_ Respira fundo, cabeça erguida, respira de novo, agora expira, respira mais uma vez, e bola pra frente encarar seja lá o que for. – sussurrei para mim mesma antes de entrar em casa.

Empurrei a porta e encontrei minha mãe animada descendo as escadas toda contente. Eu gostava de vê-la assim, era reconfortante saber que pelo menos a vida de alguém aqui estava dando certo.

_ Claire, meu bem, você chegou na hora certa! Que bom que veio mais cedo, tem uma surpresa na cozinha te esperando! – ela disse acenando par a que eu fosse para lá.

Bom, se era uma surpresa não poderia ser tão ruim assim não é? “Respira fundo, cabeça erguida, respira de novo, agora expira, respira mais uma vez, e vai na fé que tudo vai dar certo” – saio repetindo isso dentro da minha cabeça.

Viro em frente a porta, e mal entro na cozinha quando ouço gritos animados e dois braços se envolvem em mim me sufocando até finalmente eu conseguir assimilar o que estava acontecendo.

_ Oi tia Hannah. – consigo dizer em meio aos sufocos.

_ Oh, querida, como você cresceu! É tão bom te ver aqui meu bem, como está na escola? E os garotos? – ela fez uma cara maliciosa e depois olhou para minha mãe – Tommy continua com seus enrolos, aquele garoto não tem jeito.

_ Está tudo bem tia, mas não, eu não penso muito nos garotos daqui. Eles não são pra mim. – falo tentando me livrar de seu abraço de urso.

_ Você diz isso por enquanto. Porque quando resolver dar uma de “Cecília” – ela encarou minha mãe ao dizer seu nome – Você vai aparecer a cada semana com um namoradinho diferente.

_ Deus me livre! Deixa a Claire aparecer com um garoto aqui. – meu pai disse – Ele vai ter que passar por mim primeiro, eu vou ter que analisar e ver se ele presta mesmo. – ele brincou.

_ De qualquer forma, que bom que você vai passar um tempo aqui tia, isso pode ser bem divertido. – digo olhando para ela.

_ Na verdade, eu só estou de passagem. – ela diz olhando de soslaio para minha mãe em busca de ajuda.

_ O que foi? – perguntei enrugando a testa.

_ Não é nada demais, não precisa se preocupar. Hannah só estava passando pela cidade e parou para fazer uma visitinha. – minha mãe falou.

_ De qualquer forma, já estou de saída. Me desculpem por não poder demorar, mas eu tenho que pegar um avião daqui a pouco. Tchau meus queridos, pretendo falar com vocês em breve.

Ela deu um beijo em cada um de nós, e depois a levamos até a porta. Vi quando ela sussurrou algo no ouvido da minha mãe, mas não consegui entender o quê. Depois com um sorriso triste que nunca vi estampado antes em minha tia, ela se virou e foi embora.

_ O que foi isso? – exigi preocupada.

_ Isso o quê?

_ Essa visita relâmpago. E não me olhe com essa cara, não sou burra mãe. Não finja que não tem alguma coisa errada por aqui porque eu sei que tem. – insisti.

_ Não tem nada de errado. Você ouviu bem, sua tia estava passando pela cidade e...

_ Decidiu parar para uma visitinha? Tia Hannah nunca pararia para uma visitinha. Essa palavra nem existi no vocabulário dela, e a senhora sabe disso. – minha mãe olhou para baixo com o mesmo olhar que minha tia deu – Você pode confiar em mim mãe. Eu posso ajudar, por favor. – supliquei.

Ela me olhou por um tempo e depois começou a andar para longe.

_ Depois Claire, depois.

Fiquei parada na sala sem entender. Meu pai colocou uma mão em meu ombro e olhou piedosamente para o lado que minha mãe tomou.

_ Dê um tempo a ela. Você vai entender, mas deixe que ela mesma te conte depois.

E então ele também saiu, e eu fiquei sozinha na sala mais uma vez.