Earth Ruins escrita por MH Lupi


Capítulo 5
Capítulo 5 - Sonhos.




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~~LUPUS

No final das contas, Isa e eu estávamos certos. Elena não voltou à noite, e agora estávamos nos preparando pra ir até a pizzaria algumas quadras da nossa casa. Eu acho, pelo menos. Ela aparece no primeiro andar ainda pondo os brincos na orelha, com seu vestido um tanto quanto curto preto, e um salto alto.

É. Nós não vamos pra pizzaria.

Isa passa por mim soltando o cabelo castanho, e as mechas roxas se destacam na luz da sala. Ela pega sua bolsa, e se vira pra mim com a sua melhor cara de você-não-vai-sair-usando-isso.

–O quê? – pergunto, olhando pra minha camisa cinza que estava jogada no meu quarto uma calça jeans.

–Você não vai sair usando isso.

E eu tinha acertado outra vez. Eu lhe retribuo com meu melhor sorriso pretensioso.

–Oh, não se preocupe – digo -, elas reparam no meu rosto, não na minha roupa.

Eu me viro, e caminho pela sala sem um objetivo de verdade.

–Lu—

–Ou– a interrompo, girando meu corpo, olhando pra ela – eu poderia simplesmente ir sem nenhuma. Isso sim chamaria a atenção das garotas.

Isa corre até mim pra me empurrar até as escadas. Tento protestar – era apenas segunda-feira, amanhã tínhamos aula e eu educação física. Ela dá um tapa na minha nuca e manda eu ser homem, como qualquer alienígena normal e responsável.

Eu volto pra baixo um pouco menos repugnante, segundo Isa. Eu tinha a mesma calça, e, pelo que parecia, eu só precisava mudar a parte de cima. A minha camiseta ainda era cinza, com um capuz e sem mangas. A jaqueta de couro preta que me fazia parecer um marginal? Isso foi cortesia de Isa. Não era totalmente mentira – eu era procurado em vários estados e falsificava documentos, mas isso não vem ao caso.

–Sim, bom. – ela fala, me circulando. Eu falo “sentido”, e faço uma pose de marinheiro. Ela ri e se senta no sofá. – Eu falei com o Matt e os outros.

Os outros – repito, fazendo a pior imitação da sua voz que eu já fizera antes.

–O quê?

Eu continuo com a imitação.

–Ah,eu convidei, você sabe, o Matt e... Os outros. Ele sabe dessa queda que você tem por ele?

Jogo meus braços no ar. Ela apenas ri.

–Enfim, - continua, respirando fundo – Eu convidei a turma pra sair. Talvez, e só talvez, cheguemos à pizzaria.

Alguém toca a campainha, e nos levantamos. Na porta estava, claro, Matt. Isa sorri ainda mais, segurando seu braço, e indo até o carro. Nele, Carl e Jenna os esperavam despreocupados. Eu olho pro veículo de trás. Brandon e Emma me esperavam, escutando uma musica que eu não reconhecia, e ela a cantava com tanto entusiasmo que fico assustado por um momento. Eu vou no banco de traseiro, dando uma última checada no celular. Nenhuma mensagem de Elena. Ponho minha cabeça entre os bancos da frente. Eu tento chutar o nome da música. One more night? Não. Thanks for the memories. Sim. Eu lembro de vê-la na lista de reprodução de Emma. Matt buzina à nossa frente, e seu carro começa a se mover.

–Vamos nessa – digo.

~~//~~

~~SKY

Um dos tiros acerta um pedaço da minha mochila, e eu não me atrevo a me virar pra devolver.

–Pare de se mexer, seu verme escorregadio! – Um dos VBM’s grita, enquanto eu pulo na parede e me impulsiono para dobrar em outro corredor.

O outro grita de frustração quando desvio de novo, dessa vez me abaixando e escorregando pela areia vermelha. O flash projeta minha sombra na parede, antes de deixá-la com uma mancha negra.

Eu me concentro o suficiente, e, com um movimento de braço, a areia atrás de mim explode, e a cortina de poeira é espessa o suficiente pra me esconder. Os flashes passam perto do meu corpo enquanto fico parado, fazendo o menor barulho possível. Eu pego o autoblaster, enquanto vejo a silhueta dos cinco formarem-se na névoa. Então atiro.

O impacto do autoblaster é forte contra minha mão esquerda, fazendo meu braço tremer. Escuto quando eles desmaiam no chão, sobrecarregados com a quantidade de energia.

–Por aqui! Eu escutei alguma coisa. – escuto à distancia, seguidos de passos pesados.

Eu murmuro algo inconscientemente, e volto com minha corrida. Os passos ficam mais altos quando estou perto de outra entrada, e uso a mesma tática: Eu pego impulso e pulo.

O cabeça de um dos VBM's aparece quando eu estou descendo, e eu vejo alguns dos seus dentes serem arrancados da sua mandíbula quando o bato com meu punho. Eu giro e pego o blaster na minha mochila, logo estou atirando. Eu sorrio enquanto faço isso; Eles não têm chance de fazer muita coisa. Os flashes atingem todos os lugares do seu corpo, peito, perna, braço, e tomo cuidado pra não acertar nenhum na cabeça – pelo que sei, podia ser meio que fatal.

Logo estão todos no chão, com sua respiração leve descompassada. Eu olho pra câmera atrás de mim, e ela esta fixa, captando os corpos dormentes no chão. Não tenho tanto tempo de glória. Mais quatro deles aparecem em cada borda do corredor, e atiramos ao mesmo tempo. Eu pulo pra frente quando os projéteis explodem uns contra os outros, causando um enorme flash.

Eu tropeço – eu venho tropeçado muito nessas últimas horas -, e cambaleio até ficar de pé, e voltar a correr.

O barulho de água começa quando entro em um dos corredores. O vento levemente mais frio e forte. Então vejo, a luz branca. Tinha chegado ao centro do labirinto.

~~//~~

~~LUPUS

Não. Nós não chegamos à pizzaria. Eu quase podia tocá-la quando Brandon virou o carro, indo em direção à boate do quarteirão.

Ela estava bem lotada pra uma noite de segunda. As fortes luzes azuis, vermelhas e roxas, e os flashes branco piscavam o tempo todo. O som alto fazia meu corpo tremer, e as pessoas dançando na pista pareciam animadas.

–Então nada de pizza? – pergunto. Eu realmente gostava de pizza.

–Não! – Isa diz, abraçada ao braço direito de Matt. Ela se vira pra mim – Talvez quando sairmos. Quem sabe?

Eu balanço a cabeça, e vou até o balcão. Brandon me acompanha, passando o braço em volta do meu pescoço.

–Só soda hoje? – ele pergunta, com um bico. Eu não seguro a risada.

–Ninguém vai ficar de ressaca em uma plena terça-feira.

–Todo dia é dia ruim pra se ficar com ressaca, porque adiar?

Nós pedimos duas sodas, e eu compro uma água. Pego as garrafas e os copos, e sio Brandon de volta à mesa. Enquanto sento-me, acompanho a musica alta com o pé, batendo-o no chão no ritmo da musica. Isa percebe, e sorri pra mim.

Dançar? – ela mexe a boca, sem som algum. Eu balanço a cabeça. – Mas eu vou.

Matt não tem nem chance de tomar de seu copo; Isa o puxa pra fora da cadeira até o salão. Carl e Jenna são os próximos, indo de mãos dadas pra perto dos outros dois. Emma e Brandon se entreolham, e então viram sua atenção pra mim.

–Podem ir.

Eles se levantam em um pulo, e correm até o centro da pista. Eu rio outra vez quando Brandon finge tropeçar, e chega pulando no meio de Isa e Matt. Eu bebo um pouco da água, e a sensação dentro de mim não era a reação esperada.

A sala fica totalmente escura. Minha visão ignora as luzes, e meus ouvidos a música alta. Tudo é um silêncio vazio. Olho em volta, com uma sensação que estava sendo observado. Então eu os vejo: Dois grandes olhos de cores diferentes vidrados em mim.

~~//~~

~~SKY

Quando eu entendi o porque da letra na frase “Quem chegar ao centro do labirinto terá muito mais chances de não morrer” estar diferente do resto, era tarde demais. Uma armadilha. A maior delas em todo o labirinto. O poço de água era o queijo na ratoeira: A distração da emboscada.

Eu aponto o autoblaster pro corredor em que eu viera, e subo no poço. Quando vejo a primeira sombra, atiro. Eu acerto dois deles antes que os outros se escondam nas atrás das paredes. Eles põem um pedaço da cabeça para ter uma visão de mim, e atiram antes que eu pudesse reagir. Eu pulo pro lado e desvio, quase caindo da plataforma.

Uma risada alta toma o ar. As quatro entradas do labirinto tinham sido ocupadas. Na minha frente, os dois VBM’s saíram dos esconderijos e apontavam os blasters pra mim. Na direita e esquerda? Também dois em cada um, ainda apontando as armas pra mim. Mas o mais desprezível de tudo era a última saída. Argo estava ao lado dos seus animais de estimação, cada um com duas armas apontadas pra mim

–Eu pensei que você fosse menos estúpido.

Os VBM’s soluçam. Talvez estivessem rindo? Eu não saberia.

–Só falta você – Argo sussurra – Vamos acabar com isso. No três, pessoal. Um...

Eu aperto os cabos de couro sob meus dedos. Como aconteceu mais cedo, meus olhos ardem, e o apito agudo toma conta da minha mente, fazendo minha cabeça doer. O calor toma conta do meu corpo, e a sensação que senti quando usei a habilidade de antes volta com toda a força.

As luzes brancas e verdes vêm todas ao mesmo tempo na minha direção.

~~//~~

~~LUPUS

Não podia ver mais nada além dos grandes orbes em vermelho e azul, mas eu podia dizer que era m humanos. Ou pareciam com um, pelo menos. O sussurro ecoa por todos os lados, sem uma voz definida. Um calor anormal toma conta do ambiente quando as palavras chegam a mim:

Me ajude.

Eu tento não falar sozinho. Algo me dizia que eu continuava na boate. Eu não podia sentir nada ao meu redor, mas eu tento agir normalmente: tomo mais um gole de água, e ponho o copo onde deveria estar a mesa, e o solto. O copo é mergulhado na escuridão. Então encaro os olhos outra vez. Eles ainda estavam lá, petrificados, vidrados em mim.

Me ajude.

Lentamente, desço minha mão até eu bolso e retiro meu celular. Eu o coloco na orelha.

–Quem é você?

Não há muito mais tempo.

–O quê?

As ruínas. Prepare-se. Você é a chave.

–Quem...?

A voz grita tão alto quanto a música:

–ME AJUDE!

Em um flash branco e verde, a escuridão desaparece. A musica lentamente volta, e as luzes piscantes preenchem minha visão outra vez. Eu olho pro grupo, que dançava alguns metros de mim. Eu sinto algo na minha mão embaixo, ainda segurando o telefone, e um brilho leve pairava sobre ela.

Eu não tenho um bom pressentimento sobre isso.

~~//~~

~~SKY.

–Acorde.

Abro os olhos.

–Vamos, acorde.

Eu movo minha cabeça pros lados. Estava tudo escuro. Eu estava molhado, mas com calor. Tinha algo... Acontecendo. E eu não sabia o quê.

–Isso, siga nossa voz.

Voz? Não. Eu apenas ouvia ecos. Só ecos. Murmúrios de palavras; Sussurros do vento.

Minha cabeça dói. Sim, isso é real. Por que meu corpo está dormente? Tenho dificuldade de me manter firme enquanto me apoio dos cotovelos. Minha cabeça tomba ao redor. É difícil respirar. Isso é cheiro de fumaça? É por isso que está calor, por que estou perto de algum incêndio?

–Não, perto não.

Mais ecos. Ainda não exite voz. As palavras simplesmente brotam na minha cabeça. É um sonho? Não. Eu estou sentindo tudo vividamente demais. Podia ser um pesadelo. Eu já devo ter tido pesadelos antes.

–Dentro é a palavra certa.

Meu olhos não ficam abertos. Ou ficam? Continua escuro. Tudo é uma sombra irregular. Eu não saberia se estivesse com os olhos abertos como estou agora. Porque estou tonto? Eu fui atingido? Sim, é isso. Deve ser isso.

–Lembre-se do fogo, do ódio.

–Lembre-se do seu poder. Não tenha medo.

Eu aperto as orelhas com as mãos. Agora os ecos gritavam na minha mente. Mas ainda não tinham voz. Alucinações. Pesadelos.

–Você os odiava, os caçava, os queimava.

–Você é forte. Você pode lutar. Pode vencer.

–Está lutando agora.

–Está vencendo agora.

Agora elas tinham vozes. Eram iguais, mas tão diferentes. Ódio e benevolência. Fúria e gentileza... Tatuagem?

–Sim! Desperte!

–Lembre-se!

Agora eu podia ver. As sombras tomarem forma, ascenderem-se diante de mim, brilhando em vermelho e azul-claro. Estavam paradas, rígidas em seu lugar. E agora gritavam ao mesmo tempo:

–Lute!

~~//~~

~~LUPUS

Corro até o banheiro.

O que aconteceu?

Eu jogo água no meu rosto, e ela evapora quando toca na minha pele.

Por que estou tão perturbado?

Vejo o leve brilho branco passar por detrás do meu rosto no espelho do banheiro, e entro em um dos boxes. Olho pras minhas mãos, elas também exibiam o brilho. Um círculo translúcido começava a se formar acima delas, e eu tentava respirar fundo. A luz não fica mais fraca, e posso sentir seu poder aumentar.

Isso não pode acontecer aqui. Não agora.

Respiro: Eu lembro da sensação. Lembro de sentir algo. Dois olhos, uma voz. Mas só isso. Tudo é um borrão.

Eu pego meu celular do bolso, e, enquanto digito, o círculo cobre minhas duas mãos e o aparelho. A mensagem é um simples: Banheiro. Já, pra Isa.

O celular cai no chão, e vejo ele se dividir em três partes. Eu tiro a jaqueta, e a jogo na porta de madeira. O calor aumentava. Eu suava, e o próprio suor também evaporava. Isa! Minhas mãos tremiam, e, quanto mais forte o círculo, mais quente. Então as queimaduras começam, partindo do meio da minha mão e se espalhando pelos dedos. Eu vejo, horrorizado, as bolhas e rachaduras surgirem na minha pele, estourando enquanto minha face se contorcia de dor. Meus pulsos estavam começando a ficar vermelhos sob a luz branca, e eu ficava cada vez mais assustado sobre o que estava acontecendo. Minha super-regeneração não adiantava de nada contra esse legado, e as feridas apenas pioravam.

Meu grunhido ecoa pelo banheiro, e uma voz do lado de fora consegue me acalmar.

–Saia – Isa diz com convicção pra alguém, e posso escutar o barulho da porta sendo fechada. Ela abre o Box, e a jaqueta cai no chão, fazendo um ruído quando seus adornos de ferro batem no piso.

Isa segura minha mão, se ajoelhando diante de mim. O calor não parece atingi-la, já que ela não hesita. Sinto a sensação gelada da sua Cura batalhar contra o calor do meu legado de energia. Eu soluçava com a dor, sentia meus olhos arderem – lágrimas? Isa olha pra mim.

–Tá tudo bem – diz, aumentando a força de seu aperto. O atrito da sua mão na minha faz a dor das queimaduras aumentar ainda mais. – Vai ficar tudo bem. Olhe, já está curando.

A voz de Isa tem efeito. Seu legado de Persuasão fazia meu corpo a obedecer, quando eu deixava, pelo menos. A luz fica mais fraca, e o calor menor. As bolhas diminuem, e as rachaduras se fecham. A pele crescia outra vez lentamente, e, enquanto isso, eu via a mão de Isa suja de sangue. O vermelho pingava no chão branco do banheiro, manchando gota por gota

–O que aconteceu?

Ela não para de segurar minha mão. A sensação gelada ainda existia, embora a minha mão já estivesse curada. Eu paro de soluçar, e tento respirar.

–Eu não...

Isa se levanta, e eu apenas fico parado. Ainda em choque. Eu a olho.

–Você nunca tinha se descontrolado assim publicamente. – Isa fala, dando alguns passos pra trás.

–Eu... Eu estou indo – digo de repente – Se você quiser ficar, tudo bem, mas... Eu vou pra casa, pra cama.

Isa assente, e pega minha jaqueta no chão. Eu apanho as partes do meu celular. Ele também estava quente.

No momento em que tento sai do Box, Isa me empurra de volta.

–Nós não vamos sair juntos, Lupus.

–O quê...? Ah. Ah...

Isa começa a andar, mas eu seguro seu braço. O tom da minha voz segura várias emoções ao mesmo tempo.

–Isa, eu sei que eu já errei antes... Mas dessa vez... Eu nunca tinha sentido nada assim.

Ela me olha dividida entre incredulidade e confiança.

–Lupi...

–Não, escute. Eu realmente pude sentir. Algo aconteceu... Não. Alguma coisa vai acontecer, e ela será grande.


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