoto.

Ela bagunça – ou ajeita, nunca conseguia saber – meu cabelo, sorrindo.

–Eu senti saudades, Walker.

Orion se coloca à frente, a cumprimentando, e eu desço, olhando em volta. Tínhamos pousado no topo de um prédio de Las Vegas, e o sol ainda nascia do outro lado da cidade. A grande porta de metal do helicóptero se fecha, mas eu ainda posso escutar perfeitamente o que os dois conversavam.

Eu estou aposentada, Orion. Que inferno.

–Não me culpe, Walker. Ele conhece você, e isso será bom pros dois. E esse trabalho não é do tipo que possa ser abandonado.

–Sim, claro. Mas porque ele? E se o garoto não estiver pronto?

–Então você terá que o fazer pronto.

A porta se abre outra vez, com um ruido alto. Respiro o ar frio da manhã, tentando aproveitar o máximo do tempo aqui, fora da base.

–Então, onde vamos? - pergunto aos dois também descendo atrás de mim. Ainda olhava o nascer do sol, segurando a alça da mochila no meu ombro direito.

–Bem, por enquanto, para dentro. Em alguns dias, iremos a uma casa no subúrbio da cidade, longe da agitação cassinos e...

–O que são cassinos? - Pergunto, e, pelo jeito que os dois me olham, eu devo parecer uma criança. O que tecnicamente eu era, já que tinha acordado um mês atrás sem saber muita coisa. Tinha esquecido como andar e ler; E mal conseguia falar. - O que são?

–Nada importante! - Walker brande, dando passos largos pra frente. Orion ri. - Vamos apenas esquecer essas palavras, Ok?

–Eu não sou uma criança, Wal--

–Shh, shh, apenas vamos.

Ela nos escolta por um portão, e logo nós estamos descendo escadas – muitas escadas – de um prédio no centro da cidade. E um prédio movimentado, por sinal. Era cedo – bem cedo – e, mesmo assim, tinham pessoas por todo o lugar. Homens e mulheres de terno e gravata, conversando em celulares – era esse o nome? - e andando de um lado pra outro. Eu olho em volta, confuso.

–O quê é esse lugar?

–Um posto de operações – Orion responde. - Uma base de comunicações entre Mogadore e a Terra. Obviamente, disfarçado de prédio comercial.

Paramos em frente da grande porta de metal que ninguém sequer olhava. Do lado, um teclado digital e um grande aviso, em várias línguas. A primeira delas sendo Acltu – ou pelo menos é como seria escrita na Terra -, a língua principal de Mogadore – A língua que foi usada na globalização do planeta anos atrás. Dizia rigidamente “APENAS PESSOAL AUTORIZADO”. Orion digita o código em números Acltu, cobrindo a pequena tela com o sobretudo. A porta estala, e ele ri.

–Isso vai começar a ficar interessante.

~~//~~

LUPUS

Eu pensei que a pior parte do meu dia seria enfrentar uma Elena de ressaca no café na manhã – Cara, eu estava errado. Emma definitivamente não estava feliz, e eu pude literalmente sentir isso quando entrei no salão da escola. O cheiro do terror. Os detalhes daquela manhã eu tentei apagar da minha mente – Gritos e mais gritos, um monte de caixas, e muitas, muitas decorações. Eu até consegui me queimar com cola quente três vezes em meia hora, e isso nem sequer foi ao ponto mais baixo do meu dia.

Qual foi ele? Oh, é difícil escolher entre tanto sofrimento. Mas eu diria que foi quando Luca, um garoto da escola, perfurou um cano no ginásio. E então a ferrugem que era chamada de encanamento cedeu de vez. E esse foi o fiasco que atrasou o baile três semanas. E levou junto o bom-humor de Emma, e de metade das garotas da escola.

As minhas únicas pausas, da Emma foram, incrivelmente, as aulas. Então veio a educação física, cheia de adolescentes suados e hormônios queimando minhas narinas. Também tinham as boladas. Eu também odiava correr, embora ajudasse um pouco quando se tratava de fugas – E eram mutas delas.

A noite conseguiu ser ainda mais lenta. Enquanto deitava, logo após o banho, eu escutava o tiques do relógio. Contava os segundos. Sentia, lentamente, as gotas de água viajarem pela minha pele. Até um mosquito idiota batendo na lâmpada. Isa e Elena conversavam no andar de baixo – particularmente, o que significava que ninguém poderia ouvir. Mas, quanto mais tentava restringir minha audição, mais aguçada ela ficava. Hoje elas falavam da minha perca de controle. Elas tinham medo. De mim. E eu também tinha. Temia que isso me consumisse. A culpa de assustá-las. De perder o controle de novo. E o frio na barriga também aumentava – Eu não queria isso. Não queria assustá-las, não queria assustar a mim mesmo.

Respirando fundo, fecho os olhos. Tinha medo de perdê-las mais uma vez.

Mas, acima de tudo,

Tinha medo de me perder.

~~//~~

A chuva chegou lentamente, como se estivesse se esgueirando para surpreender alguém. Ou, nesse caso, alguma coisa. Vinte e dois de Setembro, o equinócio de Outono. Era isso que a chuva estava surpreendendo: Uma estação. O frio instalava-se rastejando entre as árvores do lado de fora, com cada folha alaranjada afundando lentamente até o chão. Cada ruido, cada som era uma nota diferente da sinfonia do mundo. Cada gota de chuva que se partia no concreto, que caia nas folhas, ou até nas janelas da cidade. Quebravam-se em duas, três outras partes, e escorriam, voltando à terra.

Uma chuva tímida, sem ventania ou clarões estrondosos. Apenas a fina camada de água, caindo das nuvens, parecendo envergonhada por molhar a cidade. As nuvens cinzentas bloqueavam o sol naquela manhã, tornando tudo mórbido e monótono. Tudo era cinza.

A chuva bateu na porta de Sky ao amanhecer. Sim, era seu novo/velho nome. Sky. Ele gostava. Realmente começava com S, afinal. Ele podia ouvir as gotas espatifarem-se contra as paredes do lado de fora, mas não ver. Não tinha janelas. E nunca tinha escapado da base o suficiente pra ver chuva. Então estava feliz por ter que sair sob ela.

Não reconhecia a roupa que usava. Pela primeira vez vestia roupas tão leves e pesadas ao mesmo tempo. Estava fora dos uniformes da base, finalmente. Só não entendia o por quê do capuz na camisa vermelha. E por que a calça é tão pesada? Era chamada de Jeans, sim. Tinha que admitir, adorava como seu corpo se sentia livre longe do uniforme militar apertado. Mas aquilo era tão desconcertante.

O carro saía às cinco e meia, junto ao sol. As cores do lado de fora não era o que ninguém esperava, mas, de certo modo, era lindo. No banco de trás, pela janela molhada, as cores eram embaçadas. Os faróis vermelhos dos carros tornavam-se círculos, partidos no meio, em fios e flashes. Os prédios também acordavam, com a surpresa da chuva.

Era gelado ao toque, quando saiu do carro. Nunca tinha sido gelado antes. Os seis dias que esteve ali era sempre resumido em calor e umidade, inclusive na sala de aula. Agora, descendo do carro, e se deparando com os pingos frios na sua pele estranhamente quente, ele sentia algo diferente de tédio e dor. Algo novo.

A casa era grande – grande demais para apenas três deles. Era idêntica às outras casas na vizinhança, paredes firmes, com janelas duplas e um jardim verde. Mas agora as folhas caiam em harmonia, navegando como barcos no mar verde de grama. Eram dois andores, com uma pintura branca clara. As janelas eram grandes – isso era bom. Fazia um tempo que não via janelas que não fossem de veículos.

Walker foi a primeira a se mover, adentrando o jardim e então a casa. Orion logo depois, com a cabeça baixa, pensando restritamente no objetivo – na missão. Isso tudo era apenas isso pra ele, uma missão. Não era tempo de brincadeiras ou passeios.

Ninguém tinha avisado isso à Sky, porém. Era tudo tão excitante! - Ele tentava provar todo momento, e todos eles tinham um gosto diferente. Cada um melhor que o outro. Mesmo com toda a opacidade do céu, tudo era tão colorido. As folhas no chão, as luzes dos prédios, e até a luz refletindo no seu mais novo anel. Vermelho, como as mechas do seu cabelo. E, logicamente, com um rastreador. E uma câmera. Mas agora ele não podia pensar nisso – Agora tinha muito a aprender.

~~

Os raios de sol alcançaram o rosto de Lupus minutos antes do despertador. A chuva ainda caia sobre as árvores quando ele se levantou. No seu corpo, as marcas da noite passada continuavam firmes. Em seu corpo e em seu quarto.

Uma dose de tequila. Era tudo que se lembrava – Uma única dose. E agora tinha arranhões feitos por unhas humanas – ele esperava, pelo menos – nas costas; E ele nem sequer consegui lembrar o nome da garota.

O seu quarto não escapou do seu surto de meio-lorieno-bêbado-com-problemas-de-auto-controle. As gavetas tinham sido arrancadas dos armários, e ele não fizera isso com as mãos. E também tinha os lençóis e travesseiros da cama. Estavam destruídos, cortados em cinco pedaços pelas unhas dele – Sabia que tinha sido ele mesmo porque tinha espuma no cabelo. E nas roupas, que também estavam rasgadas. Oh, seria um longo dia na escola.

Naquela manhã, as suas primeiras palavras seriam faladas no café, entre um giro de panqueca e outro:

–Isa, eu te odeio.

Isa ria do outro lado da mesa – ela estava impecável. Não tinha bebido uma gota de álcool na noite passada, puramente para poder aproveitar o amigo bêbado. Afinal, ela tinha certeza de duas coisas:

Um: Ela era super-poderosa e poderia chutar a bunda de meio mundo; E dois: Ela gostava mais o Lupus que aparecia quando o amigo tinha um copo na mão.

–Eu posso viver com isso.

E essa era sua resposta, junto à risada debochada. Ela deveria tê-lo na noite passada, mais achava mais que justo o fato do álcool apagar as memórias que causava.

Elena observava os dois de longe, quieta. Não fazia o tipo de mãe super-protetora – nem sequer era uma mãe – mas ainda tentava ficar de olho nos adolescentes metade-alienígenas que tinha sentados à mesa. E a ressaca no rosto do garoto era tão concreta quanto a chuva do lado de fora. Decidiu não perguntar – ela não exatamente ficou feliz com o interrogatório da primeira vez que eles a viram chegando de madrugada.

–Café faz bem – Ela diz, empurrando o copo ao loiro que tentava se manter acordado – Não é a cura, mas ajuda um pouco.

–Nós sabemos – Isa responde, com uma risada urgente e repentina que seguia as palavras. E então percebera o que falou. E foi assim que ela conseguiu colocar os dois de castigo pelo resto da semana.

Lupus voltou ao seu pensamento original:

–Isa, eu te odeio.

~~

O novo assunto na escola eram a nova diretora e seu filho. Lupus ou Isa não sabiam exatamente como agir – estavam lá apenas um mês, o quão grande seria essa substituição? Só sabiam o nome da antiga diretora, e logo esqueceriam de qualquer modo. A notícia se espalhou como fogo quando chegou aos ouvidos de Emma, e, posso adiantar, o incêndio queimou toda a cidade.

Existiam três possibilidades para a substituição da antiga diretora:

Uma: Alguém a dedurou para o chefe estadual sobre suas pequenas “transações ilícitas” - Pelo menos podia dizer que todos os alunos tinham passado pelas suas notas. Alguns recebiam nota 100. No caso da diretora, ela recebia notas de 100.

Duas: Ela dormiu com o chefe estadual o suficiente para tirar férias.

Três: Ela se demitiu porque estava de saco cheio da escola.

Sendo a número um mais provável, a notícia ganhou proporção esmagadora. Talvez a chuva, ainda tímida, estivesse tentando lavar tudo isso. Lenta e gradativamente ganhando força, tentando lutar contra os boatos; Ou encobrir a chegada do mais novo grupo problemático na cidade.

Lupus, encostado no seu armário, podia escutar os cochichos sobre o garoto novo do outro lado do corredor. Tinha praticamente um grupo se formando na janela da diretoria, onde os dois novatos eram recebidos pelo corpo estudantil. “Ele parece ter se metido em uma briga”; “O cabelo dele é meio estranho, mas eu gostei”; “Ele é adotado”. Então ele não aguentou mais, e desviou a atenção. Sabia como era estar do outro lado da situação – foi o garoto novo um mês atrás. Agora via o rosto do novato ficar mais e mais vermelho enquanto certamente ouvia o que as garotas falavam por trás da janela da secretaria.

O sinal chega como uma enchente pelos corredores, e a primeira reação de Isa é checar o amigo. Do outro lado da escola, ela podia ver Lupus com as mãos sobre as orelhas, o rosto retorcido de dor. Ela caminha até ele calmamente, aproveitando o que pode da situação. Um Lupus normal tem problemas em controlar seus poderes, mas um Lupus de ressaca era um desastre.

A visão do meio-lorieno estava embaçada quando reabriu os olhos, só pra ver um corredor quase vazio. Apenas os fechou outra vez. Então sente as mãos geladas nas laterais da sua cabeça, e a sensação de alívio percorre seu corpo. Continuou com os olhos fechados por um tempo, apenas sentindo o toque leve.

–Nós temos que ir agora – ela fala. O garoto limita-se a segurar suas mãos, passando-as pelo rosto até colocar os dedos sobre os seus lábios. Uma coisa que poderia ser chamada de beijo. - Não tem ninguém para quem se exibir, Lupus.

–É um jeito de dizer obrigado, Isa.

–Não, - ela retira a mão esquerda, e a direita segura o pulso do outro, puxando-o até a sala mais próxima – é você tentando se exibir pra Emma, que nem sequer está aqui, e tentando me sentir mal pelo castigo. Você é uma pessoa má.

Os dois riem enquanto caminham para a aula de Biologia. Eles decidiram sentar à janela, dentre os outros lugares. Uma cadeira em frente ao outro. Seria o suficiente para sua conversa de sussurros; era divertido na cabeça deles, Lupus podia ouvir o menor dos sussurros da amiga – e ela podia fazer o mesmo que ele -, e, mesmo que se conhecessem toda a vida, era engraçado ver o outro assentindo ou balançando a cabeça ao nada.

E então a diversão acabou. Lupus sentiu o calafrio na barriga outra vez, enquanto a sala escurecia. Sentia os mesmos olhos em sua nuca, mas não olhou – mal se moveu. Continuou sentado, com os braços encostados na carteira. Os pelos eriçados pelo súbito frio – era gelado dessa vez. - lhe diziam que algo estava mais errado que o normal.

Ele é trazido de volta à realidade com uma voz, o puxando da escuridão. Na frente da classe, tinha um garoto. Ele parecia ter entrado recentemente numa briga, com uma cicatriz curada no lábio inferior e um corte da sobrancelha direita. Agora entendia a exclamação sobre o cabelo: Era em sua maioria castanho escuro, brilhante pela luz da sala. Era cortado por porções vermelhas, que caiam sobre seus olhos claros demais, que pareciam o encarar. O garoto sorria, mas não um sorriso sem graça, um sorriso de alguém que aprontou, e que gostou do que fez. Agora ele olhava pra Isa, ou Lupus estaria paranoico?

–Turma – A professora fala, as rugas aparecendo no seu rosto enquanto ela sorria. - quero que conheçam seu novo colega, o filho da nova diretora transferida: Sky Gabriel.


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Notas finais do capítulo

Bem, é isso. Que tal entrar no ciclo de drama adolescente?
Ah, vai acabar rápido, porém. Quero adiantar uma coisa, já que eu posso demorar para postar:
[SPOILER ALERT DUDES AND GURLS]
Vai durar até o baile.



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