Capitulo 2 – Princesa de Feinster (Parte I)

Eragon olhou-a com atenção, reparando pela primeira vez nas simples mas ricas vestes que a princesa trajava. Por baixo da capa branca podia ver um simples vestido verde, que lhe cobria o corpo até aos pés. Um fino diadema de ouro branco repousava no topo da sua cabeça, destacando-se dos seus cabelos dourados que brilhavam sob os primeiros raios de sol.

- Princesa… De Feinster. – sussurrou Eragon, ainda digerindo a informação.

Os olhos esmeralda de princesa brilharam na sua direcção e um sorriso ténue surgiu nos seus lábios, como se tivesse ouvido o baixo murmúrio do Cavaleiro.

- Princesa. – uma voz chamou atrás da jovem.

Eragon olhou na direcção de onde o som tinha vindo, encontrando um soldado alto e loiro, envergando uma túnica azul esverdeada com uma flor de lótus bordada a prata sobre o lugar do coração. O jovem soldado, de olhos azuis claros, quase cinzentos, ajoelhou-se diante da princesa, numa demonstração de puro respeito, enquanto que inclinava a cabeça num reconhecimento de inferioridade.

- Ergue-te. – pediu Lhianan com voz suave. O soldado ergueu-se prontamente, colocando-se numa posição recta. – Que te trouxe até mim?

- Uma pessoa aguarda-a no escritório da Casa Senhorial, minha Princesa. Deseja falar com vós.

- E quem seria essa pessoa? – perguntou ela.

- A líder dos Varden, Princesa. – respondeu prontamente o soldado.

Uma expressão de incredibilidade atravessou o rosto da jovem princesa. Uma pequena ruga surgiu na sua testa enquanto as suas sobrancelhas se aproximavam.

Eragon não ficou muito surpreso pelo anúncio do soldado. Ela era um membro da corte de Galbatorix, certamente sua aliada. Com certeza Nasuada quereria extrair o máximo de informação possível da princesa. E por alguma razão, incomodou-o pensar nisso.

- Entristece-te pensar que a Princesa é possivelmente uma inimiga?

Eragon encarou surpreso Saphira, que o fitava com o seu enorme olho azul. Sentiu uma onda de compreensão vir dela.

 - Eu gostei dela. – explicou – Pode ser aliada da Galbatorix sim, mas quem sabe não seja, tal como todos os outros, obrigada a servi-lo. Ela parece ter um coração demasiado grande e nobre para se ter aliado de livre vontade aquele tirano.

- E que te faz concluir isso à cerca do coração dela? Estiveste dentro da sua mente? – perguntou Eragon, usando um certo tom de reprovação  na sua última pergunta. A mente de alguém era como um túmulo sagrado que só deveria violado em caso de extrema emergência, quando todas as outras opções se fechassem.

- Eu não entrei na sua mente. – defendeu-se Saphira – Vi isso pelas suas acções. Pela forma como protegeu a pequena rapariga, como enfrentou os soldados e pela maneira que fala do povo que habita a sua cidade. Parece amá-los a todos de forma incondicional, como se conhecesse cada um deles, sem excepção. E deduzo isso também pela forma como, mesmo falando com o soldado, ela continua a preocupar-se com a protecção da menina.

Eragon olhou então para a Princesa, reparando que esta mantinha a menina ao seu lado, discretamente atenta aos três soldados do exército dos Varden. Sorriu perante a preocupação de Lhianan.

- Vocês. – chamou os soldados que de imediato olharam para ele. – Podem voltar para o acampamento.

- Mas… Argetlam! – tentou protestar o ruivo.

- Sem protestos. Vão! – ordenou Eragon, inspirando fundo quando via os soldados virarem costas e rumarem em direcção dos portões da cidade.

- Eragon. – Saphira chamou a sua atenção – Já reparas-te que os soldados de Feinster não usam o símbolo de Galbatorix?

Sim, ele já havia reparado, mas não prestara muita atenção a esse pormenor. Talvez isso fosse um sinal de que a Princesa não era aliada de Galbatorix.

- Avisa por favor Lady Nasuada de que eu irei já ao seu encontro. Tenho apenas de fazer algo primeiro. – Lhianan disse ao soldado, dirigindo um sorriso cálido à menina de cabelos cor bronze.

- Lhianan… - sussurrou a menina, agarrando com força a saia do vestido verde que a princesa usava. – Não quero ir sozinha para casa.

O coração de Eragon apertou-se ao ouvir o choramingo da menina, compadecendo-se do seu medo. Viu-se então ansioso pela resposta da princesa.

- Eu sei Lyrah. – disse-lhe Lhianan com um sorriso, pegando na menina. – Eu vou levar-te a casa, está bem? – perguntou, enquanto um pequeno sorriso aparecia na face de Lyrah, para depois a menina acenar positivamente. – Vamos lá então.

Colocou a menina no chão, dirigindo-se depois em voz baixa ao soldado.

- Eu juro que não me demoro Adan. – prometeu, ao que o soldado acenava e se retirava.

- Acho que tens razão Saphira. – disse Eragon ao seu Dragão – Ela tem um coração demasiado grande para ser aliada de Galbatorix, pelo menos de livre vontade.

- Argetlam. – Eragon surpreendeu-se ao ouvir a voz da princesa, que fazia uma vénia diante de si.

- Si… Sim. – gaguejou ele, fazendo um largo e divertido sorriso aparecer nos lábios de Lhianan.

- Gostarias de nos acompanhar? Penso que te dirigias para a Casa Senhorial e que Nasuada quererá falar contigo pelos mesmos motivos que me deseja ver, então…

Eragon sorriu para a princesa.

- Que achas Saphira? – perguntou-lhe Eragon.

- Porque não?

- Claro Princesa. – respondeu Eragon.

Lhianan sorriu, abanando ligeiramente a cabeça.

- Apenas Lhianan, por favor.