_ O quê? – foi a única coisa que eu consegui dizer.

Foi difícil assimilar tudo o que minha mãe me disse. Eu conhecia muito pouco dessa doença, e era estranho ouvir que minha tia sofria disso.

Tia Hannah. Sempre tão alegre, divertida, engraçada, procurando um lado bom em tudo. Sendo prestativa, nos animando, fazendo o possível para compreender e nos ajudar com nossos problemas. Eu simplesmente não podia acreditar que isso estava acontecendo com ela, era injusto demais.

Não podia não, não queria. Eu não queria acreditar, eu não queria aceitar que com tantas pessoas no mundo, principalmente pessoas ruins, por que justo ela? Que sempre foi tão boa, a alegria da família.

Minha mãe ainda chorava ao meu lado. Coloquei meus braços em volta dela e apoiei sua cabeça na minha. É estranho ser da altura da sua mãe.

_ Está tudo bem. – tento reconforta-la – Ela não vai morrer agora. Você conhece tia Hannah, do jeito que é botaria a morte pra correr.

Consigo tirar um sorriso fraco dela. Já é alguma coisa. Começo a contar nossas respirações, coisa que aprendi com livros, porque sempre que o protagonista está nervoso ou ansioso ele começa a contar respirações.

_ Mãe, essa doença tem um tratamento de cura? – pergunto lentamente para observar sua reação.

Ela suspira.

_ Tratamento sim, cura não. – ela diz – Os médicos vão observar o avanço da doença, e depois vão instruí-la quanto aos remédios para evitar uma morte súbita e como deve seguir seu novo estilo de vida. Mais calmo eu garanto.

Dou um risinho.

_ Tia Hannah e estilo de vida calmo. Essa eu pago pra ver. – digo.

_ Eh... – ela concorda – Isso vai demorar um pouco, por isso será preciso que Thomas fique por aqui conosco. Mas isso ainda vai levar um tempo. Não sei direito quando ele vem. Depende de quando o “tratamento” começa.

Aceno a cabeça.

_ Ryan já chegou. Tenho que contar a novidade para ele, mas ele não precisa saber de todos os detalhes ok? Ele praticamente venera sua tia, vamos esperar um tempo.

Entendo o que ela quer dizer e concordo.

_ Vou descer então. Te espero para o jantar.

Dizendo isso ela sai do quarto e me jogo em minha cama.

Por que a vida tem que ser tão complicada? Por que as pessoas tem que adoecer? Por que elas tem que morrer? Por quê? Por que tem que ser tão difícil?

Mas do que eu estou reclamando... Minha vida não é ruim. Eu tenho uma família que me ama, amigos que me apoiam, uma casa, comida, escola... Muitas pessoas fariam de tudo para estar no meu lugar agora. Quando viemos a vida aceitamos o pacote inteiro. Um pacote recheado de coisas boas e ruins.

Tento dormir de novo, mas não consigo varrer os problemas da minha cabeça. Deve estar sendo tão difícil para Lucas e Thomas...

Thomas. Nós crescemos juntos brincando, brigando, fazendo bagunça, irritando as pessoas, pregando peças... Foi ele quem me ensinou a andar de skate. E apesar de sermos da mesma idade ele é como meu irmão mais velho. Seria muito bom tê-lo aqui, mas ao mesmo tempo muito triste. Não que ele fosse deixar parecer. Puxou a mãe em todos os aspectos. Era por isso que eu gostava tanto dele, estava sempre ali para me defender, me ajudar. E havia muito tempo que não nos encontrávamos. Seria bem divertido, ele e Erick se dariam super bem.

Mas não consigo ficar muito feliz com isso. Ele não está vindo passar um tempo aqui por um bom motivo, na verdade por um motivo péssimo.

“Vai dar tudo certo” – digo para mim mesma.

Uma pena eu não acreditar nisso.