Nunca estive mais preocupada do que agora. Depois do que aconteceu com a visita da tia Hannah, eu esperei alguns minutos e subi para cima, mas quando passei pelo quarto dos meus pais, pude ouvir minha mãe chorar. Fazia muito tempo que eu não a via chorar daquele jeito, mas meu pai já estava lá com ela, então apenas entrei para o meu quarto e encostei a porta.

O dia estava radiante, recebi um telefonema de Alicia, mas não demorei muito tempo com ela. Eu estava cansada de imaginar todas as opções possíveis para o motivo daquela visita relâmpago. Mas a cada motivo imaginado eu ficava mais preocupada.

Tia Hannah morou um tempo no Brasil, ela me contava sobre o país que eu achava cada vez mais fascinante, isso até ouvir algumas musicas de lá. Fiquei totalmente apaixonada pelas músicas, então cheguei a encher meu mp3 delas. Eu não sabia cantar elas, mas cantarolava algumas. Coloquei uma sequência de músicas para tocar, coloquei os fones, coloquei num volume bem tranquilo, mais baixo, então depois fechei os olhos e não demorei a dormir. Bastou esvaziar minha mente de tudo, e esquecer cada segundo da minha vida que os problemas se foram como mágica. E eu finalmente consegui dormir sem sonhos.

Acordei com uma preguiça enorme, o que é completamente normal se tratando de mim, e quando decidi que ia voltar a dormir ao invés de levantar, abri os olhos e de relance vejo minha mãe ali dentro dando uma olhada na minha escrivaninha. Não disse que acordei nem fiz barulho, apenas observei sem que ela percebesse o que ela estava fazendo ali.

Mas ela não estava fazendo nada.

Então ela se virou e percebeu que eu estava acordada.

_ Desculpe por hoje. Eu não queria ter te deixado preocupada. – eu a encarei – Tudo bem Claire, eu sei que você só dorme à tarde quando algo está incomodando você, ou quando está triste. E eu te incomodei hoje.

_ Eu só queria saber o que está acontecendo. Você pode me contar mãe, não sou mais uma criança. Eu posso lidar com as situações agora, já tenho dezessete, não dez.

_ Eu sei que pode. Mas não use sua idade, isso ainda não te torna uma adulta. – ela forçou um sorriso.

Apenas devolvi encorajando-a a me contar.

_ Hannah está na cidade a mais de um mês. – aquilo me deixou em choque.

_ Mais de um mês? O quê? Por quê? – fiquei confusa.

_ Ela me pediu que não contasse nada. Por enquanto está apenas rondando as casas dos familiares para saber onde deixar Thomas e Lucas. Eles não podem ficar juntos por enquanto, dois na mesma casa seria demais, até porque eles tem um gênio muito difícil você sabe. – ela disse.

Eu sabia.

_ Mas por que ela deixaria os próprios filhos na casa dos parentes? – perguntei.

_ É uma situação complicada. Mas ela já sabe onde deixar Lucas por um tempo, até mesmo porque ele é uma criança e ninguém se incomodaria de cuidar dele. Seria muito mais fácil de lidar. Apesar de seu primo Tommy ter a sua idade e ser responsável, adolescentes são mais complicados, e eu digo isso porque sofro na pele com você e Ryan. Tenho que me preocupar redobrado com os dois. E por estar tão acostumada sugeri que Tommy viesse para cá ficar com a gente.

Tentei assimilar direito. Eu adorava Tommy, nos dávamos super bem e era bem divertido quando nos juntávamos, mas não conseguia acreditar que ele fosse querer ficar longe da mãe inclusive depois da morte do pai.

_ Espera, mas você acha que ele vai querer vir? Porque eu diria que isso vai ser bem complicado sendo que...

_ Ele já concordou. – ela me interrompeu e lágrimas começaram a rolar de seus olhos – Hannah está aqui pois logo vai ser mandada para fora. Os médicos precisam ficar de olho nela por enquanto.

_ Médicos? – me assustei.

_ Clarice, sua tia tem Infarto agudo miocárdio. Ela pode morrer a qualquer minuto.