A Realeza de Ouran escrita por Machene


Capítulo 3
Gêmeos em Dose Dupla




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Cap. 3

Gêmeos em Dose Dupla

O dia raia com esplendor. Quase nenhuma nuvem no céu, vento refrescante, aroma de rosa pelo ar. Os anfitriões se reúnem com Haruhi na terceira sala de música antes do início das aulas e Kyoya coloca em mesa três pastas contendo suas descobertas a respeito das noivas já conhecidas.

– Por que só tem uma pasta para as gêmeas? – Hikaru se questiona ao ver a ficha nas mãos de Kaoru – Ei, olha! As duas eram mesmo morenas! – todos correm para olhar o retrato anexado, onde as irmãs aparecem com cabelo castanho.

– Pois é. Aparentemente as duas fazem quase tudo juntas, então não haveria necessidade de reservar uma pasta para cada uma se em quase todas as páginas os nomes sempre vinham unidos.

– Não está faltando uma pasta Kyoya? – Tamaki repara – Não pesquisou nada sobre Suzu?

– Claro que sim, está aqui. – ele balança a pasta em mãos – Eu fiz uma cópia dos arquivos e cada um terá as informações da própria noiva, mas eu posso ler as notas gerais em voz alta. – ele pigarreia e começa com seu relatório – Sakurai Suzu: cabelos negros, olhos castanhos, pele branca e estatura alta. – os gêmeos sorriem maliciosamente.

– Ei Kyoya-senpai, você conseguiu até as medidas de todas elas. – Kaoru comenta.

– Por que não menciona o tamanho do busto da Suzu-neesan? – Hikaru provoca.

– Isso é desnecessário. – o rapaz levanta os óculos, tentando esconder seu rubor.

– Bem, ela é bem dotada. – Tamaki comenta pensativo, fazendo Haruhi suspirar e os irmãos rirem – Será que conseguimos fazê-la vestir uma das nossas fantasias?

– Já chega! – Kyoya corta a conversa – Eu posso acabar ou preferem encerrar a reunião aqui mesmo? – todos silenciam e ele suspira, voltando os olhos ao papel – Suzu é de uma família unida e tradicional, exportadora de produtos químicos da empresa Sasaki com quem tem sociedade. Seu pai é Sakurai Lee e sua mãe Sakurai Nara. Ela é filha única e conheceu as amigas durante a escola primária. É a mais velha das cinco, seguida de Linh-san, as gêmeas e finalmente Mai-san.

– Então Suzu e Linh ficarão na sua sala e a do Tamaki-senpai e as outras serão da nossa?

– Precisamente. Foi você mesma quem disse que elas comentaram sobre Mai-san ser a mais nova, certo Haruhi?! A diferença é de meses entre seu nascimento.

– Espera um pouco! – Hikaru quase grita em atenção – Você disse “san” três vezes!

– O que deu em você para chama-las dessa forma, Kyoya-senpai? – Kaoru questiona.

– Vendo as fichas compreenderão. Começando pela mais nova. – todos correm para trás de Honey e começam a olhar os papéis – Ono Maiko: cabelos loiros, olhos azul-piscina, pele rosada e estatura baixa. Ela vem de uma rica família artística, que além de negociar artes feitas à mão tem habilidade natural para fabricar obras primas em qualquer ramo, desde pintura até esculturas, e isso já há muitas gerações. É filha única também e o consagrado tesouro da casa. Sua diversão é fazer bichos de pelúcia e tricotar, mas ela também borda, costura, fia e tece, além de pintar. Madri serviu como palco do seu quadro premiado sobre as dançarinas espanholas e mexicanas no verão do ano passado, e ele acabou sendo vendido em um leilão por três vezes o valor. – os demais olham a ficha da garota para checar o número e arregalam os olhos em surpresa.

– Incrível! – todos falam ao mesmo tempo, excerto por Mori – É Mai-san, de fato!

– No que desrespeito à noiva de Mori-senpai, Kikuchi Linh, as notícias não são animadoras.

– Como assim? – o próprio jovem pergunta interessado antes de ser cercado pelos amigos às pressas para olharem o relatório da moça.

– Cabelos negros, olhos verdes, pele branco-rosada e estatura mediana.

– Parece que os seios dela são menores do que os da Suzu-neesan. – Hikaru comenta saindo detrás de Kyoya, que recua as mãos em nervosismo enquanto o rapaz ri.

– Prosseguindo... – tosse – Linh-san é a filha mais velha de pais divorciados, a atriz Mika e um advogado grego chamado George. Seu irmão, Sora, é mais novo onze anos e a idolatra. Talvez o garoto não saiba que ela sofreu bullying na antiga escola.

– Como é? – desta vez, até Mori indaga surpreso.

– No primário, Linh-san foi vítima do preconceito de seus colegas por ser mestiça. O mesmo aconteceu quando entrou no ginasial. Cada uma das moças entrou em escolas diferentes. Ela e as gêmeas foram aceitas na Academia de Garotas Santa Lobelia. – os ouvintes entram em choque.

– Santa Lobelia? O mesmo colégio onde estudam as doidas do Clube Zuka, que raptaram a Haruhi? – o incrédulo Hikaru procura confirmar.

– Isso quer dizer que... – Tamaki e os irmãos sentem arrepio nas espinhas.

– Não se preocupem. Elas não são como aquele trio. Embora, Linh-san foi a protagonista de um musical organizado na primavera, com a participação especial das irmãs Aoki fazendo o coro.

– Então elas cantam? – Kaoru reabre a pasta em mãos procurando detalhes.

– Eu chegarei logo nessas duas. Ainda sobre Linh-san, acredito que nem mesmo as próprias amigas tenham conhecimento do bullying que ela passava, excerto pelas gêmeas.

– Por que ela tem medo de bolas esportivas? – Mori ressalta olhando uma página.

– As atletas no ginásio a agrediam com o uso delas. – todos ficam pasmos e indignados, mal respirando por um tempo até Kyoya chegar à última folha do relatório grampeado – Finalmente, a dupla rebelde de irmãs, Aoki Aika e Aiko. Alguns daqueles boatos ouvidos por Hikaru e Kaoru se mostraram estranhas verdades. De fato, as duas foram acusadas de dar um banho de água gelada na diretora de uma escola particular para garotas ricas, justamente a Santa Lobelia. Linh-san não aceitou a expulsão delas, então se queixou durante uma reunião com pais e professores e ofendeu quase todos, o que resultou no afastamento das três.

– Isso deveria mesmo fazer delas pessoas divertidas? – Kaoru questiona ao irmão apoiado no seu ombro esquerdo, que ergue uma sobrancelha e levanta uma mão dizendo não saber.

– A ficha detalhada das duas diz que a cor natural do seu cabelo era castanha e dos olhos era um tom escuro, quase negro. Ainda durante o ginásio, Aika, pintou os fios de rosa e Aiko coloriu os seus de verde. E também colocaram lentes de contato; a gêmea mais velha ficou com olhos tom lavanda, algumas vezes roxo, e a mais nova mudou a coloração para azul-petróleo.

– Agora as duas têm mechas da mesma cor dos seus olhos nas pontas dos cabelos. – comenta Hikaru, tocando os próprios fios e olhando para o gêmeo – Por que não pensamos nisso antes?

– Achei que gostassem de fazer os outros participarem do jogo “quem é o Hikaru”. – Haruhi ri de lado e vira o rosto quando eles a encaram aborrecidos.

– Enfim... As irmãs têm pele branca e a mesma altura.

– E pouquíssima diferença nas medidas físicas. Já sabemos Kyoya-senpai! – Kaoru reclama.

– Eu vou mesmo precisar calar a boca de vocês com fita adesiva, ou será que preferem uma costura? – os dois recuam para trás da Fujioka e o rapaz suspira, tentando recobrar a calma – Eu dizia? Ah sim! Aika e Aiko são caçulas de cinco filhos. Os pais são Consultores Administrativos Externos da famosa empresa Chiba, uma estreante no mercado de serviços de desenvolvimento de sites, portanto não passam muito tempo em casa. Seus irmãos mais velhos já são casados e o mais novo mora com uma namorada, mas os dois ficam com as duas durante as viagens dos pais. Elas não costumam participar de jogos ou eventos pela quantidade de homens que as observam.

– Em outras palavras, está afirmando que elas são mais populares do que a gente?!

– Não acho que deviam ver isso como uma competição de popularidade. – o rei do clube pega do chão a pasta com o relatório das irmãs, que os Hitachiin deixaram cair, e uma foto escorrega.

– É a mesma foto que a Mai-chan deu a vocês no primeiro dia, não é?! – Haruhi sorri vendo o retrato com Tamaki – A amizade entre as famílias deixaram as cinco muito próximas, então não é surpresa ver o quanto se dão bem umas com as outras.

– Está certa Haruhi. Escutem todos: mesmo que os seus casamentos tenham sido arranjados e essas moças não estejam muito a vontade estando aqui, é nosso dever como veteranos fazê-las se sentirem bem-vindas! Mais do que isso, é a nossa missão trazer felicidade a todas as donzelas! De hoje em diante, enquanto elas estiverem estudando conosco, faremos de tudo para proporcionar os melhores dias de suas vidas neste colégio, ao nosso lado! Vamos mostrar do que é feito o Clube de Anfitriões de Ouran! – excerto por Kyoya, os outros fazem continência em acordo e Haruhi ri.

Alguns minutos depois e o pátio da academia está repleto de moças e rapazes querendo ver as novatas de Ouran. Elas chegam utilizando a limusine lilás das gêmeas Aoki, sem deixar que os empregados estendam tapete vermelho ou carreguem suas coisas até a entrada. Depois de Maiko, Linh e Suzu saírem, as irmãs descem do carro, seguidas de três homens. Para surpresa das moças quando entram, os anfitriões as esperam ao pé da escada e as cumprimentam formalmente.

– Ora, que luxo! – Suzu ri, segurando a maleta escolar com uma mão para arrumar a franja do cabelo curto, culpando o vento de ter desarranjado as mechas pendendo na frente do rosto.

– Nós achamos que seria bom acompanha-las no seu primeiro dia de aula.

– Obrigada Tamaki-senpai. – Maiko sorri, balançando os cabelos compridos e lisos, cortados em formato de cuia – Seria problemático se nos perdêssemos.

– O uniforme ficou ótimo em vocês! Estão lindas! – Honey diz sorridente e Mori concorda.

– Ei vocês duas, venham logo! Vão nos atrasar! – Linh reclama, jogando seus longos cabelos para trás e colocando a mesma mão na cintura.

– Desculpe se nossos pés são menores do que os seus. – elas respondem juntas, parando uma ao lado da outra e jogando os quadris em direções opostas.

– Ah... E que uniformes são esses? – Haruhi analisa as jaquetas pretas decotas com mangas compridas, deixando à mostra a blusa rosa de Aika e a verde de Aiko, gravatas frouxas da cor dos sapatos brancos, meias-calças também pretas, assim como os chapéus estilo russo, e as diminutas saias de dois tons – Não tinham encomendado os novos ontem?

– Como elas não foram conosco porque resolveram chegar aqui antes e fazer aquele jogo com vocês, precisaram vir com o uniforme antigo. – Suzu suspira.

– Mas esses nem são os certos! Vocês não estudaram na Santa Lo...? – Kaoru tapa a boca de Hikaru rapidamente, despertando a curiosidade delas.

– Como sabem que estudamos na Academia de Garotas Santa Lobelia? – indagam em coro.

– Ouvimos por aí. – o irmão mais novo ri nervoso e começa a suar frio vendo-as estreitarem os olhos – Então, vamos para as salas? A aula deve estar começando!

– Nesse caso é melhor irmos logo antes que... – Aika não chega a terminar a frase.

– Ei, vocês duas! – uma voz masculina ecoa e chama a atenção de várias garotas, que quase perdem o ar vendo o espécime masculino parrudo acompanhado de outros dois parecidos com ele – Para onde vão sem as malas? Vocês esqueceram no carro.

– Ah, obrigada nii-san. – Aiko agradece também pela irmã quando recebe as duas e entrega a dela – Aika passou por último, então deve ter se esquecido.

– Vocês têm dinheiro para o lanche? – o rapaz a esquerda tira a carteira do bolso – Acho que devo ter uns ienes sobrando. Sabem se vendem meron-pan aqui?

– É uma escola de ricos, nii-chan. – a mais nova volta a falar e ri da careta dele.

– Tem razão, só devem servir carne Kuroge Wagyu e outras comidas importadas.

– Você só pensa em comer. – Aika o estapeia no braço e os demais na roda riem.

– Já colocamos nossos números novos nos seus celulares, então se precisarem é só ligar.

– Ok onii-tan. – a mais velha suspira – É melhor irem embora antes que sejam atacados. – o trio olha para os lados e percebe o amontoado de garotas liberando feromônios.

– Dá licença. – Hikaru fala ao se aproximar com o irmão – Vocês são os irmãos delas?

– São sim. – Aika responde no lugar deles – Akinori é o mais velho, nosso nii-san. – o alto e forte jovem de ombros largos, cabelos curtos castanhos e olhos escuros sorri e acena – Depois vem o Eikichi onii-tan. – o homem na ponta direita, com cabelos até os ombros e tórax definido, abaixa a cabeça em cumprimento – E daí por último o nii-chan, Hiroki. – o rapaz musculoso e ao mesmo tempo magro balança a mão e pisca, passando em seguida as mãos no cabelo arrepiado e molhado.

– São todos tão... Grandes. – Kaoru diz um pouco receoso de chegar perto e os três riem.

– Com licença. – uma estudante se aproxima timidamente, acompanhada de uma multidão de amigas e colegas – Vocês são alunos novos?

– Parece? Nossa! Acho que ainda estamos bonitões depois de tantos anos!

– Poupe-me nii-chan. – a irmã mais velha diz com voz grossa e olhar de desdém, virando-se para a aluna – Não, eles são nossos irmãos mais velhos.

– Se tiverem um tempo livre agora, gostariam de sair com a gente? – outra moça pergunta com olhos brilhando e todas elas concordam em euforia.

– Desculpem garotas, eu sou casado. – Akinori ergue a mão esquerda, mostrando a aliança.

– Eu também. – Eikichi aponta para a sua e então todas se voltam à última presa.

– Tenho namorada. – Hiroki dá de ombros e o grupo resmunga em lamento.

– Legal, já deu! Todo mundo indo embora, e vocês também!

– Ok irmãzinha mandona! – o caçula ri e acena – Tchau Aiko, até mais rapazes! – todos, até a multidão de garotas, acenam de volta.

Logo os anfitriões e as noivas estão a caminho de suas salas de aula. Tamaki e Kyoya fazem questão de apresentar Suzu e Linh para seus colegas. Já a pequena e as gêmeas...

– É um prazer conhecê-los. – Maiko sorri – Estaremos aos seus cuidados a partir de hoje.

– Por favor, cuidem de nós. – as irmãs se curvam rindo, levantando “cordialmente” as saias em incentivo proposital ao alvoroço masculino e aos elogios femininos que as cercam, acenando para Haruhi na cadeira do meio e os gêmeos incrédulos – Professor, onde podemos sentar?

– Ah, deixe-me ver... Por que não se sentam com Hikaru e Kaoru?

– O QUÊ? – os dois se levantam num pulo duplo e a heroína suspira.

– Meninas, tem lugar vago aqui atrás! – ela aponta para três cadeiras encostadas dos dois e as moças andam até lá no caminho que os alunos abrem – Foi difícil achar a sala?

– Acredita se dissermos que o reitor nos entregou uma relação das salas, das aulas e até dos nomes dos professores no primeiro dia? – Aiko ri – Suzu-neesan entregou nossa lista depois.

Horas mais tarde o Clube de Anfitriões entra em funcionamento, mas os próprios estão bem desconfortáveis em seu ambiente. O diferencial é o mesmo de dois dias atrás: a presença marcante das noivas. Tamaki atende normalmente suas clientes porque é o único tranquilo com isso, além de Haruhi. Suzu, Linh e Maiko não parecem estar se importando com as atividades deles, porém, as gêmeas sim. Elas observam atentas e caladas o trabalho dos rapazes para depois se intrometer.

– Ah Honey-senpai, você é tão bonitinho! – uma garota grita em êxtase e outras duas perto de Mori concordam enquanto colocam as mãos no rosto quente.

– E mesmo Mori-senpai sendo tão quieto, é muito gentil também. – comenta uma ao lado da primeira e as demais voltam a concordar com o mesmo gesto.

– Se Honey for fofo todo o tempo, só vai ser uma criança para sempre. – diz Aika, apoiando-se no sofá atrás deles após chegar de surpresa com a irmã – Assim jamais terá uma namorada, só um exército de irmãzonas com fetiche por bishonens.

– E se Shi-niisan não sorrir mais vezes as pessoas vão começar a achar que é o chefe de uma facção criminosa, até mesmo da máfia! – Aiko sorri apoiando o queixo nas mãos, colaborando pra deixar o clima mais tenso – Mas vocês têm razão: um é fofo e o outro gentil. Até! – dito isso elas se afastam, deixando os rapazes com expressões melancólicas, e partem para os anfitriões adiante.

– Então, o Kaoru estava morrendo de medo de um monstro atacar ele no escuro e...

– Hikaru, você prometeu que não ia contar pra ninguém! – mal ele termina a frase, derruba a bandeja com café na mesinha ao lado e queima “acidentalmente” a mão direita.

– Kaoru! Kaoru, você está bem? – o irmão beija sua mão – Desculpe. Isso foi porque eu nem pensei nos seus sentimentos. Sou um péssimo irmão! Desculpe!

– Não diga isso Hikaru! Eu fui descuidado! – a essa altura vários corações voam ao redor do quarteto de moças sentadas a frente, então quase desmaiam quando o mais velho lambe a mão do caçula lentamente e com ar de sensibilidade enquanto ele desvia o olhar envergonhado.

– Que droga de cena pornô homossexual é essa? – Aika põe o rosto bem entre eles, o que os assusta e faz se afastarem rapidamente antes dela cruzar os braços sobre o sofá – Vocês não são os tais anfitriões que querem fazer as mulheres felizes? Que tipo de atitude é essa na frente delas?

– Kaoru, então você está me traindo novamente com seu próprio irmão? – Aiko surge atrás dele e no susto o jovem se vira de uma vez, vendo-a de braços cruzados e batendo o pé parecendo querer chorar – Eu pensei que você fosse diferente! E ainda estava bajulando outras moças?

– Como é? Não, eu...! – os gêmeos se entreolham confusos – Espera um pouco...!

– Nem venha me pedindo nada, eu vou embora! Vamos Aika!

– Tudo bem. – antes de acompanha-la, ela olha para Kaoru e aponta – Eu avisei.

As duas saem rindo quando estão a uma distância segura, depois olham para as vítimas que restam. Tamaki está entretido bancando o rei francês, então não vale a pena perturbá-lo porque a vitória seria certa. Haruhi? Assim como Kyoya, a brincadeira acabaria antes da hora. Ambos têm aptidão para estraga prazeres, algo já evidente. Entediadas, elas saem pela porta sem perceber que Suzu se aproxima do noivo com cautela, observando-as se afastarem assim como ele.

– Desculpe se elas estão te causando problemas. Eu posso falar com as duas.

– Não há necessidade. Até agora todas vocês têm trazido muitos clientes novos, interessados em conhecê-las melhor. Eu não poderia estar mais satisfeito, embora os homens de nada adiantem.

– Sei... – ela sorri de lado, juntando as mãos atrás das costas – A nós também não interessa. – o rapaz a encara pelo canto dos olhos e para de escrever, desviando o olhar novamente.

– Sabe me dizer o motivo dos seus pais terem aceitado esse acordo de casamento? – a garota olha um pouco surpresa para ele, mas volta a ver os arredores notando que não o fará se virar.

– Não faço a menor ideia. Mas e seu pai? Tem noção das suas razões?

– Nenhuma. – Suzu vira na sua direção e ri – Eu fiz ou disse alguma coisa engraçada?

– “Alguma coisa” não, tudo! Parecia que você realmente queria dizer “se eu soubesse como a cabeça do meu pai funciona, provavelmente já estaria um passo a frente dele”. – Kyoya a encara sentindo o rosto se contorcer com três sentimentos diferentes: confusão, surpresa e – Alívio? – as pupilas dele dilatam ainda mais – Você me parece aliviado acima de tudo. É mais reconfortante se conversar com alguém sem precisar conter suas palavras e sensações, não?! – ele bufa intrigado, fazendo-a rir baixinho, mas é só ela se distanciar e um sorriso relaxado toma conta de seu rosto.

Do lado de fora da sala, Aika vai para o refeitório buscar dois sucos e Aiko aguarda perto do chafariz no jardim. Os gêmeos as seguem e se dividem. Silencioso, Kaoru se aproxima da noiva de costas e fica ao seu lado, observando-a fazer uma careta para a estátua do garotinho.

– O que foi? – ela torce o nariz e pende a cabeça para o lado, sendo copiada por ele.

– Essa estátua é muito pervertida. Um menino urinando? Podiam arranjar algo melhor!

– Você e sua irmã são muito perceptivas, não é?! – a moça sorri maliciosamente, unindo as mãos pendendo para trás, e o encara.

– Quis dizer bisbilhoteiras? A analítica é a Suzu-neesan.

– Foi engraçada aquela sua encenação no clube. Hikaru ficou um pouco aborrecido.

– E você não? – o rapaz apenas sorri em negação e ela pisca um pouco confusa – É estranho. Vocês são tão... Diferentes. Ainda assim parecem melhores amigos.

– E somos. Nós gostamos muito um do outro. Mas você não tem preferências diferentes da sua irmã também? Nem gêmeos são iguais! – Aiko nega com a cabeça, surpreendendo-o.

– Eu gosto das mesmas coisas que Aika. Quando crianças, a gente era alimentada do mesmo jeito. Sempre ganhamos presentes iguais no aniversário e em outras datas festivas, mas quase não pedíamos brinquedos novos porque dificilmente enjoávamos dos antigos. – ela pausa e ri – Agora eu lembrei... Nós duas gostávamos de usar os brinquedos dos nossos irmãos, e quando sabíamos que eles estavam enjoando deles sempre inventávamos formas diferentes de nos divertir, assim os nossos pais não precisariam comprar novos.

– Mas por que vocês não queriam isso? Seus pais tinham condição de comprar, não é?!

– Sim. Acontece que... – a garota ri entristecida – Achávamos que se nós não precisássemos de brinquedos e outras coisas novas, eles não trabalhariam tanto e ficariam mais tempo em casa. – Kaoru sente a boca se abrir em surpresa e comoção, mas tenta disfarçar sua súbita vontade de dar um abraço na jovem – É claro, nada disso funcionou, mas nos acostumamos com essa economia.

– E por que tingiram os cabelos com cores diferentes então? – Aiko sorri misteriosamente e vai andando em direção ao labirinto, sendo seguida por ele.

– Ah, isso é porque nós nunca nos demos bem com garotos no primário, então os nossos pais acharam que ficaríamos melhor estudando perto de uma das nossas amigas. De todas, Linh era a única com vontade de estudar em uma escola para garotas, daí fomos para Santa Lobelia. Aquelas doidas importunavam muito ela, então não importava quantas atividades divertidas fizéssemos e nem o quanto nossas famílias estivessem satisfeitas com o progresso dos nossos talentos, nós nos sentíamos deslocadas. As outras tinham clara inveja de Aika e eu também, por isso, e talvez pelas brincadeiras vingativas que fazíamos protegendo Linh, elas gozavam por sermos gêmeas.

– Daí vocês resolveram pintar os cabelos e colocar lentes de contato?

– É. Odiávamos aquele uniforme, então fizemos o nosso próprio, que é este, e usamos contra as regras da diretora. Ela era chata! Mas o Kyoya-san já deve ter informado sobre isso, certo?!

– Acho que ouvimos alguma coisa sobre isso. – Kaoru desvia o olhar, fazendo-a rir.

– É inútil bancar o desentendido. Nós sabemos do vício dele de pesquisar a vida dos outros.

– Por acaso vocês sabem disso porque a “Suzu-neesan” contou? – a moça ri.

– Mais ou menos. Ela não costuma investigar as pessoas, apenas coleta informações olhando a forma como vivem. É claro, a gente ajuda de vez em quando. Aika e eu sabemos como irritar, e é só a pessoa sair do sério que mostra sua verdadeira personalidade.

– Existem outras formas de se conhecer alguém, sabia?!

– Disse o gêmeo caçula da dupla de arrasa corações no ginásio em Ouran?

– O que quer dizer? – ele sente o coração dar um salto e se arrepia.

– Eu disse que se fazer de desentendido é inútil. Todas nós sabemos sobre sua cruel atitude com as moças que se declaravam para vocês. Tamaki-senpai quem contou.

– Bem... Acho que Hikaru e eu vamos ter uma conversinha com o nosso senhor. – ela ri pela expressão aborrecida e o sorriso maléfico dele, fazendo-o se divertir – Então você considera iniciar como minha amiga? – Kaoru para de andar, virando-se e estendendo a mão direita.

– Tudo bem. – Aiko a aperta – Eu espero que nos demos bem, Kao-chan.

Nesse instante, Hikaru e Aika se aproximam dos dois e os assustam. Ela segura um suco de caixa na mão direita, com uma expressão assustadora, e ele anda ao seu lado todo molhado.

– Onde está meu suco? – Aiko se apressa em perguntar e recebe a bebida da irmã – O que houve com vocês? Embora... – ela olha o rapaz molhado e evita um riso com as costas da mão.

– Pode ficar com o meu. Já deve ter imaginado o que aconteceu. Hikaru me aborreceu.

– E precisava ter espirrado o suco de morango em mim? Você vai ver, eu vou me vingar!

– Acho que nós podemos resolver isso de uma forma melhor. – Kaoru sugere – Por que não competimos para ver quem tem mais criatividade fazendo brincadeiras?

– Ah, é uma boa ideia! – Aiko bate as mãos, sem querer espirrando o conteúdo da caixa bem no rosto de Hikaru e fazendo os outros dois rirem – Ai meu Deus, desculpe!

Horas mais tarde, o mesmo carro da manhã aparece na porta do colégio. Os grandes irmãos das gêmeas descem da limusine seguindo um sorridente garotinho de cabelos picotados, parecido com Linh, que saltita até encontrar a dita moça saindo ao lado das amigas, acompanhadas por seu corpo de noivos. Ele corre eufórico e agarra a barra da saia dela, dando-lhe um susto.

– Onee-chan, estava com saudade! – ela se abaixa para conversar e deixa a mala no chão.

– Eu também senti. Como foi a aula? Comportou-se? – ele sorri e confirma, recebendo dela um cafuné na cabeça e dos desconhecidos olhares curiosos, encabulando-o e o fazendo se esconder atrás da garota ao levantar – Este é meu irmãozinho, Sora. Diga olá. – o menino acena de leve.

– Oh, ele é uma gracinha! – Haruhi se abaixa junto com Tamaki e Honey – Oi!

– Ele é tímido. Acho que não vão conseguir tirá-lo de perto da Linh. – Suzu passa a frente – Por hora é melhor irmos embora. Nós nos veremos amanhã. – todos se despedem.

Continua...


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